No último sábado (21), se noticiou sobre a demissão em massa do quadro de roteiristas negros que compunham a equipe de criação da série de ficção sobre Marielle Franco. A série, ainda sem previsão de lançamento, será veiculada pela Globoplay e está sendo dirigida por Antonio Padilha, de “Tropa de Elite”.
Depois das demissões, duas roteiristas assumiram o projeto Mariana Jaspe e Maria Camargo. Ambas atuaram juntas na produção da série baseada no livro “Um Defeito de Cor” de Ana Maria Gonçalvez, que irá ao ar pela Globo em 2021.
Hoje, Mariana Jaspe, que é negra, declara em carta aberta a importância do seu papel, e espaço para liberdade criativa e autoral para a obra, e família de Marielle.
Notícias Relacionadas
Câmara aprova a inclusão da escritora Carolina Maria de Jesus no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria
Experiência Negra em Espaço de Luxo: 52% dos clientes negros desistem da compra por conta do racismo
Confira abaixo na íntegra:
Sobre minha autoria na série sobre Marielle Franco ao lado de Maria Camargo. Fiz parte da sala anterior e meu retorno se deu unicamente por ser junto com Maria – minha mentora, pessoa por quem tenho imenso respeito, amor e, principalmente, por termos uma relação de muita confiança mútua.
Mas, para além do afeto, é preciso ser pragmática: aceitei o desafio porque nos foi garantida total liberdade de criação e condições reais de autoralidade. Chego para ocupar de fato um lugar de liderança criativa – tão fundamental em um projeto como esse. Conversamos também com a Antifa e o Globoplay e combinamos um processo de troca com muito debate e respeito no relacionamento. Acredito que mais importante que poder dizer sim, é poder dizer não e diremos tantos quanto forem necessários para contar a história de Marielle e Anderson – não escreveremos sobre o que não acreditamos. Meu posicionamento em todas as instâncias é de que não estou aqui para cumprir um papel figurativo – Token só o da senha do banco.
O que eu e Maria nos dispomos a fazer é colocar a mão na massa, confrontar a folha em branco – que é nosso ofício – e trabalhar duro para escrever uma história que não seja apenas poderosa, mas também esteja a serviço do legado de Marielle. Sua morte é uma ferida ainda aberta e, uma vez que a série irá acontecer, é preciso que o recorte sobre sua vida faça jus a quem ela foi e seguirá sendo. Sei que não será um trabalho simples, mas qual processo criativo é? Desejo muito e coloco toda minha força, intuição, técnica e disposição para que Dona Marinete, Seu Antônio, Luyara, Anielle, Monica e Agatha se sintam respeitadas. E, por se tratar de uma obra de ficção, que uma senhorinha lá no interior da Bahia assista e diga: Eita, que série massa!
Notícias Recentes
A violência de Estado e a barbárie cotidiana no Brasil
Deputado Pastor Henrique Vieira critica onda de violência policial no Brasil: "Fracasso ético civilizatório"