Se a nossa educação não é para ganhar poder real, estamos sendo mal educados e enganados.
– Amos N. Wilson
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Mais um ano letivo está terminando, e se analisarmos os resultados da luta antirracista, nas escolas, concluiremos que tudo continua essencialmente igual aos anos anteriores. A educação persiste insuflando a sensação de superioridade nos alunos brancos, e inferioridade nos alunos negros. O racismo é a marca da educação brasileira. As ações antirracistas nas escolas são ineficientes, não há conteúdos abordando as contribuições dos povos negros, e os professores não são preparados para lidar com as questões raciais; sem contar que muitos são racistas. Eu não conheço negros que não lembrem ao menos de um professor racista.
Os responsáveis pelas políticas de ensino não encaram o combate ao racismo como elemento fundamental para a transformação da sociedade. Não dão a mínima às estatísticas alertando as péssimas condições de vida e violências que a população negra sofre diariamente; é como se a escola tivesse um papel que não fosse a formação de sujeitos capazes de construir uma sociedade justa e acolhedora. Nos moldes atuais, a mesma apenas se preocupa em oferecer o básico do conhecimento: leitura e escrita, manipulações matemáticas. A ideia é que os estudantes possam servir de instrumento para o mercado de trabalho, e, também, prepará-los para ingressarem no nível superior. O estímulo ao pensamento crítico é ignorado, e mesmo assim, os interesses mencionados não são alcançados.
O relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou os resultados do PISA 2022. Nele, contatamos que os estudantes brasileiros tiveram rendimento preocupante em matemática, leitura e ciências. É claro que podemos elaborar críticas ao modelo de avaliação, e ao contexto do período analisado, mas não é o objetivo deste texto. O assunto é estritamente o racismo institucional e individual.
As pessoas brancas envolvidas nesse cenário, e com poder de decisão, não têm interesse no aprofundamento do debate. Elas nos oferecem um cardápio de hipocrisia objetivando a manutenção do sistema de ensino. Consequentemente, os estudantes negros terminam os estudos bastante traumatizados em função das relações violentas que ocorrem no interior do ambiente. Os casos de racismo são tratados com tamanha superficialidade que a punição é bastante barata para os alunos, funcionários e os professores racistas. As escolas apenas se mobilizam quando a reputação está em perigo.
Nem uma lei obrigando o ensino da história e cultura afro-brasileira (Lei N° 10.639) foi capaz de provocar mudanças na educação; a maioria das escolas não cumpre a determinação. Por tudo isso, eu cheguei a um ponto de nem ter mais estômago para ouvir tantas promessas de compromisso antirracista de pessoas brancas, governos e instituições. Mas a superação não me parece utópica, depende da organização do povo negro. O nosso ponto de partida pode ser as palavras da revolucionária Assata Shakur “ninguém vai lhe dar a educação de que você precisa para derrubá-los. Ninguém vai ensinar sua verdadeira história e seus verdadeiros heróis, porque eles sabem que o conhecimento vai ajudar a libertar você.”
Portanto, os próprios negros precisam assumir a educação das crianças, adolescentes, adultos negros; construir núcleos de ensino de cultura negra, fortalecer o povo negro com sabedoria para enfrentar radicalmente o sistema. A escola tradicional só servirá para documentar a nossa passagem. Nada mais.
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