Queen & Slim: um filme sobre a realidade, identidade racial e amor preto

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Queen & Slim: um filme sobre a realidade, identidade racial e amor preto
Foto: Divulgação/Filme

|Contém Spoilers|

Em novembro de 2019 foi lançado “Queen & Slim” o romance/drama que a comunidade preta tanto precisava mesmo sem saber. Além de abordar um assunto tão delicado e atual com muita sutileza, o filme faz algumas críticas a um dos longas queridinhos dos brancos “antirracistas”: o “Green Book”.

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Queen and Slim foi bem recebido pela comunidade negra e desprezado pelos brancos da elite,. A diretora Melina Matsoukas afirmou que os votantes do Globo de Ouro se negaram a assistir “Queen & Slim”.

Confira o trailer:

A produção gira em torno dos protagonistas que dão nome ao filme. Após um date sem graça, os personagens seguem a caminho de suas respectivas casas quando são interrompidos e abordados por um policial branco, que mesmo sem mandato insiste em revistar o carro de Slim. Nesta cena já podemos imaginar que não se trata somente de um filme de exaltação das relações afrocentradas, tem algo a mais.

O policial, branco e racista sem encontrar nada incriminador no carro endurece a abordagem e aponta uma arma para Slim, Queen que tenta apaziguar a situação é alvejada com um tiro e em uma pequena briga com Slim, o policial termina morto. E então começa a história.

Queen que é advogada, comenta durante o encontro que havia perdido uma causa, e o seu cliente — um homem negro — foi condenado a pena de morte. Ao perceber que o policial estava morto, para não cair nas mãos do sistema assim como o seu cliente, ela entende que a melhor solução para eles é fugir.

Realidade

Embora seja somente ficção, o filme de Lena Waithe diz mais sobre nossa realidade do que gostaríamos de admitir. Os jovens negros atiram no policial, branco e racista em legítima defesa, mas entendem que por serem pretos, eles já tinham sido considerados culpados antes mesmo de apertar o gatilho. As opções eram caóticas: ser instantaneamente condenados a morte pelo Estado ou ter a mínima possibilidade de sobreviver, fugindo.

Após fugir do local do crime, na primeira parada o casal descobre que o policial, branco e racista havia assassinado um jovem negro naquele mesmo bairro semanas antes e descobriram também, que toda a briga seguida do assassinato do policial, branco e racista foi filmado pela câmera de segurança da viatura, e o vídeo já tinha viralizado na internet. Dois lados foram instaurados. O primeiro do povo querendo a captura dos jovens e justiça ao policial, branco e racista e o segundo, do povo preto pedindo o fim da brutalidade policial e mais respeito com os corpos negros. A cidade estava em guerra e nos tempos em que vivemos o filme mais parece uma narração da atualidade e nos desperta uma tristeza dupla.

Amor preto

Durante a fuga é que o casal tem a oportunidade de se conhecer, Queen, que já passou por situações muito difíceis em sua vida, se tornou uma mulher fechada, mas a situação exige que ela se abra aos poucos com a única companhia que ela tem: Slim. Entre algumas paradas, esconderijos e disfarces os dois dividem angústias, revoltas e suas incertezas sobre a vida. Como toda mulher preta, Queen quer ser intensamente amada, e compreendida, já Slim que não tem muitas aspirações na vida, está somente em busca de alguém para se tornar o seu legado. Em uma cena cirúrgica, onde o filme mostra o caos que se instalou na cidade após a morte do policial branco, alguns takes do casal se amando nos dão esperança, e tudo o que passou na minha cabeça é que o amor preto cura

Identidade

Muitas questões envolvendo identidade racial são abordadas sutilmente no filme, mas o que chama a atenção é a pluralidade do povo preto. Ao assistir, esperamos que tudo dê certo para os nossos protagonistas, mesmo que em alguns momentos eles tivessem sido displicentes, parando em clubes para dançar e em campos para cavalgar, nós idealizamos o final perfeito da eterna fuga. E imaginamos também a parceria ideal entre os pretos, esquecendo de suas particularidades, durante o filme o casal encontra pretos que estão os apoiando, e outros que os acusam, o que deixa nítido que embora algo os unam, ainda são outras pessoas, com anseios, motivações, aspirações e vivências distintas. E é onde temos o plot twist que nos revolta.

Apesar dos spoilers, recomendamos demais esse filme e se você já assistiu, nunca é demais revisitar. Mas pegue o lencinho, porque o final sempre rende algumas lágrimas.

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