Por um fio: um grito de liberdade

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Por um fio: um grito de liberdade
Foto: Alex Green/Pexels

Texto: Ivair Augusto Alves dos Santos

Tenho sido abalado emocionalmente pelos frequentes relatos de pessoas negras, com transtornos mentais e também fiquei impactado pela leitura de um livro que considero leitura obrigatória por todos que tem a sensibilidade para o tempo que vivenciamos. Uma epidemia silenciosa no campo da saúde mental da população negra com estresse, ansiedade e depressão que tem atingido a todos os lares.

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O livro escrito por Kwame Yonatan Poli dos Santos é “Por um fio: uma escuta das diásporas pulsionais” conta a travessia e o diálogo da clínica com as políticas públicas no atendimento aos casos que estão por um fio, no limite. Um processo de escuta sobre pessoas que foram levadas ao limite da existência, e como o autor teve que ir até elas para escutá-las.

Essa travessia é um encontro com a escuridão, uma descida aos infernos, como dizia Frantz Fanon, a zona do não ser, onde um autêntico ressurgimento pode acontecer. Essa travessia exige o reconhecimento de que na complexidade do universo da psicanálise, existe um pressuposto fundamental: a indissociabilidade entre clínica e política. O inconsciente tem cor.

A psicologia freudiana é apresentada como universal, e os psicanalistas na sua maioria estão situados no identitarismo branco, ou seja situada na Europa. O autor Kwame propõe que seja abandonada a branquitude na clínica em que o racismo é estruturante e promove a desumanização das pessoas.

Há uma necessidade de se pautar o combate ao racismo junto às políticas de cuidado de saúde e assistência social. Os profissionais brancos, gestores, não se esforçam em entender que aqueles pacientes negros que procuram aquele serviço precisam de uma escuta diferenciada.

A principal atividade da clínica é escutar, ou seja analisar com quais forças estamos lidando e onde a violência do racismo está se manifestando. “É comum ouvir na clínica o relato de pessoas negras que se sentem em carne viva pois o contato com o racismo estrutural as esfola, como a retirar-lhes uma cobertura de proteção sensível, desumanizando os sujeitos.” (Kwame Yonatan)

É preciso que gritemos com todas as nossas forças. Precisamos de ajuda.

Os gritos, quando irrompem na clínica, não são nada tranquilos e/ou agradáveis, nem quem rasga a garganta berrando, nem quem os escuta com ouvidos de um psicanalista. “Há gritos que irrompem com tanta força, porque são resultados do acúmulo de várias violências coloniais”, como escreveu Frantz Fanon, no celebre livro Condenados da Terra.

Por fim, o autor fala do Aquilombamento que é uma das estratégias de descolonização do mesmo modo a deslocá-la das fantasias coloniais propostas no enfrentamento e na gestão dos conflitos leva em conta em que os problemas são compartilhados. O quilombo é um modelo de um processo de ressignificação, de re-xistência negra, de fortalecimento e organização das forças de resistência e um caminho para o bem viver.

É necessário que os profissionais da área de saúde mental incorporem uma nova escuta e sejam antirracistas.

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