Executada em 17 de agosto, na Bahia, a líder quilombola e Yalorixá Maria Bernadete Pacífico, de 72 anos, lutava contra a empresa Naturalle, cujo proprietário é o empresário Vitor Loureiro Souto, filho de Paulo Souto (União Brasil), ex-governador da Bahia, revela reportagem especial do The Intercept, publicada nesta quarta-feira (30).

Nos últimos seis anos, além de lutar contra a especulação imobiliária no quilombo Pitanga dos Palmares, localizado em Simões Filho, Mãe Bernadete também buscava justiça pelo seu filho, Flávio Gabriel Pacífico, de 36 anos, mais conhecido como Binho do Quilombo, que também foi brutalmente assassinado por defender seu território.

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Dezesseis dias antes de ser executado em 19 de setembro de 2017, Binho tentava impedir a instalação de um aterro de resíduos de construção civil próximo ao quilombo, na região metropolitana de Salvador. Considerado um dos líderes quilombolas mais respeitados do estado, ele foi à Universidade Federal da Bahia (UFBA) para denunciar os problemas da instalação do aterro.

Em 2016, a empresa Naturalle havia recebido uma licença municipal para ocupar o terreno de 163 hectares. Neste mesmo ano, Binho foi candidato a vereador pelo PSD, com uma forte campanha em defesa dos territórios tradicionais e contra o aterro da Naturalle. Ele recebeu 451 votos, um número razoável em Simões Filho, já que o vereador eleito que recebeu menos votos obteve 745.

A estratégia da empresa para o aterro era realizar o descarte de resíduos domésticos e hospitalares para atender Simões Filho e outras cidades da região. Ao todo, seriam descartados 482 toneladas de resíduos domésticos por dia e sete toneladas de resíduos hospitalares. O lucro estimado do aterro é de R$ 20 milhões por ano, revela The Intercept.

Em 2018, com a pressão pelo assassinato de Binho de Quilombo e a luta do movimento ‘Nossas Águas, Nossa Terra, Nossa Gente’, a Naturalle teve a licença para instalação do aterro negada pelo Inema – órgão ambiental da Bahia. Mas recorreram e conquistaram a licença novamente em 2019. Em dezembro de 2020, veio a autorização, garantindo a instalação do empreendimento. 

A reportagem do The Intercept entrou em contato com a empresa, e foram comunicados de que a empresa não administrava mais o aterro, e sim a Recycle Waste Energy. Entretanto, o site da Naturalle informa que a empresa “possui” um aterro de inertes em Simões Filho.

Binho do Quilombo (Foto: Reprodução)

A luta de Mãe Bernadete

Após o assassinato de Binho, Mãe Bernadete começou a lutar para descobrir quem matou o seu filho e levantou a bandeira publicamente contra a implatação do aterro. Em junho de 2022, a líder quilombola relatou em vídeo gravado durante uma audiência no Ministério Público Federal, que sofria “ameaças dia e noite” e cobrou pela investigação da Polícia Federal.

“O assassinato do meu filho foi federalizado e não temos resposta. É um absurdo isso, gente. Mas não pense que estamos parados não, viu?… É uma grande vergonha. Meu filho lutou pelo povo dele. Morreu lutando. Foi no dia que ele tava indo para resolver um problema da Naturalle. Ele morreu lutando. E nós não temos resposta”, disse em vídeo apurado pelo The Intercept.

Em dezembro de 2017, quando a Polícia Civil da Bahia ainda investigava o caso, Leandro da Silva Pereira foi detido preventivamente, mas depois solto sem ser indiciado. A reportagem do The Intercept teve acesso às imagens do dia do crime, entregue para as Polícia Civil e Federal, e afirma que é possível identificar a placa do carro usado para levar os criminosos até o líder quilombola e identificar o motorista. Até o hoje o caso não foi solucionado e se junta à investigação da execução de Mãe Bernadete, que também foi federalizado.

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Fonte: The Intercept

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