Não tenho recursos técnicos que cinéfilos usam para analisar séries e filmes, mas posso falar sobre a forma que Lovecraft Country, série original da HBO me fez sentir.
O apelo que despertou meu interesse para acompanhar o seriado foi o toque de Jordan Peele, mas no desenrolar da história, ficou evidente que a genialidade da série com 10 episódios, era fruto da mente fértil e criativa de uma mulher negra: Misha Green.
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Para quem não sabe, a série é uma adaptação do romance “Território Lovecraft”, de Matt Ruff, escrito no gênero criado pelo escritor H. P. Lovecraft, mestre do “terror cósmico” que inclusive era bem racista. E é isso que torna tudo mais interessante. A produção para TV , que também teve o envolvimento de J.J. Abrams faria H.P. se virar no caixão nas inúmeras cenas que brancos racistas se dão mal.
Misha Green fez toda a diferença ao dar uma importância para mulheres negras em uma obra de terror e ficção científica, estilo onde há a predominância de homens, sobretudo, não negros.
Destaco aqui duas que ganharam meu coração: Ruby Baptiste (Wunmi Mosaku ) e Hippolyta Freeman (Aunjanue Ellis).
A primeira, é uma cantora, cujo carisma e energia em suas performances escondem a frustração e infinito estado de raiva dos negros que viveram nos EUA segregado dos anos 50. Grande, por dentro e por fora, Ruby tem pele escura e forte presença, raramente se mostrava vulnerável, até porque para ela, isso era um privilégio. Seu desejo de poder, pode ser lido por algo além do ego, como uma forma de vingança.
Hippolyta é tia do protagonista Atticus. Mulher madura, mãe negra, esposa dedicada e resiliente em relação as suas limitações, até que um dia sua rotina de dona de casa vira parte passado. O mais emocionante é ver a jornada de uma mulher com uma inteligência e conhecimentos científicos acima da curva para sua época, finalmente se torna-se plena com o auxilio de uma outra mulher negra em uma cena de ficção cientifica que tem como fundo o dilema de muitas mulheres que escolheram se dedicar integralmente à família.
O capricho estético com essas personagens, que tiveram episódios dedicados a elas, levou a questão da representatividade para outro nível. Todo mundo que ama séries, filmes e livros, quer ter pelo menos um personagem com que se identifique, mesmo que só visualmente.
Só Misha Green para fazer de uma dona de casa negra dos anos 50, um dos personagens mais surpreendentes e geniais de Lovecraft Country.
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