O governo Lula (PT) vai pagar um valor em dinheiro a estudantes de baixa renda do terceiro ano do ensino médio que fizerem a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deste ano, por meio do Programa Pé de Meia. O valor fará parte da bolsa estudantil anunciada em novembro.

Esta iniciativa pode vir a impactar diretamente na vida de muitos jovens negros. Entretanto será preciso muito trabalho de convencimento e comunicação, pois essas pessoas fazem parte daquele trágico contingente populacional que nem estuda e nem trabalha.

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Três em cada quatro pessoas entre os 10% mais pobres do país são negras, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2015. A exclusão escolar ajuda a perpetuar desigualdades. A remuneração ao longo da vida de uma pessoa com ensino médio pode ser, por exemplo, até 48% maior que a daquela com o mesmo perfil, mas com escolaridade menor, até o ensino fundamental, segundo dados recentes levantados pelo pesquisador Ricardo Paes de Barros.

Um terço dos brasileiros entre 19 e 24 anos não havia conseguido concluir o ensino médio em 2018. Apesar da média geral já ser alta (e do percentual ser similar entre jovens brancos), o panorama entre os negros é ainda pior: quase metade (44,2%) dos homens negros dessa faixa etária não concluiu a etapa.

O sistema de educação ignora o racismo estrutural, o que aumenta essa desigualdade racial. Os indicadores gritam, escancaram o racismo, mas a escola vira as costas para esse debate. Enquanto não reconhecermos esse racismo educacional, não vamos melhorar os índices educacionais no Brasil.

As consequências são dramáticas na expectativa de vida da população jovem do país. As vítimas preferenciais da violência cotidiana têm cor, gênero, idade e território definidos: negros, do sexo masculino, jovens e moradores do Nordeste são a parcela da população com o maior índice de vulnerabilidade à violência, associado a outros indicadores de risco como pobreza, desigualdade e frequência à escola.

Nem tudo é desesperança

Conforme dados do Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que organiza o exame, 16 Estados brasileiros e o Distrito Federal (DF) contam com alunos nota 1.000 na redação do Enem 2023.

A região Nordeste concentrou a maior parte de estudantes com nota máxima no texto. No total, são 25 estudantes da Bahia, Ceará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Entretanto, estes resultados muito importantes são praticamente quase todos alunos das escolas privadas , com exceção de um do Rio Grande do Norte. O que indica que a questão do acesso a uma escola de qualidade faz toda a diferença.

A iniciativa do governo poderá ser um estímulo para os jovens retornarem à escola, mas insuficiente para mantê-los em sala de aula. É preciso ter bons professores e equipamentos nas escolas. Temos poucos professores de física, de química e matemática e poucos laboratórios, bibliotecas e computadores.

Faz-se necessário criar programas que incentivem a formação continuada de professores, garantam boas remunerações e reconhecimento da profissão. Com esses cuidados, mínimos, podemos melhorar a qualidade do ensino fundamental e médio. E salvar vidas!

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