O aguardado documentário sobre Milton Nascimentofinalmente teve seu primeiro trailer revelado nesta segunda-feira (10). A prévia dá um gostinho da turnê de despedida do músico, trazendo momentos emocionantes dos shows e o carinho dos fãs ao redor do mundo. O filme ainda conta com participações de peso, como Gilberto Gil, Mano Brown, Spike Lee e Quincy Jones.
Dirigido por Flavia Moraes e narrado por Fernanda Montenegro, ‘Milton Bituca Nascimento’ mergulha na trajetória e no legado do artista, de 82 anos, explorando o impacto global de sua música e a conexão única que ele construiu com o público. Mais de 40 personalidades compartilham depoimentos sobre a influência de Bituca, mostrando como sua obra atravessou gerações e fronteiras.
Foram mais de dois anos de gravações para capturar a essência de Milton Nascimento, com mais de 60 anos de carreira, indo além da música e destacando sua relação profunda com os fãs e a espiritualidade presente em seu trabalho.
O documentário estreia nos cinemas no dia 20 de março, com distribuição da Gullane+. Veja o trailer!
Trabalhadores da construção civil começaram, na segunda-feira (10), a remover o icônico mural “Black Lives Matter” pintado na rua que leva ao Black Lives Matter Plaza, em Washington, DC, nos Estados Unidos. A ação ocorre após a prefeita Muriel Bowser anunciar a decisão de redesenhar a praça, em meio a pressões de legisladores republicanos que ameaçaram cortar o financiamento de transporte da cidade caso o nome da praça não fosse alterado.
Com coletes refletivos e capacetes, os trabalhadores utilizaram equipamentos para perfurar e remover o trecho de dois quarteirões onde as letras amarelas com os dizeres “VIDAS NEGRAS IMPORTAM” estavam pintadas. O local, localizado ao norte da Casa Branca, tornou-se um símbolo dos protestos antirracistas que tomaram o país em 2020, após o assassinato de George Floyd, um homem negro morto por um policial branco em Minneapolis. Enquanto a remoção ocorria, espectadores observavam a cena, que marcou o fim de um dos marcos visuais mais emblemáticos do movimento.
O mural foi criado por ordem da prefeita Bowser em junho de 2020, durante o auge dos protestos contra a violência policial e o racismo estrutural. A pintura das letras amarelas, que se estendiam por uma via próxima à Casa Branca, foi vista como um ato de resistência e apoio ao movimento Black Lives Matter, especialmente durante o primeiro mandato do então presidente Donald Trump, que frequentemente criticou os protestos.
Agora, com a volta de Trump à cena política e o controle republicano sobre ambas as casas do Congresso, a remoção do mural é interpretada por analistas como um reconhecimento da vulnerabilidade política do Distrito de Columbia. Legisladores republicanos vinham pressionando pela mudança, argumentando que o nome e o mural da praça representavam uma postura partidária que não deveria ser financiada com recursos federais.
Em comunicado divulgado na semana passada, a prefeita Bowser afirmou que o espaço será redesenhado e receberá novos murais patrocinados pela cidade, sem detalhar quais serão as mudanças. A expectativa é que o trabalho de remoção e substituição leve cerca de seis semanas.
A decisão gerou reações mistas. Enquanto alguns moradores e ativistas lamentam a perda de um símbolo importante da luta antirracista, outros veem a mudança como uma tentativa de evitar conflitos políticos em um momento de tensão entre o governo local e o Congresso.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) recorreu à Justiça paulista para que os agressores do humorista Eddy Júnior tenham suas penas aumentadas. Elisabeth Morrone e seu filho, Marcos Vinicius Morrone, foram condenados em 26 de fevereiro por injúria racial e ameaça, respectivamente, quase três anos após os crimes ocorrerem. A promotoria argumenta que a sentença não considerou todos os agravantes do caso, como os danos psicológicos sofridos pela vítima.
Elisabeth foi condenada a 1 ano e 2 meses de prisão em regime aberto pelo crime de injúria racial, após chamar Eddy Júnior de “macaco”, “ladrão” e “sujo”, além de 1 mês e 5 dias de detenção por ameaça. Já Marcos Vinicius recebeu 2 meses de detenção, também em regime aberto, pelo crime de ameaça. A promotora Natália Rosalem Cardoso destacou que a condenação não levou em conta o impacto psicológico causado ao humorista, que precisou se mudar do prédio onde morava devido ao assédio constante dos agressores.
O MP-SP também solicitou que a Justiça fixe um valor mínimo para reparação dos danos morais causados pelas ofensas raciais cometidas por Elisabeth. Segundo a promotoria, o pedido visa garantir justiça à vítima e reforçar a luta contra o racismo. Nas redes sociais, Eddy Jr. revelou os danos à saúde mental que sofreu depois de ter sido vítima do crime: “Infelizmente após o caso fiquei muito mal da cabeça. Precisei começar a me tratar, não consegui mais trabalhar. Tive que entregar o meu apartamento porque eu também não conseguia mais continuar morando lá. Me sentia muito mal. Tive que pagar uma multa gigantesca para entregar o apartamento. Com essa multa fiquei endividado, acabei ficando pior ainda”.
A defesa de Elisabeth e Marcos contestou a condenação, alegando que Marcos não poderia ter sido condenado devido a uma “anomalia mental” e que Elisabeth não usou termos racistas. O advogado José Beraldo afirmou que Elisabeth disse “caco”, e não “macaco”, e que um laudo pericial que comprovaria isso foi ignorado pelo juiz. Ele também criticou a condução do caso, classificando-a como “hostilidade” e afirmando que recorrerá da decisão.
Relembre o caso
No dia 18 de setembro de 2022, o humorista Eddy Jr. publicou um vídeo em suas redes sociais denunciando que estava sendo alvo de ataques racistas da vizinha Elisabeth Morrone no condomínio onde morava, na Barra Funda, região central de São Paulo. O humorista divulgou um vídeo em que a mulher se recusa a pegar o mesmo elevador que ele e aparece nas imagens xingando-o de “macaco, imundo, feio, urubu, neguinho, um perigoso que não merece morar aqui”.
Após a repercussão da publicação, novas imagens das câmaras de segurança do prédio foram divulgadas, e mostram o filho de Elisabeth, Marcos Vinicius Morrone aparecendo duas vezes durante a madrugada, na porta de entrada do apartamento de Eddy Jr., segurando uma faca e uma garrafa.
Mais de um mês depois do flagrante e sem prestar depoimento à polícia, a aposentada apresentou uma defesa, alegando que não se lembra da confusão porque estava sob efeito de medicamentos.
No início de 2024, Elisabeth Morrone e seu filho foram expulsos do condomínio na Barra Funda, Zona Oeste da capital, após processo movido pelo condomínio contra ela. A juíza Laura de Mattos Almeida, da 29ª Vara Cível, decretou a expulsão, estipulando um prazo de 90 dias para que deixem o local devido ao “comportamento antissocial”.
Na época, Eddy Jr. se manifestou nas redes alegando que a expulsão não significava uma vitória pessoal: “Quando aconteceu a parada e eu pedi ajuda do condomínio, o condomínio cag** pra mim”, afirmou. “Não tem po*** nenhuma de primeiro passo, de, mano, fogo nos racista, não foi nada disso que aconteceu. E o meu processo ainda tá na justiça, então tem que esperar. Então, parem de postar esse bagulho aí de vitória”, reforçou ele, lembrando que seu processo contra Elizabeth Morrone ainda corria na justiça.
Foto: Matthias Balk / Picture Alliance via Getty Images
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) condenou a Facebook Serviços Online do Brasil Ltda., empresa do grupo Meta responsável pelo Instagram no país, a pagar R$ 8 mil em danos morais à cantora Pérola Henriquez. A decisão ocorreu após a plataforma bloquear duas músicas da artista que fazem referência a entidades de religiões de matriz africana, sob a alegação de violação aos termos de uso. A sentença considerou o ato como intolerância religiosa.
As músicas “Exú” e “Limites”, do álbum 7 Pérolas de Pérola, foram bloqueadas no Instagram, enquanto outras faixas do mesmo trabalho, sem referências religiosas, permaneceram disponíveis. Para a cantora, a medida configurou discriminação contra religiões de matriz africana. “Músicas foram excluídas simplesmente por utilizarem linguagem religiosa, configurando-se um claro caso de intolerância religiosa”, dizia um trecho do processo.
A Meta, por sua vez, defendeu-se alegando que a artista não apresentou provas concretas de que as músicas estariam indisponíveis e que os usuários são responsáveis pelos conteúdos publicados. A empresa também argumentou que o provedor tem o direito de “indisponibilizar contas temporariamente para verificar eventual violação aos termos de uso”. No entanto, o juiz André Augusto Salvador Bezerra, da 42ª Vara Cível de São Paulo, destacou que o desbloqueio das músicas só ocorreu após a ação judicial e que a Meta não apresentou elementos que justificassem o bloqueio inicial.
Na sentença, o magistrado citou obras como Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi, e Os Condenados da Terra, de Frantz Fanon, para reforçar a tese de que a conduta do Instagram representou intolerância religiosa. “Com o bloqueio, impediu-se que o fazer artístico, realizado em uma sociedade constituída desde 1500 sob padrões eurocêntricos, divulgasse temática de religiões de matrizes africanas, as quais sobreviveram a despeito de toda intolerância que a população escravizada sofreu por séculos de História do Brasil”, afirmou o juiz.
Além da indenização, a Meta foi condenada a arcar com as custas processuais da ação. A decisão é de primeira instância e cabe recurso. Procurada, a empresa optou por não se manifestar sobre o caso.
O Fundo Casa Socioambiental lançou um edital inédito para apoiar projetos que fortaleçam a educação quilombola no Brasil. Com investimento de R$ 1 milhão, a iniciativa vai financiar até 20 projetos em todo o país. As inscrições estão abertas até 25 de março de 2025, pela plataforma CasaDigital.
O edital, chamado “Educação para o Bem Viver”, é voltado para associações quilombolas e organizações sem fins lucrativos que atuam na área da educação. Os projetos devem seguir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola e podem se enquadrar em três linhas de apoio: fortalecimento da gestão escolar, incidência política e trabalho em rede, e formação de educadores para a promoção da equidade racial.
Cada projeto selecionado receberá até R$ 50 mil, com execução prevista para 12 meses, a partir de julho de 2025. A iniciativa também inclui uma oficina tira-dúvidas no dia 13 de março de 2025 para auxiliar os interessados no processo de inscrição.
O objetivo do edital é enfrentar os desafios da educação quilombola, como a falta de materiais pedagógicos específicos e a necessidade de formação de professores. Segundo o Censo Escolar 2023, apenas 4,6% das escolas brasileiras oferecem educação quilombola, e menos de 15% têm materiais sobre relações étnico-raciais.
A chamada é uma parceria com a Imaginable Futures e reforça o compromisso do Fundo Casa com a equidade racial e a valorização da cultura quilombola. Mais informações estão disponíveis na plataforma CasaDigital.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) arquivou as acusações contra o jornalista Igor Melo de Carvalho e o mototaxista Thiago Marques Gonçalves, que haviam sido indiciados por roubo de celular. Igor foi baleado por Carlos Alberto de Jesus, um policial militar reformado, após a esposa do PM, Josilene da Silva Souza, acusar sem provas que o universitário era um assaltante. A decisão judicial também determinou a devolução da motocicleta apreendida ao proprietário.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) já havia solicitado o arquivamento do caso, ocorrido na madrugada de 24 de fevereiro na Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Na ocasião, a vítima do roubo relatou ter sido abordada por dois homens armados em uma motocicleta, que levaram seu celular. O companheiro da vítima, um policial reformado, perseguiu e atirou em Igor, que foi preso junto com Thiago.
Imagens de câmeras de segurança, registros eletrônicos e mensagens de celular comprovaram que Igor havia acabado de sair do trabalho e que Thiago fazia uma corrida por aplicativo no momento do crime.
O pedido de arquivamento feito pelo MPRJ e aceito pela Justiça foi embasado na ausência de justa causa, com base em provas que atestaram a inocência dos dois.
Em entrevista para o Fantástico no último domingo (09), o Igor Melo desabafou sobre a perseguição sofrida por ele e pelo motociclista, e lembrou o momento em que foi baleado. “Qual crime eu cometi? Crime de trabalhar? O crime de ser preto? O crime de estar em cima de uma moto de madrugada? Eu não entendi o porquê. Não entendi”, questionou.
Igor, que está em recuperação em casa após ser baleado, segue em tratamento psiquiátrico para lidar com o trauma do episódio. Apesar dos desafios, ele se mantém otimista e determinado. “Sinto que nasci para ser jornalista. Eu vou conseguir. Eu sou muito alegre e muito feliz. Agora, meu maior medo é perder essa alegria”, confessou.
Igor, que está em recuperação em casa após ser baleado no dia 23 de fevereiro, segue em tratamento psiquiátrico para lidar com o trauma do episódio. Apesar dos desafios, ele se mantém otimista e determinado.
Para o Fantástico, o motociclista de aplicativo que pilotava a moto na noite em que Igor foi baleado, lembrou que ficou preso por dois dias, acusado de roubo e destacou: “Eu sou pai de duas crianças, trabalhador. Trabalho desde os meus 13 anos”, desabafou Thiago, que perdeu o celular no dia do ocorrido e ficou sem trabalhar desde então.
O filme “Vitória”, que estreia nos cinemas na próxima quinta-feira (13), tem gerado polêmica pela escalação deFernanda Montenegropara o papel de uma mulher negra.
O longa é baseado na história real da aposentada Joana da Paz que ajudou a desmontar uma quadrilha ao registrar crimes da janela de seu apartamento, no Rio de Janeiro, em 2005. As gravações, entregues ao jornalista Fábio Gusmão, interpretado por Alan Rocha, resultaram na prisão de traficantes e policiais militares envolvidos com o crime organizado.
Joana, que era negra, teve a identidade mantida em sigilo por anos. Na época, os jornais se referiam a ela como Vitória da Paz. Jurada de morte, viveu sob proteção do Estado até sua morte, em 2023, quando seu nome foi revelado.
A produção do filme começou enquanto ela ainda estava viva, o que, segundo os realizadores, motivou a escolha de uma atriz branca para interpretá-la, já que sua identidade não era conhecida. O então diretor Breno Silveira não teria visto problemas na decisão.
Com o sigilo de identidades, também foi escalado Alan Rocha, um ator negro, para interpretar o jornalista Fábio Gusmão, um homem branco, e a mudança dos nomes reais dos envolvidos. No filme, Joana se chama Nina, e Gusmão foi rebatizado como Flávio Godoy.
O diretor Breno Silveira faleceu em 2022, aos 58 anos, durante as filmagens do filme. Para concluir o longa, a produção escalou Andrucha Waddington, cineasta e amigo de Silveira. Waddington é genro de Fernanda Montenegro e já havia trabalhado com a atriz em “Casa de Areia” (2005).
Também integram o elenco Linn da Quebrada, Silvio Guindane, Jeniffer Dias, Thawan Lucas, entre outros.
Mulheres negras representam 70% das 2.730 trabalhadoras resgatadas em condições análogas à escravidão no Brasil entre 2003 e 2023, segundo dados inéditos do Projeto Perfil Resgatado, da Repórter Brasil, publicados pelo jornalista Leonardo Sakamoto em sua coluna no Uol. O levantamento, que cruza informações de sistemas oficiais do governo federal, revela que a interseccionalidade entre gênero e raça é um fator determinante na perpetuação do trabalho escravo contemporâneo no país.
Do total de mulheres resgatadas, 66% estudaram apenas até o ensino fundamental, e 16% eram analfabetas. A maioria (dois terços) atuava como trabalhadora rural, especialmente na pecuária e no cultivo de café, enquanto 8% estavam ocupadas no setor têxtil. Minas Gerais lidera o ranking de resgates, com 510 casos, seguido por Pará (419) e São Paulo (229).
A invisibilidade das atividades desempenhadas por mulheres, como serviços de cozinha, limpeza e cuidado, contribui para a subnotificação de casos. Natália Suzuki, gerente de Educação e Políticas Públicas da Repórter Brasil, explica que muitas mulheres nem sequer eram consideradas resgatadas e não eram vistas como vítimas do trabalho escravo. Além disso, mulheres grávidas ou com filhos pequenos enfrentam violências específicas. A falta de protocolos específicos para atender mulheres vítimas de trabalho escravo, especialmente aquelas que sofrem abusos sexuais ou violência de gênero, é outro desafio apontado por especialistas.
O setor cafeeiro, que concentra grande parte das vítimas, tem sido alvo de fiscalizações nos últimos anos. Em 2023, foram 316 resgates no setor, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Grandes marcas globais, como Starbucks e Nespresso, já foram vinculadas a casos de exploração em fazendas fornecedoras. “Nas lavouras de café, há uma preferência por mulheres em etapas como a seleção dos grãos, sob a justificativa de que são mais cuidadosas”, explica Suzuki.
Desafios no combate ao trabalho escravo Desde 1995, o Brasil já resgatou mais de 65 mil pessoas em condições análogas à escravidão. No entanto, a luta contra o crime ainda enfrenta obstáculos, como a falta de políticas públicas que considerem as particularidades de gênero e raça. Tatiana Bivar, procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT), destaca a necessidade de incluir mulheres nas equipes de fiscalização, especialmente em casos que envolvem exploração sexual ou trabalho doméstico.
O caso emblemático de Madalena Gordiano, escravizada por uma família em Patos de Minas (MG) e libertada em 2020, trouxe visibilidade ao tema, mas a sociedade ainda enfrenta resistências. “Muita gente vê o trabalho doméstico como uma ajuda, uma caridade, e não como exploração”, afirma Jamile Virgínio, auditora fiscal do MTE.
Créditos: Arquivo/Estadão Conteúdo e Passarinha/Negana
Na data em que Carolina Maria de Jesus completaria 111 anos, em 14 de março, será inaugurada a exposição “Carolinas” na CAIXA Cultural São Paulo, realizada pela Via Press. A mostra reúne 11 artistas negras contemporâneas, vindas de diversas expressões artísticas, para homenagear uma das mais importantes escritoras, compositoras e poetisas do Brasil.
Com visitação gratuita de terça a domingo, das 9h às 18h, a exposição busca manter vivo o legado de Carolina Maria de Jesus, conectando sua trajetória inspiradora às novas gerações. Seu impacto na arte e cultura brasileiras ressoa por meio de obras que exploram diferentes técnicas, como pintura, escultura e bordado. Entre as artistas participantes estão Ana Paula Sirino, Antonia Maria, Bianca Foratori, Chris Tigra, Gugie Cavalcanti, Isa Silva, Mayara Amaral, Negana, NeneSurreal, Siwaju e Soberana Ziza, cujos trabalhos dialogam com o universo de Carolina, seja em cores, simbolismos ou narrativas.
A curadoria fica por conta de Thais De Menezes e Vera Nunes. Thais, curadora e pesquisadora, tem vasta experiência em exposições nacionais e internacionais voltadas à arte, cultura e educação. Vera, por sua vez, é uma das principais líderes de projetos artísticos de grande escala no país, além de pesquisadora nas áreas de arte pública, gênero, raça e interseccionalidades.
Obra: Alimentando olhos – Ana Paula Sirino
A vida e obra de Carolina permitem vislumbrar análises profundas da sociedade brasileira, bem como críticas à condição da negritude no país, construídas a partir de sua própria travessia por cidades, bairros, becos e vielas. Seu percurso é marcado pelo enfrentamento da precarização e pela luta diária contra a fome – um tormento que ainda ecoa em grande parte da população. “O que colocarei na mesa esta noite?” foi uma pergunta que a acompanhou ao longo da vida, destacam as curadoras, que completam: “Mas foi sobre essa mesma mesa que escreveu madrugadas inteiras, transformando em literatura suas vivências, indagações e, ao mesmo tempo, sua inabalável esperança”.
Com esse contexto, “Carolinas” é mais do que uma exposição: é uma celebração da vida, do brilhantismo e da audácia de Carolina Maria de Jesus, inspirando novas gerações de mulheres negras, periféricas e mães-solo a contarem suas próprias histórias por meio da arte.
Antes de desembarcar em São Paulo, “Carolinas” conquistou públicos na Bahia e no Ceará. Passando por Salvador, Feira de Santana e Fortaleza, a exposição agregou obras de artistas locais, ampliando as perspectivas sobre o legado da escritora e oferecendo novas experiências sob a mesma homenagem.
Obra: casinha – Bianca Fiorati (1)
Serviço: Exposição CAROLINAS Onde: Caixa Cultural São Paulo Praça da Sé, 111 – Centro Histórico de São Paulo Quando: de 14 de março a 18 de maio Valor: gratuito Horário: terça a domingo das 9h às 18h
Todo ano, o mês de março me remete ao vale comum da sororidade seletiva, mas neste março de 2025, na minha visão, o vale comum migrou para o da exclusão sistemática. Veja bem, não sou historiadora nem especialista, mas sou uma mulher preta que ocupa espaços onde “silenciar” ou “tokenizar” são práticas comuns. E é justamente nesses espaços que aplico estratégias para lutar e sobreviver de forma coletiva. Uma das minhas estratégias é buscar a verdadeira história do meu povo. E uma das minhas certezas é que, ao longo da história, as conquistas femininas frequentemente vieram acompanhadas de uma exclusão sistemática, cada vez mais tangível: os direitos alcançados por algumas mulheres não se estendem a todas.
Um exemplo é o direito ao voto feminino. No Brasil, a partir de 1932, onde a alfabetização era um requisito, mulheres pretas e pobres, que, devido à marginalização pós-abolição, tinham menos acesso à educação formal, foram excluídas. Em 2025, a exclusão sistemática continua, o que pode ser constatado por meio de uma pesquisa simples sobre a quantidade de mulheres pretas apagadas das redes sociais corporativas, da mídia em geral, de eventos de relevância nacional e internacional, da diminuição de “Jobs” para influencers e palestrantes pretas em assuntos técnicos, além do debate sobre reconhecer as mulheres pretas como parte fundamental das conquistas femininas. Retornamos à zona de conforto, em que mulheres pretas não são protagonistas, apenas espectadoras ou beneficiárias tardias da suposta sororidade.
A síndrome da sinhá repaginada tem uma nova faceta: a síndrome da aliada fashion, Aquela que, conforme o tema da moda, prioriza o comprometimento com a mudança, mas, quando a moda passa, guarda no armário para usar apenas quando for obrigatório. E aqui entra a importância de ressignificar as narrativas das mulheres pretas em nossa história. Começo ressignificando uma das maiores mulheres pretas que já tivemos: Francisca da Silva de Oliveira, que você conhece como Chica da Silva.
Em 2024, estive na casa dela, refiz alguns dos seus passos e fui à igreja onde ela está enterrada. Todos os relatos ouvidos durante esta visita eram sobre a Chica da Silva do imaginário, da maldade, da sexualidade ou da esposa, incluindo a exposição retratada nos quadros de cada cômodo da casa: Chica e os 7 pecados capitais. Nenhuma palavra sobre a potência dessa mulher ou sobre como a escolha das gigantes Zezé Motta e Taís Araújo para interpretá-la no filme e na novela ajudou a evidenciar o quanto essa mulher preta foi bela e potente, para além dos vieses de ambas as obras. Sua história foi resumida a relatos trágico-cômicos. O incômodo me fez agir e, ao menos para o grupo de 10 pessoas não negras que estavam comigo, a história da Chica da Silva foi ressignificada para a história de uma mulher preta, que desafiou narrativas convencionais e obrigou a todos a questionar a forma como interpretamos o poder feminino e a ascensão social de mulheres pretas ao longo do tempo.
Chica viveu no Brasil colonial no século XVIII, um período em que a escravidão não era apenas um regime legal, mas a base da sociedade. Ela alcançou um status que pouquíssimas poderiam sonhar naquela época, conquistou bens, poder e influência política em um contexto no qual a negritude significava subjugação e invisibilidade. Suas chamadas “controvérsias” são frequentemente julgadas sem o contexto histórico adequado e, fazendo um paralelo com os dias atuais, se Chica da Silva fosse uma mulher da geração X ou Z, talvez sua história fosse reduzida a um post polêmico, uma análise superficial de suas decisões ou uma avaliação binária de “certa” ou “errada”. Mas o que podemos aprender com essa mulher que, mesmo em um sistema brutalmente excludente, encontrou formas de existir, resistir e exercer poder?
É impossível não traçar um paralelo com a realidade das mulheres pretas no mercado de trabalho hoje. As síndromes foram repassadas como herança a algumas pessoas e a mudança que ocorreu não foi o suficiente para nós. A ascensão de mulheres pretas a posições de liderança ainda é tratada como uma exceção. O mesmo olhar que julgava Chica por buscar espaços de poder ainda recai sobre mulheres pretas que alcançam destaque em suas carreiras – seja no setor corporativo, na política ou no empreendedorismo.
Ela nos ensinou, e nos ensina até hoje, possíveis estratégias para subverter as regras do jogo, desde a construção de uma rede de influências até a ostentação de riqueza como forma de afirmação social, estritamente quando é necessário. Criou um legado e encontrou caminhos para existir em um mundo que tentava apagá-la, jamais sozinha, mas dentro das possíveis formas de aquilombamento da época. Agrupava poder, identidade e resistência em seus atos e, por isso, alguns dos nossos a excluíam também, pois o pensamento de que a causa serve ao individual e não ao coletivo, infelizmente, também era presente naquela época. Chica, ao seu tempo, era nossa representatividade tangível. A nossa capa de revista corporativa e a palestrante que falava e ecoava em nós.
O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, por meio do documentário Chica da Silva – A descoberta do testamento, faz uma reparação histórica importante sobre sua vida e nos leva a uma reflexão que não pode faltar: qual é o nosso papel na mudança que tanto falamos? Estamos só compartilhando posts ou estamos de fato agindo para transformar o mundo ao nosso redor? Chica da Silva nos lembra que é possível desafiar as estruturas, mas isso exige mais do que palavras — exige atitude, coragem e, muitas vezes, uma boa dose de estratégia.
Dedico este texto a todas as Chicas brasileiras, as Chicas mulheres pretas da região de Serro e Milho Verde – MG, as Chicas do Coletivo Quilombo Ausente Feliz, as Chicas mães solos, CLT de sol a sol, cuidadoras diretas e indiretas do futuro preto do Brasil, as Chicas que sofrem apagamento e silenciamento de suas lutas diárias e as Chicas da Silva deste Brasil que chamo de mãe, irmãs, primas, tias, sobrinha, amigas e companheiras de lutas.
Documentário Chica da Silva – A descoberta do testamento