Mulheres negras e afetividade: temos o direito de ser amadas

0
Mulheres negras e afetividade: temos o direito de ser amadas
Foto: Carolina Marinati

Por Haillany Souza 

Não, você não está lendo errado. O título desse texto não é uma pergunta, é uma afirmação. Nós, mulheres pretas, temos o direito de ser amadas sim. E já adianto que esse amor vai muito além do romântico. Afeto não é algo que pessoas pretas estão acostumadas a receber, e nem a demonstrar. Não demonstramos aquilo que não recebemos. É indiscutível o fato de que muitas de nós vivenciamos o amor tardiamente. E isso já começa quando não nos reconhecemos, quando ainda não nos admiramos. O processo de construção da autoestima da mulher preta é por vezes doloroso, mas libertador. Olhar para si, e enxergar beleza no que se vê, é um caminho sem volta e é por aqui que devemos iniciar.

Notícias Relacionadas


Autocuidado não é só skincare. Num mundo onde a beleza padrão ainda é eurocêntrica, a mulher negra precisa exercitar diariamente a compaixão por ela mesma. Explorar o nosso eu interior, entender quais são as nossas necessidades, os nossos sentimentos, e fazer tudo isso sem culpa e sem censura é um autocuidado e uma forma de se (re)conhecer. Quando a mulher preta se enxerga dessa maneira, se amar e ser amada torna-se um processo mais leve, pois é vivenciando esse amor por si que finalmente percebe que sim, merecemos dar e receber amor.

Mas, é preciso trabalhar com os fatos: esse processo não é fácil e nem é rápido. No decorrer de toda essa descolonização a qual estamos lidando, tendemos à internalizar somente as dores. O que mais se ouve falar é sobre a solidão da mulher negra, do quanto não vivenciamos o amor, do quanto o afeto não é para nós. Quando se trata de afetividade e mulheres negras, a primeira coisa que é pautada é a nossa autodestruição. Sempre focam no quanto somos marcadas pela infelicidade de não sermos escolhidas e nem amadas. Mas isso tem que acabar, e já!

Mulheres negras merecem ser amadas. Mulheres negras podem escolher. Isso pode soar como mantra. Aliás, acho que pode até ser. Precisamos entender que “O amor cura” não é apenas uma frase clichê, pois aprender a amar é uma forma de achar a cura que precisamos. Reconhecer as nossas dores e encontrar no amor por si e por outrem, outras formas de curá-las. Em ‘Vivendo o Amor’, Bell Hooks contextualiza isso perfeitamente: “Quando nós, mulheres negras, experimentamos a força transformadora do amor em nossas vidas, assumimos atitudes capazes de alterar completamente as estruturas sociais existentes. Assim, poderemos acumular forças para enfrentar o genocídio que mata diariamente tantos homens, mulheres e crianças negras.  Quando conhecemos o amor, quando amamos, é possível enxergar o passado com outros olhos; é possível transformar o presente e sonhar o futuro. Esse é o poder do amor. O amor cura”.

Circule esse amor. Ter uma rede de apoio preta onde possa exercitar o afeto, demonstrar sem amarras tudo o que sente, é uma ótima forma de viver essa cura que só o amor nos proporciona. Precisamos aprender não só a nos amar, mas também a amar outras mulheres pretas. Nós somos únicas e plurais. Somos atravessadas por nossas vivências. Nos reconhecemos umas nas outras. E aprendendo a amar a si mesma, e as outras mulheres pretas, você está mostrando ao mundo que sim, mulheres negras têm o direito de ser amadas.

Hailanny Souza é CMO da Agência e Produtora Freakout, Head de Conteúdo do Influência Negra, fotógrafa, escritora e criadora de conteúdo digital.

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

No posts to display