Nossas crianças podem ser o que quiserem certo? Sim, desde que as meninas não queiram ser princesas, visto que o assunto, pelo menos nas redes sociais, estimula discursos inflamados que ligam a imagem da princesa a um sub-categoria de mulher que dedica a sua vida à busca do príncipe salvador.
Talvez no caso de crianças brancas, essa reflexão faça algum sentido, porém, quando refletimos sobre o que é ser criança e negra no Brasil, salta os olhos a falta de representatividade nos brinquedos, desenhos e programas de TV, Youtube e literatura infantil.
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A possibilidade de fazer parte da realeza, da nobreza deveria ser algo respeitado tanto quando querer brinquedo de médica, bombeiro ou professora. Na escola os pequenos aprendem que fomos escravizados, que somos mais pobres, mas não sobre os grandes impérios africanos.
Negra empoderada e Princesa
A atriz Sheron Menezes, assim como muitas meninas negras, se frustou na infância por não conhecer princesas iguais a ela e isso ser motivo de piadas entre seus amigos gaúchos. “Eu pensava, porque não podia ter uma princesa igual a mim, eu ficava muito triste e minha mãe me vendo assim, escreveu um livro com uma princesa que é a minha cara” descreveu a futura mamãe durante o programa Tamanho Família, da Rede Globo.
A Princesa Violeta, concebida e escrita por Veralinda Menezes começou com um livro de Conto de Fadas, um CD e o espetáculo “Contando e Cantando Princesa Violeta”. O projeto já tem quase 10 anos.
“Princesa Violeta, por si só, já é uma história de empoderamento feminino, na medida em que o fio condutor da história é a trajetória da Princesa para tornar-se uma guerreira e mostrar ao rei, seu pai, que não era necessário um filho homem para defender o reino, pois ela mesmo o faria”, descreve Veralinda.
“A história empodera não só as meninas, mas as mulheres em geral, e em especial as meninas negras, mas também os meninos negros e os idosos, pois insere no reino mágico reis, rainhas, príncipes, princesas, gênios e fadas negros, e concede ao idoso, no caso o avô, a maior fonte de poder, valorizando assim, não só os personagens centrais, mas toda a sua ancestralidade.”
Os responsáveis pela criação da crianças, muitas vezes deixam sua ideologia falar mais alto do que os desejos naturais que os pequenos têm por determinada brincadeira ou personagem. Conto de fadas, para as crianças é coisa séria e para nós adultos é uma forma de observar não o que elas desejam ser, mas o que ela já são.
“O conto de fadas, dá à criança, ideia de como organizar sua casa interior, seu turbilhão se sentimentos e sua educação moral, de forma sutil, implícita. Isso se dá não através de conceitos abstratos, mas de vivências que terá através de personagens, especialmente daqueles com os quais se identifica. Para a criança o contos de fadas é muito mais real. Não é o aqui e agora da realidade adulta, é um território fora do tempo e do espaço.
E dentro desse universo lúdico reina uma personagem: a princesa”, destaca a escritora que já viajou para diversos estados, fazendo performances para crianças carentes.
“Elas (crianças) veem a colega branca igual a todos os personagens desse universo e fica sem referência. Ou seja, a amiguinha branca tem cara de princesa e ela não. E a amiguinha branca, com o tempo vai achar que aquela menina negra está no lugar errado, ou que ela é feia ou inferior, lhe atribuindo menos valia”, finaliza Veralinda.
Ninguém é obrigado a gostar de princesas ou se derreter ao ver suas filhas ou filhos querendo ser parte da realeza, mas é importante respeitar a escolha dos pequenos enquanto eles ainda tem a proteção dos adultos para desfrutar do mundo da fantasia, sem limites, censuras, julgamentos e com liberdade que há muito tempo atrás, não tínhamos enquanto comunidade negra.
Projeto Identidade:
Idealização e Curadoria: Noemia Oliveira (@nonoemia ) e Orlando Caldeira (@orlandocaldeira )
Produção Executiva: Drayson Menezzes, Noemia Oliveira e Orlando Caldeira
Vídeo: Marcela Rodrigues
Assistente de Produção: Drayson Menezzes @draysonmenezzes
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