Home Blog Page 336

Dismorfia financeira e a população negra: a sensação de não pertencimento perpassando as transações monetárias

0
Foto: Reprodução

As emoções desempenham um papel crucial em nossas escolhas financeiras. Ao considerar o recorte de raça, destacam-se diferenças significativas na experiência da população negra com relação ao dinheiro. Fatores históricos e estruturais contribuem para um cenário específico, influenciando a forma como os indivíduos negros lidam com suas finanças.

A dismorfia financeira refere-se a uma condição na qual as pessoas têm uma visão distorcida de sua situação financeira. Assim como a dismorfia corporal, onde as pessoas veem imperfeições inexistentes em sua aparência física, a dismorfia financeira leva os indivíduos a perceberem a saúde financeira de maneira desproporcional, muitas vezes gerando ansiedade e comportamentos prejudiciais. A relação do povo negro com o dinheiro vai além de números e transações, ela é impactada pelo racismo vivido cotidianamente e todo o histórico de desigualdades.

A relação distorcida com o dinheiro tem raízes históricas, desde os tempos da escravidão até os dias atuais. Durante séculos, as comunidades negras enfrentaram a negação de oportunidades econômicas, resultando em um déficit de recursos acumulado ao longo do tempo.

A comparação social desproporcional é uma característica frequente da dismorfia financeira sentida pela pessoa negra. A tendência a se comparar e traçar objetivos financeiros para se igualar ou superar os demais é um sentimento comum e uma nova escravidão, onde o indivíduo se sente preso à ideia de que precisa manter uma imagem percebida de sucesso para prosperar ou ser respeitado. E sempre fica a sensação de que sempre falta algo. Vazio.

Outra situação que reflete a dismorfia financeira na população negra se revela também no comportamento inverso ao da ostentação. O indivíduo mesmo tendo uma renda estável, vive com medo constante de gastar dinheiro, ainda que somente com suas necessidades básicas. Ele evita investir em si mesmo ou em experiências enriquecedoras, temendo que cada centavo gasto seja um passo em direção à ruína financeira e retorno à pobreza em que viviam seus antepassados. E o descaso com essa situação causa impacto negativo na sociedade, inclusive, afetando a economia, uma vez que somos maioria em quantidade, um país que negligencia mais da metade da sua população tende a não prosperar.

Outro comportamento prejudicial gerado pela dismorfia financeira também está em evitar olhar o extrato bancário ou discutir finanças com a família, ou seja, desconsiderar a realidade financeira, o que pode levar a decisões inadequadas e falta de planejamento, ao comportamento de gastar por impulso e posterior endividamento.

O problema da dismorfia financeira afeta a maioria da população negra, e também a parcela que decide empreender. Muitos acham que ter o próprio negócio é a única alternativa diante da dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, por exemplo. Mas achar que precisa empreender para sobreviver e não para viver um propósito, é outro reflexo dessa dismorfia.

O debate em torno do tema terá espaço no Afro Fashion Day, evento marcado para o dia 25 em Salvador, durante uma ativação do Will Bank. A instituição realizou a primeira pesquisa sobre Dismorfia Financeira no Brasil. O estudo oferece uma visão da relação emocional da população com o dinheiro, com especial atenção ao recorte racial. Um dos dados da pesquisa indica que 71% das pessoas acreditam que precisam se esforçar mais para conquistar o que os outros ganham facilmente.

Lidar com as finanças desperta sensações. A escassez se materializa na falta, não só de dinheiro, mas de pertencimento. Existem barreiras invisíveis que julgam quem é adequado a cada espaço. A partir dessa ótica, podemos pensar na educação financeira como uma estratégia que deveria começar pelo autoconhecimento e todo processo de compreensão das emoções que o indivíduo associa ao dinheiro.

A dinâmica entre emoções e finanças é um terreno complexo e muitas vezes negligenciado. A dismorfia financeira, esse fenômeno só recentemente estudado, destaca como nossas percepções distorcidas podem influenciar nossas decisões de maneiras sutis e, por vezes, nos prejudicando e acentuando desigualdades. Quando se nasce negro no Brasil, superar as dificuldades financeiras e prosperar também vai depender de um olhar mais profundo para dentro de si.

***

*Priscilla Arantes é gerente de comunicação do Sistema B Brasil, e articuladora do Coletivo Pretas B, um projeto que apoia mulheres negras na rede do Sistema B Brasil por meio de mapeamento, mentoria, consultoria e capacitação, e fundadora do Instituto Afroella.

Diddy fecha acordo milionário em caso de estupro e abusos físicos contra a ex-namorada, Cassie

0

Na última semana, o The New York Times revelou que o rapper e produtor musical Sean ‘Diddy’ Combs estava sendo processado pela ex-namorada, Cassie, pelos crimes de estupro e abusos físicos. Agora, novas informações mostram que os dois fecharam um acordo milionário e que a vítima teria desistido da ação legal que movia contra Diddy.

Foto: PAUL ARCHULETA/FILMMAGIC

Em um comunicado emitido por ela na sexta-feira, 17, e publicado pelo jornal Daily Star, Cassie compartilhou a seguinte mensagem: “Decidi resolver este assunto amigavelmente, nos termos em que tenho algum nível de controle”. Ela ainda agradeceu aos fãs, à família e seus advogados “pelo apoio inabalável” que recebeu.

De acordo com as informações do advogado de Cassie, Douglas Wigdor, que não revelou os termos do acordo, a decisão foi tomada para “satisfação mutua”. “Estou muito orgulhoso da Sra. Ventura por ter a força para tornar seu processo público”, comentou.

Entenda o caso

Na quinta-feira, 16, o jornal  New York Times noticiou que uma ação movida por Cassandra Ventura, o nome verdadeiro da cantora Cassie, revelava que Sean Diddy Combs, iniciou um padrão de controle e abuso contra ela quando a cantora ainda tinha 19 anos, logo depois do início da relação, que incluía “forçá-la a usar drogas, agredi-la e forçá-la fazer sexo enquanto a filmava na presença de prostitutas”. O processo estava sendo conduzido no Tribunal Distrital Federal de Manhattan, nos EUA.

No processo ainda diz que em 2018, perto do fim do relacionamento, “Sr. Combs forçou a entrada na casa dela e a estuprou”. No ano seguinte o casal terminou o relacionamento.

“Depois de anos em silêncio e escuridão, estou finalmente pronta para contar a minha história e para falar em meu nome e em benefício de outras mulheres que enfrentam violência e abuso nos seus relacionamentos”, disse Cassie em comunicado.

Por meio de seu advogado, Ben Brafman, Diddy negou as acusações: “Sr. Combs nega veementemente essas alegações ofensivas e ultrajantes. Nos últimos seis meses, Combs foi sujeito à persistente exigência de Ventura de 30 milhões de dólares, sob a ameaça de escrever um livro prejudicial sobre a sua relação, que foi inequivocamente rejeitada como chantagem flagrante. Apesar de ter retirado a sua ameaça inicial, a Sra. Ventura recorreu agora a uma ação judicial repleta de mentiras infundadas e ultrajantes, com o objetivo de manchar a reputação do Sr”, diz Brafman.

Primeira edição Festival Internacional do Audiovisual Negro do Brasil começa hoje, em Salvador

0

A partir desta terça-feira, 21, Salvador recebe a primeira edição do Festival Internacional do Audiovisual Negro do Brasil (Fianb). O evento, que terá exibição de filmes, painéis e mesas de discussão, acontece dentro da programação do Salvador Capital Afro e vai até o dia 25 de novembro no Cine Glauber Rocha, nos Polos Boca de Brasa e na sede do instituto Odun, terá atividades gratuitas que podem ser acessadas a partir da inscrição no site: https://linktr.ee/associacaoapan.

Com o tema “Transatlanticidade”, inspirado no conceito criado pela historiadora negra Maria Beatriz Nascimento, as ações do festival contarão com a participação de convidados de diferentes países como Burkina Faso, Colômbia e Inglaterra. O Fianb tem como objetivo fomentar diálogos e discussões sobre pertencimento e criações audiovisuais negras do Brasil e do mundo, num contexto das diásporas afro-atlânticas.

Criado pela Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan), o festival, que já está na 4ª edição em São Paulo, será realizado na capital baiana através de uma parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult).  A programação completa pode ser acessada no site https://www.fianb.com.br/.   

A coordenadora de Audiovisual do SalCine, Milena Anjos, destaca que Salvador sediar o Fianb representa a efetivação de mais um espaço de trocas para os realizadores negros da cidade. “Entendo que os festivais desempenham um papel de extrema relevância na cadeia do audiovisual, que perpassa lançamento e difusão de obras, formação de público, vitrine para novos talentos e network. Recepcionar o Fianb, um festival que dá protagonismo ao cinema realizado por pessoas negras, é reforçar o nosso interesse na construção de espaços que potencialize o audiovisual soteropolitano, cada vez mais diversos”, avalia.   

Tema – De acordo com a presidenta da Apan, Tatiana Carvalho Costa, o tema deste ano foi escolhido como inspiração, mas também como homenagem à pesquisadora, já que a obra e vida de Beatriz está muito presente nos trabalhos da associação. “A pesquisa da Maria Beatriz Nascimento sobre Quilombos, por exemplo, nos fornece nessa perspectiva que ela mesma coloca da dimensão ideológica do Quilombo como a ficção participativa e um poder de correção da nacionalidade. Por isso que a gente sempre se reafirma nesse lugar das construções coletivas, atravessadas pela ideia da ancestralidade, compreendendo a centralidade como algo presente. Quase como algo que anima o nosso presente e nessa perspectiva de futuro”, explica.  

Seminário – Como parte do festival, na quarta (22) e quinta-feira (23), no Cine Glauber Rocha, também acontecerá o Seminário Internacional Transatlanticidade, para pensar a participação diaspórica no Festival Pan-Africana de Cinema e Televisão de Uagadugu (Fespaco). Nomes como Alex Moussa Sawadogo, diretor do Fespaco, June Givanni, uma das detentoras do maior arquivo de cinema pan-africanista do mundo, e Salim Fayad, codiretor da Mostra Itinerante de Cinema Africano da Colômbia (Muica) estão na programação de ambos os eventos.   

Sessões especiais – O Fianb terá uma extensa programação de cinematografia negra. As mostras Transatlanticidade, Fespaco e o Festival Internacional Kilombinho, com obras voltadas para o público infantojuvenil, irão ocupar o Cine Glauber Rocha, o Polo Boca de Brasa do Subúrbio 360, em Coutos, e o Instituto Audiovisual Mulheres de Odun (iAMO), em Fazenda Grande IV. As sessões especiais propostas pela Mostra Transatlanticidade e Mostra Fespaco exibirão filmes alinhados às discussões propostas pelo festival, do catálogo nacional, além de obras representativas do Fespaco e do cinema colombiano realizado em parceria com a Manos Visibles e a Escola Foco. 

Texto: Ascom/Secult PMS 

Desvendando o Futuro: Inteligência Artificial e Afrofuturismo

0
Imagem: Reprodução

Painel realizado durante o Festival Afrofuturismo foi mediado por Izabella Azevedo, com as participações de Igor Miranda e André Argôlo

Explorando as fronteiras entre tecnologia e inclusão, o Festival Afrofuturismo, promovido pelo Vale do Dendê, mergulhou em questões cruciais nesta segunda-feira (20), durante a celebração do Dia da Consciência Negra. O encontro foi realizado no Museu da Energia, no Pelourinho. No painel “Inteligência Artificial e Impacto Social”, mediado por Izabella Azevedo, as mentes visionárias de Igor Miranda, professor doutor da Universidade do Recôncavo da Bahia (UFRB), e André Argôlo, CEO da Quickup, falaram sobre como traçar novos horizontes na interseção entre avanços tecnológicos e equidade social.

No meio das discussões sobre os ataques da inteligência artificial na sociedade, alguns enxergam a tecnologia como uma ameaça iminente a certas profissões. No entanto, há uma visão alternativa que vê a IA como uma aliada valiosa no avanço da inclusão e acessibilidade. Durante o painel, uma das reflexões trazidas foi: a urgência de desenvolver tecnologias acessíveis para que as pessoas sejam capazes de buscar novos recursos.

Izabella Azevedo, Igor Miranda e André Argolo

Para Igor Miranda, pesquisador de IA há mais de 15 anos, esse é um tema de grande relevância para pensar o futuro da comunidade negra. “A inteligência artificial tem uma presença muito forte. Pensar isso atravessado em situações de impacto social foi uma escolha muito acertada e fundamental para que o Festival Afrofuturismo se mantenha conectado ao que está acontecendo na atualidade”, disse.

Igor acredita que diversidade é a chave para conseguir ter tecnologia. “Vamos precisar reestruturar nosso sistema de educacional para conseguir fazer com que a inteligência artificial esteja presente desde a base“. Ressalta ainda a necessidade da comunidade preta desenvolver tecnologia, já que, cada população tem necessidades especificas e esse desenvolvimento se dá a partir de um pensamento crucial, “Qual a intencionalidade dessa tecnologia? Qual o seu propósito? A tecnologia, ela é neutra?”.

Discussões como estas, na visão de André Argolo, são precisas. Ele acredita que Salvador pode se tornar um berço cultural em tecnologia, por suas características. “São coisas que podemos discutir em comunidade para estruturar Salvador para o futuro. Eu ficaria muito feliz de ver Salvador iniciando esses projetos. […] A gente precisa entender que o mercado sofre revoluções, a sociedade precisa se preparar para monitorar e entender o impacto causado por essas tecnologias. Hoje entendo que precisamos de políticas para que isso aconteça”, finalizou.

Ao fim do painel, durante o bate-papo com o público, os participantes ressaltaram ainda o papel que a IA desempenha na sociedade, proporcionando avanços importantes e que existe um potencial de criar soluções inclusivas e acessíveis, impactando positivamente vários setores da vida cotidiana, como a inclusão digital, acessibilidade, saúde e bem-estar, educação personalizada, entre outros.

Confira a programação completa de amanhã (21)

ESTAÇÃO DA LAPA

10h às 13h – WORKSHOP ASSUNTOS DEL SUR – DANIELA GALVIS

CASA VALE DO DENDÊ

 SALA VATAPÁ 
10h – DENDÊ TALKS 
11h – DENDÊ TALKS – COM MARCELLO SOUZA 
12h – INTERVALO PARA ALMOÇO 
14h – DENDÊ TALKS – FÁBIO NEVES
 15h – DENDÊ TALKS – ROSEANE VIEIRA
16h – DENDÊ TALKS – TAAG 
17h – DENDÊ TALKS – FELIPPE GUERRA

SALA ARROZ DOCE – TALKS INTERNACIONAIS
10h – GETRUDE MATSHE 
11h – RONNEL PERRY
12h – INTERVALO PARA ALMOÇO
14h – ADAH PARRIS
15h – TÂNIA TOMÉ 
16h – MIKAL ANDERSON 
17h – YOLANDA METHVIN

MUSEU DA ENERGIA

10h30 – PAINEL: MÚSICA NEGRA GLOBAL
        RAONIR BRAZ E FILIPE ARAGÃO
        MEDIAÇÃO: PYEDRA BARBOSA
12h – INTERVALO PARA ALMOÇO
14h – PAINEL: CRIADORES DE CONTEÚDO E AFROEMPREENDEDORISMO 
16h – PAINEL: EXPERIÊNCIAS SOBRE DIVERSIDADE NA AMÉRICA LATINA
       DANIELA GALVIS E ANA MOSQUERA 
       MEDIAÇÃO: LILIAN PINHO

MUSEU EUGÊNIO TEIXEIRA LEAL

10h30 – PAINEL: NARRATIVAS PRETAS PARA A MÍDIA
            ANTONIO JUNIÃO E FERNANDA RAMOS BRAZIL
           MEDIAÇÃO: ROSALVO NETO
12h – INTERVALO PARA ALMOÇO
14h – PAINEL: MERCADO DE TRABALHO E TECNOLOGIA PARA MULHERES
      KAREN SANTOS, LORENA BISPO E AMANDA VIEIRA
      MEDIAÇÃO:ANDRESSA TAIRINE  
16h – PAINEL: MODA E TECNOLOGIAS SOCIAIS
       ISA SILVA E JORGE LUCA
       MEDIAÇÃO: CÁSSIO KAIAZZO

FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

10H às 18H
ARENA GAME
ESTÚDIO ÁFRICA
STÚDIO TAAG
ANIPÓLITAN

CASARÃO 17

SALÃO DE NEGÓCIOS
17h às 19h – MEETUP CORPORATIVO

LARGO TEREZA BATISTA

10H – BOAS-VINDAS
10H10 – PAINEL: OS DESAFIOS NA SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA E COMO A COMUNICAÇÃO EM ESCALA PODE  SER ALAVANCA CHAVE DE POLÍTICAS DE PREVENÇÃO
DRA. JAQUELINE GÓES , IGOR ROCHA, DEH BASTOS E ANGEL VASCONCELOS.
11H30 – PAINEL: COMO A TECNOLOGIA PODE AJUDAR NO EMPREENDEDORISMO?
JOÃO BARCELOS, DU CARMO E DELIENE MOTA
15H30 – MOMENTO FALA: A FORÇA FEMININA E O PROTAGONISMO NO EMPREENDEDORISMO E NA GERAÇÃO DE RENDA DOS TERRITÓRIOS 
JUCI CARDOSO. MEDIAÇÃO: MÁRCIO LIMA
16H – PAINEL – O PRESENTE: “OS DESAFIOS DAS PESSOAS NEGRAS NAS CARREIRAS EM TECNOLOGIA
ANA DIAS, EDMAR AMORIM, THIAGO GUEDES E CAMILA OLIVEIRA
17H – PAINEL: TREINAR SKILLS COMPLEMENTARES + AMPLIAR O REPERTÓRIO DE INOVAÇÃO  = TRILHAS ESSENCIAIS PARA ALCANÇAR OS FUTUROS POSSÍVEIS
ALEXANDRE RIBEIRO, MICHELLE OLIVEIRA, ANDREZA MAIA E MARIO GOMES
18H – SHOW A MULHERADA
 20H – SHOW ILÊ AYÊ

LARGO QUINCAS BERRO D’ÁGUA

19H – APRESENTAÇÃO – UDI – LANÇAMENTO DE ÁLBUM
 20h30 – APRESENTAÇÃO MUZENZA

Publicitários negros analisam o Novembro Negro mais crítico dos últimos tempos

0
Foto: Freepik

O Novembro Negro de 2023 foi um com os menonres investimentos em projetos da comunidade negra dos últimos anos. O mundo pós – George Floyd que parecia uma nova era onde não se precisaria explicar o óbvio sobre comunidade negra e dinheiro, voltou ao velho normal.

Projetos tradicionais não aconteceram por falta de investimentos, como um evento no tradicional espaço Aparelha Luzia que fica em São Paulo, cidade mais rica do país.

Eventos da programação do Salvador Capital Afro, sofreram com a falta de apoio de marcas que têm produtos para pessoas negras e se dizem inclusivas.

Será que é um reflexo de um ano difícil? A resposta está quando olhamos para campanhas feitas nos meses das mulheres e comunidade LGBTQI+. Há algumas teorias sobre o que anda acontecendo entre comunidade negra e as marcas.

“Infelizmente, a ‘Primavera Preta’ passou, e as marcas estão segurando cada vez mais a verba para ações afrocentradas. Este ano, vários projetos foram para as ruas sem patrocínio, inclusive aqueles realizados fora do eixo Rio-São Paulo, enfrentando dificuldades ampliadas pelo racismo e xenofobia. No entanto, os discursos de diversidade de empresas e agências ainda são usados em revistas de publicidade e palcos”, alfineta Julio Beltrão, Diretor artístico na Music2/Mynd.

Julio Beltrão, Diretor artístico na Music2/Mynd – Foto: Reprodição

“O Novembro Negro não foi como esperávamos comercialmente. Acredito que fatores como distrações da atualidade podem ter contribuído para a diminuição de jobs para os nossos criadores negros. Essa observação para mim destaca a importância de uma reavaliação e revitalização por parte de marcas e instituições, envolvendo ativamente pessoas negras para garantir e defender a importância da data”, acredita Allex Hios, Executivo de contas pleno da Brunch.

Allex Hios, Executivo de contas pleno da Brunch – Foto: Reprodução Instagram

Ricardo Silvestre, CEO da Black Influence, agência com foco em creators negros, também dissertou sobre o tema em uma postagem nas redes sociais. “As tentativas são inúmeras, mas falta intencionalidade em de fato fazer parte da transformação da indústria”, disse o empresário que ainda lembrou que a comunidade negra brasileira  movimenta anualmente quase 2 trilhões de reais.

Ricardo Silvestre CEO da Black Influence, – Foto: Instagram

Para Simone Bispo, publicitária e diretora de comunicação do coletivo “Publicitários Negros”, a crise econômica não explica esse apagão publicitário dentro do Novembro Negro. “Existe uma questão de crise econômica, porém o racismo faz com que nós, pessoas negras, tanto enquanto influenciadores, criadores de conteúdo e profissionais, sejamos os que mais eles preferem cortar. Faz só um postzinho e tá tudo certo. Quando existem demissões em massa, quem são as primeiras pessoas a serem cortadas? As pessoas negras. Então eu acredito que a ligação das duas coisas, mas ela deixa o racismo muito evidente”.

Simone Bispo, publicitária e diretora de comunicação do coletivo “Publicitários Negros” Foto: Arquivo pessoal

“Sim, as marcas realmente reduziram o Novembro Negro. Existe uma redução da pressão social sobre a questão racial a partir da eleição do novo governo. Com essa diminuição dessa pressão social, as marcas se sentiram menos pressionadas a continuar investindo e os antigos comportamentos voltaram a acontecer. Então, você tem um ano com projetos relevantes que não tiveram apoio ou tiveram apoio bem menor. Sim, tem a questão de crise, etc., mas mesmo assim, é visível que é uma escolha porque outros projetos ‘não-negros’, ainda tiveram grandes investimentos”, analisa Felippe Guerra , CEO da Brasis Mídia.

Felippe Guerra, CEO da Brasis Mídia – Foto: Reprodução Instagram

Será que as marcas estão tendo mais medo de se associar às pautas negras? Para Patrícia Carneiro, publicitária, planner e estrategista de marcas e pesquisadora de narrativas emergentes, esse seria um dos diagnósticos de um Novembro Negro tão ruim. “Eu acho que a minha visão é que o tema novembro negro está gerando medo, medo nos posicionamentos. Tem um sentimento das pessoas brancas no Brasil de que a causa negra está tomando uma proporção muito grande e que as pessoas podem se sentir muito empoderadas e que daí não vai ser legal”. E ela finaliza: “E vou te dizer o porquê do medo,  porque a geração Z é diferente da nossa geração que demonstrava menos as insatisfações. Então hoje eu vejo que as marcas sentem que novembro negro é um tema polêmico, é um tema sensível, então para que eu vou investir para fazer ação de marca e ser cancelado ou ter o meu discurso e a prática confrontados na realidade. Então vou me retrair e não vou tocar nesse tema”.

Patrícia Carneiro, publicitária, planner e estrategista de marcas e pesquisadora de narrativas emergentes – Foto: Reprodução Instagram

Imagine se a comunidade que movimenta trilhões de reais por ano, fizesse a opção de comprar apenas de marcas quem investem em projetos negros? Quem sobreviveria no mercado?

“Letramento racial é desvelar a realidade”, afirma escritora Bárbara Carine no Festival Afrofuturismo

0
Bárbara Carine, Manoel Soares e Angel Vasconcelos durante painel da "Vila Ifood Acredita" no Festival Afrofuturismo | Foto: Divulgação/Vale do Dendê

O “Festival Afrofuturismo”, realizado pelo Vale do Dendê, hub de inovação, chega ao seu quinto ano, com uma programação disposta a discutir várias esferas da economia criativa sob a perspectiva do futurismo e da diversidade. Nos dias 20 e 21 de novembro, em Salvador (BA), muitas mesas e vários encontros acontecerão no Centro Histórico da capital baiana, a partir do mote “De Volta para o Futuro”.

Na “Vila Ifood Acredita”, uma das empresas patrocinadoras do evento, um dos painéis da programação trouxe ilustres presenças baianas: o jornalista e apresentador Manoel Soares e a escritora e educadora Bárbara Carine. A dupla esteve ao lado de Angel Vasconcelos, diretora de equidade do Ifood.

A mesa “Inovação, tecnologia, educação e políticas de equidade a serviço da redução das desigualdades”, realizada no Largo Tereza Batista, no Pelourinho, colocou em cena a importância de uma formação consciente e o papel das tecnologias ancestrais para “hackear o sistema”. Dessa forma, é possível criar caminhos para que pessoas negras escalem espaços que são negados por uma sociedade que opera na “tradição” racista.

Para Manoel Soares, existe uma indústria que obtém ganhos com a ‘lágrima preta’. “Se você denuncia essa injustiça, você gera lucro para essa indústria”, comenta, a partir das suas experiências recentes. “Por isso, concordo com o rapper e compositor Edi Rock, sobre a ‘técnica avançada do colonizador, [de] colocar um contra ou outro para depois tocar o terror’. Hoje, não tem nada que me faça voltar para o ambiente de televisão”.

O jornalista e apresentador Manoel Soares ao lado de Angel Vasconcelos, diretora de equidade do Ifood | Foto: Divulgação/Vale do Dendê

Comparando as descobertas científicas sobre a teoria da relatividade de Einstein com a metafísica das religiões de matriz africana, ele afirma que a tecnologia é a magia de hoje. “Se a teoria da relatividade de Einstein também fala sobre a manipulação de elementos físicos para acessar outra dimensão, ela simplesmente tenta descrever as ‘macumbas’. Porque a gente manipula elementos físicos, na esquina, para alcançar outras dimensões. A tecnologia precisa ser afrocentralizada porque, se isso não acontecer, nós ficaremos fragilizados. O mundo, hoje, é digital. A digitalização é ancestral”, conclui.

PODER DA EDUCAÇÃO – Doutora pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e autora do livro “Como ser um educador antirracista: para familiares e professores” (2023), Bárbara Carine está à frente do perfil @uma_intelectual_diferentona, no Instagram, e contou sobre a experiência de cultivar a consciência racial no percurso educativo de crianças na Escola Afro-Brasileira Maria Felipa, em Salvador. “Trabalhamos com a pedagogia de positivação das existenciais, o reforço positivo, para potencializar nossas crianças. Assim, quando a dor chegar, elas poderão enfrentá-la de um lugar diferente ou, quem sabe, nem senti-la”.

A escritora e educadora Bárbara Carine (@uma_intelectual_diferentona) | Foto: Divulgação/Vale do Dendê

Ela acredita que é preciso causar o desconforto de narrativas tidas como “verdades”. “Nossos alunos vivenciam saberes e experiências para compreender que não há uma narrativa única. Historicamente, a gente não é treinado para acessar essas questões. Por isso, letramento racial é desvelar a realidade”.

Angel Vasconcelos, diretora de Equidade do Ifood, também compartilha da crença do impacto que o poder educativo é capaz de causar. “Através da educação, humanizamos líderes”. Ela lembrou de sua busca por inclusão ao longo de 25 anos de carreira no mundo corporativo da tecnologia. “Se, hoje, existem vagas afirmativas no ambiente empresarial, pessoas como eu precisaram correr riscos. Nada dava mais para ter privilégios sozinha”.

Ela compartilhou estratégias que desenvolveu para trazer mais diversidade para os contextos profissionais pelos quais transitou na liderança. “É preciso escalar iniciativas que funcionam, como o método da Escola Maria Felipa. Devemos estar conectados a uma ancestralidade que nos ilumina nessa digitalização. Assim, contribuir com a redução das desigualdades. Toda empresa que a gente pode iluminar para vir conosco já é uma conquista”, completa.

Foto: Divulgação/Vale do Dendê

5 filmes brasileiros para celebrar o Dia da Consciência Negra

0
Foto: Divulgação

Para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, neste 20 de novembro, o Mundo Negro selecionou 5 dicas de filmes brasileiros que contam a história de personalidades negras brasileiras que foram importantes para o Brasil, por meio da luta contra a escravidão, contra a ditadura militar ou pela relevante contribuição cultural para o país.

São histórias biográficas que remetem o público à reflexão sobre como o racismo e a escravidão ainda permeiam na sociedade, mas que inspiram a comunidade negra a sonhar.

Leia a lista completa abaixo:

1 – Doutor Gama

Dirigido pelo diretor Jeferson De, a cinebiografia de Luiz Gama (César Mello), um dos mais maiores abolicionistas do mundo, mostra como ele, um homem negro do século XIX, conseguiu advogar para libertar mais de 500 pessoas escravizadas. Disponível no Globoplay.

2 – Pixinguinha, Um Homem Carinhoso

Vida e obra de Alfredo da Rocha Vianna Junior, o Pixinguinha (Seu Jorge), contada desde suas primeiras apresentações na flauta até a composição de suas muitas obras-primas, como “Carinhoso”. Negro e neto de escravizados, ele foi um gênio à frente do seu tempo. Disponivel na Apple TV + e Telecine.

3 – Pureza

Pureza (Dira Paes) arruma um emprego em uma fazenda e acaba testemunhando o tratamento brutal de trabalhadores rurais escravizados. Agora, além de buscar pelo filho desaparecido, ela precisa escapar de lá e informar as autoridades sobre as atrocidades. Globoplay e Telecine.

4 – Mussum, um Filme do Cacildis

O documentário aborda a trajetória do músico e comediante Mussum, de vocalista do grupo Os Originais do Samba a integrante dos Trapalhões, e como ele mudou a forma de fazer humor na teledramaturgia brasileira. Disponível no Prime Video.

5 – Marighella

Comandando um grupo de jovens guerrilheiros, Carlos Marighella (Seu Jorge) tenta divulgar sua luta contra a ditadura para o povo brasileiro, mas a censura descredita a revolução. Seu principal opositor é Lúcio, policial que o rotula como inimigo público do país. Disponível no Globoplay e Prime Video.

Ministra Anielle Franco anuncia segundo pacote de medidas pela Igualdade Racial

0
Foto: Rithyele Dantas/MIR

O Ministério da Igualdade Racial anunciou o segundo Pacote Pela Igualdade Racial, com 13 ações que serão realizadas em parceria com com outros dez ministérios e órgãos federais, assinadas presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na manhã desta segunda-feira (20) – Dia Nacional da Consciência Negra, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF).

“É com muito orgulho e senso de responsabilidade, que celebramos este primeiro novembro negro em que o Brasil tem um Ministério da Igualdade Racial, como uma ferramenta para garantir a continuidade histórica das políticas públicas, para que sejam cada vez melhores e cheguem em quem mais precisa”, celebrou a ministra Anielle Franco, durante a cerimônia.

No documento, constam programas nacionais, titulações de territórios quilombolas, bolsas de intercâmbio, acordos de cooperação, grupos de trabalho interministeriais, e outras iniciativas que garantem ou ampliam o direito à vida, à inclusão, à memória, à terra e à reparação.

Foto: Rithyele Dantas/MIR

Entre os destaques das ações, o Governo Federal destinará R$ 8 milhões a serem investidos em formação especializada para quem trabalha no atendimento psicossocial de mães e familiares vítimas de violência, elaboração de protocolo para o fluxo de atendimento e definição de diretrizes para supervisionar a rede socioassistencial do Estado.

“Uma das maiores tristezas que se conhece é uma mãe e um pai ter que enterrar uma filha ou um filho. Eu vi isso acontecer na minha casa. O Brasil vê todos os dias nos jornais. E eu afirmo aqui o nosso compromisso para que o Estado cuide dessas famílias já tão machucadas”, destacou a ministra.

Além disso, o Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre o MIR e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) reafirma o compromisso com a construção de uma agenda de combate à fome, à insegurança alimentar e à pobreza, a partir da qualificação de serviços e equipamentos da assistência social, “agindo a partir do reconhecimento de qual é a cor das pessoas que mais passam fome no nosso país”, disse Anielle.

Foto: Rithyele Dantas/MIR

Para combater o racismo e atenuar seus impactos na infância de crianças negras, quilombolas e indígenas, o MIR também assinou hoje “um memorando para avançar nas estratégias e políticas para uma primeira infância antirracista, com ações em especial no campo da saúde e educação”, junto à Unicef, e aos ministérios da Saúde, do Desenvolvimento Social, da Educação e dos Direitos Humanos e Cidadania.

Confira o destaque de outras ações abaixo:

Caminhos Amefricanos: o programa de intercâmbios Sul-Sul que visa promover o diálogo, a pesquisa, a produção científica, a educação antirracista, as trocas culturais e a cooperação entre Brasil e países da África, América Latina e Caribe, receberá um investimento de R$22.5 milhões. A cada edição, 50 bolsistas do Brasil e 10 bolsistas do país parceiro serão beneficiados por intercâmbios de 15 dias. Os primeiros países a receberem o Caminhos Amefricanos serão Moçambique, Colômbia e Cabo Verde. O Edital de Seleção para a primeira edição, que conectará São Luís/MA e Maputo, será lançado na terça-feira (21). Todas as pessoas beneficiadas terão direito a auxílio de R$24.700 para custear deslocamento, diárias, seguro saúde, solicitação de visto e emissão de passaporte;

Programa Federal de Ações Afirmativas: com um investimento de R$ 9 milhões, o programa busca formular, promover, articular e monitorar políticas que garantam mais direitos e equiparação de oportunidades para mulheres e pessoas negras, quilombolas, indígenas ou com deficiência, levando em consideração suas especificidades e sua diversidade;

Investimentos em Dados e Cultura: R$ 4,4 milhões serão destinados através de um edital para incentivar a produção cultural, economia de axé e agroecologia, pela promoção do desenvolvimento sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e de Terreiros e Quilombolas, em parceria com a FioCruz;

Memória e Reparação: o Acordo de Cooperação Técnica entre MIR e BNDES para implementação de projetos culturais e ações em prol da preservação e valorização da herança africana, como também o fortalecimento das instituições culturais na região da Pequena África e do sítio arqueológico Cais do Valongo, no Rio de Janeiro (RJ);

Plano de Comunicação Antirracista na Administração Pública: O Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) irá propor estratégias de fortalecimento de mídias negras, de promoção da diversidade racial em publicidades e patrocínios do Estado, de diálogo com a sociedade e veículos de comunicação, de formação para porta-vozes, servidores e prestadores de serviço.

Clique aqui para ler mais detalhes sobre o Pacote aqui!

“Zumbi dos Palmares” no Fortnite: novo game permite que os jogadores lutem contra invasores no quilombo

0

A Pretahub, em parceria com a Salve Games, anunciou neste Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, a produção de “Zumbi dos Palmares”, seu primeiro jogo eletrônico. Com uma proposta decolonial, o game busca abordar a luta dos antepassados em prol de uma sociedade mais justa e igualitária, permitindo que os jogadores mergulhem em uma batalha intensa com os invasores, a fim de defenderem o território do Quilombo dos Palmares. A previsão é que o jogo esteja disponível ao público a partir de fevereiro de 2024.

Alexandre De Maio, diretor da Salve Games, explica que o desafio foi criado através da Unreal Editor for Fortnite (UEFN), uma aplicação inovadora que possibilita a criação, desenvolvimento  de mapas e publicação de jogos diretamente no Fortnite. “Mapeamos as dinâmicas, concentramos esforços e customizamos personagens NPC. Toda experiência seguiu as diretrizes do universo Fortnite, garantindo um acesso amplo e inclusivo para jogadores de todas as idades”.

O Fortnite é um jogo gratuito da Epic Games, e um dos mais famosos e influentes da indústria. O game está disponível para download grátis no PC, PS4, Xbox One, Nintendo Switch, e também no Android e iPhone (iOS).  

Além de contar com uma equipe de historiadores e roteiristas negros, os responsáveis foram até o Parque Palmares em Maceió, para simular cenas e construir falas. “Nós, brasileiros, estamos acostumados com narrativas de batalhas estrangeiras, como jogos de faroeste, guerras mundiais ou vikings. Contudo, temos pouco sobre as batalhas que fazem parte da nossa história e, por isso, tentamos construir um jogo que fosse não apenas divertido, mas também educativo. Acreditamos que ao utilizar a linguagem digital dos games, conseguiremos despertar nos jogadores o interesse pelos nossos heróis e pela nossa história, contada sob uma perspectiva decolonial”, comenta Alexandre. 

Segundo a Pesquisa Game Brasil (PGB), levantamento anual sobre o consumo de jogos eletrônicos no país, negros e mulheres são maioria entre gamers brasileiros, (54,1%) quando somados aqueles que afirmam ser pretos (12,7%) ou pardos (41,4%). Nesse ano, o destaque foi o engajamento, 82,1% consideram que jogar eletrônicos é uma das suas principais formas de diversão. Em relação à faixa etária, os dados reforçam que não há idade certa para jogar e que a atividade já está presente em praticamente todas as faixas etárias. O maior público possui entre 25 e 29 anos, com 16,2%. Jovens de 20 a 24 anos representam 15,1%; adultos de 30 a 34 anos compõem mais 16,1% dos jogadores brasileiros e pessoas com 35 a 39 anos representam 15,5%.

Adriana Barbosa, diretora-executiva da PretaHub e fundadora do Festival Feira Preta, conta que a ideia é trazer histórias reais de um povo escravizado. “O jogo é parte da estratégia de como podemos contar a história de Palmares. Esperamos que as pessoas aprendam sobre um período histórico pouco relatado no Brasil. O game tangibiliza a forma como podemos vivenciar na prática a comunicação ancestral. Queremos, através dele, contribuir com a educação antirracista”, afirma a executiva.

O lançamento está dentro do projeto Bioma Comunicação Ancestral, uma realização da PretaHub apoiada pela Fundação Ford, que visa criar uma comunidade de comunidaores e gerar conectividade entre profissionais e possíveis empregadores, além de conteúdos educativos a fim de uma transformação territorial que catalisa e conecta os criativos negros, indígenas, periféricos e LGBTQIAPN+ com o mercado de trabalho. 

Ainda no escopo de lançamento do trailer, no dia 30 de novembro será divulgada uma cartilha com dicas para educadores usarem o game dentro das escolas. Além de ações presenciais na primeira semana de dezembro em Manaus e Recife.

Mais de oito mil processos são motivados por racismo no ambiente de trabalho em quatro anos

0
Foto: Freepik

Neste dia 20 de novembro, celebrado o Dia da Consciência Negra, o momento sugere um dia mais constante para reflexão sobre o racismo na sociedade brasileira. Feriado em alguns estados e cidades brasileiras, a data tem por objetivo sensibilizar a população também sobre como o racismo prejudica os negros no trabalho, na educação e na vida em geral. 

Com relação ao ambiente de trabalho, o cenário não é nada favorável. Levantamento realizado pela empresa Data Lawyer demonstrou que entre 2018 e 2022, foram contabilizados mais de oito mil processos trabalhistas versando sobre violências racistas. A plataforma não identifica se a temática racial é ou não o principal assunto do processo trabalhista, mas já evidencia que há aumento considerável ao longo dos anos de ações que citam em suas petições iniciais termos como racismo, injúria racial, discriminação racial ou preconceito racial.

A sócia e advogada do LBS Advogadas e Advogados, Sarah Coly ressalta que é importante salientar “que na Justiça do Trabalho, o pedido feito por quem foi alvo de racismo é a indenização por dano moral, mas o mesmo processo pode incluir demais pedidos condenatórios próprios desse ramo do direito como pagamento de horas extras”, explica. 

Sarah Coly (Foto: Divulgação)

Racismo no trabalho é crime?

O racismo e a injúria são crimes e não precisam ocorrer de forma reiterada, basta somente um ato, fala ou conduta para que seja tipificado. Assim, diante de um crime ocorrido dentro do ambiente de trabalho, a vítima não deve se calar, pois somente com a denúncia podemos cobrar as autoridades competentes.

No ambiente de trabalho, as ações discriminatórias como o racismo podem ocorrer por meio do assédio moral. Neste caso, o indivíduo negro pode ser um alvo frequente de discriminação, em razão de compor um grupo marginalizado e discriminado socialmente, por exemplo.

No assédio moral, o trabalhador é exposto a situações abusivas, humilhantes e constrangedoras, criada à determinado indivíduo em seu ambiente de trabalho, de forma reiterada e contínua, no desempenho de suas funções, causando danos à dignidade, à integridade física, emocional e psíquica do indivíduo e colocando em risco o ambiente e as relações de trabalho e ao seu emprego.

A discriminação pode ocorrer também por meio do racismo recreativo, em que o uso de piadas e frases mal colocadas pode constranger a vítima em razão da cor de sua pele. Por exemplo, se referir ao cabelo de uma colega de trabalho negra como “ruim” ou duro”

“Analisando a conduta assediadora por uma perspectiva pluralizada e interseccional, é possível compreender que as relações de poder que envolvem raça, classe, nacionalidade e gênero, por exemplo, não se manifestam entes individuais e excludentes, pelo contrário, operam e prevalecem em unidade, maneira unificada, capazes de afetar todos os aspectos do convívio social, inclusive na seara do trabalho”, explica a advogada Sarah Coly. 

Sarah ainda reforça que “a discriminação racial pode ocorrer, inclusive, em processos seletivos quando a empresa deixa de selecionar ou sequer cogita funcionários negros para compor seu quadro funcional, baseados somente em pré-conceito”. 

Sete ações para denunciar racismo o trabalho

  1. Deixar claro que ficou incomodado e não está de acordo com a atitude/acontecimento;
  2. Anotar o ocorrido, e relatar em detalhes o fato à sua liderança e formalizando o que aconteceu;  
  3. Verificar se a empresa possui um Código de Conduta e fazer uma reclamação ao canal de denúncia da empresa;
  4. Comunicar à Diretoria de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas a qual você é vinculado;
  5. A denúncia também pode ocorrer diretamente no Ministério Público do Trabalho da sua localidade, inclusive via denúncia online; 
  6. Contatar o Sindicato para orientação jurídica, como lidar frente a esses abusos, denunciar a empresa ou o agressor;
  7. Recorrer a um advogado ou a um defensor público para viabilizar ações judiciais no âmbito cível, trabalhista ou criminal, a depender do ocorrido. 
error: Content is protected !!