Mulheres negras que vivem de música: Componentes da banda Dembaia Dai Ramos e Beà disputam o Prêmio Shell

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Mulheres negras que vivem de música: Componentes da banda Dembaia Dai Ramos e Beà disputam o Prêmio Shell

Dai Ramos e Beà, pertencem a banda Dembaia, que significa família, na língua da etnia Susu, e são nomes que concorrem a premiação, que aconteceria na noite desta terça-feira (17), no Copacabana Palace, mas que na primeira vez na história teve o evento cancelado por conta do coronavírus (Covid-19). Sobretudo, a organização do evento informou que o resultado da premiação acontecerá e está trabalhando na melhor forma para divulgação.

Dai Ramos recebe o título pela direção musical do espetáculo “Os Desertos de Laíde” e Beà por “Meus Cabelos de Baobá”.

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A banda, que agora acumula duas indicações ao prêmio por dois espetáculos que abordam a ancestralidade, força e resiliência da população preta, se trata de um coletivo liderado por mulheres negras pesquisadoras, atuantes desde 2014, realizando apresentações, saraus, vivências, aulas e oficinas com conteúdos que abordam principalmente a cultura da África do Oeste, como Guiné, Conacry, Mali, Senegal, em conjunção com referências contemporâneas e afrodiaspórica como, por exemplo, o slam, a capoeira e o jongo.

Para Dai Ramos a experiência é mais que apenas um título, a indicação veio do projeto que trata das dores da personagem na morte de seus filhos e sua percepção de mundo e sentimentos, que também espelham a intimidade de mulheres comuns, que enfrentam cotidianamente a violência.

 “Quando fui convocada à musicalizar, para ajudar a dar à luz ao trabalho poderoso que é o espetáculo “ Os Desertos de Laíde”, só expressei: uau! São vísceras de multidões de mães pretas que perderam seus filhos, num contexto de negação de juventudes negras, que estão em cena. Eu aceitei o desafio por acreditar na importância que esses úteros negros devastados continham como narrativa. Estou me sentindo honrada por estar fazendo parte a história dessa peça que tem uma produção politizada, texturas estéticas intensas, encenações viscerais, uma direção sensível. Afinal, quando arte, afeto e política se encontram é um salve na melancolia morna da existência”, frisa Dai.

Já “Meus cabelos de Baobá”, que recebeu a indicação por meio da Diretora Musical, Beà, que aos 24 anos é indicada pelo segundo ano consecutivo a premiação na mesma categoria, e no ano passado realizou o marco de ser a primeira mulher negra a ocupar indicação na categoria em 31 anos de existência do prêmio.  A montagem que se desenvolve em torno de diálogos da Rainha Dandaluanda com o Baobá, árvore milenar de origem africana, que lhe ensina valores africanos e desperta sua autoestima: primeiro, como menina; em seguida, como mulher e, finalmente, como rainha, consciente de sua beleza singular, de sua força ancestral e identidade negra.

O trabalho tem como uma das características a mulher negra em lugar de articulação, pois além da música, elas estão a frente da atuação, produção, direção, e é um marco não só no quesito representatividade e lugar de fala, “é um conceito de vibração ancestral”, desde a Ana Paula Black que traz a voz dos ancestrais vivos da rainha Dandalunda, até a contação da história pela protagonista Fernanda Dias e a direção de muita classe, leveza e afeto e da Vilma Melo, a primeira atriz negra a ganhar o Prêmio Shell de Teatro que assina a direção. “Nesse espetáculo a gente se identifica com o que é dito, porque em algum lugar a gente passou por isso, a gente vive esse lugar e todas nós queremos existir lá”, ressalta Beà.

Falando em representatividade, Dai Ramos lembra que a trajetória de mulheres negras na música não começou agora, “Essa indicação significa muito porque representatividade importa. As mulheres negras são potência na música há anos. E ser a terceira mulher preta a ser indicada a esta premiação, em 32 anos (as primeiras foram a Bèa e a Larissa Luz no ano retrasado) nos mostra que somos muitas e que as estruturas precisam se mover, pois mesmo que não queiram nós existimos”, afirma.

Beà acredita e afirma que a vitória de um igual é uma vitória coletiva. “Quando a Larissa Luz, que ano passado estava concorrendo a premiação comigo na mesma categoria, ganhou com o musical Elza, eu comemorei junto. Era como se eu também tivesse ganhado, afinal, no momento político que a gente tá vivendo, nosso momento enquanto pretos que tem toda uma ancestralidade, ninguém ganha. São todas essas mulheres que vivem as mesmas coisas pra estudar música, afinal, somos potência de Orunmilá, somos potência do universo”, concluiu.

Os Desertos de Laíde:

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