Como diria a Beyoncé, há pessoas negras que podem ser um novo Bill Gates, porém o mundo da tecnologia é ainda majoritariamente formado por homens brancos. A falta de diversidade nessa área faz com que muitos talentos se percam. Com objetivo de incentivar mulheres e pessoas negras a ingressar na área de TI, a XP Inc. e Tera darão bolsas integrais para o curso de Ciências de Dados. A Tera, inclusive, é uma startup bem focada em potencializar a diversidade no mercado de tecnologia no Brasil por meio de conteúdos educacionais relativos à economia digital.
Nessa parceria, a XP Inc. entra com o financiamento integral de 50 bolsas de estudos, sendo cada metade reservada a um dos grupos abrangidos (mulheres e pessoas negras).
A iniciativa representa uma ampliação do programa de diversidade da startup, o DiversiTera, e tem como objetivo potencializar a diversidade na área, em que 83% dos profissionais são homens, entre 22 e 32 anos, e com alto nível de escolaridade.
Pessoas de qualquer canto do país poderão participar já que o curso é 100% online. Os estudantes ainda contarão com mentorias exclusivas sobre movimentação de carreira, suporte na construção de portfólios e conexão com vagas em empresas parceiras.
Os temas abordados vão desde disciplinas como Análise e Estruturação de Dados até técnicas avançadas em Machine Learning e desenvolvimento de competências em storytelling e visão de negócios. Além disso, os selecionados aprenderão a analisar dados estatísticos, assim como a comunicar seus insights, utilizando ferramentas e técnicas atuais do setor — como Python, bibliotecas de Machine Learning e outros —, podendo ainda se envolver em programas de contratação da gestora de investimentos.
As inscrições estão abertas até 21 de novembro em: http://programas.somostera.com/diversitera-ciencia-de-dados-by-xp-inc [programas.somostera.com]
Segundo Leandro Herrera, fundador e CEO da Tera, fala das experiências anteriores com alunos que obtiveram bolsas de estudo. “O sucesso foi tão grande que agora queremos expandir a proposta e tornar o programa ainda mais amplo e acessível, deixando as portas das carreiras digitais mais democráticas”, conta Herrera.
“A XP tem uma série de iniciativas relacionadas à educação e diversidade. Conseguir aliar ambos os temas numa iniciativa que pode transformar a vida das pessoas é o que buscamos fazer todos os dias, nossa razão de existir. Queremos transformar o mercado financeiro para melhorar a vida de todos os brasileiros e brasileiras. Acreditamos que, para isso, a diversidade do nosso país deve estar refletida em nosso ambiente de trabalho, e que só assim conseguiremos desenvolver as melhores soluções para diferentes necessidades e pessoas. Iniciativas como essas geram ganhos exponenciais para as pessoas, para os negócios e para nossa sociedade. A parceria com a Tera, assim, nos faz avançar na direção correta para aumentar cada vez mais o impacto de nossas ações”, afirma Marta Pinheiro, diretora ESG da XP Inc.
Cecília Pereira e Marcelle Thimoti, ginecologistas. Foto: Reprodução.
O Outubro Rosa é conhecido com o mês de prevenção ao câncer de mama e, pensando nisso, o MUNDO NEGRO conversou com Cecília Pereira, ginecologista e mastologista e Marcelle Thimoti, ginecologista, para que elas nos expliquem o que realmente são fatores de risco e os cuidados que cada uma de nós devemos ter em relação a esta doença.
Genética Familiar
Uma das grandes preocupações de quem tem casos de câncer na família, é a probabilidade de desenvolver a doença também. Mas a doutora Cecília Pereira, do grupo Ifé Medicina, do Rio de Janeiro, explica que a maioria dos casos positivos para a doença não tem ligação com o histórico familiar.
“Do total dos diagnósticos de câncer de mama, os casos ligados à genética familiar correspondem a 10%. Uma coisa curiosa é que a maioria das pacientes chegam com esse discurso ‘ah, não tenho nenhum histórico familiar’, ou uma paciente muito preocupada porque tem um histórico familiar positivo, de uma avó que teve câncer com 70 anos, ou uma tia avó, e isso não aumenta o risco, na verdade”, explica Cecília.
Mas quais são, então, os fatores genéticos para os quais devemos olhar com atenção? “Quando a gente fala em genética familiar, estamos falando em parentes de primeiro grau: mãe, irmã, filhas. Esse risco também aumenta quando alguém da sua família teve câncer de mama enquanto ainda estava menstruando, ou histórico de câncer de mama em homens da sua família, você também tem um risco mais aumentado”, explica Marcelle Timothi.
Em alguns casos, como na síndrome de BRCA 1 e 2, as pacientes têm cerca de 70% de chance de vir a desenvolver o câncer. Por isso, em alguns casos, é recomendada a mastectomia preventiva, como forma de não esperar que a doença se desenvolva.
Grande parte dos fatores associados ao risco de desenvolver câncer de mama são relacionados aos nossos hábitos do dia-a-dia. ” A grande maioria dos fatores de risco estão nas nossas mãos, então a prevenção está nas nossas mãos e tem a ver com diminuição do uso de industrializados, comer coisas mais naturais, praticar atividade física, diminuir o uso de tabaco e de álcool”, detalha Cecília.
Prevenção
A porta de entrada para a prevenção e o diagnóstico de câncer de mama é a consulta com a ginecologista ou mastologista e o exame adequado para rastreio da doença é a mamografia. “Ela é indicada para todas as mulheres a partir dos 40 anos e deve ser feita uma vez ao ano. Os outros exames como ecografia, ressonância, a gente pede de forma individualizada de acordo com a paciente, se ela tem queixa, histórico familiar ou outra condição”, diz Marcelle.
Apesar de ser considerado um pouco desconfortável, não há necessidade de temer o exame e nem o diagnóstico. “Para aquelas mulheres que têm dúvida, que têm medo e estão há muito tempo sem ir ao ginecologista , eu digo que não tenham medo. Vão e façam o exame porque o diagnóstico precoce é muito eficiente e dá chances muito altas no tratamento do câncer de mama”, alerta Marcelle.
E atenção! Apesar de muito difundido como uma forma de prevenção, o autoexame das mamas não pode ser considerado um exame que elimina ou confirma a presença da doença. “Autoexame não é um exame de rastreamento para o câncer de mama, é uma prática para você se conhecer, para você saber qual é o seu normal, para caso alguma coisa nova apareça, acender o sinal de alerta”, lembra Cecília.
Você já riu ou quis corrigir alguém que falou “framengo”, “crima”, “craro”, “proprema”? Ou quem fala “naisci” ao invés de “nasci” e por aí vai?
Talvez o que você não sabia até agora é que, na prática, nós brasileiros não falamos Português, e sim PRETUGUÊS. Tudo que consideramos “errado”, nada mais é que a marca de algumas línguas de África na construção do português brasileiro, em especial de origem bantu, tronco linguístico com mais de 600 línguas, trazidas a força durante a escravização.
Esse termo foi criado pela intelectual negra Lélia Gonzalez para se referir a essa sobre a africanização do idioma falado no nosso país. Ela não só falava pretuguês, como o adotou também na escrita dos seus textos acadêmicos. Esbarrou em muita gente higienista que defende a pureza da língua (como isso é possível?), mas ela não tava nem aí porque o que queria mesmo era ser compreendida pelo povo.
Historicamente falando, a língua foi uma ferramenta forte de colonização. Negros escravizados foram obrigados a mudarem seus nomes assim que desembarcaram no Brasil, assim como foi imposto a eles a falarem a língua do colonizador. Tudo isso porque a língua é um traço que nos conecta com a nossa origem, com que nós somos e de onde viemos, é um traço de resistência e conexão com os nossos. Sendo assim, a repressão linguística até hoje serve pra colocar as pessoas nesse lugar de “erradas”, “forasteiras”.
Quem fala mais fortemente o Pretuguês não deve ser taxada como uma pessoa que não sabe falar, que deve ser corrigida. Quem aponta a marca das línguas e dialetos afro como erros gramaticais pode estar praticando preconceito linguístico. Entender tudo isso, faz parte da também da fala sobre diversidade nos espaços. Não adianta pedir por pessoas diversas se vamos corrigí-las e tentar fazer com que a forma que ela se expressa através da fala seja alterada.
O Pretuguês não é apenas substituição do R pelo L. que é inexistente em alguns idiomas africanos. Vem de África também o fato de falarmos cantando na maior parte do país (herança da dupla vogal de idiomas do continente), a dupla negação (“não vai querer não”) ou a redundância (subir pra cima), sem falar a quantidade de palavras africanas que usamos diariamente, como bunda, cafuné, cachaça, quitanda fubá, muvuca, xingar, moleque… se eu for listar tudo esse texto vai virar uma quizumba só.
Por fim, viva Lélia Gonzalez, que nomeou nosso real idioma.
Fonte:
Texto Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira, de Lélia Gonzalez.
Episódio Pretuguês com Jonas Andrade do Podcast Assuntando a Arte. Episódio Pretuguês, da série Enigma
A iniciativa quer estimular a transformação cultural e tecnológica de como a pele negra é retratada no mercado audiovisual
AKQA lança o movimento RGBlack – Reframing the Greatness of Black (Retratando a Grandeza da Pele Negra) em parceria com a produtora Pródigo Filmes e a diretora Juh Almeida para fomentar o debate sobre o viés racial presente na cultura e nas tecnologias da indústria audiovisual. O movimento visa promover uma transformação na forma como a pele negra é retratada e enfatizar a importância de formas de representação mais inclusivas.
A ideia do projeto surgiu há dois anos, durante uma análise interna da área de Impacto da AKQA, que percebeu que alguns dos trabalhos do estúdio não retratavam fielmente a beleza da pele negra. Para corrigir esses erros em projetos futuros, a equipe pesquisou técnicas de calibração de cores, iluminação, diferenças entre tons de pele, maquiagem e cabelo, examinou o uso de IA no processamento de imagens e descobriu que, para atender às necessidades do mercado-alvo dominante na década de 1940, o padrão implícito nas configurações originais dos produtos fotográficos privilegiava a pele branca. Oitenta anos depois, mesmo com a evolução da imagem digital, os padrõ ;es usados continuam exatamente os mesmos.
“Vivemos em uma era visual. As imagens moldam a maneira como percebemos e entendemos o mundo ao nosso redor. Ao considerar como o racismo estrutural se reflete na tecnologia fotográfica, é essencial compreender que a tecnologia é um artefato humano projetado dentro de um contexto social e que nossas escolhas tecnológicas vão favorecer ou desfavorecer certos grupos com base nas estruturas de poder existentes”, diz Yago Freitas, produtor sênior da AKQA.
Juh Almeida. Foto: Pamela Anastácio
O legado dos “Shirley cards”
Ao longo do século 20, a pele branca foi usada como referência de tecnologia aplicada a filmes coloridos. Para calibrar as cores de uma imagem, os laboratórios fotográficos usavam os chamados “Shirley cards”: uma foto de uma mulher branca com as referências de cores, exposição à luz e densidade. Com esse método de calibração, fotógrafos e designers realizavam o balanceamento das máquinas de impressão fotográfica em um padrão considerado “normal”.
Shirleys – apelido dado às mulheres que apareciam nos cartões, em referência a Shirley Page, a primeira modelo a ser usada para esse fim – eram invariavelmente brancas, e essa padronagem de calibração dificultava que os tons de pele negra fossem retratados com a mesma fidelidade. O método resultou em imagens da pele escura com aparências desfocadas, chapadas e sombreadas nas revelações fotográficas.
As primeiras mudanças para ampliar a gama de tons marrons das emulsões químicas dos filmes ocorreram na década de 1960, principalmente devido à pressão de fabricantes de móveis e chocolates. Eles reclamavam que seus anúncios publicitários impressos não refletiam a diversidade de tons que diferenciavam seus produtos.
A partir de 1990, com o surgimento de câmeras capazes de processar tons de pele claros e escuros ao mesmo tempo, foram lançados cartões Shirley multirraciais, embora todas as modelos ainda tivessem a tez clara. Eles nunca foram amplamente adotados porque coincidiram com o surgimento da fotografia digital, mantendo o viés racial nas práticas contemporâneas de captura, criação e distribuição de imagens.
Viés racial nos algoritmos de inteligência artificial
Hoje, a grande maioria das ferramentas de IA usadas para edição de imagens foi treinada para ver rostos humanos usando bibliotecas de imagens digitais que também carregam esse viés preconceituoso. O resultado dessa prática é que pessoas reais são representadas erroneamente ou excluídas, exatamente como os cartões Shirley foram projetados para fazer.
Novas perspectivas para a produção de imagens
“O movimento RGBlack nasceu para romper essas regras e trazer novas perspectivas para quem está atrás das câmeras retratar toda a grandeza da beleza negra por meio da criação de novos cards de calibração projetados para diversos tipos de pele. Eles estão na plataforma rgblack.org, junto com informações sobre princípios de iluminação, beleza e colorimetria”, diz Gabriel França, diretor de criação associado da AKQA.
A fotógrafa e diretora Juh Almeida, da Pródigo Filmes, é uma das protagonistas desse movimento e é quem dirige o filme que recria os novos cartões com modelos negras.
“Para mim, o objetivo principal de um projeto como o RGBlack é quebrar de uma vez por todas a transmissão da mensagem social e psicológica sutil que dita a dominância da pele branca como padrão em todos os departamentos da imagem, não só na frente e atrás das câmeras, mas também no backstage, fichas técnicas, bastidores e, lógico, nas mídias que nos bombardeiam dia a dia deixando evidente que não existe espaço para pessoas de pele negra. Em linhas gerais, o que queremos com esse projeto é inquietar e confrontar o imaginário enraizado nas mentes criativas de quem encabeça projetos e ainda dita a branquitude como padrão”, pontua Juh Almeida. “O tema er a também campo de estudo da minha dissertação de mestrado e meu interesse pelo assunto se manteve. Com a vontade de revolucionar de forma coletiva a indústria da imagem e de desafiar o racismo institucional, eu aceitei dirigir o projeto que propõe evitar esses erros nas futuras captações”, acrescenta a diretora.
O filme de lançamento do movimento RGBlack, também cocriado e dirigido por Juh, revisita os Shirley cards com um olhar negro e uma proposta de reflexão que antecede o clique. “A fotografia não é apenas um sistema de calibração de luz, mas uma tecnologia de decisões subjetivas. Quem eu vou fotografar? Qual ângulo escolher? De onde entra a luz? Por que neste cenário? Por que esta pessoa? A tecnologia deve ser o equalizador final, deve principalmente atender às necessidades de todos sem um preconceito inerente ou viés racista. Não podemos mais presumir que a cor branca é o padrão.” E finaliza: “Acredito muito que o RGBlack celebra e traz à luz pautas antes ignoradas e sile nciadas na indústria do cinema e da fotografia. Eu sonho grande e acredito que ressignificar a Shirley é o primeiro passo para mudar o mundo por meio da fotografia”, defende a diretora.
Cipó estreia na maior feira da América Latina, retornando aos salões de uma exposição de artes visuais.
O fotógrafo Roger Cipó retorna aos salões de uma exposição artística, estreando na SP-Arte 2021, considerada a maior feira de artes da América Latina, que começou nesta quarta-feira (20),e vai até domingo (24). Em sua 17ª edição, o evento acontece no galpão Arca, na Vila Leopoldina, em São Paulo.
Após período explorando outros ares profissionais, o paulistano apresentará obras de “Igbo Iku – onde morre quem tem que nascer”, série produzida ao longo de 10 anos de sua produção fotográfica, na plataforma Olhar de um Cipó. Um público formado por apreciadores, colecionadores e principais galeristas de arte e museus, poderão ver de perto suas obras expostas em formato inédito.
Além de marcar sua estreia, Cipó, que também atua como escritor, criador de conteúdo, comunicador de influência, e que vem mostrando sua pluralidade como apresentador, comemora outro feito. “É uma enorme satisfação pertencer à ‘01.01 Art Plataform’ composta por artistas negros, pois eu estive na sua criação e agora retorno para o que se tornou a principal plataforma de artes negras, do país”, disse ele.
Sendo um dos primeiros fotógrafos negros a trabalhar em prol da temática, Cipó é formado em fotografia há mais de 10 anos e, desde o início da sua jornada, seus trabalhos fotográficos são moldados sob seu olhar atento e apaixonado para o candomblé. “Decidi que o terreiro de candomblé não seria o meu campo de pesquisa, e sim a base para documentar as minhas experiências e das comunidades pelas quais eu passar na tentativa de oferecer novas imagens e imaginários acerca das religiões de matriz africana, já que, até o momento, nós só tivemos fotógrafos brancos documentando nossas próprias narrativas, a partir do que eu chamo de ‘lentes racismo”, explicou.
Com exposições, pinturas, fotografias, colagens, residências, consultorias em arte, simpósios, entre outros destaques, a SP-Arte, que teve sua edição do ano passado em formato online – em virtude do isolamento social – principal medida de combate contra a Covid-19, conta com 128 participantes, sendo 84 galerias com suas estandes expostas e 44 físicas em formato digital.
Para visitar e prestigiar os trabalhos do Roger Cipó e demais artistas, basta fazer o agendamento em https://bilheteria.sp-arte.com/home e apresentar o teste negativo para Covid-19, realizado, pelo menos, nas últimas 48 horas. Já pelo interior da feira, é necessário estar munido de máscara e, o distanciamento pelo local, será obrigatório.
Juliana Kaiser é educadora, formada em história da arte. Desde a infância a sensação de não pertencimento a acompanha. Filha de pais com muita consciência social, que sempre a instruíam sobre as questões raciais.
“Meu pai sempre falava sobre o entorno. Fomos sempre os únicos pretos dos edifícios que morávamos.”
Graças ao esforço dos seus pais, teve a oportunidade de cursar os ensinos fundamental e médio em escola privada. Ao final do ensino médio, entrou em uma grande universidade pública, no Rio de Janeiro, para cursar história da arte. Ali, entendeu que estava em um espaço cujo sistema não estava pronto para lhe receber. Em seu curso, a maior parte dos alunos já tinha viajado o mundo, conhecido os museus pelo mundo a fora. Nas aulas, seus professores falavam de arte erudita, europeia e branca. Tudo de forma hermética para Juliana, que não conhecia de perto nenhuma das referências ensinadas. Foi quando resolveu trancar a universidade, e passar um período na Europa, para conhecer as referências que lhe eram ensinadas.
Durante seu período na Europa, olhava em volta e não via pessoas pretas. Mas foi um período de muito aprendizado, e que permitiu que Juliana conhecesse de perto os conceitos que seriam fundamentais para sua formação, que foi retomada assim que retornou ao Brasil. Já no mestrado, estudando museologia em Portugal, via que os empobrecidos, que assim como no Brasil eram negros, por lá também não ocupavam espaços de poder e conhecimento. Em Chelas, um dos bairros mais perigosos de Portugal, majoritariamente formado pela comunidade africana em Lisboa, estudou e entendeu que o ciclo de exclusão também acontecia por lá.
“Existe uma barreira invisível a ser transposta. O sistema retroalimentava que pretos nasceram pra trabalhar, e não pra conhecer museus. Essa é a exclusão do povo negro dos espaços de poder, que mesmo gratuitos e existentes no calendário escolar, não são frequentados pelo nosso povo, evitando que eles saibam da importância do conhecimento histórico.”
Atuou como profissional responsável por relações institucionais de importantes museus e via as pessoas surpresas com sua bagagem internacional, e visitas semestrais à Europa, o que era motivo de estranheza para muitos. Conectava os museus com projetos sociais das mais variadas áreas vulneráveis da cidade. Sua missão era olhar as instituições por dentro e virar a chave da invisibilidade, conectando a extrema pobreza e questões raciais, pensando projetos para os excluídos de espaços estratégicos.
A carreira de Juliana se divide entre o trabalho acadêmico e docente, em grandes universidades, com estudos sobre diversidade racial, e responsabilidade social, palestras e consultorias, pensando estratégias para grandes empresas, ajudando-as a desenvolver o ESG sob a perspectiva social, com o objetivo de melhorar suas práticas. Para além da filantropia, pensando também no lucro, e devolvendo valor para a sociedade.
Na ocasião da implantação da política de cotas no Brasil, Juliana lecionava em uma universidade pública. Convidada por outro professor, estava lá quando os alunos cotistas começaram a chegar, lutando pela não segregação de alunos negros. Nessa época, organizou uma rede de apoio, para mobilizar a estrutura da universidade para evitar o assédio e o racismo.
Juliana, que nunca se contentou com o teste do pescoço, em que se olha em volta e não se acha pessoas negras, sempre lutou pela inclusão em todos os meios dos quais fazia parte. E essas experiências a levaram a migrar dos museus para o mundo corporativo, dando também consultorias para Diversidade, Equidade e Inclusão. Estar na universidade é pensar ação social em espaços estratégicos. Hoje, como professora convidada, aborda os alunos negros no Campus, para orientá-los sobre ocupação dos espaços.
“A universidade está mais preta, apesar de ainda haver vieses inconscientes. Presencio bancas acadêmicas mais pretas a cada dia. As comissões de heteroidentificação também estão mais fortes, coibindo fraudes e permitindo a afirmação da negritude.”
No mundo corporativo, atuando de forma estratégica em consultorias de ESG para grandes empresas, seu papel é alinhar os stakeholder, e garantir a correta implantação da diversidade, equidade e inclusão nas empresas, uma vez que os números relacionados ao pilar racial ainda estão distantes de uma perspectiva de equidade. Negros são mais de 56% da população e não vemos esse percentual refletido nas corporações. Além de conhecer a fundo os relatórios de sustentabilidade e GRI, apresenta os resultados dos concorrentes, ações e consequências. Traz escolhas para mesa, embasando a negociação através de benchmarking. Seu trabalho consultivo também envolve aumentar a quantidade de pessoas pretas nas empresas, especialmente em cargos estratégicos, não se limitando apenas aos estagiários ou aprendizes.
Desde o início da pandemia, essa distorção tornou-se mais gritante. Antes, nos ambientes físicos, as pessoas negras até eram vistas na recepção, na segurança, na copa, mas com o advento do trabalho remoto, as reuniões por videoconferência escancararam a desigualdade racial existente nos espaços corporativos.
“Penso no ESG a partir da transparência, governança. Sempre pergunto se meus clientes estão prontos para a equidade racial. “
Escrevendo um livro sobre o empoderamento de mulheres no mundo pós George Floyd, acredita que mudar a realidade econômica das mulheres negras é ter a inclusão em todas as camadas hierárquicas das empresas. Tem estudado o empoderamento econômico para as mulheres negras e as ações efetivas que estão sendo adotadas para que conselhos de administração e demais cargos C-level sejam compostos por pessoas negras e especialmente por mulheres negras.
“Não sou de quebrar vidraças, e sim de jogar xadrez. Vou na linha da paz, e acredito que apresentar projetos robustos de investimentos é mais efetivo do que a militância sem embasamento. Fazer com que as empresas percam dinheiro, não resolve o problema. É preciso investir para interromper os ciclos de pobreza, entregando o mínimo de conforto financeiro, para que os ciclos não se repitam.”
Sobre o futuro, Juliana revela estar muito otimista, mas ressalta que é preciso pressionar o mercado, olhando especialmente para empresas globais, uma vez que os investidores estão tirando o dinheiro do Brasil.
“Quando a gente pensa que os nossos sobreviveram à travessia do atlântico, vemos o quanto somos resilientes. Precisamos trabalhar a força mental, acreditar na mudança e empoderar as pessoas negras.”
“Do brainstorming à comunicação entregue ao público, somos um negócio comprometido com os clientes, estamos preparados para trabalhar com grandes marcas, mas não esquecendo dos microempreendedores, afinal empreender tem uma marca gigantesca na nossa história. É ancestral e latente”. Essa explicação é de Giuliana Brandão que juntamente com Jamily Silva, Haron Soares fundaram a Preta Comunicação, empresa voltada projetos de comunicação.
Assim como a maiorias dos empreendimentos de pessoas pretas, o negócio foi criado há um ano, quando os três jovens publicitários sentiram a ausência da representatividade. Quem trabalha com comunicação no ambiente digital, a pandemia abriu oportunidades de trabalho e com a Preta Comunicação não foi diferente. A empresa tem em sua cartela clientes importantes como a AfroTV e a Grana Preta.
Entre os serviços prestados pela Preta estão consultoria, planejamento em comunicação, gerenciamento de mídias sociais, gestão de anúncios e marketing promocional. Todos os projetos são tocados sem esquecer temas como representatividade, diversidade e inclusão no ambiente de trabalho.
“A Preta representa uma reação a um mercado ainda excludente e pouco diverso. Há uma comunicação que tenta estabelecer uma conexão com a gente, negros e LGBTQIA+, mas que não nos atinge de forma completa porque não é feita por nós. Não somos e nem queremos ser os únicos. Queremos que o nosso negócio seja próspero e alinhado com as pautas que acreditamos”, destaca Haron.
Jamily destaca outro diferencial do negócio. “Outro dia recebi um e-mail que dizia ‘quero muito fazer parte da revolução que vocês estão criando, vocês são nossos heróis reais’. Somos um time verdadeiramente diverso, criativo, potente, afrocentrado, com um olhar racializado, experientes e cheios de vontade de transformar”, finaliza Jamily Silva.
Luana Genot e Péricles que se apresentará no Fórum - Foto: Divulgação
Ainda online devido à pandemia, o Fórum Sim a Igualdade Racial promovido pelo ID_BR chega a sua 6ª edição nesse sábado, 23 de outubro e em parceria com a MOVER (Movimento pela Igualdade Racial), será o maior de todos.
Pela primeira vez, o evento será exibido pelo Youtube e conversamos com Luana Génot, Diretora Executiva do ID_BR sobre as expectativas de uma edição que contou com um número recorde de patrocinadores, o que resulta em benefícios que alcançam a comunidade negra e a indígena, sendo esse segundo grupo, o que ganha mais espaço a cada Fórum.
Quais são os principais desafios em se fazer um evento tão grande como o Fórum de forma remota? De que forma isso também impactou o andamento dos projetos do ID_BR?
Luana Genot: Um dos principais desafios de fazer o Fórum é conseguir conciliar as agendas dos participantes que entendi que são cruciais para trazer conteúdos essenciais para a nossa audiência. Esse ano a gente está trazendo conteúdos relativos à saúde mental, a internacionalização da pauta antirracista que é uma pauta global, está tendo um direcionamento global e investimento global. Discutir quais são as dores e as necessidades e as conquistas em vários países como México e Costa Rica que a gente não se conecta apesar de serem nossos vizinhos e que podem dar pra gente uma perspectiva de diversas partes do Globo como elas estão lidando com a pauta antirracista. A gente tem vagas de emprego na ação em parceria com a 99jobs que é o “Trampa comigo”.
Também é um grande desafio chegar às audiências em um país desigual onde nem todo mundo tem acesso à internet de uma forma igual, então a gente está pensando muito em como é que a gente democratiza o acesso.
Tanto o Fórum quanto o prêmio passaram a ser remotos isso também em termos de projetos deu pra gente uma capilaridade muito grande porque com o prêmio a gente passou a ir para TV desde o ano passado com parceria com o Multishow e o Fórum esse ano também deve para o Multishow em novembro.
Então a parceria com o Youtube deve ajudar nesse sentido.
Visto que nem todos nem todos tinham contas no Facebook para acessar, então a gente acredita que esse ano testar a plataforma do YouTube pode ser uma formatação interessante. A gente está tentando driblar esse acesso à democratização até porque o nosso conteúdo é feito pensando em ser bastante representativo especialmente no que tange igualdade de gênero e contemplar é atores negros não é só na frente das câmeras, mas por trás também. É preciso também pensar nas pessoas com deficiência. A gente tem no nosso time uma das pessoas até participou como mediadora que é a Laura Queiroga que trás o aspecto intergeracional. Enfim são uma série de assuntos que consideram a interseccionalidade.
Quais as principais diferenças da edição desse ano, com as dos anos anteriores?
Temos mais participação indígena. As vozes indígenas têm que estar associadas essa discussão sobre a necessidade de inserção e retenção dos profissionais no mercado de trabalho, bem como a cultura das empresas tem que se abrir e a discutir mais as pautas indígenas. Acho que a capilaridade que conseguiremos com a parceria com o Youtube será importante para alcançar outros públicos.
E como tem sido gerenciar esse crescimento do Fórum?
O publico só vem aumentando e a capilaridade também. A gente está inserindo cada vez mais a pauta indígena e temos um número maior de patrocinadores que permite com que a gente consiga ter cada vez mais estrutura. A gente quer cada vez mais levar e entregar mais conteúdos para o nosso público, em especial para os profissionais negros e indígenas para que as empresas comecem a dar para eles, internamente, a estrutura que eles precisam para se desenvolver e crescer cada vez mais.
O time também cresceu. Estamos com mais de 40 pessoas trabalhando internamente e dá um orgulho muito grande em ver o time articulado e botando o evento de pé. Quando eu comecei lá atrás era uma equipe menor fazendo isso acontecer e hoje temos mais pessoas implicadas engajadas no processo. Diretamente são 40, mas indiretamente são mais 150 que a gente mobiliza em diversas partes do Brasil.
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Com apresentação dos atores Fabrício Boliveira e Juliana Alves e dos influenciadores Tukumã Pataxó e Bielo Pereira e direção artística de Shirlene Paixão, o Fórum terá 6 horas de transmissão e os participantes poderão acompanhar painéis com lideranças potentes e consolidadas no mercado de trabalho, oráculos, que contam com narrativas inspiradoras de personalidades de cunho pessoal e/ou profissional, pílula do conhecimento e, para garantir o entretenimento, pocket shows com Jota Pê, Lellê, Edivan Fulni-ô, Pocah, Péricles, entre outros grandes nomes do cenário musical brasileiro. Todas as informações sobre o evento estão disponíveis no site https://simaigualdaderacial.com.br/site/
A nossa senhora dos streamings ouviu nossos pedidos. Para quem é fã do ‘This is us‘, mas não consegue assistir a 5ª e penúltima temporada poderá fazê-lo de graça pelo Star + neste final de semana.
O ‘Star+ Acesso Livre’ é uma campanha que dará acesso liberado e sem limites a toda programação entre 22 de outubro às 12h e 24 de outubro às 23h59 (horário local).
É importante que o acesso seja feito pelo link https://www.starplus.com/pt-br e que, caso a pessoa não queira assinar o streaming depois do período promocional ela faça o cancelamento da sua inscrição, para que a assinatura não seja cobrada.
Além da série premiada, os assinantes terão acesso livre a todo conteúdo de entretenimento geral e esportivo da Star+, como eventos esportivos ao vivo da ESPN, estreias de séries exclusivas, clássicos, sagas, filmes, comédias de animação e produções originais.
‘This is us” rendeu a um de seus protagonistas, Sterling K. Brown, diversos prêmios, incluindo Emmy e Globo de Ouro de Melhor Ator em Série Dramática e o Critic Choice Awards na mesma categoria.
A 6ª e última temporada será exibida exclusivamente pela Star+.
Thiaguinho e Péricles no Altas Horas : Foto: Globo/Divulgação
O ‘Altas Horas’ deste sábado, 23 estará repleto de representatividade. Para matar as saudades do Exaltasamba, Thiaguinho e Péricles sobem ao palco da atração cantando clássicos do grupo musical. “Tá Vendo Aquela Lua”, “Livre Pra Voar “ e “Jogo de Sedução” estão entre os números. Na atração, Péricles ainda lança uma regravação da música “Na Estrada”, de Nando Reis, Marisa Monte e Carlinhos Brown.
Em carreiras solo bem sucedidas, os amigos provam que mantêm uma ótima relação mesmo após a saída do grupo. Thiaguinho inclusive declara sua admiração e agradecimento àquele que o ajudou no início da carreira. É tanta história e intimidade juntos que a dupla conta que chegava a arriscar uns modões sertanejos nas vans durante as viagens. E não é que rola uma palinha durante o programa?
Também na atração, os atores Paulo Vieira e Welder Rodrigues falam de suas atividades nas redes sociais e das cobranças por seus posicionamentos. Paulo, que está à frente do ‘Rolling Kitchen Brasil’, novo reality de culinária do GNT, lembra de alguns trabalhos como ator no início da carreira, interpretando personagens diversos.
Outra convidada de Serginho Groisman, Thelma Assis participa do programa para falar de seu livro, “Querer, Poder e Vencer”, que estará fisicamente disponível em novembro. A médica conta sobre sua trajetória para inspirar outras pessoas a buscar seu caminho de empoderamento. Thelminha confessa ter um grande carinho pelos ex-BBBs, independentemente da edição que participaram, uma vez que se identifica com as experiências de confinamento dentro da casa. E é fã assumida de Thiaguinho e Péricles!
Sergio Guizé e Gloria Perez são os outros convidados da atração que começa depois do programa ‘Vai que cola’.