Home Blog Page 446

Preta Rara e Erica Malunguinho foram impedidas de entrar em casa noturna de música preta em Lisboa

0
Fotos: Reprodução/Instagram e LinkedIn

A apresentadora Preta Rara e a ex-deputada estadual de São Paulo Erica Malunguinho foram vítimas de racismo e xenofobia em Lisboa, Portugal, ao serem impedidas de entrar na casa noturna de música preta The Docks Club, no último sábado, 8 de julho.

“O segurança foi totalmente violento falando que não estávamos vestidas [de forma] adequada e ele empurrou a Erica, falando que nós brasileiras somos fáceis e que só entraríamos se pagasse €1500”, relatou Preta, em publicação no Instagram. “Entramos numa discussão. Não para adentrar no espaço e sim e pelos insultos que sofremos”, completou.

“Divulgam esse lugar como um espaço de música preta e a gente sofre racismo, xenofobia, misoginia e transfobia na porta desse estabelecimento que o dono é Sing Correia, um dos poucos proprietários pretos em Lisboa”, revelou a artista.

No mesmo dia em que elas foram impedidas de entrar, mulheres brancas usando roupas curtas foram vistas dançando no local e um seguidor enviou o vídeo para a Preta Rara. Em uma pesquisa feita pelo Google, é possível ver diversas avaliações ruins sobre a casa noturna, com relatos semelhantes ao que ambas sofreram com os seguranças.

“Isso acontece com o seu aval porque não é possível você fechar os olhos para essa violência toda e dizer que não sabia. Muitos seguidores que viram meus stories disseram que isso é comum acontecer na sua casa. Eu quero uma explicação pública e medidas serão tomadas do lado de cá. E o mínimo que já tinha que acontecer são esses dois caras do vídeo serem mandados embora”, desabafou.

Em contato com outras pessoas nas redes sociais, Preta Rara disse que os “seguranças de outras casas noturnas agem da mesma forma”. E questiona: “A Europa é segura pra quem?”.

Na publicação, Erica Malunguinho desabafa sobre o ocorrido e a experiência na cidade. “Lisboa em si já é um lugar péssimo pra pessoas pretas e trans. Só fui até lá porque fui convidada pra um trabalho com parlamentares e organizações de mulheres negras, não à toa muitas mulheres relataram experiências violentas do racismo no país. A situação degradante na The Docks Club foi a cereja do bolo. Mas isso não vai ficar assim”.

Na última sexta-feira, dia 7 de julho, Erica Malunguinho participou do lançamento do livro “A radical imaginação política das mulheres negras brasileiras” na capital de Portugal, organizado pela Fundação Rosa Luxemburgo. A obra ressalta a contribuição de mulheres negras para a política institucional brasileira, e foi apresentada a um público de ativistas, militantes, parlamentares e comunidade migrante de Portugal.

Edital Ruth de Souza vai destinar R$ 20 milhões para filmes dirigidos por mulheres; inscrições terminam nesta semana

0
Foto: Filipe Araujo ; Divulgação / Globo.

O Ministério da Cultura lançou em abril o Edital Ruth de Souza de audiovisual, que está na sua reta final. As inscrições serão encerradas às 18 horas da próxima sexta-feira, dia 14 de julho (CLIQUE AQUI). Esse programa tem como objetivo investir 20 milhões de reais para selecionar dez propostas de longas-metragens dirigidos por mulheres estreantes.

Cada projeto de ficção receberá um apoio de 2 milhões de reais, com temática livre, sendo requisitado que sejam apresentados por produtoras brasileiras independentes. A iniciativa visa impulsionar e valorizar o talento feminino no cinema, proporcionando uma oportunidade única para diretoras em início de carreira.

“O objeto deste edital é selecionar, em regime de concurso público, de 10 (dez) propostas de produção independente de obras cinematográficas brasileiras de longa-metragem de ficção, com temática livre, com destinação inicial ao mercado de salas de exibição, dirigidas por mulheres cis ou transgênero estreantes e apresentadas por meio de produtoras brasileiras independentes”, diz o edital oficial.

Com o intuito de garantir a transversalidade e descentralização, o Edital Ruth de Souza de audiovisual escolherá duas obras cinematográficas em cada região do país: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. É importante ressaltar que, no mínimo, três dessas 10 obras deverão ter direção de mulheres negras, enquanto duas serão dirigidas por mulheres indígenas.

Para mais informações, acesse o link de inscrição.

 

‘Herói de Sangue’: Filme protagonizado por Omar Sy conta a história de soldados senegaleses na 1ª Guerra Mundial

0
Foto: Reprodução.

O filme “Herói de Sangue”, estrelado por Omar Sy (“Lupin”, “Intocáveis”), chega aos cinemas brasileiros nesta semana, em 13 de julho. Escrito por Vadepied e Olivier Demangel, “Herói de Sangue” retrata uma história esquecida da memória francesa, mas que ainda ressoa entre o povo do Senegal. Omar Sy interpreta um pai senegalês determinado a salvar seu filho de 17 anos, que foi recrutado à força para lutar pelos franceses na Primeira Guerra Mundial.

Foto: Reprodução.

“Não entendo por que a história dos soldados senegaleses, assim como dos soldados de outros lugares, foi tão pouco contada. Não há explicação. Tudo o que sei é que raramente ouvimos falar sobre ela. Mas acho que é uma perda de tempo ficar pensando nisso. O importante hoje é contar e pronto. Por isso fizemos este filme“, afirma Sy. Ele ressalta que, mais do que abordar esse momento histórico, é fundamental mantê-lo vivo na memória. “É como se falássemos da África pós-colonial como se não houvesse África antes dela. É esse “antes” que me interessa. Essa também é uma forma de mostrar respeito e homenagear as vidas perdidas, as dos jovens recrutados para o exército e arrancados de suas aldeias”, comenta.

Foto: Clemence David / Divulgação.

Durante toda a produção, o cineasta Mathieu Vadepied mantinha em mente a preocupação com o posicionamento dos personagens no filme. A ideia era evitar a caricatura no roteiro e em tela. “Nunca paramos de tentar encontrar um equilíbrio entre a história épica e o estudo intimista, visto na fricção e na tensão que marca todo o filme. O público precisa sentir essa intimidade [entre pai e filho], enquanto observa a influência e a violência de uma guerra que marcou gerações. Aldeias inteiras foram roubadas. Seus entes queridos nunca retornaram. Alguns desapareceram sem sequer terem um enterro”, diz Vadepied.

B.B. King vai ganhar exposição no MIS, em São Paulo

0
Foto: Valentin Flauraud / Reuters

O Rei do Blues vai ganhar uma exposição no Brasil! A partir do dia 26 de julho, o público terá a oportunidade de mergulhar na vida e obra do músico B.B. King através da exposição inédita intitulada “B.B. King: um mundo melhor em algum lugar”. A mostra, realizada pelo MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, apresenta diversos itens históricos e proporciona uma experiência sensorial que aborda temas de segregação e inclusão.

A exposição conta com itens emprestados do acervo do B.B. King Museum, destacando imagens de diferentes fases da carreira do artista, incluindo retratos marcantes e a icônica guitarra Gibson Lucille, assinada por King. Além disso, são exibidas as credenciais das turnês realizadas por B.B. King no Brasil ao longo dos últimos 30 anos, juntamente com outros objetos significativos, como o primeiro troféu Grammy recebido pelo cantor em 1971.

A exposição busca explorar a trajetória de vida de B.B. King como uma metáfora para os preconceitos vivenciados na sociedade atual. Ao abordar a luta contra a segregação, a mostra também destaca movimentos sociais ao redor do mundo, oferecendo uma narrativa que une a vida do músico, as lutas históricas e o projeto cenográfico que reflete a busca por um futuro mais plural e inclusivo.

B.B. King, conhecido como Rei do Blues, nasceu em 1925 e faleceu em 2015, deixando um legado inestimável para a música. Durante sua carreira de quase sessenta anos, ele gravou mais de cinquenta discos e foi influência para artistas renomados como Jimi Hendrix e Carlos Santana. Sua trajetória pessoal, desde a infância em meio à segregação racial até o reconhecimento internacional, torna-se um exemplo de superação e celebração da cultura negra.

A exposição tem curadoria de André Sturm e Cacau Ras estará aberta ao público de 26 de julho a 08 de outubro, de terças a sextas, das 10h às 19h; aos sábados, das 10h às 20h; e aos domingos e feriados, das 10h às 18h. O MIS está localizado na Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo.

‘Desejo Fatal’: Série sul-africana de suspense atinge o topo da Netflix Brasil

0
Foto: Netflix.

Nesta segunda-feira (10) a produção ‘Desejo Fatal’ atingiu o topo da Netflix Brasil, se tornando a série mais assistida do momento no país. A obra de suspense sul-africana conta uma história marcada pela luxúria, paixão e tragédia.

De acordo com a sinopse oficial, abalada por problemas em seu casamento, a personagem Nandi (Kgomotso Christopher) decide tirar um fim de semana de folga e vai viajar com sua melhor amiga Brenda (Lunathi Mampofu). Durante a viagem, Nandi fica perturbada ao descobrir mensagens suspeitas de traição envolvendo seu marido Leonard (Thapelo Mokoena). Brenda, então, encoraja Nandi a se soltar e se envolver com Jacob, um jovem atraente que elas encontraram na praia.

Foto: Netflix.

Acontece que Nandi acaba se envolvendo de forma intensa com Jacob (Prince Grootboom). No dia seguinte, Nandi retorna para casa, esperando deixar tudo o que aconteceu para trás. No entanto, tudo muda quando Brenda é encontrada assassinada, e tanto Jacob quanto seu círculo de conhecidos parecem estar envolvidos no crime.

A série se passa na África do Sul. O inglês é predominantemente falado, mas vários outros idiomas sul-africanos estão incluídos em ‘Desejo Fatal’. A primeira parte da obra foi lançada na última sexta-feira (7) com 7 episódios. A 2ª parte deverá chegar em breve ao catálogo da Netflix.

Angela Davis visita o Brasil para lançamento de seu livro “Abolicionismo. Feminismo. Já” em congresso na UFBA

0
Foto: Divulgação

A ativista, escritora e professora Angela Davis, está no Brasil. Ela está em Salvador, Bahia, para participar do XVIII Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic), na Universidade Federal da Bahia, e lançar seu livro “Abolicionismo. Feminismo. Já”, pela Companhia de Letras. 

A ativista e professora da Universidade da Califórnia está acompanhada da sua colega de universidade e uma das três co-autoras do livro, Gina Dent. As pesquisadoras Erica R. Meiners e Beth E. Richie, professoras universitárias do estado de Illinois, também participaram do livro que aborda temas como feminismo e abolicionismo. Para as autoras, o sistema de Justiça que vivemos no Brasil e nos EUA é punitivo e tendencioso, julgando principalmente pela raça, gênero e sexualidade.

As duas pesquisadoras vão participar de uma mesa do congresso amanhã às 10h30, para falar sobre o tema do livro junto com a professora da UFBA, Denise Carrascosa, que escreveu o prefácio. As inscrições já estão esgotadas e a transmissão ao vivo acontece na TV UFBA, no Youtube.

XVIII Congresso Internacional da Abralic acontece entre os dias 10 e 14 de julho no auditório da Faculdade de Direito da UFBA. Além de Davis e Dent, Conceição Evaristo e Anielle Franco também participam do evento.

Já no domingo (09), em uma coletiva de imprensa, Davis e Dent falaram um pouco sobre o livro, que tem como um dos pontos principais a crítica ao sistema de encarceramento e aponta alternativas.  “O livro inclui várias formas alternativas de justiça transformadora, que podemos chamar de justiça restauradora. Assim, podemos alcançar justiça sem investir num sistema que causou tanta dor. A solução não pode ser algo que cause mais danos à pessoa que causou danos”, comentou Dent.
“O feminismo abolicionista está sempre olhando para uma época em que a justiça não precise ser vingativa, em que a justiça promova harmonia e saúde. Mas estamos convivendo com a justiça vingativa em todos os sistemas do mundo”, complementou Angela Davis.

Sean Tresvant é o primeiro CEO negro da Taco Bell em 60 anos de história

0
Foto: Reprodução

A marca de fast food, Taco Bell, revelou recentemente que Sean Tresvant assumirá o cargo de CEO, após a aposentadoria do atual líder, Mark King. Essa mudança de liderança marca um momento significativo para a empresa, já que Tresvant se tornará o primeiro CEO negro em mais de 60 anos de história da Taco Bell.

A nomeação de Tresvant foi elogiada por David Gibbs, CEO da Yum! Brands, empresa controladora da Taco Bell. Gibbs enfatizou as habilidades visionárias de Tresvant como líder de negócios e sua capacidade de impulsionar iniciativas transformadoras de vendas. “Sean está focado em manter nossa poderosa marca Taco Bell na vanguarda da cultura e redefinir a inovação no setor”, afirmou Gibbs. “É por isso que ele é o executivo ideal para continuar executando com sucesso as estratégias de crescimento global de longo prazo da Taco Bell e levá-las ao próximo nível.”, disse.

Antes de ingressar na Taco Bell, Tresvant construiu uma sólida carreira na Nike, ocupando cargos de liderança por mais de 15 anos. Na Nike, ele teve a oportunidade de liderar o marketing da Jordan Brand, onde conquistou resultados notáveis. Desde que se juntou à Taco Bell, Tresvant tem sido responsável por movimentos estratégicos que elevaram o reconhecimento da marca, incluindo parcerias de alto nível com celebridades e o ressurgimento da Pizza Mexicana.

Em um comunicado, o executivo falou sobre o compromisso da empresa em impulsionar a inovação, fornecer valor e investir em iniciativas digitais para obter resultados líderes do setor, tanto nos Estados Unidos quanto internacionalmente. “O amor que nossos fãs e membros da equipe têm pela Taco Bell é extraordinário e significa que estamos em uma posição única para ultrapassar os limites da cultura e nos tornar uma marca que inspira e permite que o mundo viva mais”, declarou.

 

Jamie Foxx é visto pela primeira vez em público após ser internado por “complicações médicas” em abril

0
Foto: Michael Buckner

Após passar semanas internado e longe dos holofotes, o ator Jamie Foxx foi visto publicamente pela primeira vez em um barco e demonstrando estar bem. Nas imagens gravadas por fãs, ele acena e faz sinal de “paz” enquanto sorri para as câmeras. As informações foram divulgadas neste domingo (09) pelo TMZ.

Jamie foi visto na tarde de domingo em Chicago em um barco curtindo com amigos e familiares. No vídeo, é possível ver a animação dele e também dos fãs. Segundo as informações, o ator ainda recebeu uma salva de palmas de um barco vizinho.

Na noite de sábado (08), ele foi visto caminhando pela cidade e aparentando bom humor. Mostrando estar bem e afastando as especulações sobre sua saúde.

Relembre o caso

A estrela de Hollywood foi hospitalizada no dia 12 de abril por “complicações médicas”. Ele estava gravando um filme para a Netflix, em Atlanta, quando precisou ir para o hospital e ficou semanas internado, preocupando os fãs. 

Durante as semanas que passou internado, a internet especulou seu real estado de saúde, segundo divulgado até que amigos próximos estavam preocupados e pedindo orações pelo ator. Mas sendo desmentidos pela família.

No começo de maio ele publicou em suas redes sociais um post agradecendo os fâs por todo amor e que se sentia “abençoado”. No dia 12 de maio, sua filha Corinne Foxx anunciou que Jamie recebeu alta e estava se recuperando em casa.

“Reflexo de um trabalho de bastidores incansável”, ressalta Raphaella Martins sobre presença de publicitários negros brasileiros em Cannes

0
Foto: Raphaella Martins | DR

Se hoje jovens publicitários celebram a presença de profissionais negros brasileiros no Festival de Publicidade de Cannes desse ano, eles precisam saber que existem muitos movimentos sendo realizados por aqueles que estão na área há muitos anos, abrindo caminho para os seus. Como é o caso da publicitária Raphaella Martins, executiva da Meta, que participou da Mesa Brasil, que ajudou a desenhar o festival de 2023.

Raphaella é responsável por criar o Projeto 20/20, primeiro programa de inclusão racial do mercado publicitário, que ajudou a fundar quando estava na J.Walter Thompson (atual Wunderman Thompson) e que influenciou a criação de um Pacto entre o Ministério Público do Trabalho e as principais agências de publicidade do país para contratação de profissionais mais profissionais negros.

Em 2021, foi homenageada no Women To Watch Brasil em 2021 e foi eleita em 2019 pela YouPix como uma das 15 pessoas que mais contribuíram para o mercado de conteúdo e influência no Brasil. Fez parte da lista Game Changers 2022 por desafiar o mercado a pensar diferente e contribuir com transformações positivas na indústria, além de integrar a Powerlist Bantumen, que elege as 100 Personalidades Negras Mais Influentes da Lusofonia.

Ela conversou com o Mundo Negro o sobre cenário da publicidade para profissionais negros nos últimos anos e contou como analisa a presença de mais negros brasileiros em Cannes. “Reflexo de um trabalho de bastidores incansável de muita gente que entende não ser mais possível falar sobre inovação, tecnologia e futuro, se continuarmos com protagonismo econômico e de narrativa  apenas de um único grupo”.

Confira a entrevista completa com Raphaella Martins

Mundo Negro – Em 2022, você e Joana Mendes foram as primeiras mulheres negras brasileiras a pisar em um palco de Cannes, como isso aconteceu?

Raphaella Martins – Em Maio de 2022, quando saiu a lista dos jurados do festival, dos 24 brasileiros selecionados apenas 1 profissional era negro. Olhando essa fotografia não proporcional do Brasil, o Papel&Caneta, coletivo sem fins lucrativos, junto com a Chapa Preta, Publicitários Negros, AUE, eu e mais alguns profissionais do mercado escrevemos uma carta pública para o Simon Cook, presidente do festival, questionando a falta de pluralidade e reflexo do que somos como país no grupo de jurados selecionados daquela edição. O presidente nos respondeu publicamente, se comprometendo com uma série de ações imediatas e a longo prazo. Uma das ações imediatas envolveu o convite para que estivéssemos em um dos painéis da edição falando sobre a importância de termos uma mesa de decisão plural para uma melhor indústria criativa. E foi aí que eu, a Joana Mendes junto com a Cindy Gallop, grande nome da publicidade global com mediação da Stacie Graham, diretora global de equidade racial da WPP, nos reunimos para dizer muita coisa óbvia, mas que segue fora do radar de muitos festivais globais como Cannes Lions.

MN – Qual foi a resposta recebida depois de enviar a carta aberta ao presidente do Festival, em 2022, questionando a falta de jurados negros brasileiros na lista de Cannes no ano passado?

RM –  A carta teve uma boa repercussão na imprensa internacional, mas dentro do Brasil a discussão ficou muito nos bastidores e principalmente sem voz ativa pública de muitos dos que se dizem aliados. E esse foi um grande aprendizado sobre a urgência de ampliarmos o entendimento do que é ser um aliado efetivo que usa seu espaço de influência e poder para de fato contribuir com a transformação. Questiono inclusive hoje o termo “aliado”, pois essa movimentação não tem a que se aliar se ela não é uma responsabilidade de apenas algumas pessoas, uma vez que todos nós profissionais de comunicação perdemos com uma indústria limitada criativamente. E ainda assim vejo muita gente branca se passando por consciente, subindo em palco pra ganhar prêmio de D&I, mas fugindo das conversas e posicionamentos desconfortáveis quando momentos como esse aparecem. Ser aliado não é falar no secreto que nos apoia, mas deixar o desconforto da fogueira pública para os grupos oprimidos que já mal conseguem respirar nesse meio.

MN – Como foi sua participação na mesa Brasil, que pensou o desenho deste ano para o Festival?

RM – Vir para o Brasil estava na lista de compromissos públicos assumidos pelo presidente do festival, Simon Cook, e em Novembro de 2022 ele passou uma semana aqui com a indústria. E como parte da tour global, o festival promoveu um encontro  nas principais cidades do mundo liderada pessoalmente pelo Simon para repensar a estratégia da edição que marcaria a 70a edição. Fui convidada para o encontro de São Paulo com outros profissionais do mercado dividindo provocações principalmente sobre a urgência do festival rever valores, logística e estrutura que permita maior aproximação com a criatividade que já existe nas periferias do mundo, mas que ainda segue estatisticamente fora do radar do festival. E com o objetivo de aproxima-ló de profissionais criativos brasileiros de grupos sub-representados e politicamente minorizados, promovi um encontro na sede do Clube de Criação, com espaço cedido pela Joana Mendes, onde junto com alguns profissionais negras e negros brasileiros como a cineasta Thatiane Almeida, Luna Lina presidente do Publicitarios Negros, Dilma Campos presidente da Outra Praia, Peter Albuquerque, Felippe Guerra da Somos Brasis, Gabi Rodrigues VP da Soko, pudemos falar sobre a urgência de darmos protagonismo intencional a profissionais de grupos sub-representados de países da América Latina e do continente africano para expandirmos definitivamente a excelência, qualidade e inovação da criatividade global.

MN – Esse ano houve uma presença negra brasileira bastante celebrada no Festival, como você analisa essa movimentação?

RM – A importância e reflexo de um trabalho de bastidores incansável de muita gente que entende não ser mais possível falar sobre inovação, tecnologia e futuro, se continuarmos com protagonismo econômico e de narrativa  apenas de um único grupo que ainda é invariavelmente do ponto de vista global, norte americano e europeu. Precisamos celebrar qualquer avanço, precisamos celebrar a comprovação do quanto a visão destes profissionais enriqueceu nossa perspectiva sobre o festival, pois pudemos viver e consumir a semana por ângulos que nem seriam pensados se eles não estivessem lá. Porém, quando vemos que o palco principal segue sendo protagonizado apenas pela perspectiva norte global – 90% dos palestrantes no Palais eram ou dos EUA ou da Europa – mesmo quando se fala sobre diversidade e inclusão, precisamos seguir cientes e conscientes que a celebração não nos seduzirá a ponto de esquecermos do grande trabalho que ainda precisamos fazer todos juntos como mercado se quisermos de fato romper com a lógica da história unica. Essa lógica enfraquece, empobrece e diminui nosso potencial global criativo. E a delegacão de profissionais negros brasileiros que esteve lá mostrou com novas perspectivas, resultados e prêmios que dá pra ser diferente.

MN – Como criadora do Projeto 20/20, o primeiro programa de inclusão racial do mercado publicitário, como você analisa o cenário para os profissionais negros da publicidade no Brasil atualmente?

RM – Em 2017, quando desenhei junto com a Patrícia Santos da EmpregueAfro a estrutura do programa 20/20, lançamos um processo seletivo que trouxe pro radar da indústria não só profissionais contratados pela J Walter Thompson, agência pela qual lançamos o programa, mas também uma nova excelência criativa que oxigenou todo o ecossistema com a movimentação dos profissionais pré-selecionados não contratados entre várias agências do grupo e pelo mercado. Essa movimentação junto com o processo de conscientização e mudança cultural que desenhamos com a Semana da Equidade Racial para lançar o programa e que hoje já está em sua 8a edição, escalou para além dos muros de uma única empresa, influenciou o Pacto entre o Ministério Publico do Trabalho e as principais agências de publicidade do país que se comprometeram em contratar mais profissionais negros até 2030 em áreas estratégicas de suas organizações. E isso nos traz atualmente para um cenário muito particular: estamos hoje inseridos em muitas posições de influência desta teia complexa, sofisticada, mas que ainda segue sendo estruturalmente racista. E isso nos exige seguir ainda mais vigilantes e estrategicamente sofisticados – principalmente em posições do que se entende como poder – para não nos deixarmos seduzir por um “topo” que ainda não existe enquanto nossa base segue estatisticamente nos piores índices e muitos dos nossos jovens potenciais criativos, sonhadores e talentosos sendo mortos a cada 23 minutos por balas achadas.

MN – A eleição de uma chapa preta para presidir o Clube de Criação nos últimos dois anos foi um marco histórico para o segmento. Quais mudanças a publicidade no Brasil pode esperar a partir de avanços como este?

RM – Janelas com novas oportunidades de conexão. A Chapa Preta traz perspectivas e profissionais com repertórios que se conectam  com uma visão que segue fora do radar dos grandes grupos de comunicação e de todo ecossistema. E esse conflito positivo entre o processo criativo que já existe mapeado e excelência criativa que acontece aos montes principalmente nas periferias do Brasil e fora do eixo RJ-SP é o que nos possibilita ampliar  agora o nosso entendimento do que é criatividade, sair da auto-referência, do estereótipo e viver a beleza que é desbravar o desconhecido, o incerto que é o único caminho possível para inovação e evolução do nosso mercado.

Pesquisa revela que quase metade das crianças pretas não gostam da cor da própria pele

0

Um novo estudo do Núcleo Ciência Pela Infância da Universidade Federal de Sergipe (UFS) revelou que 46,3% das crianças pretas no Brasil não gostam da cor da própria pele. A informação, que mostra a forma como o racismo e a discriminação racial impactam a autoestima das crianças, faz parte do estudo intitulado “Mães que dialogam sobre racismo e valorização do grupo racial fortalecem a autoestima de crianças negras”, conduzido por Dalila Xavier, professora do Departamento de Psicologia da UFS.

A pesquisa, realizada em Sergipe, recebeu reconhecimento através do Prêmio Ciência Pela Primeira Infância, concedido pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI). “Os dados se relacionam às questões raciais presentes na sociedade. A criança preta, por conta de suas vivências e relações diante do racismo, tende a ter mais dificuldade em se aceitar, o que impacta diretamente sua autoestima e compromete o seu desenvolvimento”, comenta Dalila.

A pesquisa envolveu a participação de crianças brancas, pardas e pretas, com idades entre 5 e 13 anos, juntamente com suas respectivas mães. O objetivo era analisar como a identidade étnico-racial é desenvolvida nessas crianças e verificar se estratégias de socialização, como discutir a importância do respeito independentemente da cor da pele, têm impacto em sua autoestima.

Durante as entrevistas, as crianças foram solicitadas a indicar com qual cor de pele se identificavam. Os resultados revelaram que 75% das crianças brancas se identificavam como brancas, enquanto 87,8% das crianças pretas se identificavam como pretas. No caso das crianças pardas, 69,2% se identificaram como pretas e 30,8% se consideraram brancas.

Além disso, foi investigada a percepção das crianças em relação à própria cor da pele. Mais de um terço das crianças pardas (38,5%) e quase metade das crianças pretas (46,3%) afirmaram ter pouco ou nenhum apego ao seu grupo racial. Por outro lado, a grande maioria das crianças brancas (82,5%) afirmou gostar de sua cor de pele.

“A criança adquire sua identidade ainda na infância em meio ao processo de socialização. Nesse sentido, o diálogo realizado por pais e educadores auxilia as crianças a valorizarem o próprio grupo étnico-racial, contribuindo para seu desenvolvimento pleno. Quanto mais as mães dessas crianças falam sobre a história, raça e cultura do grupo, mais elas gostam de ser pretas”, explica Dalila.

A pesquisa completa pode ser encontrada aqui.

error: Content is protected !!