O “Festival Afrofuturismo”, realizado pelo Vale do Dendê, hub de inovação, chega ao seu quinto ano, com uma programação disposta a discutir várias esferas da economia criativa sob a perspectiva do futurismo e da diversidade. Nos dias 20 e 21 de novembro, em Salvador (BA), muitas mesas e vários encontros acontecerão no Centro Histórico da capital baiana, a partir do mote “De Volta para o Futuro”.
Na “Vila Ifood Acredita”, uma das empresas patrocinadoras do evento, um dos painéis da programação trouxe ilustres presenças baianas: o jornalista e apresentador Manoel Soares e a escritora e educadora Bárbara Carine. A dupla esteve ao lado de Angel Vasconcelos, diretora de equidade do Ifood.
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A mesa “Inovação, tecnologia, educação e políticas de equidade a serviço da redução das desigualdades”, realizada no Largo Tereza Batista, no Pelourinho, colocou em cena a importância de uma formação consciente e o papel das tecnologias ancestrais para “hackear o sistema”. Dessa forma, é possível criar caminhos para que pessoas negras escalem espaços que são negados por uma sociedade que opera na “tradição” racista.
Para Manoel Soares, existe uma indústria que obtém ganhos com a ‘lágrima preta’. “Se você denuncia essa injustiça, você gera lucro para essa indústria”, comenta, a partir das suas experiências recentes. “Por isso, concordo com o rapper e compositor Edi Rock, sobre a ‘técnica avançada do colonizador, [de] colocar um contra ou outro para depois tocar o terror’. Hoje, não tem nada que me faça voltar para o ambiente de televisão”.
Comparando as descobertas científicas sobre a teoria da relatividade de Einstein com a metafísica das religiões de matriz africana, ele afirma que a tecnologia é a magia de hoje. “Se a teoria da relatividade de Einstein também fala sobre a manipulação de elementos físicos para acessar outra dimensão, ela simplesmente tenta descrever as ‘macumbas’. Porque a gente manipula elementos físicos, na esquina, para alcançar outras dimensões. A tecnologia precisa ser afrocentralizada porque, se isso não acontecer, nós ficaremos fragilizados. O mundo, hoje, é digital. A digitalização é ancestral”, conclui.
PODER DA EDUCAÇÃO – Doutora pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e autora do livro “Como ser um educador antirracista: para familiares e professores” (2023), Bárbara Carine está à frente do perfil @uma_intelectual_diferentona, no Instagram, e contou sobre a experiência de cultivar a consciência racial no percurso educativo de crianças na Escola Afro-Brasileira Maria Felipa, em Salvador. “Trabalhamos com a pedagogia de positivação das existenciais, o reforço positivo, para potencializar nossas crianças. Assim, quando a dor chegar, elas poderão enfrentá-la de um lugar diferente ou, quem sabe, nem senti-la”.
Ela acredita que é preciso causar o desconforto de narrativas tidas como “verdades”. “Nossos alunos vivenciam saberes e experiências para compreender que não há uma narrativa única. Historicamente, a gente não é treinado para acessar essas questões. Por isso, letramento racial é desvelar a realidade”.
Angel Vasconcelos, diretora de Equidade do Ifood, também compartilha da crença do impacto que o poder educativo é capaz de causar. “Através da educação, humanizamos líderes”. Ela lembrou de sua busca por inclusão ao longo de 25 anos de carreira no mundo corporativo da tecnologia. “Se, hoje, existem vagas afirmativas no ambiente empresarial, pessoas como eu precisaram correr riscos. Nada dava mais para ter privilégios sozinha”.
Ela compartilhou estratégias que desenvolveu para trazer mais diversidade para os contextos profissionais pelos quais transitou na liderança. “É preciso escalar iniciativas que funcionam, como o método da Escola Maria Felipa. Devemos estar conectados a uma ancestralidade que nos ilumina nessa digitalização. Assim, contribuir com a redução das desigualdades. Toda empresa que a gente pode iluminar para vir conosco já é uma conquista”, completa.
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