Negros, índios, quilombos, favelas, terreiros, Bahia, lavadeiras… O Carnaval 2020 do Grupo Especial do Rio vem preto, forte e destemido. Confira a trilha sonora do “maior espetáculo da terra” para este ano e se prepare com muito samba no pé: Depois de consagrar suas Marias, Mahins e Marielles com a “História para ninar gente grande” de 2019, a campeã Mangueira leva Jesus Cristo ao morro com “A verdade vos fará livre”: “Eu sou a Estação Primeira de Nazaré/Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher”, canta Marquinho Art’Samba.
Comandada por Quinho e Emerson Dias, o Salgueiro conta a história de Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil. Falando em referência da arte brasileira e preta, a Mocidade homenageia Elza Soares, com o tema “Elza Deusa Soares”, na voz de Wander Pires e samba assinado por Sandra de Sá.
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“Oh, mãe, ensaboa, mãe, ensaboa, pra depois quarar” vem de Niterói, trazendo a Viradouro (vice-campeã do último Carnaval) e sua homenagem às Ganhadeiras de Itapuã, grupo musical que leva adiante a tradição das lavadeiras.
De azul e branco, a Vila Isabel homenageia Brasília, com um samba que é a cara do povo de Noel Rosa, puxado por Tinga, intérprete que transpira o DNA da agremiação. A Vila fala de “Jaçanã e um índio chamado Brasil”.
A Portela – que estreia em 2020 ninguém menos do que a dupla de carnavalescos Renato e Márcia Lage – vem de “Guajupiá, terra sem males”, enredo que conta a lenda dos Tupinambás, um dos povos que ocupavam originalmente esta terra.
De Padre Miguel para a Tijuca, mais uma voz inconfundível do carnaval traz o povo do Borel à Sapucaí: “A minha felicidade mora nesse lugar/ Eu sou favela”, canta Wantuir em “Onde moram os sonhos”, que marca o retorno do carnavalesco Paulo Barros à Unidos da Tijuca, onde foi campeão três vezes.
Em São Cristóvão, o método foi o mesmo: mais uma vez, Moacyr Luz, Cláudio Russo e parceiros assinam o samba do Paraíso do Tuiuti, “O santo e o rei – Encantarias de Sebastião”.
De São Cristóvão o Grupo Especial pega a Linha Vermelha e vai até Duque de Caxias, e exalta o sacerdote Joãozinho da Gomeia, pai de santo visitado por nomes como Jorge Amado, Juscelino Kubitschek e dezenas de atrizes, atores e músicos. Celebrado como um dos enredos (e sambas) do ano, “Tatalondirá – O canto do caboclo no quilombo de Caxias”, da Grande Rio, canta o axé do baiano Joãozinho com garra, além de passar pelo essencial alerta contra a intolerância: “Eu respeito o seu amém, você respeita o meu axé”, na voz de Evandro Malandro.
Pegando a mesma Linha Vermelha de volta, o disco desembarca na União da Ilha, onde Ito Melodia canta “Nas encruzilhadas da vida, entre becos, ruas e vielas, a sorte está lançada: salve-se quem puder”, um emocionante hino de louvor ao povo das comunidades.
Encruzilhadas, becos e vielas também aparecem, em abordagem diversa, em “Se essa rua fosse minha”, com que a Beija-Flor fala dos caminhos por onde o homem anda desde o início das civilizações, não esquecendo, é claro, os orixás e o povo da rua. “Nilopolitano em romaria/ A fé me guia”, garante Neguinho da Beija-Flor, mais de quatro décadas de serviços prestados à azul-e-branco da Baixada.
Promovendo a estreia de um craque do humor, Marcelo Adnet, no posto de compositor de samba-enredo (com parceiros), a São Clemente volta a um tema caro e necessário ao Carnaval: a malandragem, com “O conto do vigário”. A escola de Botafogo revive seus dias de crítica social (o que a levou ao Grupo Especial lá nos anos 1980) no belo samba puxado por Bruno Ribas, Leozinho e Grazzi Brasil. “La garantía soy yo!”.
Para fechar a coleção, o velho Estácio reaparece no Grupo Especial, em edição luxuosa comandada pela carnavalesca Rosa Magalhães (que fez história na escola décadas atrás): “Pedra”, que passa pela mineração, construção e tudo o que tem minerais envolvidos.
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