Paternidade preta e a realidade desafiadora de pais viúvos

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Paternidade preta e a realidade desafiadora de pais viúvos
Kevin Heart em cena de Paternidade - Divulgação Netflix

Por Ale Cesar*

O cinema sempre contou histórias de superação e de relacionamento entre pais e filhos, que fizessem chorar como o inspirador ‘Em Busca da Felicidade’ (2016) ou provocar boas risadas como a comédia leve ‘Uma Família de Dois’ (2016). Embora protagonizados por atores negros,  ambos não tinham como personagem central a paternidade preta e seus desafios. 

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Paternidade (Netflix) já nos emociona desde o início, Matt (Kevin Hart) se vê viúvo e com uma filha recém-nascida após sua esposa Liz (Deborah Ayorinde) falecer por complicações no pós parto, em  uma cena angustiante e de encher os olhos de lágrima.  

Mas não quero dar spoiler, pois desejo muito que assistam essa história de paternidade preta  para que percebam a importância de levantar a discussão sobre os desafios que pais pretos e, muitas vezes solos, encaram na educação e criação dos filhos. 

Conversei com o ex-arbitro de futebol Márcio Chagas, membro do Coletivo Pais Pretos Presentes, que se viu em situação semelhante no último dia 8 de junho com sua esposa Aline de 44 anos após dois anos lutando contra um câncer de mama. Márcio conta que durante o  tratamento da esposa, se aproximou dos filhos Miguel de 8 anos e Joana de 4 anos através dos  cuidados domésticos, tarefas escolares e principalmente buscando a melhor forma de prepará- los para o momento da despedida.

Durante o tratamento Márcio perdeu o emprego em um canal de TV em Porto Alegre, viu o  tratamento da Aline se intensificar e em uma decisão conjunta ela foi morar com a mãe  enquanto Márcio se dividia entre acompanhar a esposa, os cuidados com os filhos e a  campanha para vice-prefeito pela Cidade Gaúcha. Essa jornada, embora difícil, não se compara ao momento de dar a notícia da perda da mãe  aos filhos.

Márcio Chagas com Miguel e Joana – Foto: Arquivo Pessoal

A estreia do filme promoveu um impacto em seus sentimentos pois os anseios e  medos de um homem negro, vivendo os desafios de educar filhos sozinhos onde a sociedade  não acredita na possibilidade e capacidade de realizar essa jornada, passam constantemente em seus pensamentos.

Sobretudo porque o Racismo Estrutural impede que a sociedade compreenda a sensibilidade  que um pai preto possa ter em relação aos filhos, desde uma tarefa simples como a troca de uma fralda, pentear o cabelo, cozinhar, orientar e responder questionamentos, suprir  necessidades e ser um excelente exemplo a seguir.

Márcio afirma que encontra no Coletivo Pais Pretos Presentes o acolhimento e o conforto  necessários para seguir nessa nova etapa da vida em família. Ele, tem certeza de que todos os  dias aprende como um pai preto pode exercer a paternidade sadia e antirracista preparando  seus filhos, agora sem o apoio da mãe, a serem pessoas capacitadas e encorajadas a fazer a  diferença na sociedade futura.



Voltando ao filme, se vocês esperam altas gargalhadas comuns em atuações de Hart, digo a  vocês que ficará por conta dos amigos Jordan (Lil Rei Howery) e Oscar (Anthony Carrigan)  proporcionarem os momentos mais engraçados do drama.



Outros dois momentos de destaque são os embates com a sogra Mariah (Alfre Wood) pois a  avó insiste em não botar fé na capacidade de Matt de criar a pequena Maddy ( Melody Hurd) e  o encontro com a nova namorada Swan (Dewanda Wise) que surge depois da tentativa de  Oscar e sua esposa promoverem o encontro apostando na ideia de que Matt precisa de uma  figura feminina na educação de Maddy. 

Matt (Kevin Hart) e Maddy (Melody Hurd) em cena de Paternidade (Netflix): Foto Reprodução

Kevin Hart declarou: “O filme é incrível e me deu a oportunidade de mudar a narrativa sobre o  estereótipo do pai preto, como pai preto tenho orgulho de estar presente na vida dos meus  filhos. Não sou o único que faz isso, somos muitos” 

O filme apresenta cenas de profundo afeto entre pai e filha. Em alguns momentos seu trabalho  é invadido pelos cuidados com um bebê, noites sem dormir e aquela relação complicada com o  colégio, tornando a história facilmente refletida a realidade de muitas mamães e papais. Por ser um drama estadunidense, poucos aspectos se assemelham à realidade brasileira pois  não há pobreza, falta de uma rede de apoio ou desgastes emocionais, além do novo desafio  que Matt irá enfrentar. Mas a proposta de apresentar a paternidade preta possível é o  suficiente para preparar a pipoca, aconchegar a família no sofá e apertar o play para viajar na  leveza desse drama.

Paternidade é inspirado na vida de Matt Logelin, que contou a sua história no livro Dois Beijos para Maddy, adaptado para o cinema pelo também diretor Paul Weitz (Um Grande Garoto) e  por Dana Stevens (Cidade dos Anjos).

Ale Cesar – Jornalista e assessor de Comunicação do coletivo Pais Pretos Presentes, pai da pequena Ana Flávia e apaixonado por comunicação e arte

Pais Pretos Presentes https://linktr.ee/paispretos

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