Rodrigo França traz afeto e acolhimento para o restaurante Àmàlá, seu novo empreendimento

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<strong>Rodrigo França traz afeto e acolhimento para o restaurante Àmàlá, seu novo empreendimento</strong>
Foto: Kennedy Lima

Rodrigo França faz um pouquinho de tudo, ele é diretor, escritor, ex-BBB, ativista e agora pode colocar mais um empreendimento na sua lista, dono de restaurante. Inaugura nesta quinta-feira (15), o restaurante Àmàlá, no Pelourinho, em Salvador, focado na culinária ancestral.

Ele conversou com o Mundo Negro sobre o restaurante e sua relação pessoal com a culinária. Para ele, a Àmàlá surgiu com a missão de acolher e levar comida afetiva para a população negra baiana. “Àmàlá tem uma pesquisa de afeto, acolhimento. E acolhimento também é uma comida gostosa, afetiva, que gera memórias e ensinamento, porque estamos falando de comida ancestral. Uma comida que existe há séculos e vem contemplar o contemporâneo”, contou Rodrigo.

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O nome Àmàlá vem de origem Iorubá e é um prato votivo aos orixás, Xangô, Iansã, Obá e Ibeji, nas religiões de matrizes africanas e também carro chefe do restaurante que leva o mesmo nome. “Àmàlá porque é uma comida sagrada, de suma importância pra quem é de Axé, porque tem uma sonoridade que nos lembra o verbo amar”, descreveu o diretor. O chef responsável pela cozinha e menu será Andrey Basttos.

Já a escolha de ser no Pelourinho, foi uma forma de reconquistar o espaço para os negros. Rodrigo acredita que empreendedores negros e a população preta de Salvador está ressignificando o lugar que já foi de dor para o nosso povo: “O próprio negro ressignifica esse espaço que também deve ser de potência, sem esquecer a história do lugar, mas a gente precisa ocupar e deixar registrado que lá, como qualquer outro lugar, é nosso por direito.”

Mas quem acompanha a rotina de Rodrigo França sabe que ele não é uma pessoa de fazer um projeto por vez. Além da abertura do restaurante, ele está em cartaz com o espetáculo “Meus dois pais”, no Rio de Janeiro, e ainda nesta semana começa a filmar  a terceira temporada de “Arcanjo Renegado”, da GloboPlay. 

Em julho, ele lança mais um livro infantil. Já em agosto, ele se prepara para estreia da série “Humor Negro”, da Multishow e Globoplay, no qual ele é diretor, e a peça “Para meu amigo branco”, baseada no livro de Manoel Soares.

Para dar conta de tudo isso, Rodrigo conta com equipes, formadas por 90% negros, que o ajuda em cada projeto e nas decisões. Ele diz que esse ritmo traz estresse e cansaço, mas que ele tenta não passar para as pessoas que trabalham com ele e nem para os clientes, por isso sempre tira um tempo para descansar e cuidar da saúde mental e espiritual. “Férias, pra mim, é desligar de tudo pra dar conta de um ano que é de muito trabalho”, contou o empreendedor.

Confira a entrevista completa:

O que podemos esperar do Àmàlá e como foi o processo de surgimento do restaurante?

Àmàlá tem uma pesquisa de afeto, acolhimento. E acolhimento também é uma comida gostosa, afetiva, que gera memórias e ensinamento, porque estamos falando de comida ancestral. Uma comida que existe há séculos e vem contemplar o contemporâneo, mas uma comida gostosa e feita por pessoas que amam o que fazem, que entendem a culinária como um aspecto cultural forte. 

Por que o nome Àmàlá e como decidiram que seria no Pelourinho?

Àmàlá porque é uma comida sagrada, de suma importância pra quem é de Axé, porque tem uma sonoridade que nos lembra o verbo amar, e no Pelourinho porque, junto com outros empresários negros, a gente precisa entender que aquele espaço também é nosso. Um espaço que começa de dor com a população negra, e hoje, o próprio negro ressignifica esse espaço que também deve ser de potência, sem esquecer a história do lugar, mas a gente precisa ocupar e deixar registrado que lá, como qualquer outro lugar, é nosso por direito.

Para você, qual a importância de restaurantes que exaltam e mantêm viva nossa ancestralidade e cultura preta?

A cozinha sempre foi um espaço de potência para nós, negros. Não um espaço de subalternidade. Pra maioria das casas de famílias negras, a cozinha é o melhor lugar, de afeto, conversa e carinho. Cozinhar significa colocar, imprimir na comida o melhor que a gente tem. Quando a gente pensa em gastronomia, a gente está falando sobre a ética e estética de um povo, valores culturais de um grupo. Colocar essa culinária afro-brasileira num cardápio, é uma das formas de sinalizar que estamos presentes, que é uma culinária muito viva. Estamos nos terreiros, nas residências e estamos nos melhores restaurantes. Feito pelos nossos e onde também os nossos são donos do espaço. 

A procura de espaços (restaurantes, bares e afins) comandados por pessoas negras vem aumentando cada vez mais, você acha que estamos vivendo um bom momento para o empreendedorismo preto?

Acredito que cada vez mais a comunidade negra está entendendo a importância e o que é black money, esse dinheiro que gira entre a gente, entendendo que a gente não vive em uma democracia racial e que existe um apartheid socioeconômico. O dinheiro só está na mão da branquitude. Então, comprar produtos, consumir serviços de gente preta é também possibilitar economicamente que diminua essa distinção econômica que existe no Brasil. A gente vai encontrar as melhores comidas, os melhores serviços, os melhores produtos também das mãos de pessoas pretas. A negritude já está atenta a isso. 

Você já tinha interesse em entrar no ramo culinário ou foi uma oportunidade que surgiu na sua vida de repente?

Sou de uma família onde os homens cozinham, então a comida pra mim sempre esteve presente desde criança, cortando a cebola pro meu pai cozinhar. A necessidade de expandir da arte, da cultura, pra gastronomia foi por conta de primeiro, gerar empregabilidade pra muitos artistas que estavam na entressafra de trabalho. Comecei com restaurante no Rio de Janeiro, pensando em um público que lotava o teatro em que eu estava presente, e não tinha pra onde ir, ou que ia a um restaurante sem o menor compromisso com a negritude, levar o seu dinheiro, aí pensei: esse público pode levar esse dinheiro de volta pra mão preta. Essa necessidade vem daí, de gerar empregabilidade, e o público negro que consome cultura possa usar o seu dinheiro pra serviços e produtos de negros que geram cultura, e aí a gente acaba estabelecendo um black money. 

Além da abertura do restaurante, você está em cartaz com o espetáculo “Meus dois pais”, vai começar a filmar a terceira temporada de “Arcanjo Renegado”, está nos preparativos finais para a estreia de “Humor Negro” e ainda vai lançar um livro. Você pode falar mais um pouco sobre seus trabalhos e como faz para dar conta de tudo na sua rotina?

Eu tenho equipes extraordinárias, estou em todos os processos, embora não seja uma pessoa centralizadora, as decisões estão nas minhas mãos, mas sempre a partir de uma escuta. Esse Rodrigo que faz não tem a ver com mérito, isso é sempre importante sinalizar. Sou de uma família preta, de classe média, que pôde me instrumentalizar na educação, e é uma exceção à regra quando a gente pensa em uma relação socioeconômica. 

E consciência tem a ver com a minha militância, não posso negar um trabalho que vai difundir dezenas, centenas de empregos. Trabalhar comigo, em todas as pontas, significa mais de 90% de profissionais negros. Então traz cansaço, estresse, mas vale a pena e o mais importante é que esse cansaço não vá para as pessoas com quem trabalho, para os clientes. Eu paro e descanso. Férias, pra mim, é desligar de tudo pra dar conta de um ano que é de muito trabalho. E cada vez mais estou cuidando da minha saúde espiritual, mental, em dia, pra conseguir seguir.

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