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Unidos de Padre Miguel foi penalizada por “excesso de termos iorubás” no enredo; Escola deve recorrer da decisão de rebaixamento

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Foto: Reprodução/Instagram

Carnaval brasileiro de 2025 ficará marcado pelo esforço da branquitude em demonizar religiões de matriz africana e por tentativas de desassociar a festa, que no país possui profunda influência africana, dos temas afro, abordados nos sambas-enredos. A Unidos de Padre Miguel, escola de samba que retornou ao Grupo Especial do Carnaval do Rio após 52 anos, anunciou nesta sexta-feira (7) que entrará com recurso para contestar o rebaixamento sofrido durante a apuração do Carnaval deste ano. A agremiação, que levou para a Sapucaí um enredo sobre Iyá Nassô e o Axé da Casa Branca do Engenho Velho — considerado o mais antigo templo afro-brasileiro em funcionamento —, terminou em último lugar e foi rebaixada para a Série Ouro.

Um dos pontos de controvérsia foi a penalização de 0,1 ponto aplicada por um dos jurados, que justificou a decisão pelo “excesso de termos iorubás” no enredo. A crítica gerou reação imediata da escola, que respondeu em sua conta no X (antigo Twitter): “Esquecer nossa oralidade para atender a um acadêmico não negro não está nos planos da nossa escola”. Em nota oficial, a diretoria da Unidos de Padre Miguel afirmou que o resultado da apuração foi “inaceitável” e não refletiu o desfile apresentado na avenida. “Identificamos inconsistências graves, incluindo penalizações relacionadas a um problema técnico no caminhão de som, o que foge da responsabilidade da escola”, destacou o comunicado.

Outro jurado também descontou um décimo da pontuação, argumentando: “Em uma letra que exerce tamanha função na comunicação de palavras de matriz africana, a comunicação de palavras em língua portuguesa é decisiva para efeitos descritivos e/ou interpretativos do enredo”.

A agremiação ressaltou que o desfile foi “digno, vibrante e emocionante”, reconhecido pelo público e por entusiastas do Carnaval, mas que os jurados “não enxergaram da mesma forma”. A escola também afirmou que está reunindo documentos e evidências para embasar a contestação, com o objetivo de garantir uma apuração “justa e imparcial”.

“Nossa luta é por justiça e pelo reconhecimento do esforço incansável de nossa comunidade. Seguimos confiantes de que a verdade prevalecerá”, concluiu a nota.

O rebaixamento da Unidos de Padre Miguel ocorreu em um ano marcante para a escola, que celebrou a história e a resistência do terreiro de candomblé mais antigo do Brasil. Apesar do revés, a agremiação promete se reerguer. “O amor pelo samba e a garra de nossa comunidade são maiores do que qualquer resultado. Vamos voltar ainda mais fortes, porque o nosso lugar é no Grupo Especial”, afirmou a escola.

O caso reacendeu debates sobre a representatividade cultural e a valorização das raízes afro-brasileiras no Carnaval, além de questionamentos sobre os critérios de julgamento utilizados pelos avaliadores. Enquanto aguarda o desfecho do recurso, a Unidos de Padre Miguel mantém sua tradição viva e reafirma o compromisso com suas origens.

(Com informações do Portal LeoDias)

Erika Januza anuncia saída da Viradouro após três anos como rainha de bateria

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Foto: Giselle Dias

A atriz Erika Januza anunciou, durante o programa Rainhas Além da Avenida, do GNT, que deixará o posto de rainha de bateria da Viradouro após o Desfile das Campeãs deste ano. A decisão, segundo ela, foi um pedido da própria escola, que já havia comunicado a intenção de encerrar seu reinado.

Januza, que assumiu o posto em 2022, revelou que guardou o segredo por mais de um ano, desde que os dirigentes da agremiação de Niterói explicaram que ela teria apenas mais uma temporada à frente da bateria. “Eles me deram a oportunidade de viver meu último Carnaval à frente da Furacão vermelho e branco. Obrigado por um dos maiores presentes que ganhei na minha vida”, declarou a atriz, emocionada, durante o programa que vai ao ar nesta quinta-feira (7).

“Quando recebi o convite para ser rainha, os meus presidentes disseram que não queriam um reinado muito longo. Vocês devem estar imaginando o que está passando na minha cabeça agora. Eu queria falar uma coisa para a câmera, mas queria falar sozinha. Vocês vão acompanhar hoje o meu último desfile”, completou, aos prantos.

Erika Januza assumiu o posto em 2022 e, em pouco tempo, tornou-se um dos símbolos da Viradouro. Sob seu reinado, a escola conquistou o vice-campeonato em 2023 e o título do Carnaval carioca em 2024, após um desfile que homenageou o povo indígena e recebeu nota máxima de todos os jurados.

A atriz destacou ainda o orgulho de ter realizado um sonho. “Eu tinha o sonho de ser rainha de bateria. Eu me entreguei e fiz tudo que pude, espero ter cumprido minha missão”, afirmou.

Sobre o futuro, Januza não deu detalhes, mas deixou claro que guardará boas lembranças da passagem pela escola. “A Viradouro me pediu o cargo. O cargo não é meu, eu sou só um instrumento. Vou sentir muita saudade. Fui muito feliz aqui. Estou triste, mas é um ciclo que se encerra”, concluiu.

A entrevista completa será exibida nesta quinta-feira (7), no programa Rainhas Além da Avenida, no GNT.

Vini Jr. cobra posicionamento da Conmebol após caso de racismo com jogadores do Palmeiras na Libertadores Sub-20

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Foto: Reprodução/Instagram

O atacante Vinicius Júnior, do Real Madrid, usou suas redes sociais para se manifestar em apoio a Luighi, jogador do Palmeiras, e cobrar ações da Conmebol após mais um caso de racismo no futebol. O caso ocorreu durante a partida entre Palmeiras e Cerro Porteño, pela Libertadores Sub-20, no Paraguai, na última quinta-feira (6).

O caso aconteceu no Estádio Gunther Vogel, em San Lorenzo, no Paraguai. Aos 36 minutos do segundo tempo, Luighi e Figueiredo, ambos do Palmeiras, foram alvos de insultos racistas. Figueiredo relatou que um torcedor, com uma criança no colo, fez gestos imitando um macaco em sua direção. Já Luighi foi chamado de “macaco” por torcedores e ainda recebeu uma cusparada. O camisa 9 do Palmeiras denunciou o ocorrido ao árbitro Augusto Menendez, mas a partida seguiu sem qualquer intervenção.

Luighi chorou no banco de reservas e, após o jogo, desabafou em entrevista. Questionado apenas sobre a partida, ele reagiu indignado: “É sério isso? Vocês não vão perguntar sobre o ato de racismo que fizeram comigo? É sério? Até quando a gente vai passar por isso? O que fizeram comigo foi um crime”. No Instagram, Vini Jr. publicou uma mensagem nos stories: “Parabéns pelo posicionamento, mano. É triste, mas fique forte. Vamos juntos nessa luta. Até quando, Conmebol? Vocês nunca fazem nada. Nunca!”.

O Palmeiras venceu o jogo por 3 a 0, com gols de Erick Belé e Riquelme (duas vezes), mas o resultado foi ofuscado pelo episódio de racismo. Em nota oficial, o clube brasileiro repudiou os atos e afirmou que irá “até as últimas instâncias para que todos os envolvidos sejam punidos”. A Conmebol também se manifestou, dizendo que “medidas disciplinares serão aplicadas”. No entanto, a entidade foi criticada por sua lentidão e falta de ações efetivas em casos anteriores de discriminação.

Em uma publicação no Instagram, Luighi voltou a falar sobre o caso: “Dói na alma. E é a mesma dor que todos os pretos sentiram ao longo da história, porque as coisas evoluem, mas nunca são 100% resolvidas. O episódio de hoje deixa cicatrizes e precisa ser encarado como é de fato: crime. Até quando? É a pergunta que espero não ser necessária ser feita em algum momento. Por enquanto, seguimos lutando”.

O caso reacende o debate sobre a necessidade de medidas mais duras contra o racismo no futebol. Vini Jr., que já foi alvo de ofensas racistas em partidas na Espanha, tem sido um dos principais atletas a pressionar por mudanças. Agora, a cobrança se estende à Conmebol, que, segundo críticos, precisa agir de forma mais contundente para coibir esses crimes.

Enquanto isso, Luighi e Figueiredo recebem apoio de companheiros e torcedores, mas a pergunta que ecoa é: até quando o futebol precisará lidar com essas cenas?

Com informações do UOL

Racionais MC’s recebem título de doutor honoris causa da Unicamp em cerimônia histórica

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Foto: Mariana Conti/Instagram

“Somos doutores graças a cada um de vocês!”, dizia a legenda da publicação recente na página do grupo Racionais MC’s. Na última quinta-feira (6), Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay receberam o título de doutor honoris causa concedido pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), aprovado pelo Conselho Universitário em novembro de 2023. Um marco histórico pois eles são os primeiros intelectuais negros e periféricos a receberem o título na instituição, que reconhece a relevância intelectual do grupo e sua atuação na luta contra o racismo e as violências sociais no Brasil, além disso.

A cerimônia contou com discursos emocionados dos integrantes do grupo, que relembraram suas trajetórias e a importância do hip hop como ferramenta de resistência e transformação social. “Quando a gente começou, a única ambição que a gente tinha certeza que aconteceria era que, quando os preto ouvissem a gente, alguma coisa aconteceria”, afirmou Mano Brown, destacando as dificuldades enfrentadas em sua juventude. “Eu fui um jovem afoito, estudei muito pouco. Não tive tempo para estudar. Era questão de matar a fome.”

KL Jay, por sua vez, agradeceu aos pioneiros do hip hop em São Paulo, como o extinto Bodega Bay e o Clube do Rap, que propiciaram o primeiro encontro do grupo. “Hip hop é um acontecimento espiritual que fez um grande resgate dos pretos no mundo inteiro”, disse. Ice Blue homenageou sua família e relatou os desafios de ser um homem negro no Brasil. “Hoje eu sei o que é ter um filho preto da porta para fora”, afirmou, emocionado.

Edi Rock lembrou que a primeira gravação oficial dos Racionais MCs aconteceu em Campinas, em 1989, e agradeceu ao movimento negro e ao hip hop da cidade pelo acolhimento desde então. “Estar aqui hoje é um reconhecimento de que nossa luta não foi em vão”, disse.

A madrinha da cerimônia foi Nilma Lino Gomes, pedagoga e doutora em antropologia social pela USP, primeira mulher negra a comandar uma universidade pública federal no Brasil. Em seu discurso, ela destacou o papel dos Racionais MCs na luta por direitos e na crítica às estruturas de poder. “A voz dos Racionais MCs ecoa luta por direitos. Com sua dura crítica ao poder e aos poderosos, resgata histórias silenciadas, as reinventa, trazendo-lhes legitimidade de forma insurgente”, afirmou.

Formado em 1988 na periferia de São Paulo, o grupo se consolidou como uma das vozes mais influentes da música nacional e da cultura periférica, com composições que pautaram o debate público sobre desigualdade social, violência policial e genocídio da população negra. Em 2018, a Unicamp incluiu o álbum “Sobrevivendo no Inferno” entre as obras de leitura obrigatória para o vestibular 2020, marcando a primeira vez que um disco de música foi recomendado para a prova.

O título de doutor honoris causa da Unicamp já foi concedido a nomes como Paulo Freire, Antonio Candido, Mário Quintana, Celso Furtado e Oscar Niemeyer. Agora, os Racionais MCs se juntam a essa lista, em um reconhecimento que ressalta a importância da cultura periférica e da luta antirracista no cenário acadêmico e social brasileiro.

A importância da baixa dos alimentos para a população negra

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Foto: NurPhoto via Getty Images

Texto: Luciano Ramos

Nesta quinta-feira (6), o governo brasileiro apresentou algumas medidas para baixar o preço dos alimentos. Entre elas está zerar a taxa de importação para produtos como a carne, o ovo, o café, açúcar, milho e azeite de oliva. Este aceno do governo é importante, principalmente, para a população mais pobre do Brasil: em sua maioria a negra.

Tornou-se comum, nos últimos tempos a grande reclamação do povo brasileiro nos supermercados e nas feiras frente aos preços altos dos produtos. Isso impacta, diretamente na segurança alimentar e nutricional dos brasileiros, uma vez que atinge os produtos básicos e necessários da cesta básica.

Isso é bastante lógico: se os produtos mais saudáveis estão mais caros, as famílias, principalmente as com mais baixa renda, tendem a consumir os produtos mais baratos, em geral, os ultraprocessados. Na década de 1980, os produtos in natura eram os mais acessíveis, financeiramente, enquanto os ultraprocessados, mais caros. Há um tempo essa lógica mudou. Os produtos mais naturais se tornaram inacessíveis às famílias mais empobrecidas criando a necessidade de consumo por comidas de menor qualidade.

Não é possível garantir que o aumento dos índices de câncer no estômago e no cólon esteja ligado, somente, a alimentação de produtos ultraprocessados, mas estudos mostram a incidência destes alimentos em doenças e comorbidades. Comer bem é um direito básico! Dom Mauro Morelli (bispo falecido de Duque de Caxias e grande defensor da segurança alimentar e nutricional no Brasil) e Betinho (da ação da cidadania) tinham como lema a boa alimentação para todas as pessoas. Comer bem é comer com qualidade. E todas as pessoas precisam ter acesso a isso!

Em 2022, a população exposta à “fila do osso” demonstrava o extremo a que o povo brasileiro estava submetido. Quando o governo luta pela baixa dos preços dos produtos, mostra um esforço para que o povo não seja submetido a essa ausência de dignidade. É preciso lembrar que o mercado, historicamente, não está preocupado com os mais pobres. Sobretudo, o mercado não está preocupado com os negros. É importante a atenção, o tempo todo com uma economia que aponte para a justiça social, olhando para os mais pobres.

Lições do Oscar para artistas fora do eixo

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Fotos: Mike Coppola/Getty Images; Arturo Holmes/WireImage/Getty Images; Getty Images

Texto: Rodrigo França

O Oscar 2025 não trouxe surpresas para quem entende que premiações são menos sobre arte e mais sobre política. Como qualquer grande evento da indústria cultural, a cerimônia reflete os interesses e os dilemas de seu tempo, seja reforçando a ideologia dominante, seja tentando parecer progressista sem necessariamente romper estruturas. Este ano, Hollywood reafirmou aquilo que sempre foi: um espaço que flerta com a diversidade, mas nunca a abraça por completo. A atriz Hattie McDaniel (Melhor Atriz Coadjuvante em 1940 pelo filme E o Vento Levou) foi a primeira pessoa negra a ganhar um Oscar, mas enfrentou a segregação racial na cerimônia.

A vitória de Mikey Madison na categoria de Melhor Atriz pelo filme Anora é simbólica. Uma jovem atriz, norte-americana, em um papel que representa uma certa ideia de feminilidade e protagonismo que a indústria está confortável em promover. Era previsível que Demi Moore, mesmo entregando um desempenho fabuloso em A Substância, ficasse de fora. Não apenas porque seu filme toca em questões existenciais que incomodam, mas porque seu discurso no Globo de Ouro sugeriu uma crítica ao sistema que Hollywood não estava disposta a endossar.

A questão não é apenas etarismo, embora ele pese. A questão é que prêmios são narrativas, e Hollywood, como qualquer indústria cultural, constrói e controla as histórias que deseja contar ao mundo. Neste momento, a inclusão radical não faz parte do enredo que o Oscar quer promover. Estamos na era Trump, onde a Casa Branca, poucos dias antes da premiação, publicou um documento justificando o novo decreto presidencial que ataca políticas de inclusão, chamando-as de “radicais” e “discriminatórias”. Isso reverbera na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que nunca esteve isolada da política norte-americana.

Cynthia Erivo, por Wicked, e Karla Sofía Gascón, por Emilia Pérez, não tinham espaço nesse cenário. Karla, além de ser latina e trans, carrega polêmicas recentes – e a Academia sabe o peso que isso tem para um público que, em grande parte, ainda vê premiações como um termômetro de valores morais e não apenas artísticos. Já Cynthia, uma atriz negra britânica em um musical de grande apelo popular, também não se encaixava na narrativa desejada. Afinal, quantas vezes Hollywood já validou a presença de artistas negros enquanto eles performam dentro dos limites aceitáveis – mas evita premiá-los quando passam a ser o centro da história?

Fernanda Torres é uma atriz respeitada, talentosíssima e com uma carreira impecável, mas para Hollywood ela sempre será uma latina – mesmo no Brasil sendo branca e fazendo parte de uma arte proeminente. E isso coloca um limite invisível – mas real – sobre onde ela pode chegar. A Academia já demonstrou, inúmeras vezes, que seu conceito de diversidade tem uma moldura bem delimitada: há espaço para discursos inclusivos, mas apenas na medida em que eles não desafiem o status quo.

E o que isso ensina para quem está fora dessa hegemonia?

Primeiro, que prêmios são sempre políticos. O Oscar não premia apenas os melhores filmes ou as melhores atuações. Ele premia aquilo que, dentro de um contexto específico, faz sentido para a indústria se apropriar e promover. No Brasil, não é diferente. Editais, festivais e premiações seguem suas próprias lógicas de exclusão e inclusão seletiva. Se esperamos que esses espaços sejam sempre progressistas e subversivos, corremos o risco de nos frustrar. Há reacionários em todas as esferas, prontos para manter as engrenagens do sistema funcionando exatamente como sempre funcionaram.

Segundo, que a validação internacional, embora desejável, não pode ser o único horizonte para artistas que não fazem parte do eixo hegemônico. Vencer na categoria de Melhor Filme Internacional já é, por si só, um grande feito – porque, para Hollywood, tudo o que está fora de seu próprio circuito não é considerado universal, mas um “exótico” ocasionalmente digno de reconhecimento. Quem se vê como centro do mundo não enxerga os outros como iguais, mas como uma variação, um apêndice, algo complementar. E reforço, no Brasil não é diferente. 

Por fim, a lição mais importante: façamos o nosso. Não romantizemos a casa dos outros. E, mais do que isso, não esperemos que o reconhecimento externo defina o nosso valor. Se há algo que o último Oscar nos ensina, é que o jogo continua sendo jogado com as mesmas regras – e que quem está fora do círculo precisa encontrar maneiras de existir e resistir sem depender de validações que, no fundo, nunca foram feitas para todos.

Carlinhos Brown causa polêmica no encerramento do Carnaval: “Só existe uma raça, a humana”

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Foto: Clara Pessoa | Ag. A TARDE

Após defender Claudia Leitte das acusações de racismo religioso por alteração na letra da música “Caranguejo”, o cantor Carlinhos Brown voltou a causar polêmica ao reforçar o seu posicionamento no tradicional Arrastão da Quarta-feira de Cinzas, em Salvador.

“É de extrema importância o que o axé está dizendo nesse momento: que só existe uma raça, que é a humana. Não existe a ideia de que tem uma raça e que tem outra, não existe uma raça que seja maior que a outra porque só tem a raça humana, vigiada pelos extraterrestres, que são espíritos de luz que querem nos conduzir a momentos de crescimento humano”, disse Brown nesta quarta-feira (5), que foi alvo de críticas nas redes sociais.

Durante a folia, o cantor convidou Claudia Leitte para participar da abertura da festa na semana passada, que foi recebida com vaias por parte do público.

A polêmica envolvendo a cantora teve início quando ela alterou um trecho da música “Caranguejo”, substituindo a palavra “Iemanjá” por “Yeshuá” — termo que significa Jesus em hebraico. A mudança gerou ampla repercussão negativa na web.

No último sábado, 1º de fevereiro, no circuito Dodô (Barra-Ondina), Carlinhos Brown realizou seu tradicional padê, um ritual simbólico de abertura de caminhos abertos para o desfile e também refletiu sobre a influência da miscigenação no desenvolvimento do Axé Music, que celebra 40 anos em 2025.

“É a partir do que Dodô e Osmar criam que todas essas potências se evidenciam, até a chegada dos 40 anos do Axé. Embora saibamos que foram os negros os primeiros a sair nas ruas, foi a miscigenação que ordenou uma nova visão de Brasil e uma nova visão de Bahia. Quando falo isso, estou dizendo que esse é um país diferente, que se identifica por um só caminho, que é a raça humana, e depois as etnias”, falou.

Victoria’s Secret encerra meta de promoção para funcionários negros e muda linguagem sobre diversidade

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Foto: Loja da Victoria's Secret em Phoenix Palladium Mall, Mumbai/Divulgação

A Victoria’s Secret & Co. encerrou sua meta de promoção para trabalhadores negros e alterou a linguagem usada em suas diretrizes sobre diversidade, equidade e inclusão (DEI). A decisão reflete uma tendência crescente entre empresas que estão retirando políticas de representatividade corporativa, enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ataca as iniciativas de diversidade.

O site da varejista de lingerie passou a substituir menções a DEI por expressões como “inclusão e pertencimento”, de acordo com versões arquivadas e ainda ativas da página. A seção que tratava da diversidade entre fornecedores também foi removida.

“Estamos firmes em nosso compromisso com a inclusão e o pertencimento porque é fundamental para nossa empresa e para uma cultura de alto desempenho”, disse um porta-voz da Victoria’s Secret, complementando que é “a coisa certa para nosso pessoal e negócio”. Ele afirmou ainda que a companhia continuará com “os melhores talentos com perspectivas diversas” na equipe, além de se manterem “em total conformidade com a lei”.

Em um memorando recente, a CEO Hillary Super afirmou que a empresa pretende garantir uma equipe global “inclusiva de uma ampla gama de origens, experiências e perspectivas”. Ela também disse que manterá uma “cultura de justiça e oportunidade para todos”.

A política de diversidade da Victoria’s Secret tem sido acompanhada de perto desde que a marca enfrentou acusações de má conduta sexual, assédio e intimidação contra modelos e executivas. A companhia também foi alvo de críticas por sua oferta limitada de tamanhos.

Após um processo por má conduta no ambiente de trabalho em 2021, a Victoria’s Secret prometeu investir US$ 45 milhões em iniciativas de diversidade e inclusão ao longo de pelo menos cinco anos, compromisso assumido também por sua então empresa irmã, Bath & Body Works Inc.

Um ano depois, a varejista anunciou uma parceria com o Fifteen Percent Pledge, organização que incentiva redes de varejo a destinar 15% do espaço de suas prateleiras a marcas de propriedade de negros — percentual próximo à representatividade da população negra nos EUA.

Segundo a Victoria’s Secret, a parceria com o Fifteen Percent Pledge continua. No entanto, a empresa decidiu suspender a meta de promoção de uma porcentagem específica de trabalhadores negros e está reavaliando sua política de fornecedores.

A companhia segue os passos de grandes empresas como Meta Platforms e Walmart, que também têm reduzido referências a iniciativas de DEI. No primeiro dia de sua gestão, Trump assinou uma ordem executiva para acabar com o que classificou como discriminação ilegal relacionada a diversidade. Algumas dessas medidas foram contestadas judicialmente.

Projeto cultural no Pelourinho pode fechar após despejo; Focus pede apoio para manter atividades

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Foto: Reprodução

O projeto Focus Moda Social e Sustentável, que há três anos ocupa o casarão histórico conhecido como Casa das Sete Mortes, no Pelourinho, em Salvador, corre o risco de ser despejado no próximo dia 10 de março. A organização, que oferece cursos artísticos e profissionalizantes para jovens de periferia, enfrenta dificuldades financeiras após o não cumprimento de um acordo de pagamento de aluguel por parte de uma empresa apoiadora de São Paulo.

A Casa das Sete Mortes, localizada na Rua do Passo, 24, foi cedida em comodato pela Casa Pia de São Joaquim em 2020. No entanto, em 2023, a instituição passou a exigir o pagamento de aluguel, que foi assumido por uma empresa de São Paulo. Essa empresa, no entanto, deixou de honrar o compromisso há seis meses, o que levou a Casa Pia a entrar com um processo de despejo. O Focus Moda Social e Sustentável, criado há dez anos pelo multiartista e ativista Jonas Bueno é um espaço que reúne mais de 150 jovens de periferia em atividades como dança, teatro, música, costura, silk, digitação e audiovisual. Além disso, o projeto já formou 250 alunos em cursos de audiovisual, com apoio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (Setre).

O espaço também abriga uma loja colaborativa, a Hub Focus Colab, que reúne 40 afroempreendedores, além de ateliês de artistas plásticos, como Zaca Oliveira, e um estúdio de fotografia. O projeto já produziu peças teatrais como O Navio Negreiro dos Tempos Atuais e Palafitas, que refletem a realidade de comunidades periféricas de Salvador. O Focus também conta com um acervo de dez mil peças de figurino, 10 computadores, 10 cenários teatrais, máquinas de costura e uma biblioteca com 1.000 livros: “São muitos materiais, e infelizmente ainda não temos ideia de para onde levar tudo isso”, lamentou Bueno.

Atualmente, o projeto atende 100 crianças, 200 adultos e 10 idosos, oferecendo cursos e atividades que promovem a inclusão social e a capacitação profissional. Diante da iminência do despejo, Jonas Bueno e a equipe do Focus estão buscando apoio de órgãos públicos e privados para garantir a continuidade das atividades. Em uma mensagem direta a apoiadores, autoridades e à comunidade, Bueno reforçou a importância de manter o projeto ativo:

“Como artista e gestor de cultura, quero destacar a importância vital de manter as escolas artísticas ativas e funcionando. A arte e a cultura não são apenas formas de expressão, mas sim poderas ferramentas de transformação social. Elas têm o poder de moldar o futuro de crianças e jovens, oferecer alternativas saudáveis, fortalecer a identidade de cada um e contribuir para o desenvolvimento integral dos envolvidos no coletivo”, disse.

A Casa Pia de São Joaquim, responsável pelo imóvel, não se pronunciou sobre a possibilidade de renegociação do contrato ou de uma nova cessão do espaço. Enquanto isso, a comunidade aguarda uma solução que permita a manutenção deste importante ponto cultural e social no coração do Pelourinho.

“A diversidade não é moda, é um caminho sem volta”, diz Ana Buchaim, da B3

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Nos últimos meses, empresas nos Estados Unidos enfrentaram pressão política e social para recuar em compromissos relacionados à diversidade e inclusão. Esse movimento gerou preocupação sobre os possíveis impactos em outros países, incluindo o Brasil. No entanto, Ana Buchaim, vice-presidente de Pessoas, Marketing, Comunicação, Sustentabilidade e Investimento Social da B3, reforça que essa pauta segue firme na bolsa brasileira, que lidera esse debate há mais de 25 anos.

“Entendo que sempre vão ocorrer os chamados movimentos pendulares. O que vemos em algumas companhias nos Estados Unidos, que abriram mão de algumas práticas de diversidade e inclusão, faz parte desse fenômeno. Mas, para nós, essa agenda não é moda. Trata-se de um caminho sem volta, uma direção que temos que perseguir e certamente não vamos retroceder”, afirma Buchaim.

O compromisso da B3 com a diversidade está alinhado com sua estratégia ESG e se reflete tanto em suas práticas internas quanto no direcionamento do mercado financeiro. A bolsa tem atuado para impulsionar boas práticas entre as companhias listadas, com a adoção de critérios que estimulam a inclusão de grupos sub-representados em cargos de liderança. “Nosso papel é mostrar a direção e estimular as empresas a avançarem cada vez mais nos temas ESG. Já existe no mercado a percepção de que as companhias que promovem inclusão, acessibilidade e representatividade são mais lucrativas”, explica. “Os investidores já perceberam isso e, em sua maioria, querem que as empresas sigam nessa direção.”

Atualmente, 26% do quadro de funcionários da B3 é composto por pessoas negras, sendo que 12% ocupam cargos de liderança. Em relação às mulheres, a companhia ampliou sua presença de 20% para 40% nos últimos cinco anos e se comprometeu a ter 35% de mulheres em posições de liderança até 2026. Hoje, esse número está em 31%. A B3 também está entre os 6% de empresas brasileiras que têm três ou mais mulheres na diretoria executiva e no conselho de administração.

Para garantir mais equidade nos processos seletivos, a bolsa adota o uso de currículo oculto, evitando vieses inconscientes na contratação. “Nossos gestores têm entre suas metas ampliar a representatividade dentro das equipes”, destaca a executiva.

Além disso, a B3 apoia programas voltados à formação de lideranças diversas. Entre eles, o Pacto Transforma, em parceria com a Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial, que busca acelerar carreiras de mulheres negras e formar 31 lideranças em empresas brasileiras. O Programa Diversidade em Conselho (PDeC), realizado com IBGC, IFC e Women Corporate Directors, tem como objetivo ampliar a presença de mulheres em conselhos administrativos. Já o Conselheira 101 é voltado à capacitação de mulheres negras e indígenas para cargos de alta gestão.

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