O auto-ódio faz pessoas pretas terem raiva de si mesmas e de suas características físicas. Acreditam que não servem para ser amadas e desfazem de si e dos seus semelhantes. Contrariando isso, Nouve volta à cena para lançar o videoclipe de “#AmorPreto“, pela necessidade de trazer o afeto entre pessoas pretas e direcioná-las a um caminho de cura através da música.
“#AmorPreto é uma forma de dizer ao mundo o quanto é importante a gente se amar e se cuidar“. Essa é definição de Nouve para este novo single, com produção musical de Tito Vinícius e DJ Gug Pinheiro, e videoclipe roteirizado e dirigido por ele mesmo, gravado e editado por Robson Borges.
Notícias Relacionadas
Ação contra pais e Colégio Bandeirantes exclui bullying e cita racismo em caso de suicídio de estudante
"Estão vigiando minha filha de 6 anos", denuncia candidato que pode ser o primeiro prefeito negro de Sabará em 313 anos
A música tem um groove dançante e agitado, junto a letra bem desenvolvida, que fala sobre amar como um ato revolucionário e eleva a autoestima do ouvinte. A inspiração para a composição veio após Nouve assistir o vídeo “O Amor está no ar? Sim, e ele é preto!”, da Família Quilombo, youtubers que exaltam o amor afrocentrado e o fortalecimento entre a comunidade preta.
“Reaja à violência racial: beije sua preta em praça pública” é um poema de Lande Onawale e está presente no refrão da música, foi mais uma inspiração para Nouve. O poema saiu na capa do jornal do Movimento Negro Unificado, em 1991 e até hoje é lembrado. O intuito de Lande, ao escrevê-lo, era ampliar a visão da sociedade sobre o que era racismo e o que era violência racial.
O videoclipe foi gravado no Centro Cultural da Juventude Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo. “Há muito tempo nós crescemos sendo bombardeados por programas de TV, novelas e filmes românticos, onde os casais e famílias estruturadas nunca são de pele preta. Neste momento tão tenso que estamos vivendo, é preciso falar sobre amor e afeto entre os nossos“.
Todos que participaram são pessoas próximas de Nouve, gente que o inspira. “Todos estavam bem envolvidos, de coração aberto e nos ajudaram a fazer acontecer. Casais de diversas idades, casais novos, casais com 50 anos de casamento, famílias completas e todos mostraram o real exemplo de Amor Preto, que a relação pode ser duradoura e saudável”.
Nouve traz referências de uma cena do filme “Something Good-Negro Kiss“, que mostra um beijo entre um casal negro. Foi o primeiro da história do cinema em 1898. “Quando falamos sobre os dias de hoje, Taís Araújo e o Lázaro Ramos são nossa maior inspiração e exemplo de #AmorPreto. Além deles temos, Michelle e Barack Obama, Denzel e Pauletta Washington e a Beyoncé e o Jay-Z. Casais muito poderosos e que nos mostram como devemos montar uma estrutura familiar“.
Para ele, não basta falar sobre lutar e resistir, é necessário colocar o amor preto em pauta, já que a luta do povo preto é diária. “Por mais que a gente passe por momentos difíceis, o amor ainda nos dá esperança. Quando ele está presente com um parceiro ou uma parceira ou com amigos e família lutando junto, tudo fica mais leve e conseguimos ultrapassar qualquer barreira”.
Quando fala em amor preto, ele não põe em evidência apenas o relacionamento afetivo, mas fala das amizades, família e os mais variados tipos de relação. Reforça a ideia de que amar, para uma pessoa preta, é sim um ato político. Nouve desenvolveu ações que mostram a importância disso.
“Minha companheira, minha família de sangue, a família de Àse, me trazem muito forte o que é ser preto de periferia. É preciso que a gente se acolha e tenha um diferencial. Sei bem o que é ser criado por uma mãe solo, que exerceu a função de pai e mãe ao mesmo tempo. Isso é mais comum do que imaginamos para pessoas que vem do mesmo espaço que eu e causa vários impactos”, conta.
Desde o início de novembro foi ao ar uma série de quatro episódios com casais pretos contando suas histórias no IGTV do artista. Para falar sobre afeto, ele pretende convidar historiador, um psicólogo e um artista. No intuito de fortalecer ainda mais o trabalho, ele lançou a hashtag #AmorPreto e movimentou toda comunidade preta a participar e demonstrar o quão importante e significativa é essa troca.
Notícias Recentes
Saudade do tempo em que a TV era branca? Um chamado à diversidade e inclusão na teledramaturgia brasileira
Ação contra pais e Colégio Bandeirantes exclui bullying e cita racismo em caso de suicídio de estudante