Por Jonathan Raymundo
Um dos conceitos que mais curto em História é o de historicidade. Este conceito tenta compreender as dinâmicas que estão envolvidas na formação dos valores, das crenças, dos hábitos e instituições sabendo que essas realidades se transformam no tempo, não são estáticas, são históricas.
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Para a Historicidade, a experiência – compreendendo o que é experimentado e como se experimenta – é a teia que tece a realidade de um ser. Por exemplo: apesar de serem gêmeos, crescerem em uma mesma família, mesma escola, mesmos pais duas pessoas desenvolverão personalidades diferentes, porque as suas experiências individuais darão o tom.
Em uma linguagem psicológica, historicidade são os conjuntos de experiências que irão constituir a história de uma pessoa e que condicionará seu comportamento em uma determinada situação. Costumava sempre dizer que é impossível dar “cavalinho de pau com transatlântico”, ou seja, não tem como operar movimento bruscos com o conjunto de experiências que engendram a história de um ser, que constrói quem somos.
Sempre agiremos no limite do horizonte das nossas experiências e expectativas. Como os indivíduos, também são os grupos sociais, os povos, as raças. Elas possuem experiências específicas, ou seja, historicidades específicas que formam seu ser, sua psicologia, seu comportamento.
É o estudo dessa formação e das implicações políticas que delas decorrem que se trata também uma perspectiva afrocêntrica. Se pretos e brancos tem experiências históricas diferentes na sua formação de povo como suas agências, seu pensamento, seu comportamento, suas soluções, sua perspectiva seriam iguais? Se somarmos a isso a realidade de que há no mundo uma dominação cultural, política, econômica, ou seja, civilizatória, branca, na discussão perceberemos o óbvio: se a fala/comportamento das pessoas pretas estão em consonância com as pessoas brancas que as dominam e que possuem historicidades diferentes, é porque essas falas são falas ideológicas produzidas pelo regime de poder branco, ou seja, a partir da historicidade branca.
Ideologia aqui como os esquemas de pensamento (material e imaterial) que promovem uma alienação. Ora, pra agir igual o branco, pensar igual o branco, se comportar igual e ter a mesma agenda política que o branco, o negro precisa estar alienado da sua própria experiência histórica, alienado de si próprio, ou seja, colonizado.
Como um povo que convive com uma taxa de aniquilamento onde se morre um filho, um pai, um primo, um tio a cada 23 minutos pode dar a mesma resposta de um povo que não sabe o que é genocídio? Como uma mulher negra pode dar a mesma resposta que as mulheres brancas, se as experiências são outras? Como as mães pretas podem responder a vida igual as mães brancas?
Ora, isso só é possível pela dominação ideológica e alienação. Enfim, esse texto é um enfrentamento, uma guerra contra a ideologia dominante e o seu processo de alienação e um convite ao despertar Negro. Como negro é uma invenção do mundo branco, é preciso “Tornar-se Negro” fora da construção de sentido colonial, como nos lembra Neusa Santos. Ou seja, é preciso tecer o próprio ser a partir da própria historicidade.
Toda vez que um Negro em posição de poder (de influência) ter sua fala aplaudida calorosamente por pessoas brancas, é preciso desconfiar se essa fala não passa de peça de propaganda ideológica branca e portanto, de instrumento de alienação cujo objetivo é a manutenção do domínio colonial da supremacia branca.
Saiba também que o poder quer o poder e que poder se exerce e não se doa. Nenhum povo fará o trabalho por você. Nem se quiserem (não irão querer, pois poder não se doa), não podem, pois sua historicidade é outra. Qual é a sua história? Seu ponto de vista? Sua interpretação da realidade e principalmente qual a agenda política que você defende, levando em conta a sua própria experiência nesse território?
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