“Nos emocionamos vendo uma senhora negra subindo as ladeiras de Santa Tereza só para ver nosso trabalho”. Noemia Oliveira descreve com muita alegria suas percepções sobre os convidados de todas as origens e idades, que prestigiaram as mostras fotográficas do Projeto Identidade a qual é uma das idealizadoras e curadora juntamente com Orlando Caldeira, desde o final de 2014. O projeto, que já teve duas exposições, se baseia no enegrecimento de personagens clássicos da literatura, cinema e cultura pop, que são originalmente brancos.
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Com uma equipe majoritariamente negra, o PI tem a produção executiva de Drayson Menezzes e contou com a colaboração de muitas celebridades como Sheron Menezzes, Lellezinha, Juliana Alves, Ruth de Souza e Milton Gonçalves. Guilherme Silva e Faya foram os fotógrafos que fizeram o registro histórico, que resultou em 30 fotos impecáveis.
Felizmente não se trata de blackface. Eles convidaram pessoas negras e as caracterizam como Mulher Maravilha e Chaplin, por exemplo, mas sem perder seus traços negros. “A Lellezinha fez uma foto com a gente e fizemos questão que ela usasse o cabelo bem armado. A gente não afina o nariz, não expomos o corpo das mulheres fotografadas, mantemos as características natural dos atores. Temos muito cuidado com isso. Também nunca teremos personagens que são empregados ou escravos”, explica Noemia.
“Precisamos de projetos de auto-afirmação para sabermos que somos bonitos. Para gente o protagonismo negro tem que ter pessoas negras, sempre, então escolhemos pessoas como a gente e que falam a nossa língua”, destaca Noêmia.
Estudo, suor e resistência
“De 2016 para cá nós tentamos voltar, mas não conseguimos. Fizemos questão de fazer fotos grandes e empoderadas, mas tivemos dificuldades em encontrar pessoas que valorizassem nosso trabalho como uma exposição de arte, com todas as suas demandas.” Eles receberam propostas, conforme conta Noemia, mas nenhuma contemplava as especificidades de uma exposição fotográfica, como iluminação e adaptação de espaço.
“Estamos agora numa tentativa de voltar com a exposição, por que hoje as pessoas falam mais sobre racismo e representatividade nas redes sociais, que são o nosso tema”, detalha.
O Projeto Identidade também é fruto da rejeição que Noemia e Orlando, enquanto artistas. “Nós somos atores e a ideia do projeto surgiu, primeiramente das nossas experiências pessoais, dos tantos nãos que tivermos que ouvir, por conta dos personagens que não nos cabe por conta da nossa melanina. E a gente queria muito falar sobre isso. Sobre quais os papéis que nós podermos fazer. Partimos desse princípio de como transformar esse absurdo que a gente viveu, em arte”.
Eles buscaram referência na literatura e estudaram o Teatro Experimental do Negro. “O Abdias é uma grande representação para gente e uma frase que a gente leva é: até quando nós vamos retratar um Brasil que não é nosso? Por que não um Antígona ou Hamlet negro?”.
As fotos trazem essas questões para a atualidade e as fotos são em maioria, de personagens comtemporâneos, como Superman ( Taiguara Nazareh), Frozen (Juliana Alves) e Harry Potter (Maicon Rodrigues).
Se adultos se encantam em ver rostos reais negros como ícones pop, para as crianças a experiência vai além. “Eu lembro de um menino que viu a nossa foto do Frozen e única coisa que ele disse que estava errada era a cor do cabelo, que originalmente é branca”. descreve Noemia.
Graças a projetos como esse, crianças negras se sentem representadas no mundo da arte e fantasia, assim como as brancas se sentem desde sempre. E o impacto disso a longo prazo é no mínimo uma dose extra de autoestima.
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