O álbum “Everything is love” está entre nós! Sem aviso prévio Beyoncé e Jay-Z, o casal mais poderoso da indústria fonográfica atualmente, lançou um álbum com 9 músicas inéditas e um clipe, referente a faixa “APES**T”. Em menos de 24 horas o vídeo ultrapassou a marca de 6 milhões de visualizações e a internet ficou em polvorosa!
O vídeo chamou a atenção de todos, especialmente por seu simbolismo. São corpos negros ocupando o Museu do Louvre que, localizado na França, pode ser visto como um símbolo da visão eurocêntrica do que é a arte, com seus artistas brancos, imagens de pessoas brancas em destaque e, seu maior ícone: a Monalisa.
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Beyoncé e Jay- cantam a arte negra, o dinheiro negro, a fama negra! Beyoncé aparece como uma arte viva, canta com confiança, dança com várias outras mulheres negras. Jay-Z ostenta seu cabelo crespo, sua pele escura, seus colares de ouro, e o que tem de mais valioso: suas palavras.
Todo esse trabalho altamente corajoso, forte, significativo, potente e de alta performance; que tem inclusive ganhado várias interpretações na internet – à exemplo de “This is America” – tem um inicio bem remoto, mais precisamente em 2014. Na verdade essa é uma teoria altamente pessal e, na minha cabeça, ela faz todo sentido. Porém, não vi ninguém fazendo essa relação, então achei interessante coloca-la a mesa.
Imagine comigo: Estamos em maio de 2014, no Met Gala, um evento de moda super reconhecido e bem frequentado. Uma daquelas poucas ocasiões onde podemos ver Rihanna, Madonna, Beyoncé, Lady Gaga, Kety Perry e etc, circulando em um mesmo tapete vermelho. Este foi o cenário fatídico onde Solange Knowless, irmã de Beyoncé, chuta e soca o cunhado, Jay- Z, no elevador. As imagens das câmeras de segurança foram vendidas para o TMZ – um dos maiores portais de fofocas – e logo ganharam o mundo.
Esse papo parece velho pra você, não é? Você pode estar agora pensando: “Mas todas as fofocas já foram feitas sobre esse caso! Todos os memes possíveis também!”. Isso é um fato, não posso discordas… Aliás, que belos memes, não é mesmo?! (É pra isso que pago a internet!) Mas, com olhos um pouco mais atentos, nós podemos perceber que, de alguma forma, aquele acontecimento, e tudo que ele desencadeou, mudou o cenário do audiovisual negro no mundo.
Primeiro é importante entender que estamos falando de 3 músicos/artistas/celebridades negros, conhecidos internacionalmente. Solange tem uma carreira mais modesta, mas Beyoncé e Jay-Z são duas grandes potências mundiais na atualidade, o tipo de artistas que ditam tendências, que propõem novas narrativas.
Logo após as imagens da briga se espalharem, surgiram rumores de qual seria o motivo do descontrole de Solange. Um fato que também não passou despercebido foi o de, logo depois da briga, Beyoncé ter seguido no carro com a irmã, o quê, pra muitas pessoas, significou que Jay estava realmente “devendo”. A teoria de que a amante, antiga amante ou futura amante do rapper estava na festa e que este manteve uma conversa com a mesma, o que enfureceu Solange, ganhou força na internet. Mas será que Jay-Z teria mesmo coragem de trair “Queen B.”?
Em abril de 2016 descobrimos que SIM! Com o álbum “Lemonade” Beyoncé falou abertamente sobre ter sido traída, sobre seu casamento estar em ruínas, sobre a dor de ser enganada… Mas do que isso, a cantora falou sobre redenção, amor, perdão e recomeço. E, em meio a tudo isso, como nossas relações são ainda mais difíceis e complexas quando o fator raça se faz presente.
Bey enalteceu as mulheres negras, as que se sentem sozinhas e desamparadas, as que vieram antes dela, as que sofreram e sofrem. Mulheres negras são as que mais passam por relacionamentos destrutivos, abusivos. Também são as mulheres negras as mais desprezadas, que são vistas como não merecedoras de carinho e afeto. O filme, que acompanhando o álbum, leva o mesmo nome, “Lemonade”, e é, acima de tudo, uma celebração à força e a união das mulheres negras.
Porém, a artista não deixa de olhar para o homem negro. Que tipo de amor esse homem consegue construir em uma lógica onde a violência o molda e o mata? Esse homem sabe mesmo o quê é amar? Como construir uma família ao lado desse homem, como mostrar a ele que, enquanto mulher negra, você merece amor e ele, como homem negro, merece também ser amado? Com todas essas questões “Lemonade” se utiliza de diversas referências históricas, culturais e artísticas. Cria uma narrativa que se torna uma verdadeira obra de arte.
Solange também despertou para a questão racial e em “A Seat at the Table”, seu terceiro álbum de estúdio, deixou isso evidente. No quesito audiovisual, além da bela letra, destaco o clipe da música “Don’t touch my hair”, lançado em outubro de 2016. Nessa faixa a cantora fala sobre a aceitação do cabelo crespo. No clipe Solange aparece com vários tipos de cabelo usados por afro-americanos durante os anos: tranças, perucas, alisamentos… As imagens também fazem referência à história negra norte-americana, trazem negros em interações não óbvias e instigantes.
Em julho de 2017 foi a vez de Jay-Z mostrar como o elevador o afetou. Em “4:44”, seu mais novo álbum de estúdio, o rapper trata de racismo, paternidade, família carreira… Jay admite que traiu a esposa, admite que Solange estava certa, admite que foi canalha… O mundo ficou em CHOQUE! Mais que isso, ele se admite como um homem negro cheio de mazelas pra contar. Em uma das faixas que eu mais gosto, “The Story of O.J.”, ele canta basicamente que, não importa quanta fama você tenha, quanto dinheiro possua, você ainda é um homem negro e o racismo ainda te alcança.
Então quer dizer que ele coloca a culpa dos erros que cometeu no racismo? NÃO! Quer dizer que hoje Jay-Z se permite refletir sobre o racismo e sobre como este tem agido em sua vida. Porque a ideia de homem negro “pegador” é tão naturalizada? Porque homens negros sendo maus maridos, pais ausentes, filhos problemáticos, não causa espanto? Questionar tudo isso faz parte da mudança e é isso que o rapper faz em “4:44”.
Tantos questionamentos que se conectam não podem e não são simples coincidência! São trabalhos diferentes, mas “Lemonade”, “A Seat at the Table”, “4:44” e agora “Everything is Love” estão, indiscutivelmente ligados. Os 4 álbuns propõem narrativas audiovisuais não lineares, cheias de referências histórias e culturais ligadas ao que significa ser um cidadão negro nos Estados Unidos. Mais que isso, esses trabalhos propõem a negros do mundo inteiro um olhar verdadeiro, critico e, ainda sim, poético, sobre suas próprias realidades.
Que outros artistas negros ao redor do mundo, diretores, músicos, fotógrafos e etc, se sintam inspirados a transformar nossas dores e angustias, nossa história e resistência, em um manifesto artístico a altura de nosso povo. Sem precisar de brigas no elevador pra isso, claro!
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