A nova geração da comunidade negra veio para fazer diferença no mundo também por meio da disseminação do conhecimento. Conceição Soares, da cidade de Pacoti (Ceará), hoje com 20 anos, soube tirar proveito do estímulo que a escola estadual Menezes Pimentel onde estudou, lhe ofereceu e viajou para o outro lado do planeta, mas especificamente em Pequin, na China representando o Brasil.
A jovem gosta de destacar a família e o fato de que foi criada por uma mãe solo que sempre incentivou que suas filhas se dedicassem aos estudos com olho na universidade. “Minha mãe é mãe solo e criou sozinha suas quatro filhas com muito esforço e sacrifício. Mesmo sem muitas condições, ela sempre foi uma grande influenciadora para valorizarmos os estudos e seguirmos uma carreira acadêmica. No inicio foi bem difícil, pois morávamos na zona rural de Pacoti e era muito cansativo o percurso até a escola. Houve um tempo em que minha irmã, Michele, hoje com 21 anos, e eu acordávamos três horas da madrugada para chegarmos no horário” descreve a estudante.
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Em 2016, quando Conceição tinha 17 anos, após ela e sua família terem mudado para o centro da cidade, para casa da avó, ela e sua irmã receberam um grande desafio. “Durante o ensino médio fui selecionada, juntamente com minha irmã Michele, para participarmos do projeto Jovem Explorador. O projeto foi criado por nosso professor de história, e tinha como um dos objetivos principais recriar a imperial comissão científica que veio ao Ceará no século XIX”, detalha a jovem.
Desse projeto escolar surgiu o primeiro Ecomuseu de Pacoti fruto de muito trabalho e parcerias. O espaço foi o primeiro museu feito de plástico reciclável do país e responsável por uma dos acontecimentos mais incríveis da vida da jovem cearense:
“Em 2015 participamos do Desafio Criativos da Escola, que estava em sua primeira edição. Fomos o único projeto selecionado do Ceará. Em 2016, o projeto Jovem Explorador foi selecionado pelo Criativos da Escola para participar da conferência internacional Design for Change, em Pequim, na China. Estavam concorrendo alguns alunos que participavam do projeto e atendiam aos pré-requisitos, como por exemplo ainda estar no ensino médio, ter uma participação ativa no projeto. Aconteceu um sorteio e fui a grande sortuda! Viajei com meu professor (Levi Jucá) e com o projeto de Bahia que também foi selecionado.”
Durante a Conferência ela pode conhecer projetos de todo o mundo que são protagonizados por jovens e crianças que estão mudando a realidade de onde moram, assim como Conceição fez juntamente com seus colegas por meio do museu de Pacoti.
“Quando me vi na China, apresentando um projeto para pessoas do mundo inteiro a emoção tomou conta de meu coração”, celebra Conceição.
A importância da visibilidade
Mais madura, Conceição tem consciência da importância das mulheres negras ocupando espaços e muito disso ela atribui à sua educação e essa é uma fala que ela traz com muito orgulho: “Durante toda a vida tive que enfrentar muitos obstáculos para conseguir realizar meus sonhos. Por ser de família humilde, por ser mulher negra e por viver em um país tão desigual e racista”.
“Tive a oportunidade de ter ao meu lado pessoas que me ajudaram, me apoiaram e abriram alguns caminhos para mim. Minha fala é também sobre a importância de termos visibilidade. As crianças e adolescentes, que como eu, vivem uma realidade periférica e enfrentam na pela as marcas do racismo e da desigualdade social, precisam ouvir histórias como essas para continuarem a sonhar e para além disso, essas crianças e jovens precisam de investimento, precisam de educação com qualidade, precisam de uma vida digna”, aponta Conceição que atualmente mora em Fortaleza cursando o semestre do curso de Teatro pela Universidade Federal do Ceará .
Mais informações sobre o Museu de Pacotí podem ser obtidas por meio do site https://www.ecomuseu.com.br/.
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