Há um ano bell hooks nos deixava. No dia 15 de agosto de 2021, fomos abatidos pela notícia do seu falecimento, aos 69 anos. A escritora feminista ativista afro-amerciana conhecida como bell hooks foi registrada com o nome de Gloria Jean Watkins. No processo de tornar-se escritora ela decidiu mudar a forma pela qual era chamada, adotando assim o nome de bell hooks em homenagem à sua bisavó, Bell Blair Hooks, conhecida por sua coragem em falar mesmo diante de uma sociedade racista e machista.
A grafia do pseudônimo em letras minúsculas é justificada a partir de dois argumentos: primeiro que ela não se reduz a um nome e segundo que suas produções não devem ser lidas em função deste nome, como expôs Joana Plaza no artigo Estranha a ‘mulher’.
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bell hooks nasceu em 25 de setembro de 1952, na pequena cidade de Hopkinsville, no Kentucky, Estados Unidos. Ela viveu sua infância e adolescência com sua numerosa família (cinco irmãs e um irmão) no sul dos Estados Unidos, numa região segregacionista. Sua mãe era dona de casa e seu pai funcionário dos correios, e mesmo exercendo as mesmas funções e mesma carga horária, ele recebia um salário mais baixo do que os funcionários brancos.
Ela fez graduação e mestrado em Língua Inglesa e doutorado em Literatura Inglesa, onde desenvolveu um trabalho sobre a escritora Toni Morrison (primeira mulher negra a vencer o Nobel de Literatura, em 1993). Mas foi ainda na graduação que ela escreveu o que veio a se tornar seu livro mais famoso: Ain’t I a Woman? que no português foi publicado como E eu não sou uma mulher? obra clássica da teoria do feminismo negro.
Ela tem mais de 30 livros, alguns deles traduzidos para nós. Sua longa produção acadêmica também foi acompanhada por forte atuação como professora em diferentes instituições de ensino americanas, como na Universidade de Yale e na Universidade do Sul da Califórnia. Os principais temas que nortearam as inúmeras obras de hooks são: a crítica à pedagogia tradicional, reflexões sobre amor e autoconhecimento e as dinâmicas de raça, classe e gênero, só para citar alguns. hooks foi fortemente impulsionada pela produção e atuação do pensador brasileiro Paulo Freire, como ela mesma menciona no seu livro Ensinando a transgredir.
A escritora não fazia distinção entre sua prática acadêmica e sua prática política. Ela ficou muito conhecida por popularizar os debates sobre feminismo negro. Ela teorizou questões importantes sobre raça, classe e gênero numa linguagem direta, e estavam entre suas maiores preocupações comunicar as pautas de luta do feminismo negro para o maior número de pessoas, um exemplo disso é o livro O feminismo é para todo mundo.
Aquela primeira sensação experienciada com a notícia do falecimento de bell hooks que nos encontrou há um ano pode (ou poderia) ser completada com a concepção de herança. Somos a cada livro que lemos dela enriquecidas e fortalecidas na nossa jornada de luta antirracista.
Por falar em legado, terminarei o texto com um trecho dela, talvez bell hooks tenha sido a principal ativista que destacou a importância do amor e do amar na construção dos movimentos políticos e sociais. Nas eternas palavras de bell hooks: “No momento em que escolhemos amar, começamos a nos mover contra a dominação, contra a opressão. No momento em que escolhemos amar, começamos a nos mover em direção à liberdade, a agir de formas que libertam a nós e aos outros”.
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