Questões raciais ficam de fora da primeira entrevista com candidatos à presidência no JN

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Questões raciais ficam de fora da primeira entrevista com candidatos à presidência no JN
Foto: bublikhaus / Freepik

Em 40 minutos de entrevista, temas essenciais para sociedade como a Lei de Cotas, fome e direito à terra não entraram no roteiro

Começou na noite de ontem (22), a primeira rodada de entrevistas transmitidas pelo Jornal Nacional, na TV Globo, com os candidatos à presidência do Brasil que teve como primeiro entrevistado o presidente Jair Bolsonaro. Temas importantes como o desmatamento, o descaso em lidar com a pandemia e os escândalos no MEC foram questões levantadas pelos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcelos, mas em ano de revisão da Lei nº 12.711/2012, que estabeleceu as cotas raciais nas universidades e institutos federais, o tema que é tão importante para o futuro da nossa sociedade ficou de fora.

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Pelo andamento da entrevista, deu para entender que seria difícil fazer muitas perguntas, caso tivessem. Mas questões essenciais como esta, como a alta no preço dos alimentos e até mesmo o fato de o Brasil ter voltado para o Mapa da Fome das Nações Unidas, com 4,1% dos brasileiros em situação de extrema escassez de alimentos não podiam faltar.

No domingo, uma reportagem do Fantástico trouxe dados importantes sobre como a Lei de Cotas beneficiou a população negra, pobre e indígena no país. Ao reservar 50% das vagas dos institutos e universidades federais para estudantes que cursaram o ensino médio de maneira integral em escolas públicas. Em entrevista para o G1, o doutor em educação, Adriano Senkevics estudou as mudanças no perfil dos alunos nos últimos 10 anos, chegando a conclusão de que “o grupo mais beneficiado foi o de pretos, pardos e indígenas, que saltou 10,7 pontos percentuais entre 2014 e 2016: de 27,7% para 38,4%”.

Esse deve ser um tema fundamental para que possamos definir a pessoa que vai governar o país pelos próximos 4 anos. E sequer ouvimos qualquer questão sobre a pauta racial durante a entrevista que mais pareceu um debate entre oponentes. Saber o quanto os candidatos ao governo do país estão comprometidos em combater o racismo, o quanto estão dispostos a mexer na estrutura para que possamos avançar é indispensável se quisermos um futuro mais igual.

Vimos as perguntas girarem em torno de polêmicas sobre o atual governo e as respostas da entrevista caminharam pelo raso de sempre e por ataques a um dos entrevistadores, resumindo-se a “você está me obrigando a ser um ditador” ou “são fake news” ou a “admita que você mentiu” ou a defesa de garimpeiros. O que vimos foi um candidato tomando tempo das agências de checagem que tiveram de correr para desmentir as respostas com fatos.

Enquanto isso, nós, população negra, aqueles quase 57% de Brasil, ficamos “esperando” que nossas questões fossem perguntadas e respondidas. Queríamos ouvir “Por que a revisão da Lei de Cotas não está no seu plano de governo?”, “Quais projetos e incentivos o senhor pretende criar parar beneficiar avanços sociais da população pobre, negra e indígena?”, “E o direito de quilombolas às terras, está assegurado?”.

O desastre, sim, entrevistar um candidato à presidência sem sequer ouvir uma proposta de governo parece ser mesmo um desastre, reforça também o quanto é importante investir nas candidaturas pretas, acompanhar os nossos candidatos e o que eles propõem para pensar um Brasil em que os negros tenham seus direitos garantidos é fundamental. Do contrário, tanto as perguntas, quanto as respostas continuarão a defender um único interesse, o de poucos.

O manifesto escrito pela Coalizão Negra por Direitos e lido nos atos organizados em defesa da democracia no dia 11 de agosto deixa claro “Qualquer projeto ou articulação por democracia no país, exige firme e real compromisso de enfrentamento ao racismo”. Acrescento ainda, que isso não é algo a ser negociado.

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