“De quem é a técnica que você usa para maquiar?”, a pergunta é também uma provocação feita pela maquiadora e cabeleireira Maxi Weber. Aos 49 anos, ela celebra as três décadas de carreira como referência no mundo da beleza, acumulando um portfólio que inclui trabalhos de maquiagem e cabelo realizados para grandes nomes do mundo da moda, como Naomi Campbell, de quem sempre foi fã.
Antes mesmo da chegada das blogueiras que questionavam a falta de tons de base que atendessem aos diferentes tons de pele negra, ela fazia a alquimia das sombras, do blush, das bases e pincéis. Inicialmente, de maneira intuitiva e com o passar do tempo, Maxi desenvolveu uma técnica que ajudava a valorizar o rosto das modelos, negras e brancas, que maquiou pelo mundo, usando a luz e a sombra como recursos para, como ela mesmo diz, “criar beleza”.
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Para compartilhar conhecimento, ela também criou a Maxi Academy e se prepara para a sua primeira master class do ano. A Maxi Master Class of MAKE DE MODA, em que ensina a técnica de maquiagem que desenvolveu e que a tornou uma referência.
Em conversa com o Mundo Negro, uma das maiores maquiadoras negras do país, mulher trans e pioneira no segmento, Maxi Weber compartilhou sua experiência e contou como saiu da Cohab 2, no Jardim José Bonifácio, Zona Leste de São Paulo, para assinar a maquiagem de estrelas mundiais.
“Com 14 anos comecei a trabalhar de office boy na Serasa e minha mente expandiu. A Serasa era sediada na frente do Hilton, que era o melhor hotel de São Paulo e todos os artistas que iam se apresentar no Rock in Rio daquela edição, em 87, se hospedaram lá. Então veio o clipe do George Michael com as supermodels, veio o Rock in Rio, veio Serasa, veio muita coisa, minha mente expandiu e eu comecei a pensar na moda, em conhecer a Naomi [Campbell]. Eu achava que não ia conhecer, mas tinha alguma coisa lá no fundo que estava sempre apontando. Era um insight”, comentou.
Como moradora da periferia de São Paulo, Maxi teve que enfrentar alguns obstáculos para conseguir trabalhar com a profissão que tinha mais aptidão. Desde cedo ela já gostava de maquiagem e começou a carreira maquiando pessoas trans, travestis e gays
“Eu trabalhei de office boy, de auxiliar de escritório, aí veio o exército, me alistei, foi uma fase difícil, eu saí. Sendo gay naquela época, na Cohab era muito difícil e eu sempre fui uma pessoa pra frente, então as pessoas não entendiam muito isso. Com 21 anos eu fiz um curso de cabeleireiro e vi que eu tinha facilidade para cortar. No começo minha mãe me deu um pente, uma escova e uma capa e eu falei ‘E o secador?’, ela falou, ‘olha, não tenho dinheiro para o secador, vai com isso e se der certo compra um secador para você’. Ela liberou o meu quarto para eu atender lá e aconteceu essa história de todo mundo lotar a casa. Nisso eu fui para um salão, mas não deu certo porque as pessoas queriam ir em casa”, contou.
Do começo no quarto da casa da mãe para a primeira capa na Vogue Espanha
A trajetória que Maxi percorreu até chegar à sua primeira capa parece simples quando contada rapidamente em uma conversa de menos de uma hora, mas existiu um longo caminho que a maquiadora teve que fazer enquanto aprimorava seu trabalho na maquiagem, construindo uma carreira consolidada e um nome no universo da beleza pela maestria na técnica do visagismo.
A primeira capa da Vogue que Maxi fez foi com a modelo Isabeli Fontana, que ela considera uma madrinha. Foi ela quem pediu que Maxi fizesse a maquiagem e cabelo que saíram nas fotos de capa e nas páginas internas da Vogue Espanha, publicada em julho de 2004, no país europeu.
“O Marcelo Gomes, dono da Glloss, a agência, mudou minha vida. Ele me apresentou o Giovanni Praton, que era editor da Vogue. Eu já trabalhava há dez anos fazendo book, criando imagem. Eu já tinha um book, tinha conhecido a Isabeli Fontana, fiz uma capa de Vogue Espanha, foi minha primeira capa de Vogue. Isabeli Fontana foi minha madrinha, ela me conheceu, eu fiz uma maquiagem nela. A Isabeli era a mulher mais linda que eu já tinha visto na vida, sem maquiagem, né. E ela falou que eu era bom. Quando ela falou eu era muito insegura, não tinha escola, não existia faculdade de maquiagem e eu também não poderia pagar. O único curso que existia era do Senac. Mas isso foi muito bom porque eu descobri que eu conseguia fazer. Ela já tinha maquiado com os melhores do mundo, então ela não estaria mentindo pra mim”, detalha.
A partir daí, o encontro com Naomi Campbell veio e o número de capas com personalidades nacionais e internacionais maquiadas por Maxi, que antes da transição de gênero ficou conhecido como Max Weber, cresceu. Hoje ela acumula mais de 300 capas de revistas reconhecidas no Brasil como Elle, Marie Claire, Bazaar e Vogue, e fora do país, como Vogue America, L’officiel Paris, Numéro Tokyo, Vanity Fair Italia, entre outras.
Além das capas, Maxi Weber já foi considerada uma das cinco melhores profissionais de beleza do Brasil e ganhou 2 Prêmios Avon, 2 Moda Brasil, 3 Cool Awards, 2 Editora Abril e 3 Editora Globo.
Da alquimia dos pincéis aos produtos prontos para os diferentes tons de pele negra
Maxi relembra que quando começou a maquiar profissionalmente, em meados dos anos 80, no Brasil não existiam produtos voltados exclusivamente para a pele negra. “Na verdade existiam os produtos, mas não no Brasil, porque a gente está atrasado nisso. Como eu tinha que mexer na minha pele, eu fui em busca dos produtos que eram para a minha pele”, explicou a maquiadora.
Hoje em dia e para quem não é profissional pode ser difícil pensar como maquiar com poucas opções de tonalidades de base, mas Maxi entendia bem como usar as cores nos mais variados tipos de pele. “A alquimia nunca deixou de existir em várias artes, a arte de cozinhar, a arte de pintar, a arte de maquiar. Então existem cores primárias que você pode criar outras cores, mas aí você precisa de um estudo mais profundo ou de um profissional que entenda disso. Mas eu tinha muita facilidade porque eu já era negra, então eu busquei produtos para essas cores. Nós temos mais de 220 tonalidades de pele preta no Brasil. Você não vai ter tudo isso na sua nécessaire, você vai misturar. Para mim não era difícil porque eu nunca fiz a separação entre cor branca e cor preta. Para mim tem a cor branca que é a 1 e a 10 que é a preta. Aí você vai passar pela amarela, vai passar pela vermelha e você vai ter que usar alguns truques para neutralizar as vermelhas, muito vermelhas e etc.. Então isso eu já tinha em mim, então não foi muito difícil”, continuou ela.
Em um período onde o número de seguidores chama mais a atenção do que os números da experiência, Maxi, que também já assinou makes em 20 edições da São Paulo Fashion Week, reforça a importância da valorização de profissionais que já estavam no mercado. “Eu tenho esse processo de uma pessoa mais velha, de olhar para essa geração com mais amor. Eles vão valorizar quando entenderem que o processo nasceu antes e [nasceu] para resolver o processo que eles estão vivendo agora. Eles precisam da técnica e eu pergunto na minha academia, ‘de quem é a técnica que você usa para maquiar?'”, pontua.
Ao ser questionada sobre as barreiras que precisou enfrentar por ser uma pessoa negra, ela afirma: “Vou falar a verdade para você, eu nunca foquei nisso e não era uma discussão aberta. Mas eu já era preta. Então que diferença ia fazer? Eu tinha que ser a melhor. Eu acho que existe isso sim. Tem uma barreira pessoal, porque eu já era adotada, era a sexta filha numa família de brancas, e eu tinha que ser a melhor”, relembra.
Para participar do Maxi Master Class of MAKE DE MODA, os interessados podem se inscrever no site: maxiacademy.com.br/maximasterclass2023/
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