Santa Resistência transforma a passarela em um território de resistência, revelando a força da ancestralidade Maasai e o poder do afrofuturismo.
Texto: Rodrigo França
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O desfile “Manifesto Ancestral” da Santa Resistência, apresentado na 58ª edição da São Paulo Fashion Week, surge como um marco de reconexão e pertencimento, ao unir moda, memória e resistência. Sob a direção criativa de Mônica Sampaio, a coleção se desdobra em mais de uma estética; é uma jornada pessoal e ancestral. O ponto de partida não foi apenas o desejo de criar, mas um profundo encontro com suas raízes africanas, revelado por meio de um teste de DNA. Mônica descobriu, para sua surpresa e alívio, que sua linhagem está diretamente conectada aos Maasai, uma das tribos mais reconhecidas do Quênia e da Tanzânia. Embora jamais tenha pisado no continente africano, essa revelação não foi apenas genética, mas uma confirmação do que a estilista já sentia pulsar dentro de si: um chamado ancestral que sempre esteve vivo em seu trabalho e em sua vida.
Com “Manifesto Ancestral”, a passarela foi transformada em um território de resistência e afirmação, refletindo o afrofuturismo ao mesmo tempo em que celebra a ancestralidade africana. A coleção propõe um diálogo entre o passado e o futuro, através de peças que misturam a alfaiataria contemporânea com elementos tribais. O uso de tecidos sustentáveis – como algodão, seda de algodão, linho, crepe, tafetá e couro de tilápia – reforça o compromisso da Santa Resistência com uma moda mais consciente, respeitosa e ética. As cores vibrantes, que incluem o vermelho, o roxo, o azul-mar e o verde-água, evocam a riqueza cultural dos Maasai, enquanto as estampas, criadas em colaboração com a artista plástica Auxi Silveira, traduzem a força simbólica dessa tribo. Cada peça, portanto, é um fragmento dessa ancestralidade, revestido de uma estética que combina tradição e inovação.
Um dos destaques da coleção é o manto Maasai, desenvolvido pelo artista visual Alex Rocca. Essa peça não é apenas um item de moda, mas um símbolo de força e majestade, representando a essência de um povo cuja identidade atravessa fronteiras geográficas e culturais. Mônica Sampaio afirma que “a ancestralidade não se limita a fronteiras, mas pulsa dentro de cada um”, e é essa pulsação que ela buscou transformar em moda. “Manifesto Ancestral” convida o público a repensar suas próprias raízes, a se conectar com suas histórias e a celebrar uma moda que não se resume a tendências, mas que se posiciona como linguagem de resistência, identidade e memória.
O compromisso da Santa Resistência não se restringe à passarela. Nesse sentido, “Manifesto Ancestral” também se destaca pela inovação: ao trazer couro de tilápia, uma alternativa sustentável e rastreável, a estilista reforça seu compromisso com práticas conscientes. A tecnologia, neste caso, não é apenas um adereço, mas um elemento que complementa a narrativa da coleção, estabelecendo um elo entre tradição e modernidade.
A coleção de Mônica Sampaio vai além da estética; ela é um grito de resistência e um apelo ao pertencimento. Para a estilista, a moda é uma ferramenta poderosa de transformação social e, ao mesmo tempo, uma ponte para o reencontro com as raízes. “Manifesto Ancestral” traduz essa visão em peças que respiram história, força e identidade, convidando todos a revisitar suas próprias histórias e a celebrar uma ancestralidade que não conhece fronteiras. A coleção é um convite à reflexão sobre a moda como um espelho do passado e uma janela para o futuro, onde cada peça se torna um manifesto vivo, ecoando a força de um povo que transcende o tempo e o espaço.
Assim, a Santa Resistência, com “Manifesto Ancestral”, reitera sua missão de fazer da moda uma plataforma de inclusão, transformação e celebração das raízes africanas. Mônica Sampaio não é apenas uma criadora; é uma guardiã de memórias e histórias que ressoam além das passarelas, transformando a moda em um poderoso instrumento de resistência e empoderamento. A passarela, neste caso, torna-se um solo sagrado onde as raízes encontram o futuro, provando que a moda pode – e deve – ser um espaço de afirmação e reconexão.
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