Eu tive que cortar uns 15 cm do cabelo da minha filha mais velha e foi como se estivesse cortando o meu próprio.
Ela tem cabelo 4c, o mais crespo e com um volume que nunca vi na vida. Nós tínhamos uma periodicidade para cuidar desses fios por conta da escola e que se perdeu durante o caos dos pais que trabalham e cuidam da casa ao mesmo tempo durante a quarentena . O resultado foi que os twists dela, viraram dreads e ficou impossível de desembaraçar por conta do diversos nós bem próximos à raiz.
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Eu tentei de tudo, por dois dias. Meus braços e mãos doíam, assim como o couro cabeludo dela. Sentei, suspirei, lamentei, conversei com meu parceiro, com uma amiga que é cabeleireira. Minha filha no entanto, estava muito animada com a possibilidade de ter um cabelo mais curto, menos quente na cabeça e mais fácil de cuidar. Já eu….
Fizemos o procedimento. Nas primeiras horas fingi um discurso da boca para fora que no dia seguinte incorporei de coração. Se apegar ao comprimento do cabelo é uma forma de prisão. Ele cresce, muitas vezes até texturas diferentes. E essa seria uma jornada nova para ela e para mim. O cabelo dela mais próximo a raiz já era uma textura ainda 4c, mais macia e mais receptiva aos creminhos e óleos. Ela ficou tão feliz e no final, não é isso que importa?
Tenho mais duas filhas. A mais nova com cabelo igual ao da mais velha, a do meio com 4c que forma mais cachinhos. Eu definiria meu cabelo como um misto de 4e 4b ( daquele que parecemos um poodle molhado quando lavamos).
Eu não gosto de salão ( sempre demora e raramente saio do jeito que eu queria) e não levo as meninas também ( levei para cortes, poucas vezes). Sempre acreditei na energia que colocam na nossa cabeça quando tocam meus cabelos e sinto que ninguém tem a intenção que eu tenho ao cuidar dos cabelos das minhas filhas.
Essa minha escolha tem um preço que é o tempo. Para cuidar dos crespos das crianças , temos que fazer disso uma experiência prazerosa, porque senão isso se torna um ódio ao cabelo.
Levo em média umas 5 horas cuidando do cabelo de cada uma individualmente. Não quero que a relação delas com o cabelo seja algo traumático, uma experiência atrelada à dor.
Minha mãe sempre teve muito carinho para cuidar do meu cabelo. E uma das minhas maiores alegrias era quando perguntavam das minhas tranças longas e brilhantes e eu dizia: foi minha mãe quem fez.
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