*Por Márcia Silveira porta-voz do Mover e head de Diversidade e Inclusão da L’Oréal

Após 134 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, segue sendo necessário refletir sobre a nossa história e o quanto ainda estamos longe de termos uma sociedade livre do racismo.

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Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 56%dos brasileiros se declaram negros. Somos o país com mais habitantes negros e, ainda o que mais mata a nossa gente. A desigualdade racial se perpetua nos indicadores sociais da violência ao longo do tempo. Segundo informações do Atlas da Violência 2021, a chance de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é 2,6 vezes superior àquela de uma pessoa não negra. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes negros no Brasil em 2019 foi de 29,2%, enquanto a da soma dos amarelos, brancos e indígenas foi de 11,2%.

Como falar de liberdade se somos encarcerados e sem perspectiva de vida? Como exaltar a falsa democracia racial enquanto o racismo atinge nossa existência em tantas instâncias?

No ambiente de trabalho isso não muda muito. Ainda há um abismo salarial que continua separando negros e brancos e os cargos são totalmente díspares. Segundo um levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado em 2021, a média de ganhos de nós, negros, equivale a 57,7% da renda de brancos e, além disso, 31% dos cargos de diretoria são ocupados por pessoas negras, enquanto os não negros somam 69%.

Pensando em contribuir para um futuro onde a equidade racial seja o ponto de partida para mais lideranças negras, geração de empregos, áreas de capacitação e formação, que o Mover (Movimento pela Equidade Racial), foi criado. Para que a luta contra a discriminação racial produza resultados consistentes, há um passo que precisa ser tomado: se posicionar como anti-racista. Não basta apenas não ser racista, é preciso lutar contra a desigualdade racial que persiste. É preciso atuar pela promoção da igualdade racial e realizar ações para um presente e futuro mais igualitário. Considero que um dos caminhos seja engajar a sociedade. No ramo empresarial, não podemos fazer diferente. 

Há cerca de 1 ano atrás, 13 das maiores empresas do país se reuniram para assumir um compromisso no combate ao racismo estrutural e na promoção da equidade racial. A partir desse objetivo, iniciamos as conversas com lideranças negras que já atuavam em prol da causa, convidamos outros profissionais a se juntarem e, em poucos meses, somamos hoje 1,3 milhões de colaboradores das 47 empresas que integram o MOVER.

Um dos principais objetivos do Mover é criar 10 mil novas posições para negros em cargos de liderança até 2030, através de modelos inclusivos de recrutamento e desenvolvimento; gerar oportunidades para 3 milhões de pessoas de diversas formas, inclusive  com cursos, capacitação, conscientização,  conexão com empreendedores negros, entre outras ações; e ser uma plataforma e ferramenta de apoio na meta de ter uma população conscientizada quanto ao racismo, por meio de comunicação ativa para públicos internos e externos, englobando toda a cadeia de valor.

Esse trabalho conjunto inclui o compartilhamento de boas práticas e a aceleração dos processos de diversidade, equidade e inclusão já em curso nas próprias organizações. Muito além de planejar, criar estratégias e orientar direções, o MOVER busca ser uma ferramenta efetiva, por meio de ações que impactem na redução da desigualdade racial no Brasil. As iniciativas são pautadas em 3 pilares: Liderança, Emprego & Capacitação e Conscientização.

Juntas, as empresas possuem enorme potencial para gerar no longo prazo uma mudança positiva na sociedade e no mercado de trabalho, tornando-o mais inclusivo e, principalmente, receptivo ao surgimento de novas lideranças negras. Há ainda muitos desafios a serem enfrentados na luta contra o racismo, e o mundo corporativo pode e deve ser um grande agente de transformação nesta batalha. Vamos lutar cada dia mais para mudar essa situação, atuando no combate ao racismo estrutural e na promoção da equidade racial.

Enquanto estivermos em um país que tem notícias como a da D. Madalena Gordiano, que viveu em situação análoga à escravidão por 38 anos, e hoje não consegue enxergar seu valor como pessoa, temos que seguir atuando como um combatente nesta batalha que é estrutural e só será modificada com o apoio de todos em todas os cargos e âmbitos sociais. 

Precisamos Mover e promover reais mudanças na sociedade. Seguimos na luta hoje e sempre! Resistir para existir. 

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