2020 foi um marco para a causa antirracista em todo o mundo. No Brasil, não foi diferente. A pauta, muitas vezes deixada de lado, permeou rodas de conversa, manifestações, movimentos e ações de grandes corporações. Para relembrar, o ID_BR destacou sete fatos que marcaram o ano.
Autores negros como Machado de Assis e Djamila Ribeiro ficaram no topo dos livros mais vendidos. Segundo relatório do Google Trends, desde 2006 não se pesquisava tanto sobre o tema. Com o assassinato de George Floyd em maio, a onda de protestos “Black Lives Matter” tomou conta dos Estados Unidos, ressoou no Brasil, assim como em várias partes do o mundo. Os investimentos no tema também atingiram níveis recordes.
Notícias Relacionadas
Netflix anuncia documentário sobre trajetória de Mike Tyson
ONU lança Segunda Década Internacional de Afrodescendentes com foco em justiça e igualdade
Mas apesar do avanço da causa, o Brasil se viu frente a números e dados assustadores. De acordo com o mapa da violência produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública 2020, o Brasil mata 17 mais vezes negros do que os Estados Unidos.
“Os assassinatos de João Alberto no estacionamento de um supermercado por agentes de segurança brancos não é isolado. A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado de acordo com a Anistia. Um dos efeitos mais cruéis do racismo é que ele mata. E no Brasil precisamos parar de relativizar ou dizer que é menos pior do que em outros lugares. A população negra quer ter direito à vida e a oportunidades em vida“, comenta Luana Genot, Diretora-Executiva do Instituto Identidades do Brasil.
A pandemia da Covid-19 também afetou diretamente essa camada da população, formada por mais de 17 milhões de pessoas. Segundo estudo da FioCruz, morrem 40% mais negros do que brancos por conta da doença, em decorrência das já conhecidas desigualdades socioeconômicas. Além disso, de acordo com o Cebrap, o número de estudantes pretos, pardos e indígenas sem atividade durante a pandemia é quase o triplo que o de brancos. Ainda durante o período, o ID_BR realizou um levantamento sobre a Saúde Financeira das Mulheres Negras e identificou que 80% não tinham reservas financeiras.
“A gente pode acompanhar que o número de empreendedoras negras por necessidade aumentou em pelo menos 15% nos últimos meses por conta do nosso levantamento. Dados do Ipea a partir da Pnad Covid-19, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o trabalho remoto foi mais presente entre os brancos (63,8%) do que entre pretos e pardos (34,4%). Também segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), a taxa de desocupação dos negros foi 71,2% maior que a dos brancos. O cenário de pandemia nos mostrou que nunca estivemos no mesmo barco. A Covid-19 e seus efeitos escancararam ainda mais desigualdades e suas cores“, analisa Luana.
2020 também foi marcado pela eleição de um novo grupo de vereadores e prefeitos. No caso das prefeituras, oito de 26 serão ocupadas por negros, mas nenhuma por uma mulher negra. Em setembro, o TSE determinou que houvesse cota para candidatos pretos e pardos em recursos financeiros e tempo de propaganda eleitoral em rádio e TV para as eleições deste ano. A OAB aprovou que a partir de 2021 em suas eleições internas, 30% das vagas sejam ocupadas por pessoas negras.
O engajamento de personalidades e marcas na pauta antirracista também foi muito significativo durante o ano. Os Estados investiram 4.2 bilhões de dólares a mais do que o somatório dos últimos nove anos. No Brasil, a história foi um pouco diferente. Segundo dados públicos, pelo menos 72 milhões de reais foram direcionados a ações ou investimentos para a pauta.
“Vimos este ano como nunca antes alguns compromissos públicos com investimentos e metas relacionadas a pauta antirracista surgindo no mundo corporativo. Neste quesito é como se tivéssemos avançado 10 anos em 1. Mas no Brasil ainda estamos atrás. Investimos cerca de 800 vezes menos na causa que nos EUA mesmo tendo quase três vezes mais negros por aqui. Segundo o jornal O Globo, o Governo Federal gastou em 2019 cerca de 70% a menos com ações de promoção da Igualdade Racial e Superação do Racismo. O ID_BR tem apoiado empresas na construção de planos de ações a longo prazo para tratar da pauta de forma estruturada através do Selo Sim à Igualdade Racial. Temos feito esforços para expandir esta conversa num âmbito global, uma vez que mesmo entre as empresas que dizem ter um programa a nivel mundial a respeito da pauta antirracista, seus investimentos geralmente são restritos ao território onde estão sediadas, normalmente nos Estados Unidos. Precisamos fomentar uma conversa real e global sobre esse assunto que é de todos e merece mais investimento das empresas mundialmente“, analisa Genot.
Mas é preciso celebrar as ações afirmativas desenvolvidas nos últimos 12 meses. As atuações em parceria entre empresas e órgãos públicos mostram que o caminho é esse. E as iniciativas de Magazine Luiza, Bayer, Vivo e Diageo em desenvolverem processos seletivos exclusivos para pessoas negras mostram que o olhar a longo prazo é a forma de promover e garantir a igualdade racial para as próximas gerações. Na última semana, Rachel Maia foi convidada a integrar o conselho de administração do Grupo Soma tornando-se a primeira conselheira negra do país.
“No final do ano passado, tínhamos cinco empresas aderentes ao selo Sim à Igualdade Racial. Finalizamos 2020 com 22, um número quatro vezes maior que o de 2019. Este ano tão caótico e triste pela perda de vidas, também trouxe às empresas urgência em relação à pauta. A pressão social está cada vez maior. Estamos atrasados e não queremos esperar 150 anos para a igualdade racial chegar. Esperamos acelerar ainda mais em 2021“, completa Luana.
2020 veio marcar de uma vez que, mais importante do que dizer não ao racismo, é imprescindível dizer Sim à Igualdade Racial.
Notícias Recentes
‘O Auto da Compadecida 2’: Um presente de Natal para os fãs, com a essência do clássico nos cinemas
Leci Brandão celebra 80 anos e cinco décadas de samba em programa especial da TV Brasil