Mostra exibe filmes do início da carreira de Joel Zito Araújo

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Mostra exibe filmes do início da carreira de Joel Zito Araújo
Joel Zito Araújo. Foto: Jacob Solitrenick.

Filmes com o registro da visita de Nelson Mandela ao Brasil e a primeira vitória jurídica em um caso de demissão por racismo estão na mostra.

Um dos principais responsáveis pela emergência do cinema negro no Brasil e com filmes exibidos e premiados em diversos festivais pelo mundo, Joel Zito Araújo ganha mostra com nove dos seus filmes realizados entre os anos de 1987 e 1997. A programação ficará disponível de 22 de julho a 01 de agosto de 2021, no site criado especialmente para o projeto, e será retransmitida paralelamente pela TV dos Trabalhadores (TVT).

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O início da carreira do cineasta mineiro compreende a produção no formato de vídeo e sua contribuição ao vídeo popular (anos 1980/90). Ainda pouco conhecido, esse conjunto de filmes fundamentais para a memória do cinema brasileiro é o foco do projeto. São trabalhos raros e de difícil acesso, como São Paulo Abraça Mandela (1991), que retrata o encontro do líder sul-africano com os movimentos negros paulistas, e A Exceção e a Regra (1997), que documenta a primeira vitória jurídica na história do país de um caso de demissão por racismo.

“A proposta desta Mostra que traz os meus primeiros dez anos de realizador cinematográfico foi uma surpresa para mim. Eu revisito com regularidade os meus longas para cinema, realizados a partir de 2000, mas meus curtas e médias estavam esquecidos. Redescobri personagens que entrevistei, histórias que desenvolvi, parcerias que fiz, pessoas com quem trabalhei, as minhas escolhas e experiências narrativas e os desafios que vivi neste período que foi de intensa formação”, diz Joel Zito.

“Por outro lado, revê-los é também ver o que estava se passando com a juventude do cinema ligada aos movimentos sociais e à luta pela redemocratização do país e dos seus meios de comunicação. Porque todos estes curtas e médias foram frutos de um compromisso e parcerias com os movimentos sociais, especialmente os movimentos negros”, relembra.

Dos filmes se desdobram outras ações, como a abertura da mostra, com a psicóloga e ativista Cida Bento (amiga e colaboradora frequente de Joel Zito) e a Masterclass de encerramento com o homenageado, que garantirá certificado a quem participar. Na ocasião, o realizador abordará as singularidades da realização em vídeo, as circunstâncias históricas de sua prática e a relação com organizações civis no período da redemocratização, traçando paralelos com seus filmes atuais.

“São filmes fundamentais porque, ao se engajarem junto a movimentos sociais, nos ensinam não só sobre as lutas, mas também sobre como lutar através das imagens”, afirma Vinícius Andrade, um dos idealizadores da mostra ao lado de Álvaro Andrade.

Os filmes ficarão disponíveis por 10 dias no site. Junto com eles, será lançado um catálogo, em formato de e-book. O material será composto por uma entrevista com Joel Zito, diálogos com parceiros de trabalho, como o advogado Hédio Silva Júnior e o diretor de fotografia Luiz Miyasaka, além de reflexões transversais sobre as obras, documentos e referências bibliográficas visando ampliar o conhecimento sobre a cinematografia abordada, fichas técnicas e fotografias de cada filme.

Serão transmitidos em tempo real ainda três debates com autores e autoras dos textos do catálogo, como Bernardo Oliveira, Dácia Ibiapina, Débora Olimpio, Edileuza Souza, Ewerton Belico, Fabio Rodrigues, João Carlos Nogueira, Nicole Batista, Paulo Galo e Vladimir Seixas.

As conversas serão mediadas pelo crítico de cinema Juliano Gomes, editor dos textos. E, completando a grade de atividades, a Mostra exibirá ainda dois programas bônus: O primeiro gira em torno do material bruto do filme A Exceção e a Regra, e o segundo é composto por três programas da série Vídeo Popular – 30 Anos Depois, exibido pela TV dos Trabalhadores (TVT) em 2015 e que teve Joel como apresentador.

Além da parceria com a TVT, a mostra teve o apoio da TV PUC de São Paulo, responsável pela preservação do acervo da Associação Brasileira de Vídeo Popular (ABVP).  

SERVIÇO:

MOSTRA JOEL ZITO ARAÚJO –  UMA DÉCADA EM VÍDEO

(1987-1997)

De 22 de julho a 01 de agosto de 2021

Site: www.mostrajoelzitoaraujo.com.br

FILMES DA MOSTRA

Nossos Bravos (1987, 31 min)

Formato original: U-Matic

Docudrama sobre as mobilizações trabalhistas do início do século XX no Brasil, protagonizadas por organizações sindicais de influência anarco- socialista. A partir de recursos ficcionais e arquivos históricos, o filme reconstitui parte importante da memória do sindicalismo brasileiro e de suas maiores greves, estabelecendo o diálogo entre diferentes gerações operárias. Com Lelia Abramo, Dionizio Azevedo, Dulce Muniz, Gésio Amadeo, Cláudio Ferrario, Javert Monteiro, Carla Margareth, Devanir Rodrigues. Apoio da Cinemateca Brasileira e Arquivo Edgar Leuenroth (UNICAMP).

Produção: DIEESE – Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos socioeconômicos – Equipe de Educação Sindical/ Montevideo

Roteiro: Joel Zito Araújo e Peter Overbeck Direção: Joel Zito Araújo e Peter Overbeck Fotografia: Peter Overbeck

Montagem: Joel Zito Araújo, Peter Overbeck e Susana Kirkjian

Memórias de Classe (1989, 40 min)

Formato original: U-Matic

Documentário sobre o cotidiano e a luta dos trabalhadores da geração dos anos de 1930 no Brasil. Contado através das memórias de uma feminista e quatro sindicalistas, o filme mostra as diversas faces da experiência de organização dos trabalhadores nessa época, da influência varguista ao comunismo, culminando no traço comum da sua relação com as bases operárias. Ganhador do Concurso Nacional de Roteiros da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS)/Fundação Ford de 1988. Realizado com financiamento do Concurso e com apoio do DIEESE e da Cinemateca Brasileira.

Produtora: Tapiri vídeo Roteiro: Joel Zito Araújo Direção: Joel Zito Araújo Fotografia: Valdir Tezinho

Montagem: Valdir Tezinho, Rodrigo Astiz e Maria Angélica Lemos

Almerinda, Uma Mulher de Trinta (1991, 25 min)

Formato original: U-Matic

Resgate da história de vida da militante feminista dos anos 1930, Almerinda Farias Gama, participante da luta pelo direito de voto da mulher, na Constituinte de 1934, e ativista da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, junto a Bertha Lutz. Realizado em parceria com a

S.O.S Corpo (Recife). Apoio da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS)/Fundação Ford, Fundação McArthur, Novib. Menção   Honrosa,   pelo   caráter   de   preservação da memória, no 14º Guarnicê de Cine-Vídeo/Jornada de Cinema e Vídeo do Maranhão, em 1991. Selecionado para o Habana Film Festival/Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano.

Produtora: Tapiri vídeo/TV Viva

Roteiro: Joel Zito Araújo e Angela Freitas Direção: Joel Zito Araújo e Angela Freitas Fotografia: Valdir Tezinho

Montagem: Joel Zito Araújo e Angela Freitas

Alma Negra da Cidade (1991, 30 min)

Formato original: U-Matic

A persistência da discriminação racial não impediu a afirmação da comunidade negra no espaço urbano de São Paulo. Dois cantores, um poeta, uma empresária, uma empregada doméstica, uma mãe de santo, um jovem, todos afro-brasileiros residentes em São Paulo, contam suas origens, trajetórias de vida, sonhos, angústias, e como vêem a situação da população negra 102 anos após a abolição formal da escravatura. Documentário realizado para exibição na TV Gazeta, no dia 13 de maio de 1992. Parceiros: Coordenadoria Especial do Negro (CONE) e Prefeitura Municipal de São Paulo. Apoio da TV dos Trabalhadores.

Produtora: Tapiri Vídeo

Direção de produção: Maria Angelica Lemos Roteiro: Joel Zito Araújo

Direção: Joel Zito Araújo Fotografia: Luiz Miyasaka Montagem: Valdir Afonso

São Paulo Abraça Mandela (1991, 22 min)

Formato original: U-Matic

Documentário sobre a visita de Nelson e Winnie Mandela à cidade de São Paulo, registrando o seu encontro com a comunidade negra e os movimentos sociais atuantes na cidade. O filme mostra a recepção oficial e a importância de suas presenças para o processo de reconhecimento do papel dos afro-brasileiros na formação do país. Parceiros: Coordenadoria

Especial do Negro (CONE), Prefeitura Municipal de São Paulo e Comitê Paulista de Recepção a Mandela.

Produção: TV dos trabalhadores (TVT) Roteiro: Joel Zito Araújo

Direção: Joel Zito Araújo

Fotografia: Cláudio Morelli, Nestor Neregato Montagem: Roberto Cardoso

Homens de Rua (1991, 32 min)

Formato original: SVHS e U-Matic

O filme se aproxima das vivências de homens e mulheres obrigados a sobreviver nas ruas de São Paulo no início dos anos 1990, época de deterioração das condições de vida dos trabalhadores, alto índice de desemprego e aumento da pobreza urbana. Entre a abordagem do problema como algo estrutural e um olhar sensível para os personagens, o documentário retrata a vida de pessoas que perderam seus trabalhos, distanciaram-se de seus afetos e viram sua identidade desintegrar-se. Parceria com a Secretaria Municipal do Bem Estar Social, da Prefeitura Municipal de São Paulo.

Produtora: Tapiri vídeo

Direção de produção: Franklin G. Pinto Roteiro: Joel Zito Araújo

Direção: Joel Zito Araújo

Fotografia: Luiz Miyasaka e Robson de Azevedo Montagem: Cleiton Capellossi

Retrato em Preto e Branco (1992, 15 min)

Formato original U-Matic

O documentário é estruturado como uma vídeo-carta de um homem negro denunciando a persistência do racismo na sociedade e na mídia brasileira, um século depois do fim oficial da escravidão. Apresenta, assim, as contradições entre duas imagens das relações raciais no Brasil: a imagem divulgada no exterior, que difunde o mito da democracia racial, e a imagem interna, apresentada nos livros didáticos e na televisão, nos quais são perpetuados os estereótipos negativos contra a população negra. Com Guilherme Santana. Supervisão do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e parceria com o Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (IBEAC). Exibido no IV Encontro Latino Americano de Vídeo (Peru), na Muestra Latinoamericano de Video Educativo y Cultural (Chile), na Premiète da Muestra Europeenne

de Vídeos Latino-Americaines (França), e no Chicago Latino Film Festival (EUA).

Produção: Paulo Bueno, Bia Ribeiro – Companhia de Vídeo Roteiro: Joel Zito Araújo e Hédio Silva Junior.

Direção: Joel Zito Araújo Fotografia: Luiz Miyasaka Montagem: Paulo Bueno

Eu, Mulher Negra (1994, 31 min)

Formato original: U-Matic

Encomendado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) a partir Projeto “Saúde Reprodutiva da Mulher Negra”, coordenado por Elza Berquó, o filme faz parte de um compromisso de solidariedade pelo resgate de cidadania da população negra brasileira. São imagens e vozes que carregam a experiência de diferentes mulheres negras, tendo como eixo os problemas e desafios enfrentados para o cuidado com sua saúde reprodutiva. Participações de Ruth de Souza, Malu Mendes, Gueda Liberto, Patrícia Pereira, Ângela Baptista Alves e Lourdes das Graças Chagas. Apoio: Fundação McArthur e Novib.

Produtora: Tapiri vídeo

Direção de produção: Maria Lúcia da Silva Roteiro: Joel Zito Araújo

Direção: Joel Zito Araújo Fotografia: Luiz Miyasaka Montagem: Paulo Weidebach

A Exceção e a Regra (1997, 39 min)

Formato original: Betacam.

O filme investiga como as denúncias de racismo são tratadas pela justiça brasileira, relatando a história inédita de persistência e dignidade de um homem negro: Vicente do Espírito Santo tornou-se um caso de exceção por ter sido a primeira vítima de racismo a furar o cerco e chegar vitoriosamente ao Tribunal Superior do Trabalho e ao horário nobre da Rede Globo. Parceria com o Núcleo de Estudos Negros (NEN). Apoio: Fundação Ford, Sinergia SC, Fundação Cultural Palmares, Agentes de Pastoral Negros Quilombo Central, Câmera de Vereadores de Salvador, Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), Central Única de Trabalhadores (CUT-SP), Geledés, Secretaria de Negros e Negras – PT Nacional, Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente, Sindicato dos Bancários (ES), Sindicato dos Bancários de Florianópolis, Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores da Indústria Energética (MG), Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações (MG). Selecionado para o Festival Nacional de Vídeo “Brasilidade”, organizado pela Cinemateca do MAM-RJ e Goethe- Institut.

Produção: Tapiri vídeo Roteiro: Joel Zito Araújo Direção: Joel Zito Araújo

Fotografia: Luiz Miyasaka e Valdir Tezinho Montagem: Joel Zito Araújo e Renato Tapajós

PROGRAMAS ESPECIAIS

Programa I – Bônus A Exceção e a Regra

Conjunto de materiais extra em torno do filme A Exceção e a Regra. O primeiro deles apresenta parte do material bruto do documentário, com imagens inéditas do julgamento do caso de Vicente do Espírito Santo. O segundo consiste em um trailer extraído do primeiro corte do filme, quando este ainda se chamava A Herança de Zumbi. Por fim, uma versão produzida para o público estrangeiro – dublada em inglês e com duração reduzida em relação à cópia brasileira.

Programa II – Série Vídeo Popular – 30 Anos Depois

Em 2015, o arquivo da Associação Brasileira do Vídeo Popular (ABVP) tornou-se matéria-prima para uma série sobre os 30 anos do vídeo popular. Produzida pela TV PUC (responsável pela preservação do arquivo da ABVP) em parceria com a TV dos Trabalhadores (TVT), na qual foi exibida, a série teve como apresentador Joel Zito Araújo. Dentre 26 episódios, três foram selecionados para exibição: o Episódio 1 tem participação de membros do Movimento Negro Unificado (MNU), com quem Joel Zito nutriu fortes laços; o Episódio 9, sobre o vídeo Exclusão Social (1995, de Renato Tapajós, realizado pela Tapiri, produtora da qual Joel Zito foi sócio, dialoga com filmes da Mostra (como Homens de Rua); Por fim, o Episódio 16, sobre as relações raciais no Brasil, faz uso de trechos e debate questões presentes em Retrato em Preto e Branco

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