Não há negros em campanhas brasileiras de joias, carros de luxo, serviços prime, nem como pessoas ricas nas novelas, nos filmes nacionais. Com a alegação de que se “falta atores negros”, ficamos “cismados” quando em campanhas de financiamento de casas populares, benefícios do SUS, papel de segurança, doméstica e até bandidos na dramaturgia, esses atores negros emergem do nada, passam nos testes e representam a comunidade negra em papeis secundários, ou pior ainda, carregados de estereótipos.
Quando falamos de racismo estrutural dentro de um recorte de representatividade nos meios de comunicação, estamos dizendo que brancos sempre vão fazer papeis de ricos e bonzinhos, ou no máximo um vilão carismático e os não brancos, grupo onde entramos, sempre serão os pobres e bandidos. Essa é a estrutura perversa da leitura midiática de etnias que ainda é forte e presente no Brasil do século XXI.
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Não por acaso, esse é um dos motivos pelos quais pessoas brancas se espantaram com a campanha da família negra do O Botícário e a comunidade negra se manifestou contra a campanha do natal solidário da Perdigão, onde uma família negra agradece a doação de um Chester, feita por meio de uma ação de um homem branco (que comprou o alimento, depois fez discurso de cidadão do bem para sua família).
Há quem apontou uma mulher negra no “lado branco” do comercial, mas o diálogo da campanha se dá entre a mulher negra pobre agradecida e o homem branco rico que ajuda os carentes, reforçando a imagem do racismo estrutural, dos papeis que são para brancos e os que são para negros. E essa imagem que faz com que nossas crianças negras se sintam menos que as crianças brancas, que sempre verão o rosto negro, como a representação da pobreza.
O Youtuber e produtor de conteúdo AD Júnior foi além, remetendo ao branco, do comercial, o papel de princesa Isabel, salvadora dos negros.
O publicitário Fernando Montenegro, o maior especialista em afro-consumo do país apontou uma outra leitura interessante sobre o comercial.“O negro não é tratado pela marca como um consumidor direto de seus produtos, não é o verdadeiro público alvo dessa peça publicitária, que mira na família branca apostando no apelo assistencialista da campanha. A mensagem transmitida é a de que a única forma de a família negra ter acesso ao Chester Perdigão é por meio dessa caridade – vide o quão agradecida a matriarca aparenta estar pela doação”.
Montenegro ainda mostra um outro comercial, também dá Perdigão com o mesmo recorte.
Se movimentamos a economia, são os brancos que deveriam nos agradecer por isso, afinal se 54% da população deixar de consumir, o que será desse país?
Resposta da Perdigão:
“A Perdigão lamenta que a campanha publicitária de Natal tenha ofendido qualquer um de nossos consumidores. Nunca foi essa a nossa intenção. Falar de generosidade é, para nós, uma forma de união e agradecimento a todos os nossos consumidores, que há três anos colaboram para o Natal de mais de 6 milhões de pessoas, independente de cor, gênero, raça ou religião. É nisso que acreditamos“.
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