Setembro Amarelo, vamos falar sobre suicídio?

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Setembro Amarelo, vamos falar sobre suicídio?
Crédito: UNSPLASH | SAM BURRISS

Tem uma música do Chico Buarque que diz “tem dias que a gente se sente, como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu …”

As vezes o mundo fica tão grande que as pernas se sentem incapazes de caminhar por ele. Outras vezes os passos se tornam largos e tão ansiosos que os pés tropeçam nas próprias expectativas antes do final da jornada. Há aqueles que se esforçam tanto para fazer a paisagem perfeita que deixam de apreciar a viagem pelo cansaço da busca.

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Cada ser humano é feito de uma história e nela um cheiro, uma memória, uma história. Cada pedaço da carne que nos compõe tem uma marca e nelas um substrato de felicidade e de dor. Para alguns a dor suplanta a possibilidade de continuar e a trajetória se encerra, quando os olhos se fecham diante da possibilidade de no desconhecido encontrar as respostas para a lancinante duvida de viver.

Suicidar-se, para alguns o crime perfeito em busca de soluções, para outros o fim das angustias que se avolumam dentro do peito. Certo é que nunca saberemos os motivos que levam uma pessoa a encerrar o jogo antes do tempo determinado. Angustia. Depressão. Excesso de expectativas. Medo. Tudo suposição de quem fica.

Nos últimos anos os dados demonstram que o número de pessoas que encerram a jornada, tirando a própria vida vem crescendo assustadoramente, concomitante a isso as violências estruturais impostas a transgêneros, lésbicas, gays, bissexuais (LGBTQI+) e jovens negros afetam sobremaneira as condições de segurança para sua sobrevivência, colocando-os como os sujeitos mais vulneráveis a pratica suicida.

Um dos entraves para a ampla discussão dessa questão é o tabu com que ela é tratada, ou melhor, não é tratada. A pandemia e toda pressão que esse momento vem exercendo sobre as emoções das pessoas exige de nós que falemos sobre o assunto, porque o suicídio não é uma inadequação do indivíduo ao sistema, envolve muito mais que questões pessoais, morais e religiosas, é um problema de saúde pública, principalmente se olharmos os números com a devida acuidade racial.

Os desdobramentos da covid-19 no que tange as desigualdades sociais expôs de forma contundente o racismo estrutural que a sociedade brasileira está mergulhada e o quanto a população negra está à margem das políticas públicas de assistência e inclusão. O alto índice de suicídio dessa população está relacionado a violência que se desdobrou da escravidão como as políticas de branqueamento, a miséria, o subemprego e o encarceramento em massa são exemplos das violações de direitos a que estas pessoas foram expostas no decorrer da sua trajetória.  

A subvalorização do caráter histórico e cultural da população negra pela hegemonia branca coloca esses indivíduos em um “não lugar”, porque tendo sua identidade negada e sem possibilidades de resgate da sua ancestralidade, essa população fica à mercê de um referencial que desconsidera sua origem causando uma serie de desencontros internos e externos.

O sofrimento mental e psicológico causado pela realidade imposta pelo racismo estrutural e pela branquitude, determina para as pessoas negras uma existência permeada de extremos entre a fragilidades do ser e as necessidades do cotidiano. Como sobreviver diante de tantas violações, com feridas tão abertas?

É preciso pensar o suicídio como uma questão de Estado, ou seja, de saúde pública, porque envolve a saúde mental da população, em especial das populações vulneráveis e com isso elaborar políticas públicas interligadas de prevenção e monitoramento como previsto na Lei Federal nº 13.819/2019, que institui a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio.

Para que isso aconteça é preciso que haja investimento na ampliação, estruturação e valorização do SUAS (Sistema Único de Assistência Social) e dos equipamentos de proteção social de básica e média complexidade, são eles Cras (Centro de Referência de Assistência Social) Atenção Psicossocial) e o Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) são equipamentos públicos que tem por finalidade a proteger o indivíduo e a comunidade garantindo os meios para o enfrentamento de suas dificuldades cotidianas quando essas são violadas.

No ordenamento jurídico brasileiro há lei, cuja previsão legal consiste na orientação e organização das formas cabíveis de combate ao suicídio, desta forma, porque o Brasil é o 8° pais do mundo em números de suicídios?

Talvez se pudéssemos responder essa pergunta, muitas vidas teriam sido poupadas porque teriam suas necessidades atendidas através das ações de proteção social que capazes de se articular com as demais políticas setoriais de assistência, educação e trabalho, garantindo a população segurança, atenção e cuidado.

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã” porque é no hoje que o acolhimento e a escuta podem impedir que se abra uma porta sem retorno,

Maria Teresa Ferreira

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