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Unidos de Padre Miguel reivindica permanência no Grupo Especial do Carnaval Carioca: “gesto de justiça e reparação”

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Foto: Reprodução/Rio Carnaval

A Unidos de Padre Miguel expressou “total indignação” com o resultado da apuração do Carnaval 2025, que culminou no rebaixamento da escola para a Série Ouro em nota publicada nas redes sociais da escola na noite de terça-feira (11). A agremiação, que retornou ao Grupo Especial após 52 anos, atribuiu o resultado a uma falha técnica de som que durou 17 minutos e a uma penalização considerada discriminatória por um jurado, que alegou “excesso de termos em iorubá” no samba-enredo. Afirmando que sua permanência no Grupo Especial é um “gesto de justiça e reparação”.

A escola afirmou que a falha no som, descrita como “gravíssima e sem precedentes”, comprometeu diretamente a execução do desfile e a avaliação de quesitos essenciais, como harmonia, evolução, bateria, mestre-sala e porta-bandeira e comissão de frente. “Essa falha teve impacto direto na performance de nossos componentes, o que não ocorreu com nenhuma outra agremiação”, destacou a nota. A Unidos de Padre Miguel também criticou a falta de transparência, já que, até o momento, não teve acesso ao laudo técnico da sonorização da avenida, documento que considera crucial para esclarecer os fatos.

Além da questão técnica, a escola denunciou um ato de intolerância religiosa. Um dos jurados penalizou a agremiação sob a alegação de que o samba-enredo continha “excesso de termos em iorubá”. A Unidos de Padre Miguel classificou a decisão como discriminatória, argumentando que desconsiderou a importância cultural, histórica e espiritual da narrativa apresentada. O enredo da escola celebrou a ancestralidade afro-brasileira e a herança sagrada do Candomblé, tema que a agremiação defende como parte fundamental da identidade do Carnaval.

“O Carnaval é a maior manifestação popular do país, um palco de resistência e celebração das nossas raízes, e qualquer tentativa de silenciamento ou apagamento cultural deve ser combatida com rigor”, afirmou a escola na nota. A agremiação reforçou que não aceitará a normalização do racismo religioso em um espaço que deveria exaltar a diversidade.

A Unidos de Padre Miguel também apontou “incoerências evidentes” no julgamento de outros quesitos e punições desproporcionais em comparação com outras escolas. A agremiação reconheceu o compromisso da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA) em convocar uma plenária para discutir o caso, mas reforçou a necessidade de que a reunião ocorra com urgência. “A justa avaliação dos recursos da UPM não apenas corrigirá uma grande injustiça, mas também fortalecerá a credibilidade do Carnaval”, disse a nota.

A escola ressaltou que a manutenção no Grupo Especial não deve ser vista como uma “mera questão administrativa”, mas como um “gesto de justiça e reparação”. “O Carnaval pertence ao povo, e a força da comunidade já demonstrou que não aceitará arbitrariedades”, afirmou a agremiação, destacando que a correção do erro é essencial para restaurar a confiança na lisura dos desfiles e reafirmar a Sapucaí como “o templo da cultura e da igualdade”.

A Unidos de Padre Miguel encerrou a nota reafirmando sua luta por um julgamento “justo, coerente e transparente” e prometeu utilizar todos os meios legais para garantir que a verdade prevaleça. “Os 17 minutos de silêncio impostos à nossa escola ecoam até hoje, e enquanto houver injustiça, nossa voz não se calará”, concluiu a agremiação.

Desfile para a comunidade

Na próxima sexta-feira (14), a Unidos de Padre Miguel anunciou que fará um grande desfile para sua comunidade, a partir das 21h, no Ponto Chic, em Padre Miguel. “Esse desfile é um presente para nossa comunidade e para todos os sambistas que estão ao nosso lado. Independente de qualquer situação, a Unidos de Padre Miguel segue forte e unida, mostrando a nossa garra e o amor pelo samba”, afirmou Lara Mara, diretora de Carnaval da escola.

“Mufasa – O Rei Leão” chega ao streaming no dia 26 de março

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Foto: Reprodução

A Disney+ anunciou que a aguardada prequela live-action “Mufasa: O Rei Leão” estará disponível em sua plataforma a partir da próxima quarta-feira, 26 de março. A informação foi revelada com exclusividade pela PEOPLE, que também divulgou um vídeo especial com bastidores do filme, mostrando o elenco e a equipe técnica discutindo detalhes da produção.

O longa, dirigido por Barry Jenkins, vencedor do Oscar por “Moonlight”, traz de volta personagens icônicos da franquia, como Simba, dublado nos EUA por Donald Glover e no Brasil pelo ator Ícaro Silva. Além disso, o filme apresenta Aaron Pierre como o jovem Mufasa, que na dublagem brasileira ganha voz com Pedro Caetano. O longa apresenta a jornada de Mufasa para se tornar rei das Terras do Reino é contada por Rafiki (John Kani) à filha de Simba e Nala (Iza), Kiara (Morena Machado), vivida por Blue Ivy Carter, filha de Beyoncé.

Barry Jenkins, conhecido por seus trabalhos em dramas intensos, destacou o tom mais leve da produção. “Trabalhar em Mufasa me fez sentir criança novamente, para ser sincero”, afirmou o diretor. Ele brincou sobre sua reputação de cineasta sério e ressaltou a diversão durante as gravações, especialmente nas cenas com animadores e figurinos que simulavam movimentos de leões.

No vídeo exclusivo, os membros do elenco e da equipe compartilham suas experiências durante as gravações. Kelvin Harrison Jr., que dá voz a Taka, não escondeu sua admiração por Beyoncé, que reprisa seu papel como Nala. “Beyoncé é a rainha. Eu a amo tanto”, disse Harrison. “É muito legal poder me gabar e dizer que ela é minha colega de elenco.”

A trilha sonora, composta por Lin-Manuel Miranda, promete ser um dos destaques do filme, que também presta homenagem a James Earl Jones, dublador original de Mufasa no clássico animado de 1994.

“Mufasa: O Rei Leão” já está disponível para compra digital e chega ao Disney+ no próximo dia 26, ampliando o universo da franquia que conquistou gerações de fãs.

Atriz de ‘A Princesa e o Sapo’ lamenta cancelamento da série sobre a Tiana: “profundamente decepcionada”

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Fotos: Nykieria Chaney/Getty e Disney

Depois do cancelamento da série animada sobre a Tiana pelo Walt Disney Animation Studios, Anika Noni Rose, a atriz e dubladora da personagem no filme ‘A Princesa e o Sapo’ (2009), quebrou o silêncio e comentou sobre a decisão que foi revelada na semana passada.

“Tenho recebido muitas mensagens expressando gentileza, apoio e decepção avassaladora”, escreveu no Instagram nesta terça-feira (11). “Eu também estou profundamente decepcionada que a continuação da jornada de Tiana em forma de série tenha sido interrompida. A série demorou muito para ser feita, e muito trabalho bonito foi colocado nela por todos os criativos envolvidos”, continuou o texto, incluindo elogios a chefe da Disney Animation, Jenn Lee, a roteirista e diretora Joyce Sherri, os “animadores fabulosos” e a “equipe musical incrível”.

Apesar da tristeza, a atriz manteve a esperança e pediu que os fãs mostrem seu apoio com o novo projeto. “Por mais doloroso que seja que algo em que você colocou seu coração e alma seja encerrado prematuramente, minha esperança é que quando o que agora será um ‘Tiana Special Event’ for ao ar, todos os seus fãs lindos, amorosos e leais que têm defendido não apenas a série, mas uma sequência de ‘A Princesa e o Sapo’, sintonizem”.

Ela também incentivou quem ama o filme a demonstrar esse carinho com engajamento, mostrando “seu amor e desejo nos números” e tornando “esse desejo algo inegável e real”. E finalizou prometendo continuar trabalhando duro para entregar “o conteúdo mais bonito” que puderem.

Anunciada em 2020, a série de Tiana estava planejada como um musical com Rose reprisando o papel principal. No entanto, fontes afirmam que, apesar dos esforços, o projeto acabou esbarrando em custos de produção altos demais para sair do papel. Em vez disso, a Disney está desenvolvendo um especial de curta-metragem inspirado em A Princesa e o Sapo, com Joyce Sherri no roteiro e direção, além de Steve Anderson na co-direção.

No fim de 2024, ‘A Princesa e o Sapo’ celebrou 15 anos, e Rose refletiu sobre o impacto do longa em entrevista à People e na experiência “alucinante” de ver o impacto da Tiana nas meninas desde a época do lançamento, afirmando que “viu crianças de todas as etnias diferentes, de todas as origens diferentes” usarem o vestido verde característico de sua personagem em eventos.

Lançado em 2009, A Princesa e o Sapo trouxe uma Nova Orleans vibrante da Era do Jazz para a Disney, com Bruno Campos, Jennifer Cody, Keith David, Randy Newman, John Goodman e Oprah Winfrey no elenco de vozes. O longa segue a história de Tiana, uma jovem sonhadora que acaba embarcando em uma jornada inesperada após um encontro nada convencional com um príncipe transformado em sapo.

‘Continuam enxergando a dor de Luighi como ‘assunto de preto’’, diz advogado sobre medidas do Palmeiras e Conmebol

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Foto: Reprodução/Instagram

O caso de racismo sofrido pelo jogador do Palmeiras, Luighi, durante a partida contra o Cerro Porteño, pela Libertadores Sub-20, no Paraguai, na última quinta-feira (6), continua gerando repercussão. O advogado Hédio Silva Júnior, fundador do JusRacial e ex-secretário de Justiça de São Paulo, criticou o Palmeiras pela falta de medidas efetivas para proteger o atleta e punir os responsáveis: “Esperava que o Palmeiras ou a CBF finalmente resolvessem levar o assunto a sério mas, lamentavelmente, continuam enxergando a dor de Luighi e de tantos outros jovens negros como “assunto de preto”, algo banal, irrelevante e tratado com improvisação e amadorismo”, declarou.

O episódio ocorreu no Estádio Gunther Vogel, em San Lorenzo, quando Luighi e o colega de time Figueiredo foram alvos de insultos racistas. Figueiredo relatou que um torcedor, com uma criança no colo, fez gestos imitando um macaco em sua direção. Já Luighi foi chamado de “macaco” e ainda recebeu uma cusparada. O jogador denunciou o ocorrido ao árbitro Augusto Menendez, mas a partida seguiu sem intervenção. Após o jogo, Luighi desabafou em entrevista, questionando: “Até quando a gente vai passar por isso? O que fizeram comigo foi um crime”.

Dr. Hédio Silva Júnior, por meio do JusRacial, enviou uma notificação extrajudicial à Conmebol exigindo explicações sobre o episódio. Ele também criticou o Palmeiras por negligenciar a defesa do jogador. “O Palmeiras não pleiteou a punição do juiz por não ter interrompido a partida, não questionou a súmula do jogo, uma prova essencial para sabermos inclusive se o juiz foi devidamente treinado para lidar com uma situação dessas. Afirmou publicamente que o Cerro Porteño é reincidente, mas não requereu certidão de reincidência de modo a agravar as punições ao clube”, afirmou.

Além disso, ele ressaltou que o Paraguai, apesar de não ter uma lei específica contra a discriminação racial, é signatário de uma convenção internacional que prevê indenização para vítimas de racismo.

O ex-secretário de justiça de São Paulo espera que a Conmebol dê uma resposta satisfatória à notificação enviada pelo JusRacial. “Não é razoável que as pessoas não se sensibilizem com a coragem de Luighi e seu desabafo pungente. Espero que o Palmeiras ou a CBF finalmente levem o assunto a sério”, disse.

Conmebol e conivência com o racismo

O advogado também acusou a Conmebol de conivência com casos de racismo. “A Conmebol não orientou ou treinou o árbitro para interromper a partida, fixou multa abaixo do valor previsto para publicidade irregular e puniu o Cerro Porteño com campanhas publicitárias, que sabemos não terem utilidade prática”, afirmou. Ele destacou que a entidade não impôs sanções que obriguem o clube paraguaio a prevenir futuros episódios. Como punição pelo caso de racismo, a Conmebol determinou que o Cerro Porteño pague uma multa de 50 mil dólares, a realização de uma postagem nas redes sociais e a ausência de público na Libertadores Sub-20 – onde o time já está eliminado. 

Próximos passos

Caso a Conmebol não atenda às solicitações da notificação, o JusRacial pretende judicializar o caso. “Com as respostas em mãos, vamos manejar ações judiciais que obriguem a Conmebol e os times a adotarem medidas preventivas e permanentes”, explicou Hédio Silva Júnior. Ele defende a imposição de penalidades como anulação de partidas, perda de pontos e exclusão de times envolvidos em casos de racismo.

Posição do Palmeiras

A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, sugeriu em entrevista à TNT que os clubes brasileiros deixem a Conmebol e se filiem à Concacaf. No entanto, o Dr. Hédio Silva Júnior vê a proposta com ceticismo. “Tenho a melhor das impressões da Leila [Pereira, presidente do Palmeiras], mas parece piada a tentativa de nos convencer que o Palmeiras iria abdicar da Libertadores ou de outros campeonatos sul-americanos; ademais, o papel do Palmeiras deveria ser utilizar toda normativa da Conmebol, da Fifa, a legislação do Paraguai, do Brasil e, inclusive, da Corte Interamericana de Direitos Humanos para buscar uma resposta miseravelmente satisfatória para o Luighi e inaugurar um novo capítulo nesse filme antigo que é o racismo no futebol”, destacou.

Leila também criticou em entrevista à Cazé TV antes do Choque-Rei que aconteceu na segunda-feira (10) pela semifinal do Paulistana, a penalidade aplicada pela Conmebol: “A penalidade que a Conmebol determinou foi ridícula”, disse. Ela também criticou o valor da multa aplicada pela Conmebol, afirmando que encaminhou uma carta à FIFA para que a organização intervenha. Para Leila, o destino da multa cobrada pela Conmebol é “absurdo”: “Engraçado que os 50 mil dólares vai para a própria Conmebol. Não vai para a vítima. O valor é ridículo e mesmo esse valor ridículo, vai para os bolsos da Conmebol. Isso é absurdo”.

Presidência da COP 30 ignora racismo ambiental em carta com objetivos contra crise climática

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Foto: Divulgação

Em novembro, o Brasil sediará a aguardada 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, em Belém (PA). Embora os movimentos tenham destacado a importância da justiça climática, apresentando o impacto desproporcional do clima sobre comunidades negras, indígenas e periféricas, o presidente da COP 30 André Corrêa do Lago, divulgou uma carta nesta segunda-feira (10), convocando um “mutirão global” contra a mudança climática, defendendo a necessidade de ação conjunta dos países, mas sem mencionar o racismo ambiental.

Na carta aberta, o embaixador pediu que os países superem “a inércia, o individualismo e a irresponsabilidade” diante da crise do clima e destacou que 2024 foi o ano mais quente já registrado globalmente, o primeiro em que a temperatura média ultrapassou 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.

Na semana passada, a executiva e colunista do Mundo Negro, Rachel Maia falou sobre a importância da inclusão na COP 30, destacando as desigualdades racial e social. “As urgentes demandas climáticas, que acomete principalmente pessoas que estão às margens da sociedade e que fazem parte do quadro de racismo ambiental (sem acesso a água potável, saneamento básico e garantia de estruturas seguras para moradia e sobrevivência), precisam estar inseridas neste movimento de maneira estratégica, pois essas populações vivenciam diariamente as mazelas da escassez, e ainda assim, seguem perseverantes”, destacou no artigo.

O que diz a carta aberta

“A mudança é inevitável – seja por escolha ou por catástrofe. Se o aquecimento global não for controlado, a mudança nos será imposta, ao desestruturar nossas sociedades, economias e famílias. Se, em vez disso, optarmos por nos organizar em uma ação coletiva, teremos a possibilidade de reescrever um futuro diferente”, afirma o texto.

A carta elenca os desafios da COP30 e reafirma a intenção de ampliar o financiamento climático para países em desenvolvimento, com a meta de atingir pelo menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035.

Corrêa do Lago também defendeu a necessidade de avançar na implementação das metas do Acordo de Paris e ressaltou que é preciso ir além das negociações formais. “Precisamos de uma ‘nova era’ para além das negociações: devemos ajudar a colocar em prática o que foi acordado”, escreveu o embaixador.

O documento ainda exalta o multilateralismo, fazendo referência indireta aos Estados Unidos, que, sob a gestão de Donald Trump, chegaram a deixar o Acordo de Paris. “Ao aceitar a realidade e combater a catástrofe, o cinismo e o negacionismo, a COP30 deve ser o momento da esperança e das possibilidades por meio da ação – jamais da paralisia e da fragmentação. Devemos enfrentar a mudança do clima juntos e reativar nossas habilidades coletivas e individuais de resposta: nossas ‘responsa-habilidades’”, afirmou.

“Mulheres negras sambam para que mulheres brancas lucrem”

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Foto: Reprodução/Freepik

Li essa frase em algum momento, durante o carnaval, rolando o feed numa rede social e me inquietou. E, apesar de eu já ter mencionado as lacunas da festa mais democrática do Brasil na minha última publicação, não consegui ignorar essa “provocação”. O carnaval brasileiro é uma celebração profundamente enraizada na cultura negra, com figuras históricas como Tia Ciata, Chiquinha Gonzaga, Dona Ivone Lara e Mãe Menininha do Gantois e vem desempenhando papéis fundamentais na democratização e diversidade da nossa maior manifestação cultural. No entanto, apesar dessa base cultural, a ascensão e representação das mulheres negras nos espaços de liderança e destaque do carnaval ainda são limitadas.

Reconhecido mundialmente como manifestação cultural de raiz predominantemente negra, a celebração popular movimenta bilhões na economia nacional através do turismo, geração de empregos e produção cultural. No entanto, quando analisamos as estruturas de poder e liderança por trás desta grande celebração, emerge um paradoxo inquietante: as mulheres negras, principais protagonistas na preservação das tradições que dão forma ao carnaval, continuam sub-representadas nos espaços de decisão e poder econômico.

O paradoxo da representatividade

Enquanto a presença feminina em posições de liderança dentro do setor carnavalesco vem crescendo, a representatividade de mulheres negras não acompanha este avanço na mesma proporção. Observamos um fenômeno no qual a cultura de origem negra é celebrada, comercializada e lucrativa, mas as descendentes diretas desta herança cultural permanecem à margem das principais estruturas de poder.

Segundo dados do IBGE, 56% da população brasileira se autodeclara negra (preta ou parda), com as mulheres negras representando cerca de 28% dos brasileiros. No entanto, quando observamos o cenário de lideranças nos grandes eventos carnavalescos, este percentual cai drasticamente.

De acordo com o levantamento realizado pelo Instituto Ethos em seu relatório “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas”, apenas 0,4% dos cargos executivos são ocupados por mulheres negras. No setor de entretenimento e eventos, a situação não é diferente.

Um estudo do Observatório da Diversidade na Mídia demonstrou que, apesar de o carnaval movimentar aproximadamente R$ 8 bilhões na economia brasileira (dados da CNC – Confederação Nacional do Comércio), as mulheres negras comandam menos de 10% dos grandes projetos carnavalescos, sejam blocos, camarotes ou escolas de samba.

Lideranças femininas: um avanço com lacunas

Apesar do destaque ao crescimento da liderança feminina em grandes camarotes e eventos, uma análise mais aprofundada revela que estas posições são majoritariamente ocupadas por mulheres brancas de classe média-alta. Enquanto isso, mulheres negras continuam concentradas em funções operacionais, criativas ou como atrações, raramente alcançando as posições estratégicas ou de propriedade dos empreendimentos.

As exceções existem e merecem destaque: Danielle Pires, é responsável pela implantação das áreas de Sustentabilidade Corporativa e DE&I da Premium Entretenimento, realizadora do Camarote Salvador, que se destaca como uma das maiores festas privadas de carnaval no Brasil. A intencionalidade e o compromisso tornou o empreendimento uma plataforma de transformação por meio da sustentabilidade com propósito socioambiental, inevitavelmente perpassando pela pauta racial, ela e outras lideranças têm quebrado barreiras, no entanto, são casos isolados em um universo onde a regra continua sendo a exclusão.

Um setor que se alimenta tão profundamente da cultura negra deveria ter como prioridade a reparação histórica através da inclusão efetiva de mulheres negras em todas as camadas de sua estrutura. Não se trata apenas de justiça social, mas também de coerência estratégica – um carnaval que valoriza suas raízes e representantes originais tende a ser mais autêntico, inovador e sustentável a longo prazo.

Algumas iniciativas apontam caminhos possíveis:

  • Programas de incubação para empreendimentos carnavalescos liderados por mulheres negras
  • Políticas de contratação inclusivas para posições estratégicas em produtoras e organizadoras de eventos
  • Linhas de crédito e investimento específicas para projetos com liderança feminina negra
  • Campanhas de conscientização sobre a importância da representatividade autêntica

O carnaval brasileiro tem o potencial de ser um laboratório de transformação social e econômica, desde que enfrente seus próprios paradoxos. A responsabilidade social do setor passa necessariamente por rever suas estruturas de poder e abrir espaço para que as mulheres negras ocupem não apenas o centro do desfile, mas também as mesas de decisão.

A verdadeira democratização da festa mais popular do Brasil só acontecerá quando aquelas que sempre estiveram na linha de frente da preservação cultural – as mulheres negras – puderem também estar na liderança dos negócios que movimentam bilhões durante o período carnavalesco.
O setor tem demonstrado capacidade de adaptação e inovação ao longo dos anos. Agora, é preciso direcionar esta capacidade para a construção de um carnaval economicamente próspero e socialmente justo, onde a representatividade não seja apenas um elemento decorativo, mas estrutural.

Documentário sobre Milton Nascimento ganha primeiro trailer

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Foto: Augusto Nascimento

O aguardado documentário sobre Milton Nascimento finalmente teve seu primeiro trailer revelado nesta segunda-feira (10). A prévia dá um gostinho da turnê de despedida do músico, trazendo momentos emocionantes dos shows e o carinho dos fãs ao redor do mundo. O filme ainda conta com participações de peso, como Gilberto Gil, Mano Brown, Spike Lee e Quincy Jones.

Dirigido por Flavia Moraes e narrado por Fernanda Montenegro, ‘Milton Bituca Nascimento’ mergulha na trajetória e no legado do artista, de 82 anos, explorando o impacto global de sua música e a conexão única que ele construiu com o público. Mais de 40 personalidades compartilham depoimentos sobre a influência de Bituca, mostrando como sua obra atravessou gerações e fronteiras.

Foram mais de dois anos de gravações para capturar a essência de Milton Nascimento, com mais de 60 anos de carreira, indo além da música e destacando sua relação profunda com os fãs e a espiritualidade presente em seu trabalho.

O documentário estreia nos cinemas no dia 20 de março, com distribuição da Gullane+. Veja o trailer!

Trabalhadores iniciam remoção do mural “Black Lives Matter” em Washington após pressão republicana

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Foto 1: Kevin Dietsch/Getty Images

Trabalhadores da construção civil começaram, na segunda-feira (10), a remover o icônico mural “Black Lives Matter” pintado na rua que leva ao Black Lives Matter Plaza, em Washington, DC, nos Estados Unidos. A ação ocorre após a prefeita Muriel Bowser anunciar a decisão de redesenhar a praça, em meio a pressões de legisladores republicanos que ameaçaram cortar o financiamento de transporte da cidade caso o nome da praça não fosse alterado.

Com coletes refletivos e capacetes, os trabalhadores utilizaram equipamentos para perfurar e remover o trecho de dois quarteirões onde as letras amarelas com os dizeres “VIDAS NEGRAS IMPORTAM” estavam pintadas. O local, localizado ao norte da Casa Branca, tornou-se um símbolo dos protestos antirracistas que tomaram o país em 2020, após o assassinato de George Floyd, um homem negro morto por um policial branco em Minneapolis. Enquanto a remoção ocorria, espectadores observavam a cena, que marcou o fim de um dos marcos visuais mais emblemáticos do movimento.

O mural foi criado por ordem da prefeita Bowser em junho de 2020, durante o auge dos protestos contra a violência policial e o racismo estrutural. A pintura das letras amarelas, que se estendiam por uma via próxima à Casa Branca, foi vista como um ato de resistência e apoio ao movimento Black Lives Matter, especialmente durante o primeiro mandato do então presidente Donald Trump, que frequentemente criticou os protestos.

Agora, com a volta de Trump à cena política e o controle republicano sobre ambas as casas do Congresso, a remoção do mural é interpretada por analistas como um reconhecimento da vulnerabilidade política do Distrito de Columbia. Legisladores republicanos vinham pressionando pela mudança, argumentando que o nome e o mural da praça representavam uma postura partidária que não deveria ser financiada com recursos federais.

Em comunicado divulgado na semana passada, a prefeita Bowser afirmou que o espaço será redesenhado e receberá novos murais patrocinados pela cidade, sem detalhar quais serão as mudanças. A expectativa é que o trabalho de remoção e substituição leve cerca de seis semanas.

A decisão gerou reações mistas. Enquanto alguns moradores e ativistas lamentam a perda de um símbolo importante da luta antirracista, outros veem a mudança como uma tentativa de evitar conflitos políticos em um momento de tensão entre o governo local e o Congresso.

MP-SP pede aumento de pena para agressores do humorista Eddy Júnior em caso de injúria racial e ameaça

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O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) recorreu à Justiça paulista para que os agressores do humorista Eddy Júnior tenham suas penas aumentadas. Elisabeth Morrone e seu filho, Marcos Vinicius Morrone, foram condenados em 26 de fevereiro por injúria racial e ameaça, respectivamente, quase três anos após os crimes ocorrerem. A promotoria argumenta que a sentença não considerou todos os agravantes do caso, como os danos psicológicos sofridos pela vítima.

Elisabeth foi condenada a 1 ano e 2 meses de prisão em regime aberto pelo crime de injúria racial, após chamar Eddy Júnior de “macaco”, “ladrão” e “sujo”, além de 1 mês e 5 dias de detenção por ameaça. Já Marcos Vinicius recebeu 2 meses de detenção, também em regime aberto, pelo crime de ameaça. A promotora Natália Rosalem Cardoso destacou que a condenação não levou em conta o impacto psicológico causado ao humorista, que precisou se mudar do prédio onde morava devido ao assédio constante dos agressores.

O MP-SP também solicitou que a Justiça fixe um valor mínimo para reparação dos danos morais causados pelas ofensas raciais cometidas por Elisabeth. Segundo a promotoria, o pedido visa garantir justiça à vítima e reforçar a luta contra o racismo. Nas redes sociais, Eddy Jr. revelou os danos à saúde mental que sofreu depois de ter sido vítima do crime: “Infelizmente após o caso fiquei muito mal da cabeça. Precisei começar a me tratar, não consegui mais trabalhar. Tive que entregar o meu apartamento porque eu também não conseguia mais continuar morando lá. Me sentia muito mal. Tive que pagar uma multa gigantesca para entregar o apartamento. Com essa multa fiquei endividado, acabei ficando pior ainda”.

A defesa de Elisabeth e Marcos contestou a condenação, alegando que Marcos não poderia ter sido condenado devido a uma “anomalia mental” e que Elisabeth não usou termos racistas. O advogado José Beraldo afirmou que Elisabeth disse “caco”, e não “macaco”, e que um laudo pericial que comprovaria isso foi ignorado pelo juiz. Ele também criticou a condução do caso, classificando-a como “hostilidade” e afirmando que recorrerá da decisão.

Relembre o caso

No dia 18 de setembro de 2022, o humorista Eddy Jr. publicou um vídeo em suas redes sociais denunciando que estava sendo alvo de ataques racistas da vizinha Elisabeth Morrone no condomínio onde morava, na Barra Funda, região central de São Paulo. O humorista divulgou um vídeo em que a mulher se recusa a pegar o mesmo elevador que ele e aparece nas imagens xingando-o de “macaco, imundo, feio, urubu, neguinho, um perigoso que não merece morar aqui”.

Após a repercussão da publicação, novas imagens das câmaras de segurança do prédio foram divulgadas, e mostram o filho de Elisabeth, Marcos Vinicius Morrone aparecendo duas vezes durante a madrugada, na porta de entrada do apartamento de Eddy Jr., segurando uma faca e uma garrafa.

Mais de um mês depois do flagrante e sem prestar depoimento à polícia, a aposentada apresentou uma defesa, alegando que não se lembra da confusão porque estava sob efeito de medicamentos.

No início de 2024, Elisabeth Morrone e seu filho foram expulsos do condomínio na Barra Funda, Zona Oeste da capital, após processo movido pelo condomínio contra ela. A juíza Laura de Mattos Almeida, da 29ª Vara Cível, decretou a expulsão, estipulando um prazo de 90 dias para que deixem o local devido ao “comportamento antissocial”.

Na época, Eddy Jr. se manifestou nas redes alegando que a expulsão não significava uma vitória pessoal: “Quando aconteceu a parada e eu pedi ajuda do condomínio, o condomínio cag** pra mim”, afirmou. “Não tem po*** nenhuma de primeiro passo, de, mano, fogo nos racista, não foi nada disso que aconteceu. E o meu processo ainda tá na justiça, então tem que esperar. Então, parem de postar esse bagulho aí de vitória”, reforçou ele, lembrando que seu processo contra Elizabeth Morrone ainda corria na justiça.

Justiça condena Instagram a indenizar cantora em R$ 8 mil por bloquear músicas de matriz africana

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Foto: Matthias Balk / Picture Alliance via Getty Images

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) condenou a Facebook Serviços Online do Brasil Ltda., empresa do grupo Meta responsável pelo Instagram no país, a pagar R$ 8 mil em danos morais à cantora Pérola Henriquez. A decisão ocorreu após a plataforma bloquear duas músicas da artista que fazem referência a entidades de religiões de matriz africana, sob a alegação de violação aos termos de uso. A sentença considerou o ato como intolerância religiosa.

As músicas “Exú” e “Limites”, do álbum 7 Pérolas de Pérola, foram bloqueadas no Instagram, enquanto outras faixas do mesmo trabalho, sem referências religiosas, permaneceram disponíveis. Para a cantora, a medida configurou discriminação contra religiões de matriz africana. “Músicas foram excluídas simplesmente por utilizarem linguagem religiosa, configurando-se um claro caso de intolerância religiosa”, dizia um trecho do processo.

A Meta, por sua vez, defendeu-se alegando que a artista não apresentou provas concretas de que as músicas estariam indisponíveis e que os usuários são responsáveis pelos conteúdos publicados. A empresa também argumentou que o provedor tem o direito de “indisponibilizar contas temporariamente para verificar eventual violação aos termos de uso”. No entanto, o juiz André Augusto Salvador Bezerra, da 42ª Vara Cível de São Paulo, destacou que o desbloqueio das músicas só ocorreu após a ação judicial e que a Meta não apresentou elementos que justificassem o bloqueio inicial.

Na sentença, o magistrado citou obras como Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi, e Os Condenados da Terra, de Frantz Fanon, para reforçar a tese de que a conduta do Instagram representou intolerância religiosa. “Com o bloqueio, impediu-se que o fazer artístico, realizado em uma sociedade constituída desde 1500 sob padrões eurocêntricos, divulgasse temática de religiões de matrizes africanas, as quais sobreviveram a despeito de toda intolerância que a população escravizada sofreu por séculos de História do Brasil”, afirmou o juiz.

Além da indenização, a Meta foi condenada a arcar com as custas processuais da ação. A decisão é de primeira instância e cabe recurso. Procurada, a empresa optou por não se manifestar sobre o caso.

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