O equivoco na ideia de “representatividade”

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O equivoco na ideia de “representatividade”
John Boyega para GQ

John Boyega, o Fin de “Star Wars”, é o “garoto da capa” da edição de julho da revista GQ dos Estados Unidos. Em entrevista o ator se refere a obras populares, como “Senhor do Aneis” e “Game of Thrones”, onde não há nenhum personagem negro em destaque e, na verdade, nessas obras é até mesmo difícil se lembrar de um personagem negro que participe, até mesmo de forma secundária.

Em um dos trechos da entrevista, John declara: “Não tem nenhuma pessoa negra em Game of Thrones. Você também não consegue ver uma pessoa negra em O Senhor dos Anéis. Eu não estou pagando pra assistir o mesmo tipo de pessoa toda vez no cinema. Nós vemos pessoas de diferentes culturas e lugares todos os dias. Ainda que você seja um racista, você tem de conviver com isso”.

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O que ele disse faz todo sentido, não faz? Bom, pra muita gente não. Cometi o erro de ler os comentários em um site “nerd” que publicou a matéria sobre a declaração do ator, e adivinhem? Tinha muita gente pra dizer que era “palhaçada”, “mimimi”, que as reclamações por representatividade estão “passando dos limites”.

Mais que isso, na própria matéria, o autor da a entender que, na verdade, a falta de atores negros nessas obras se dá pelo contexto das mesmas, por se passarem em épocas medievais e coisas do tipo. Fiquei pensando sobre isso…

Me respondam vocês: Elfos existem ou existiram? Dragões existem ou existiram? Mulheres que possuem ovos de dragões existem ou já existiram? Hobits existem ou já existiram? Conseguem perceber que para um mundo de fantasia não há limites, mas para pensar em personagens negros há? Dá pra pensar em mil e uma raças diferentes, dá pra criar dialetos inexistentes, dá pra criar cidades, países e até continentes, mas NÃO DÁ pra colocar personagens negros porque aí, JÁ É DEMAIS!

E aí é que mora o erro! As pessoas não conseguem pensar em um personagem negro como simples característica. Sempre que falamos em papeis para pessoas negras o público e até autores pensam logo em “preenche a cota da representatividade”, como se ser negro(a) fosse algo anormal demais, além da imaginação.

O anormal é simplesmente não haverem pessoas negras! Porque nós EXISTIMOS! E o natural é que nós estejamos em diversos lugares, inclusive no cinema, na TV, no teatro e etc. Não deveria incomodar só a nós, não deveria ser uma questão de “cota” e sim de naturalidade, de existência.

Não há limite pra representatividade, porque ela não é feita pra ser migalha. Nós, pessoas negras, podemos e devemos questionar o porquê de nosso apagamento nessas histórias, e simplesmente dizer que o autor “não era racista, muito pelo contrário”, não faz diferença, se sua obra mostra o oposto. E assistir a essas produções, que não dão visibilidade nenhuma a pessoas negras, e achar que está tudo normal, é sim racista.

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