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A falha da Mascavo: Um espelho das lacunas no compromisso empresarial com a diversidade

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Créditos: Reprodução/Redes Sociais

Texto: Priscilla Arantes

A recente polêmica em torno do lançamento da nova linha de maquiagem da Mascavo revela um retrato alarmante de negligência em relação à diversidade e inclusão no setor empresarial brasileiro. O episódio é mais do que um erro de marketing; é um sintoma de uma visão de mundo obsoleta que ainda permeia muitas corporações, demonstrando uma falha crítica em entender e valorizar a diversidade de seus consumidores.

A falta de opções para peles negras não é apenas um lapso operacional; é uma ofensa, um claro indicativo de que a Mascavo, como tantas outras empresas, não está ouvindo ou respeitando todos os segmentos do mercado. Este erro não só aliena uma parcela significativa do público consumidor, mas também subestima a inteligência e o poder de voz desse mesmo público, que hoje exige mais do que simples retratações ou correções apressadas.

Gestão de Impacto e Responsabilidade Social

A gestão de riscos e impactos da Mascavo falhou terrivelmente ao ignorar as demandas por inclusão tão vocalmente defendidas pelos consumidores contemporâneos. Este não é um mero deslize; é uma falha estratégica que questiona a competência e a visão ética dos líderes da empresa. Será que tem alguma liderança negra na empresa? A promessa de adicionar novos tons após o lançamento é uma resposta tardia que cheira a oportunismo e falta de planejamento autêntico.

O caso Mascavo destaca uma verdade desconfortável sobre o mercado de cosméticos e além: muitas empresas ainda tratam a diversidade como uma questão secundária, uma “caixa” a ser marcada, em vez de um princípio fundamental desde o início do desenvolvimento do produto. Esse tipo de pensamento não só é moralmente questionável, mas também um suicídio de marca na era digital, onde os consumidores estão mais conectados e empoderados do que nunca.

A inclusão de práticas ESG (Ambiental, Social e Governança) nas operações empresariais não é mais uma opção, mas uma necessidade urgente. As empresas devem adotar essas práticas não como uma formalidade, mas como um imperativo estratégico. No caso da Mascavo, a falta de um enfoque socialmente responsável não apenas prejudicou sua imagem, mas também demonstrou um descompasso grave com as expectativas modernas de governança corporativa.

As práticas ESG, quando genuinamente implementadas, são uma forma de as empresas demonstrarem seu compromisso não só com o lucro, mas com o progresso social. A falha da Mascavo em antecipar a necessidade de uma gama de produtos inclusivos mostra um descaso preocupante com esses princípios, que deve servir de alerta para outras empresas no mercado.

O episódio deve ser um chamado à ação para todas as empresas. Não é suficiente corrigir erros à medida que são apontados pelos consumidores; é essencial integrar a diversidade e a inclusão em todas as etapas do processo de negócio. Empresas que falham em fazer isso não só enfrentarão a ira de um mercado cada vez mais consciente, mas também se encontrarão em desvantagem competitiva à medida que novos players mais adaptados e responsivos surgem.

Portanto, o desafio lançado pela Mascavo vai além de uma simples gafe de marketing. Este caso é um indicativo de uma falha sistêmica que requer uma reformulação profunda de como as empresas entendem e implementam a diversidade e a inclusão. A agenda ESG não é apenas um conjunto de diretrizes éticas; é um componente crítico de sobrevivência empresarial no século XXI. As empresas que ignorarem esse fato farão isso por sua própria conta e risco, e a um custo que vai muito além do financeiro. A Mascavo nos deu uma lição valiosa; cabe agora ao mercado aprender com ela e agir de forma decisiva e proativa.

Negros Trumpistas: para cientista político americano,  empreendedorismo atrai jovens negros ao voto em Trump

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Foto: Ralph Freso/Getty Images

Às vésperas das eleições nos Estados Unidos, o cientista político John Kincaid, especialista em federalismo e membro eleito da National Academy of Public Administration, analisa uma tendência recente entre jovens homens negros que, ao contrário do que se observa entre eleitores negros em geral, demonstram maior inclinação para apoiar Donald Trump. Em entrevista ao Mundo Negro, Kincaid, que também é presidente do Center for the Study of Federalism, explicou que a recuperação econômica pós-COVID e o foco de Trump no empreendedorismo são fatores que têm atraído essa parcela do eleitorado.

Segundo Kincaid, a inflação elevada, que atingiu 9% durante o governo Biden devido a grandes investimentos federais e ao crescimento acelerado da economia após a pandemia, impactou as percepções econômicas de muitos eleitores.

“Houve duas grandes leis que gastaram trilhões de dólares, e injetar esse dinheiro na economia gera inflação. A combinação de gastos federais e recuperação econômica produziu a inflação que experimentamos,” observou o professor, que também é diretor do Meyner Center for the Study of State and Local Government. Embora a taxa de inflação tenha caído, os preços permanecem altos, o que afeta o cotidiano e as perspectivas de muitos eleitores.

Entre os jovens negros, particularmente os homens, o apelo de Trump se fortalece pelo seu histórico como empresário e sua visão pró-negócios. “Esses eleitores estão em busca de oportunidades de emprego e negócios. Alguns são pequenos empresários e enxergam Trump como mais amigável aos seus interesses empresariais,” explica Kincaid, que co-edita a série Routledge Book Series on Federalism and Decentralization

Ele aponta que pesquisas recentes indicam uma mudança no foco da igualdade, com mais negros americanos considerando o empreendedorismo como uma forma de alcançar avanços socioeconômicos, distanciando-se das pautas tradicionais de direitos civis.

No entanto, Kincaid destaca que essa inclinação por Trump é menos comum entre mulheres negras, que têm outras prioridades, como os direitos reprodutivos, e encontram maior representatividade em Kamala Harris e em pautas democratas. 

Pesquisas mostram comunidade negra apoiando Kamala Harris

Uma pesquisa divulgada no mês passado pela National Association for the Advancement of Colored People (NAACP) mostrou que 63% dos eleitores negros preferem Harris a Trump, que recebeu o apoio de apenas 13%. 

No entanto, há uma disparidade de gênero perceptível: enquanto o apoio a Harris entre mulheres negras permanece forte, com 67%, ele cai para 49% entre homens negros com menos de 50 anos. 

Outra pesquisa recente, conduzida pela YouGov para a CBS News, indicou que o apoio de Harris entre eleitores negros é semelhante ao de Biden em 2020, com 87% dos prováveis eleitores negros apoiando Harris e 12% optando por Trump.

Com 28 Grammys e 60 anos de carreira transformadora no jazz e no pop, Quincy Jones construiu parcerias históricas

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Foto: Shutterstock

Dono de uma trajetória notável que influenciou profundamente a música pop e o jazz, Quincy Jones marcou seu nome entre as grandes estrelas mundiais com uma carreira que atravessou gerações e continentes. Jones colaborou com artistas talentosos, ajudando a impulsionar a carreira de muitos deles, como Michael Jackson, Will Smith, além de ter trabalhado com Frank Sinatra, Aretha Franklin e Ray Charles.

O produtor icônico foi responsável pelos álbuns Off The Wall (1979), Thriller (1982) e Bad (1987) de Michael Jackson, ajudando a consolidar o Rei do Pop como um ícone mundial. Thriller , lançado em 1982, tornou-se o disco mais vendido da história, com estimativas de 120 milhões de cópias comercializadas, e atingiu novos patamares para a indústria fonográfica. Além de sua influência musical, Quincy também abriu portas para novos talentos. Nos anos 1990, foi crucial para o início da carreira de Will Smith como ator, convencendo o jovem rapper a aceitar o papel principal no seriado Um Maluco no Pedaço: “Verdadeira definição de mentor, pai e amigo”, escreveu Smith em uma publicação que homenageia Quincy Jones.

Outro marco em sua carreira foi We Are the World , gravado em 1985 com o objetivo de arrecadar fundos para o combate à fome na África. Liderado por Jones, 45 artistas se reuniram em uma noite histórica nos estúdios A&M, em Los Angeles, nos Estados Unidos. O single, que conta com solos de Bruce Springsteen, Stevie Wonder e Tina Turner, entre outros, vendeu milhões de cópias e se transformou em um hino global de solidariedade. Recentemente, o documentário A Noite que Mudou o Pop , lançado pela Netflix, trouxe à tona detalhes dos bastidores da gravação, mostrando o toque pessoal de Jones ao pedir que os artistas “deixassem os egos do lado de fora”.

Grandes clássicos da música e a relação com artistas brasileiros

Quincy também deixou sua marca no jazz e na música brasileira. Com uma carreira que remonta aos anos 1950, ele trabalhou com figuras como Frank Sinatra, Aretha Franklin, Ella Fitzgerald, Donna Summer, Céline Dion,e Ray Charles, com quem construiu uma amizade e tensão ainda na adolescência. Com Sinatra, ele trabalhou até o último álbum do artista, LA Is My Lady, em 1984No Brasil, colaborou com Milton Nascimento, Ivan Lins e Simone, levando ritmos e talentos brasileiros para o cenário internacional. Jones ainda ganhou um Grammy por sua interpretação de Velas, de Ivan Lins, e levou a cantora Simone para o Montreux Jazz Festival, onde ela encantou o público europeu.

O legado de Quincy Jones não se limita aos prêmios e discos vendidos. Com 28 Grammys e mais de 60 anos de contribuições à música, ele deixa uma marca profunda como produtor, arranjador e mentor, tendo gerações inspiradas de artistas ao redor do mundo.

Desenvolvimento de profissionais negros é foco do evento da Ambev e MOVER

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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

No dia 30 de novembro, a Ambev, em parceria com o Movimento pela Equidade Racial (Mover), promove a 7ª edição do “De Portas Abertas”, evento que visa conectar trabalhadores negros a novas oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. Com atividades focadas em capacitação, o encontro oferece bolsas de estudo em cursos de inglês e liderança, além de acesso a uma plataforma de vagas para ampliar as possibilidades de carreira.

O evento será realizado na sede da Ambev em São Paulo, com transmissão para outras regionais, incluindo Pernambuco, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Ceará e Brasília, onde os participantes também poderão acompanhar programações e ativações locais. A iniciativa faz parte do Bora, hub de inclusão produtiva da Ambev, e foi idealizada pelo BOCK, grupo de afinidade étnico-racial da empresa.

Para Andreza Machado, Diretora de Diversidade, Equidade e Inclusão da Ambev, o evento representa um compromisso com a construção de um ambiente inclusivo. “Para a gente, só vale crescer se for para crescer junto. O ‘De Portas Abertas’ é um exemplo de como queremos impulsionar o nosso ecossistema, proporcionando conexões que ampliem oportunidades e ofereçam novas perspectivas para pessoas negras que desejam ingressar ou avançar no mercado de trabalho”, afirma Andreza.

A expectativa é que o evento reforce a importância do desenvolvimento pessoal como ferramenta para impulsionar a inclusão produtiva. Michele Sales, Diretora de Ecossistema e Inclusão da Ambev, destaca a relevância da parceria com outras organizações para promover um crescimento coletivo. “Na Ambev, estamos comprometidos em iniciativas de impacto como o ‘De Portas Abertas’, que reforçam como a inclusão produtiva pode gerar oportunidades reais para o desenvolvimento de milhões de brasileiros e brasileiras de maneira digna e próspera”, aponta Michele.

Após o evento, os participantes terão a chance de se inscrever em mais de mil bolsas de estudo, com cursos voltados ao aprendizado de inglês e habilidades de liderança, além do acesso ao banco de vagas na plataforma do Mover, que conecta profissionais a empresas de diversas áreas. Natália Paiva, Diretora Executiva do Mover, ressalta o valor de ações conjuntas na busca por equidade racial: “A promoção da equidade racial vai além de ações isoladas, é um compromisso coletivo. Iniciativas como o ‘De Portas Abertas’ se alinham ao nosso objetivo de criar um futuro em que todos têm a chance de prosperar em uma sociedade verdadeiramente justa e inclusiva”.

Interessados podem se inscrever gratuitamente pelo site oficial até o dia 25 de novembro, garantindo uma oportunidade de se conectar com o mercado e ampliar suas perspectivas profissionais.

Três novelas da Globo com protagonistas negras marcam novo momento na TV brasileira

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Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Nesta segunda-feira (4), estreia “Garota do Momento”, nova novela das 18h da TV Globo, protagonizada por Duda Santos. O lançamento marca um momento histórico para a emissora, que, simultaneamente, exibe três produções estreladas por mulheres negras: além da nova trama, “Volta Por Cima”, com Jessica Ellen, e “Mania de Você”, com Gabz, também estão no ar.

Taís Araújo, um dos nomes mais respeitados da dramaturgia brasileira, compartilhou seu entusiasmo nas redes sociais, destacando a importância dessa representatividade inédita na televisão. “Hoje não é uma segunda-feira qualquer, é um dia de celebração”, afirmou. Em sua mensagem, ela lembrou das pioneiras Ruth de Souza, Léa Garcia e Chica Xavier e questionou o que elas diriam ao ver três protagonistas negras ocupando as telas de forma contínua.

“Esse é só o começo. Há muito o que caminhar, nós somos tantas, são infinitas as particularidades, tons, formas, idades, gêneros, crenças, lutas, dramas, histórias e o que não falta é disposição e talento para contá-las”, refletiu Taís. A atriz, conhecida por seu engajamento em questões de representatividade, reforçou que essa conquista é uma vitória coletiva e um motivo de orgulho para toda a comunidade negra. “Que orgulho, né, manas?”, finalizou.

Com Duda Santos como protagonista e sob a direção do cineasta Jeferson De, a produção de ‘Garota do Momento’ é ambientada nos anos 1950 e promete abordar temas como identidade, rivalidades familiares e o enfrentamento ao machismo e preconceito. Escrita por Alessandra Poggi, a novela apresenta uma narrativa rica em diversidade e história, retratando a luta por um lugar de destaque em um Brasil em transformação.

‘Garota do Momento’, novela das seis da TV Globo dirigida por Jeferson De e protagonizada por Duda Santos, estreia nesta segunda

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Fotos: Globo/Beatriz Damy

Nesta segunda-feira, 4, estreia ‘Garota do Momento’, nova novela das seis, que traz a atriz Duda Santos como protagonista e tem direção de Jeferson De, cineasta reconhecido por trabalhos que foram sucesso de crítica no cinema brasileiro e internacional. A trama, escrita por Alessandra Poggi, traz discussões sobre identidade, rivalidades familiares e a luta contra o machismo e preconceito, em uma produção ambientada no final da década de 1950.

Duda Santos interpreta Beatriz, uma jovem que, após ser deixada com a avó Carmem (Solange Couto), decide viajar do interior do Rio de Janeiro para a capital em busca de sua mãe, Clarice (Carol Castro), que perdeu a memória após um acidente. Beatriz descobre que, na ausência dela, outra menina, Bia (Maisa), foi criada como sua “substituta” e ocupa o papel de filha em uma família rica e influente. Sob a direção de Jeferson De, que também dirigiu os filmes M8 – Quando a Morte Socorre a Vida e Doutor Gama, a novela aborda a vida da influente família Alencar, proprietária da Perfumaria Carioca, uma das principais indústrias de cosméticos do país à época.

A novela também é marcada pela presença de um elenco diverso, com atores como Tatiana Tiburcio e Cridemar Aquino, que interpretam o casal Vera Machado e Sebastião, donos do clube Gente Fina, ponto de encontro de jovens e artistas. Carla Cristina Cardoso e Rebeca Carvalho, serão mãe e filha na trama. E Ícaro Silva, que interpreta o jovem Ulisses, dono do Boliche Bowling Rock e que também dá aulas de capoeira e organiza eventos e aulas para a comunidade.

Arlinda Di Baio, Ana Flávia Cavalcanti, Mariah Penha e Mariana Sena também estão entre os talentos negros que integram o elenco. Com uma narrativa ambientada no auge da bossa nova, do rock e do samba, Garota do Momento explora um Brasil que passa por mudanças culturais e econômicas significativas, enquanto toca em questões sociais que ainda ressoam na contemporaneidade. Maristela Alencar (Lilia Cabral), matriarca do clã, manipula a história de seu filho Juliano (Fabio Assunção) e da própria nora para proteger o legado e a reputação dos Alencar.

A direção de Jeferson De marca um passo importante para a TV aberta, que vem apostando cada vez mais em produções com perspectivas diversas e personagens que refletem a pluralidade do Brasil. Com Garota do Momento, a TV Globo pretende unir o público em torno de uma história cativante e socialmente relevante, que celebra o poder dos sonhos, das lutas e das conquistas no Brasil dos anos 1950.

Desinformação ameaça o voto negro nas eleições americanas

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Nas eleições de 2024, o voto negro nos Estados Unidos se torna um tema decisivo, especialmente com Kamala Harris na disputa, potencialmente se tornando a primeira mulher negra a ocupar a presidência do país, caso a chapa democrata vença o ex-presidente Donald Trump. No entanto, o engajamento desse grupo enfrenta desafios, em grande parte impulsionados pela desinformação e percepções distorcidas sobre a economia e políticas passadas.

O voto negro tem sido um pilar nas eleições americanas, representando cerca de 14% do eleitorado registrado em 2020, segundo estimativas do Pew Research Center e do Census Bureau dos EUA. Durante um comício no Rancho Ochoa, no Arizona, voltado à comunidade latina e em apoio ao candidato democrata Ruben Gallego, a afro-americana Kasiyah Tatem, que trabalha em um programa de Jovens Lideranças em Washington, D.C., falou ao Mundo Negro sobre a mobilização do voto negro. Para Tatem, embora haja uma crescente adesão à candidatura democrata, muitos eleitores ainda se dividem por conta de informações equivocadas. “Há essa desinformação de que Trump proporcionou alguma vantagem econômica para eles durante sua presidência. Eles acreditam que os cheques de estímulo vieram dele, quando, na verdade, vieram dos democratas no Congresso tentando passar essa lei que os republicanos estavam bloqueando”, explica Tatem.

Essa percepção errônea sobre a economia é um dos fatores que, segundo ela, contribui para que alguns eleitores negros considerem o apoio a Trump. “Eles lembram que a economia estava ‘boa’ sob Trump, mas não reconhecem que essas políticas vieram de Obama, da administração anterior. Então, há muita desinformação sobre como o governo funciona e quem realmente está apoiando eles,” observa. Tatem também identifica uma divisão socioeconômica, onde parte da elite negra prioriza interesses individuais em vez de uma visão coletivista. “Há aqueles negros da elite socioeconômica, que são mais interessados em si mesmos do que em serem coletivistas,” afirma.

Além disso, Tatem ressalta o papel das celebridades e influenciadores na conscientização política da comunidade. “Acho importante que nossos artistas favoritos se posicionem e mostrem sua política para que mais pessoas que não prestam atenção fiquem cientes do que está acontecendo,” comenta. Para ela, figuras públicas como artistas e atletas ajudam a aproximar o processo político de um público que, de outra forma, poderia sentir-se alheio às decisões eleitorais.

Empolgação com Kamala Harris mobiliza o voto negro

Outro fator que tem impulsionado o engajamento dos eleitores negros é a candidatura de Kamala Harris. Jordyn Hodges-Wilson, moradora de Phoenix e voluntária na campanha de Kamala, acredita que a possibilidade de eleger a primeira mulher negra e asiática-americana à presidência tem motivado ainda mais a comunidade. “Acho que os eleitores negros estão particularmente engajados nesta eleição porque estão realmente empolgados com Kamala Harris,” afirma Hodges-Wilson. “Historicamente, fomos esquecidos nas urnas quando os candidatos não defendem nossos interesses, seja por meio de políticas que ajudem nossas comunidades ou pelo discurso em torno delas.”

Para Hodges-Wilson, essa eleição representa um momento histórico que pode influenciar futuras gerações. “Acho que eles estão realmente animados com a oportunidade de eleger não apenas a primeira mulher presidente, mas a primeira mulher negra e do Sudeste Asiático. Isso estabelece um padrão para gerações futuras,” enfatiza.

Desafios na disputa com Trump

Quando questionada sobre como abordar uma eleitora negra que cogita votar em Trump, Hodges-Wilson defende que é importante votar com consciência e evitar agir contra os próprios interesses. “Eu diria apenas para não votar contra o próprio interesse,” ela aconselha. “Trump demonstrou historicamente que ele não apenas não se importa com as mulheres, mas especialmente com as mulheres negras. Quando a escolha é entre ele e uma mulher de cor que tem sido uma defensora vitalícia de nossa comunidade, nossa saúde materna e justiça econômica, a escolha é muito clara.”

Ela acrescenta que muitos eleitores podem não compreender completamente o impacto de um voto em Trump. “Acho que, ao conversar com uma eleitora assim, trata-se de entender o que realmente está em jogo e talvez não perceber o que aconteceria se ela votasse em Trump,” conclui.

Esses fatores tornam o voto negro um elemento complexo nas eleições americanas de 2024. Em um cenário polarizado e marcado pela desinformação, a mobilização desse grupo pode ter um peso decisivo nos rumos do país, colocando em jogo questões de representação e influência política no contexto de uma eleição historicamente relevante.


Nossa editora-chefe Silvia Nascimento está nos Estados Unidos a convite do governo americano, por meio do consulado dos EUA em São Paulo, participando do “Reporting Tour” para acompanhar de perto as eleições americanas e suas implicações para a comunidade negra.

Quincy Jones, lendário produtor de ‘Thriller’, morre aos 91 anos

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Foto: Drew Gurian/Invisão/AP

O produtor e arranjador Quincy Jones, figura central da música mundial, morreu neste domingo, 3, aos 91 anos em sua casa, em Los Angeles, nos EUA. Cercado pela família, o músico teve sua morte confirmada pelo assessor Arnold Robinson, que informou o falecimento do artista em comunicado à imprensa.

“Com corações cheios, mas partidos, devemos compartilhar a notícia do falecimento de nosso pai e irmão Quincy Jones”, disse a família. “Embora esta seja uma perda incrível para nós, celebramos a grande vida que ele viveu e sabemos que nunca haverá outro como ele.”

Ao longo de sete décadas de carreira, Jones colecionou uma série impressionante de prêmios e reconhecimentos: foram 28 Grammys, dois Oscars honorários e um Emmy. O músico foi responsável por revolucionar a produção musical ao trabalhar com artistas de diferentes estilos e épocas, sendo mais notório por sua colaboração com Michael Jackson. Ele produziu os três primeiros álbuns solo de grande sucesso do “Rei do Pop”: Off The Wall (1979), Thriller (1983) e Bad (1987), que marcaram a fase adulta de Jackson, após deixar o grupo Jackson Five.

Foto: getty

O álbum Thriller, considerado um marco na música pop, vendeu mais de 20 milhões de cópias apenas no ano de lançamento e é até hoje um dos discos mais vendidos da história. Foi de Quincy Jones a ideia de convidar o ator Vincent Price para a introdução da faixa-título, além de Eddie Van Halen para o solo de guitarra em Beat It. “Se um álbum não vai bem, todos dizem ‘foi culpa do produtor’. Então, se vai bem, deve ser sua ‘culpa’ também”, disse Jones em entrevista à Biblioteca do Congresso dos EUA em 2016, refletindo sobre o papel do produtor.

Jones também comandou o projeto We Are The World (1985), uma iniciativa que reuniu dezenas de artistas para arrecadar fundos contra a pobreza na África. A canção, composta por Lionel Richie e Michael Jackson, contou com nomes como Stevie Wonder, Bob Dylan e Bruce Springsteen, além do próprio Jones como produtor. “Ele era o mestre orquestrador”, declarou Richie sobre o impacto do músico na iniciativa.

Além de Jackson e Richie, Jones colaborou com artistas icônicos como Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Ray Charles. Na televisão, seu talento se fez presente com a trilha de abertura da série Um Maluco no Pedaço.

Nascido em Chicago, Jones foi marcado desde cedo por desafios pessoais. Com a mãe internada por problemas psiquiátricos, ele encontrou na música uma forma de expressão e superação. “A música era o único mundo que me oferecia liberdade”, escreveu ele em sua autobiografia.

Quincy Jones deixa um legado indelével para a música, sendo reverenciado tanto por seu talento quanto por sua capacidade de inovar e guiar sucessos que transformaram o cenário musical global.

Com informações do g1.

Tema do ENEM: a chave poderia ser a Constituição Federal

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Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

O ensino da História do Brasil levará em conta a contribuição das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro” (Constituição Federal, art. 242, § 1º)

O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia” (LDB, art. 26, § 4º)

Um recorte óbvio para o tema da prova do Enem poderia ser: um dos desafios passa por superar a indigência intelectual de especialistas diplomados pelo Google que pretendem reduzir a temática da diversidade e da igualdade racial na educação aos artigos 26-A e 79-B da LDB.

Muito antes de 2003, já na Constituinte de 1988 e na promulgação da LDB, em 1996, lá estava o Movimento Negro lutando pelo direito à memória, pelo direito à história.

O apagamento do protagonismo negro conta com a adesão sorridente do bloco de letradores raciais que não se dão ao trabalho de ler por inteiro a letra da LDB tampouco algumas poucas letras da Constituição da República.

Afirmar que caberia à educação escolar combater o racismo, ser oposição ao racismo, ser antirracista e outras beligerâncias significa empobrecer drasticamente o potencial transformador da escola: à educação formal compete preparar as pessoas para coexistirem harmoniosamente com a diversidade humana. É disso que se trata.

Espancar, esmurrar, marretar o racismo é papel da lei penal, que aliás ainda não fez a lição de casa.

Como diria Chico César, arguto pensador e cantador do Brasil, precisamos de mais ovo e menos galinhagem!!!!

Texto: Hédio Silva Jr., Advogado, Doutor em Direito, fundador do Jusracial e Coordenador do curso “Prática Jurídica em casos de Discriminação Racial e Religiosa”

“Meu papel é mostrar que é possível ampliar a nossa presença”, diz dramaturgo Elísio Lopes Jr.

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Foto: Amanda Jordão

O diretor e roteirista baiano Elísio Lopes Jr., conhecido por suas contribuições em obras que exploram a identidade brasileira e a ancestralidade negra, vive um momento de reconhecimento profissional. Com a recente estreia de “Torto Arado – o musical”, adaptação do premiado livro de Itamar Vieira Junior, Elísio continua a impactar o cenário cultural ao conduzir a celebração dos 50 anos do bloco afro Ilê Aiyê. Paralelamente, ele trabalha na sinopse de uma nova novela das 18h para a TV Globo, em parceria com os autores Duca Rachid e Júlio Fisher, após o sucesso das 18h, “Amor Perfeito”.

Em “Torto Arado – o musical”, Elísio traz à cena a história de Bibiana e Belonísia, duas irmãs marcadas por um acidente na infância e que enfrentam condições de trabalho análogas à escravidão no sertão baiano. A peça, que estreou em Salvador e teve sessões esgotadas, chega a São Paulo em 20 de novembro. Além do musical, Elísio também comandou o espetáculo comemorativo dos 50 anos do Ilê Aiyê, primeiro bloco afro do Brasil, que aconteceu no dia 1º de novembro na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador. “O Ilê me ensinou a me enxergar no mundo, a ver a força da representatividade. A beleza negra é essencial para a saúde mental da população preta brasileira”, afirmou.

Em entrevista ao Mundo Negro, Elísio destacou a importância de seu trabalho e os desafios enfrentados ao longo de sua carreira. “Eu tomei para mim a missão de avançar, abrir espaços que pareciam que não eram para pessoas como eu. Se o projeto é contar histórias, e entre elas, puder contar a história de quem se parece comigo, é preciso estar preparado para não achar os caminhos abertos”, afirmou. Ele reconheceu que, embora a consciência sobre a representatividade esteja crescendo, ainda há uma longa jornada pela frente. “Estamos no início desse novo processo. Não basta ter atores negros, o conteúdo precisa ser pensado por pessoas que conhecem a realidade de viver no Brasil”, acrescentou.

Confira a entrevista completa:

Mundo Negro – Você está vivendo uma fase de grande reconhecimento, com o sucesso de “Torto Arado – o musical”, o espetáculo dos 50 anos do Bloco Afro Ilê Aiyê e a série “Reencarne” que chega ao Globoplay em 2025. Como você enxerga essa fase e o que ela representa em sua trajetória?                                                                           

Elísio Lopes Jr.: Eu tomei para mim a missão de avançar, abrir espaços que pareciam que não eram para pessoas como eu. Preto e nordestino, na fotografia que está na cabeça desse país, não tem uma caneta na mão. Tem a pá, tem a enxada, a vassoura, mas a caneta, no imaginário desse país, tem outro dono. Eu me lembro do primeiro festival de teatro que fui com um espetáculo escrito por mim. Foi nos anos 90, em Florianópolis. Eu fui barrado de subir ao palco para participar do debate do meu próprio texto, porque eu não tinha “cara de autor”. Mais de 20 anos depois vivi a mesma coisa já trabalhando na TV. Meus colegas não sabem o que isso significa. É preciso ter serenidade e seriedade nesse caminhar, ou é mais fácil desistir. Mas  se o projeto é contar histórias, e entre elas, puder contar a história de quem se parece comigo, é preciso estar preparado para não achar os caminhos abertos. Comecei nos palcos, depois nos livros e na TV e por último no cinema. Todas essas linguagens são plataformas para que sejam contadas histórias que nos façam avançar. Quem ganha com chicotadas? Quem ganha com tiros que derrubam crianças pretas em close? Quem ganha com o reforço de estereótipos que nos vitimizam há décadas? Precisamos alimentar um novo imaginário, e eu estudei para isso, eu trabalho há mais de três décadas para isso, para contar histórias que tragam autoestima, orgulho e novas possibilidades para mim e para os meus. 

MN – Seu trabalho tem impacto muito além do palco ou da tela. Como você vê a importância de ter profissionais negros não apenas atuando, mas também liderando e criando histórias nos bastidores da teledramaturgia?

Elísio Lopes Jr.: A consciência da nossa existência e relevância já existe. O problema é que da consciência até o ato de abrir mão dos privilégios existe uma distância enorme. Tenho recebido muitos convites para ser “consultor” ou para ser “parceiro” de autores que desejam contar histórias pretas, mas que não se sentem mais confortáveis de fazê-lo sem um autor preto por perto. Por um lado eu acho isso bom, é a consciência que começa a existir do quão absurdo é estarmos fora desses espaços. Mas de outro lado vem a pergunta: Você que é aliado, não acha que seria melhor passar essa caneta para mim? Aí vem a reserva de espaços, aí vem o “medo” de apostar no novo. Por isso seguimos repetindo fórmulas em nome de uma “segurança” que já faliu. E se não forem revistas essas apostas, afundaremos todos na falta de relevância. As pessoas não sabem o que desejam assistir, o papel do artista é surpreender. Mas todo mundo sabe o que não deseja mais assistir. Essa inteligência ninguém tira do povo. Muitas escolhas são erradas, mas o não é não. Não dá mais para enfiar na nossa garganta o sofrimento dos milionários da Vieira Souto, ou a briga infinita pela herança de papai. Não cola mais!  

MN – “Reencarne” promete trazer um protagonismo preto para o Globoplay em 2025. O que o público pode esperar dessa série? Como essa produção contribui para uma nova narrativa dentro da teledramaturgia nacional?

Elísio Lopes Jr.: “Reencarne” é uma série de gênero. Chamamos de Terror Sertanejo. É um projeto escrito por três autores pretos e duas autoras brancas: eu, Igor Verde, Juan Julian, com Amanda Jordão e Flavia Lacerda. É sobre a liberdade de criar e contar histórias que não sejam apenas sobre o nosso umbigo. Tem uma coisa de ficção espiritual que é maravilhoso poder exercitar, nos ver em papéis diferentes, debatendo a matéria, a existência para além da vida. “Reencarne” entra nessa caminhada como parte do exercício de poder contar histórias realmente diversas. Sem deixar de ser honesto, brasileiro e consciente do que precisamos debater.

MN – Como pai de três filhas e profissional que busca deixar um legado positivo, o que você gostaria de ver mudando no cenário cultural e artístico para as próximas gerações?

Elísio Lopes Jr.: Eu estava conversando essa semana com a diretoria do Bloco Ilê Aiyê, aqueles que há 50 anos criaram o primeiro bloco só de pretos no carnaval de Salvador. Eles saíram às ruas em 1975, pós-ditadura, vigiados, discriminados, mas saíram. A imprensa da época disse que o Ilê era um “bloco racista”. E durante o primeiro desfile, diante do olhar da elite branca baiana, totalmente espantada, eles cantaram: “Branco, se você soubesse o poder que o preto tem.” Nessa conversa com os mais velhos do Ilê, Vovô do Ilê me disse uma coisa muito bonita: “Elisio, nós tivemos coragem de fazer! Agora é com vocês.”  Eu sinto essa mão, esse bastão de responsabilidade. Meu papel é mostrar que é possível ampliar a nossa presença, é caminhar em direção a uma sala onde sejamos muitos na mesa e as escolhas passem por nós. Se no final, eu olhar para o lado e enxergar outros como eu sentados à mesa de decisão, eu terei feito a minha parte.

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