A Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB) foi a primeira instituição de ensino superior no Brasil. Foi construída no Largo Terreiro de Jesus, no Pelourinho, em 1808, sob a ordem do rei D.João VI. Nessa época, o Brasil era um Império que se estruturava na escravização dos negros. Só aí, já é possível entender como a ciência e a cultura brasileira começavam a se moldar numa roupagem elitista, favorecendo pessoas brancas para ocuparem esses espaços de prestígio social, enquanto negros ficavam à margem da sociedade, submetidos ao trabalho escravo, erguendo as construções arquitetônicas coloniais e imperiais com o seu suor, mas sem o direito de ingressarem nesses âmbitos. Nesse período, somente pessoas de famílias tradicionais, com alto poder aquisitivo, poderiam tornar-se médicas. Hoje, apesar da maioria dos médicos ainda serem brancos, devido a essa herança de privilégios, já é possível ver negros revolucionando e dando um outro percurso à história da Medicina no país.
O Pelourinho (nome dado a uma antiga coluna de bronze onde os escravos eram castigados) foi palco de muita violência dirigida à população negra. Nesse mesmo lugar onde estão esses estudantes de medicina, os seus antepassados foram explorados, mutilados, estuprados e torturados. Famílias negras eram desestruturadas por um sistema sádico e hostil que negava a nossa humanidade, pois era mais conveniente que fôssemos vistos como criaturas animalizadas, sem sonhos e sem perspectivas de vida, condenadas apenas à subserviência.
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FOTO 3X4: Rudson Martins – Produtor de Elenco
Essas fotos, portanto, significam muito para a comunidade negra. Elas não só potencializam os sonhos de adultos, jovens e crianças pretas como também simbolizam um ato de subversão ao sistema. Ainda que houvesse um projeto de embranquecimento da nossa cultura e de extermínio da nossa população, essas imagens mostram que, unidos, podemos criar estratégias de sobrevivência e resistir.
Hoje, pretes retornam ao Pelourinho, porém não mais como escravos, e sim como futuros médicos e médicas que agora estão livres para exercerem a sua profissão graças a uma luta árdua dos nossos ancestrais que sempre fizeram história segurando esse país nos braços. Que o dia 20 de novembro seja um momento de reflexão, mas também de celebração pelas conquistas do nosso povo.✊🏾✊🏾
Observação: As fotos em que os estudantes precisaram ficar mais próximos uns dos outros, foi feito o uso da máscara por conta da COVID-19. Nas fotos em que eles estão sem máscara, foi seguida a recomendação para que ficassem distantes uns dos outros. A máscara foi tirada só depois de já estarem afastados e, após a foto, os estudantes as colocaram novamente em seus rostos para evitar qualquer chance de contaminação/proliferação do coronavírus.
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