Texto: Danielle Marques – Fundadora e CEO do Silêncio ao Silício

No dia 4 de abril, desembarcamos em São Francisco, nos Estados Unidos, para uma imersão de dez empreendedores negros no epicentro da tecnologia mundial, com o projeto Do Silêncio ao Silício. Durante dez dias repletos de atividades, participamos de uma das maiores conferências brasileiras no Vale do Silício e mergulhamos na região da Universidade de Stanford e em algumas das gigantes tecnológicas que moldam nosso mundo hoje.

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A frase que abre este artigo, dita por Eliane Cavalheiro, uma das principais referências do movimento negro e da educação no Brasil, ressoou profundamente durante o período em que estivemos lá. Eliane, atualmente professora convidada pela Universidade de Stanford, na Califórnia, nos recebeu para uma conversa inspiradora sobre políticas públicas e futuro.

Em 2022, visitei o Vale pela primeira vez com um grupo de 70 brasileiros, sendo a única pessoa negra da turma. Essa experiência foi minha motivação para criar iniciativas que democratizassem o acesso a espaços como esse, por isso a frase de Eliane teve tanto impacto em mim e nestes jovens que estavam ali sendo e realizando sonho ao mesmo tempo. 

O Vale do Silício, na Califórnia, é onde se concentram as maiores empresas de tecnologia do mundo, como Google, Meta, Apple, entre outras. A região é famosa por sua mentalidade disruptiva e por suas inovações que revolucionaram completamente o modo como vivemos. É conhecida também por sua dualidade: enquanto São Francisco enfrenta desafios sociais e de saúde pública, a tecnologia segue avançando, podemos ver pela cidade carros autônomos cruzando as ruas e robôs preparando nosso café nos aeroportos. É uma mistura tão desconcertante que nos faz sentir como se tivéssemos entrado em um filme de ficção científica.

Foto: Do Silêncio ao Silício/Divulgação

Nosso primeiro dia por lá foi marcado por atividades físicas e networking, com uma caminhada que permitiu nos conectarmos com outros participantes da conferência. Ter a oportunidade de conhecer a Universidade de Stanford em meio a um grupo de pessoas negras foi uma realização tanto pessoal quanto coletiva. Foi um choque cultural que nos impulsionou a vislumbrar novas oportunidades e horizontes.

Nos dias seguintes, participamos do Brazil at Silicon Valley, um movimento que busca conectar os brasileiros mais influentes ao Vale do Silício. Nossos fellows tiveram a chance de participar de uma conferência de dois dias, repleta de palestras sobre inteligência artificial e futuro.

“Qual será a próxima invenção a transformar o mundo? Para onde caminha o futuro? Como posso implementar mudanças em meu negócio?”. Estas foram algumas das perguntas que permearam nossas conversas nos intervalos e almoços. O Vale do Silício dita as tendências tecnológicas que continuam a moldar nosso mundo, e todos estavam ansiosos para descobrir qual seria a próxima grande novidade.

Foto: Do Silêncio ao Silício/Divulgação

A partir do quarto dia, visitamos grandes empresas. A primeira foi a Circuit Launch, um centro de desenvolvimento de hardware eletrônico e educação em robótica. Tivemos uma aula com Alex Dantas, CEO da empresa, que conversou conosco sobre empreendedorismo, tendências e IA. Seus insights complementaram o que já havíamos absorvido nos dias anteriores. Ele demonstrou, por meio de gráficos e estudos, o impacto da tecnologia nas gerações, a importância de aprender a captar investimento, de vender e de pensar coletivamente sobre o futuro.

Em diversos momentos me questionei até que ponto estamos construindo esse futuro de forma conjunta e considerando todos os grupos, ou se apenas sofremos os impactos do que é criado nesses centros de inovação. Quantas dessas tecnologias ou informações estão alcançando nossas comunidades?

Essa foi a reflexão que me acompanhou durante toda a viagem: Como podemos discutir inteligência artificial, carros autônomos e carros voadores em São Francisco quando nas periferias do Brasil ainda enfrentamos problemas básicos de infraestrutura?

Foto: Do Silêncio ao Silício/Divulgação

O mais intrigante é perceber que as tendências do Vale já estão entre nós, moldando nosso cotidiano. De uma forma ou de outra, todos nós estamos sendo impactados pelo que é criado lá. Os desafios que enfrentamos hoje e com os quais vamos nos deparar no futuro demandarão muito de nós. Por isso promovemos essa iniciativa de levar mais pessoas para aprenderem como implementar transformações em seus negócios e democratizar aqui no Brasil o que foi aprendido lá . 

Esse intercâmbio de conhecimento tem um valor imensurável e pode impactar positivamente nossas vidas. Este futuro que está sendo construído precisa ser pensado dentro das periferias e favelas do Brasil, lugares que também são grandes pólos de inovações no país e que possuem um poder gigante de gerar grandes transformações. Nosso maior exemplo, que elenco abaixo, são os empreendedores que levamos para o Vale, fundadores de  startups em diversos segmentos, como saúde, educação, beleza, hardware, ESG. 

Lucas Lima construiu a primeira impressora 3D feita de sucata na favela do Alemão, no Rio de Janeiro. Adriele Menezes, de Salvador, criou o primeiro absorvente biodegradável do Brasil. Roseane Moreira, também de Salvador, criou o “Na Minha Cesta“, que distribui cestas básicas usando tecnologia. Igor Rocha, de Salvador, criou uma plataforma que conecta profissionais negros da saúde a pessoas negras que estão em busca desses profissionais. Thamiris Arruda, de Campinas, no interior de São Paulo, usa a tecnologia para desenvolver cosméticos para pele negra. Pâmela Cavalcante, de São Paulo, tem uma software house e também emprega jovens em situação de vulnerabilidade. Irwin Gomes, de São Paulo, tem um SaaS (software as a service) que ajuda microempreendedores a venderem mais. Gabrielle Rodrigues, de Brasília, ensina jovens em situação de vulnerabilidade a atuarem na área de tecnologia.

O principal insight e aprendizado que tivemos foi que ninguém sabe dizer quais são os verdadeiros impactos das inteligências artificiais no nosso futuro. O conselho que mais ouvimos por lá foi: aprenda a usar essas novas ferramentas, elas estarão cada vez mais presentes no nosso cotidiano. A IA pode ter um impacto consideravelmente maior nos mercados emergentes do que nos mercados desenvolvidos. Neste momento confuso, é importante voltar aos princípios básicos dos negócios: contratar as pessoas certas, encontrar um problema e deixar seus clientes felizes.

Foto: Do Silêncio ao Silício/Divulgação

Três frases importantes para essas reflexões foram: 

“A corrida da inovação em que estamos inseridos é marcada pelo constante surgimento de novas tecnologias. Nesse cenário, não há vencedores ou perdedores definitivos, mas aqueles que conseguirem aproveitar de forma eficaz as tecnologias emergentes estarão à frente”. – Cristiano Amon, Qualcomm.

“As empresas podem sofrer danos monetários se não considerarem a ética nos seus negócios, especialmente com IA. Portanto, é importante desenvolver soluções antecipadamente, pensar em quaisquer dificuldades futuras que você possa ter e tentar resolvê-las”. – Gabriel Bayomi, Cofundador e CEO, Openlayer.

Minha maior lição durante essa experiência foi compreender que o futuro se constrói no presente. Portanto, sejamos hoje a mudança que desejamos ver no futuro, até porque “nada sobre nós, sem nós”. – April D’Aubin

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