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O caso Cláudia Ferreira: mais uma vez, vemos o processo de aniquilação de quem somos ou poderíamos ser

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Crédito: Kilomba Collective

Dez anos nos separa de um dos acontecimentos mais brutais da história da violência policial do Rio de Janeiro. Em 16 de março de 2014, Cláudia Silva Ferreira foi arrastada por 350 metros num carro da Polícia Militar, pelas ruas do bairro de Madureira, na Zona Norte carioca. Cláudia, mulher negra, tinha 38 anos, era auxiliar de serviços gerais, tinha filhos e um marido. Num domingo, ao sair de casa para comprar pão, foi atingida por dois tiros, por causa de confronto entre policiais e traficantes no Morro da Congonha. Após ter sido baleada ela foi colocada, pelos próprios policiais no carro oficial para ser socorrida no Hospital Estadual Carlos Chagas, contudo durante o percurso o compartimento da viatura abriu, Cláudia ficou pendurada por um tecido e foi arrastada, tendo sua pele dilacerada no asfalto. Mesmo sob o grito de alerta daqueles que viram a situação, os policiais não pararam. Essa brutalidade foi filmada por um cinegrafista amador e amplamente divulgada na mídia. Ela perdeu sua vida pelo Estado. 

Uma década após o crime teve um desfecho: a Justiça inocentou os policiais acusados, que respondiam por homicídio e por remover o corpo do local. O juiz Alexandre Abrahão Teixeira, do 3º Tribunal do Júri, concluiu que eles eram inocentes das acusações citadas. “Erro de execução” concluiu o juiz. Esta frase está ecoando na minha cabeça, assim como outros trechos de narrativas proferidas durante o julgamento. Voltaremos nelas daqui a pouco.  Antes disso vou levantar outras questões. 

Quantos metros e por quanto tempo um corpo de uma mulher negra pode ser arrastado? Porque alguns corpos são cuidados e acolhidos, enquanto outros são alvo das mais brutais violências? O que afinal é a Justiça? A Justiça tem uma cor? Não pretendo aqui responder sistematicamente essas questões, mas sim expor uma breve reflexão que passa por essas questões. 

Uma das provas usadas no processo criminal que trata este texto foi o laudo do Instituto Médico Legal, o documento conclui que a causa da morte foram os tiros e desse fato, o juiz Alexandre Abrahão afirmou que os agentes de segurança pública (os PMs) agiram em legítima defesa, uma vez que estavam em confronto com traficantes. O argumento supremo e muito antigo da guerra às drogas. “Diante do conjunto probatório existente nos autos, infere-se que os acusados agiram em legítima defesa” , conclui o juiz. 

Já sobre a retirada de Cláudia do local do crime, a Justiça entendeu que os policiais tiveram a intenção de socorrer. A Agência Brasil reproduziu algumas falas dos PMs, vou me concentrar numa, pois já será suficiente (e acredito que você irá concordar comigo). “No banco traseiro da viatura havia alguns armamentos. A população estava revoltada e tentou tomar para si as armas, bem como agredir os policiais. Como os agentes tinham que socorrer Cláudia, não houve tempo hábil para retirar as armas do banco. Em razão disso, eles a colocaram, dentro da caçapa da viatura”, afirmou Wagner Cristiano Moretzohn, o comandante do 9° Batalhão da Polícia Militar à época. No instante em que li este trecho do depoimento do comandante, meus olhos lacrimejaram e minha garganta doeu, eram os sinais do meu corpo ao imaginar e recriar a cena na minha mente.  

Crédito: Kilomba Collective

Acredito que você esteja desconfiado sobre o real motivo que guiou os vizinhos de Cláudia tentarem impedir que os policiais a levassem. O desespero sólido. A dor e a angústia dos filhos, que esperavam a sua mãe com os pães, no instante no qual souberam que ela poderia estar morta. 

Os representantes da Segurança Pùblica não cumprem com suas funções quando o sujeito é negro. Ao invés de proteger, promove a morte de certos grupos. Como argumenta o filósofo camaronês Achille Mbembe, existe uma estrutura de dominação muito atual que se fortalece e se renova cada vez mais e ela está disfarçada de soberania e da preservação da ordem social vigente, fornecendo ao Estado “autorização” para operar o direito de matar. Assim, o conceito de necropolítica de Mbembe explica os modos de dominação do Estado, e de que forma esse Estado promove a vida ou a morte a depender do grupo social. 

Não é exagero afirmar que o Brasil mata sistematicamente corpos negros. Promover segurança pública é um conjunto de ações de controle da criminalidade e da violência por meio do sistema da justiça, esse sistema é composto de entidades ligadas ao Poder Executivo e ao Judiciário, que trabalham em etapas relacionadas e contínuas de controle social que especificam o papel do Estado no cumprimento da ordem pública. Sendo representante do Estado nas ruas, o policial deve, de acordo com a lei, tratar os indivíduos sem distinção de classe, cor, gênero etc. Contudo, isso é só um sonho. No recorte racial, os negros são as maiores vítimas de violência policial. 

Para escrever este texto, precisei ler diversas matérias publicadas tanto em 2014 quanto aquelas que eram publicadas a partir das mudanças no processo criminal, como por exemplo, quando foi realizada a reconstituição do crime, ou mesmo nos momentos em que novas testemunhas eram ouvidas e por fim a divulgação da sentença de absolvição dos policiais envolvidos. No conjunto de notícias que li, notei novas mortes, pelo silenciamento do indivíduo enquanto sujeito ativo. O nome da vítima era substituído por “mulher arrastada”, ou em lugar do nome dela a utilização da palavra “corpo”. Não. Não foi um corpo colocado na viatura da polícia, mas sim a Cláudia com seu corpo negro e sua história. Mais uma vez, vemos o processo de aniquilação de quem somos ou poderíamos ser. 

A cada nova leitura ou finalização de um parágrafo eu lembrava do trabalho de mestrado da pesquisadora Amanda Quaresma de título Os corpos gritam para ninguém. O ponto inicial da autora foi o grupo documental de laudos produzidos pelo Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em Salvador, na Bahia. Sua pergunta central foi questionar: os laudos elaborados pelo Instituto Médico “permitem a construção de verdades que abranjam outras narrativas, que não as produzidas pelo Estado?” A pesquisa da Amanda Quaresma centrada no processo criminal da “chacina do Cabula” e seu resultado têm grandes contribuições para inúmeras reflexões, mas a que queria trazer aqui é uma das conclusões que ela chega: “todo o processo de produção de laudos periciais é permeado por um racismo antinegro, que valida narrativas e ficções de uma polícia que mata, enquanto apaga histórias de comunidades inteiras”.  

Por fim, gostaria de apontar uma última ideia: se a Cláudia fosse uma mulher branca, será que seria tratada da mesma forma pelo Estado?  Em março, mês marcado pela constituição do Dia Internacional das Mulheres, nós mulheres negras brasileiras, vimos e sentimos o desfecho cruel do crime que Cláudia foi vítima. Precisaria de mais um texto, ou talvez, muitos outros para continuar esta ideia. Mas como prometi que iria terminar, deixo a reflexão sobre os feminismos e suas histórias como movimentos políticos, para o outro momento. 

Edson Damazzo: o primeiro negro a coreografar uma série musical da Disney

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Foto: Divulgação

Passinho: O Ritmo dos Sonhos’, a nova série brasileira Disney+, apresentará o famoso passinho, dança originária do funk carioca que se popularizou em 2010. O responsável por assinar a direção de coreografia é o Edson Damazzo, mais conhecido como Bibiu, famoso por também ser o coreógrafo da cantora Ludmilla. Ele se tornou o negro a coreografar uma série musical da Disney.

Bibiu conta que ficou surpreso com o convite da produtora Boutique Filmes. “Eu achei que era furada, que deveria ser caô, porque não estava acreditando, ainda mais com o nome Disney, mas depois fui vendo que era verdade. E, claro, que aceitei de cara”.

Ele conta com uma equipe para montar as coreografias. “Junto comigo eu tenho um time muito forte. Como a série é sobre passinho, decidimos trazer pesos de nomes da cena para poder somar com o meu trabalho: VN trazendo toda a bagagem do passinho e a Celly como consultora. Então eu recebo a cena, o roteiro, dirijo os atores com a movimentação, intenções, tudo voltado para câmera, junto com as movimentações de passinho que o VN trás pra mim, e juntos montamos a cena”, diz Bibiu.

Edson Damazzo (Foto: Divulgação)

Com uma equipe majoritariamente negra no elenco e nos bastidores, Edson mostra sua felicidade com uma série sem estereótipos racistas. “Estamos falando de uma série musical histórica no Brasil. Primeiro que é a única produção atualmente que a Disney está fazendo. Temos um elenco 90% preto. Nossa equipe nos bastidores é formada por 90% de mulheres pretas, uma série da Disney no Brasil, falando sobre uma cultura periférica, onde o preto não está matando e nem roubando”, celebra. “Uma empresa que eu cresci vendo príncipe e princesas brancos, onde os protagonistas eram brancos. Essa série vai acender a chama de muitas crianças que vão se ver em lugar que não estão acostumadas”, completa.

Além disso, Edson também acredita que as pessoas negras e periféricas vão se sentir representadas e com esperança de sonhar sempre mais alto. “Vivemos em um racismo estrutural, onde você cresce sabendo que pra chegar lá, você vai ter que lutar dez vezes mais, ser forte, e muitos de nós desiste no meio do caminho, porque não tem muitas referências pretas que venceram. Então, chegou a hora de nos vermos em outros lugares, podemos sim ser protagonistas em uma série da Disney, temos talentos, temos histórias, nós existimos e resistimos”, reflete.

Dirigido por Jéssica Queiroz (Mila no Multiverso) e Marton Olympio (Anderson Spider Silva), as gravações da série ‘Passinho: O Ritmo dos Sonhos’ iniciaram no final de fevereiro e vão até abril. Serão sete episódios com cerca de 30 minutos. Ainda não há previsão de estreia.

Elenco da série Passinho: O Ritmo dos Sonhos (Foto: Alile Dara Onawale)

Mais sobre a série

‘Passinho: O Ritmo dos Sonhos’ conta a história de Mercedes (Giulie Oliveira), filha de bailarinos e apaixonada por dança, que tem o sonho de mostrar seu talento no Duelo do Passinho, importante competição interescolar deste movimento de dança, no Rio de Janeiro. Para isso, ela precisa participar de um grupo e, até então, a única saída seria entrar para o Bonde dos Brabos, os melhores dançarinos da escola e que sempre foram os únicos representantes, da instituição, no concurso.

Mercedes duela com Lucão (Fumassa Alves), o líder dos Brabos, mas apesar de ter vencido, não é aceita na equipe por ser menina. Essa é a gota d´água para ela montar seu próprio bonde e, com a ajuda de Dida (Digão Ribeiro), inspetor da escola, mas também um relíquia do Passinho, ela vai fazer de tudo para vencer a seletiva e representar a escola no, tão esperado, Duelo do Passinho. 

Outros grandes nomes estarão presentes na trama, entre eles: Duda Pimenta, Tatiana Tiburcio, André Ramiro, João Victor Menezes e João Gabriel D’Aleluia.

Carla Akotirene é confirmada como palestrante no TEDxSalvadorWomen

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Foto: Renner Boldrino

A escritora, doutora em estudos feministas e consultora em políticas públicas, Carla Akotirene é a segunda palestrante confirmada no TEDxSalvadorWomen, que acontece no dia 14 de maio, às 18h, no Teatro SESC Casa do Comércio. Os ingressos já estão à venda no site oficial do evento aqui.

Com o tema ‘TEDxSalvadorWomen: Delas’, promovendo a reunião de vozes de mulheres que fazem a diferença e gerando transformação na sociedade, a primeira edição do evento exclusivamente feminina convida para compartilhar suas experiências a baiana, que é militante acadêmica antirracista, com estudos concentrados no extermino de jovens negros, e tem sido uma importante voz no debate público sobre temas como feminismo negro, racismo estrutural, equidade de gênero e interseccionalidade.

Autora dos livros “O que é interseccionalidade?”, pela Coleção Feminismos Plurais, coordenada por Djamila Ribeiro, e “Ó Paí Prezada! Racismo e sexismo tomando bonde nas penitenciárias femininas de Salvador”, Akotirene lançou em fevereiro de 2024 a sua terceira produção, “É fragrante fojado dôtor vossa excelência”, abordando o racismo no sistema judicial.

A speaker soteropolitana é também idealizadora e coordenadora do curso de extensão da Opará Saberes, voltado à capacitação de candidaturas e ingresso de negras ao mestrado e doutorado em universidades públicas. 

Carla se une a primeira confirmada no TEDxSalvadorWomen, Jullie Dutra, jornalista e vencedora do quadro ‘Quem Quer Ser Um Milionário’, do programa Domingão com Huck.

‘Shirley Para Presidente’: Regina e Reina King falam sobre a recusa de uma mulher negra para presidência dos EUA: “Foi intimidante”

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Foto: Glen Wilson/Netflix © 2023

O filme ‘Shirley Para Presidente, estrelado por Regina King, estreou na Netflix nesta sexta-feira, 22. O longa acompanha a história de Shirley Chisholm (1924 – 2005), a primeira congressista negra eleita, que também se tornou a primeira mulher negra a se candidatar para a presidência dos Estados Unidos, pelo partido dos Democratas, em 1972.

Esta é a primeira vez que a vencedora do Oscar estrela um filme junto com a irmã Reina King. No elenco, elas interpretam as irmãs Shirley e Muriel St. Hill, vivendo conflito familiar devido a candidatura política. No entanto, em entrevista ao Mundo Negro com a editora Halitane Rocha, elas contaram como Muriel mudou o seu pensamento ao longo da campanha e como ela foi importante para a realização da cinebiografia.

Regina King como Shirley Chisholm (Foto: Glen Wilson/Netflix © 2023)

“Muriel foi uma grande apoiadora nos contando essa história. Infelizmente, ela não foi capaz de vê-la finalmente sendo divulgada ao mundo, mas ela tem sido uma grande apoiadora durante todo esse processo. A Reina e eu começamos a coletar informações para contar essa história há 15 anos, e eu diria que, talvez, 12 anos atrás, foi quando conseguimos entrar em contato com Muriel, e ela nos deu os direitos, o apoio e sempre nos ligava de Barbados. Ela estava orgulhosa de sua irmã”, conta Regina King.

Já Reina King, relata um processo difícil de aceitação não só de Muriel, mas de muitas mulheres negras, entre as décadas de 60 e 70, quando Shirley se candidatou para o Congresso e posteriormente à Presidência. “Em 1968, as mulheres deveriam estar em casa cozinhando e criando a família. Então, ver alguém naquele espaço, como a Shirley, foi intimidante. Não era a norma e o que era esperado. Acho que foi muito difícil para as mulheres entenderem o que precisava ser feito para fazer a mudança. E se elas tivessem realmente apoiado e dado apoio para Shirley, quanta diferença teria feito naquela época”, diz.

Reina King como Muriel St. Hill (Foto: Glen Wilson/Netflix © 2023)

“Mas acho que Muriel, só de ver sua irmã naquela campanha, e o que ela fez incansavelmente, foi além de qualquer escopo do que ela pensava que era possível e eu acho que isso a mudou, se transformou em um momento de muito orgulho para entender e realmente conhecer a irmã dela e o que ela representava para si mesma, para a comunidade, para as pessoas negras e pardas, para as pessoas menos afortunadas, que vieram de meios socioeconômicos mais baixos. Ela representava tantas coisas, que foi capaz de ser uma representante de pessoas que, de alguma forma, não tinham uma voz”, relata a atriz.

Até hoje, os Estados Unidos nunca elegeu uma mulher negra para a presidência. Para a Regina King, não apenas os norte-americanos, mas todo o mundo precisa melhorar a sua visão em relação às mulheres negras. “Eu acho que nós mulheres negras, somos o único grupo de pessoas que sempre nos dizem o quão fortes somos, mas nós somos um corpo de pessoas que parecem ser os mais desrespeitados, pelo menos dos meus 53 anos neste planeta, e uma experiência pessoal e também olhando para a experiência do país, a experiência mundial”, diz.

Apesar dos desafios, a atriz acredita que isso poderá acontecer. “É preciso mais do que apenas outras mulheres negras para tornar isso uma realidade. Mas só de ver a vice-presidente Kamala Harris se tornar uma companheira de chapa, se tornar uma vice-presidente, definitivamente dá uma esperança, ou mantém a esperança viva”.

Veja o trailer:

“A agenda 2030 defende a bandeira de Oxalá”, diz Benilda Brito 

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Benilda Brito, CEO da MUCUA e consultora da ONU Mulheres e do Pacto Global - Foto: Arquivo pessoal

A Agenda 2030, um plano global adotado pelas Nações Unidas em setembro de 2015, é composta por 17 “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS) e 169 metas interconectadas, com o propósito de promover ações para as pessoas, o planeta e a prosperidade, visando erradicar a pobreza e garantir paz e prosperidade para todos até 2030.

Durante a 68ª Sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres (CSW), realizada entre os dias 13 e 15 de março em Nova York, a Agenda 2030 foi um tema relevante, especialmente durante um evento sede do Pacto Global, focado nas mulheres negras. Sob o tema ‘Incidência das Mulheres Negras na Agenda 2030: Diálogos Transnacionais’, ativistas e intelectuais discutiram questões como imigração, situação das mulheres indígenas, ciganas e negras, além de crises políticas e ambientais urgentes.

Entre as presentes estavam Rachel Maia, Presidente do Conselho de Administração do Pacto Global da ONU – Rede Brasil (TBC); Verônica Vassalo, Gerente de Diversidade, Equidade e Inclusão do Pacto Global da ONU – Rede Brasil; Giselle dos Anjos, pesquisadora do CEERT e especialista em interseccionalidades; Benilda Brito, CEO da MUCUA e consultora da ONU Mulheres e do Pacto Global para fortalecimento das capacidades das empresas signatárias dos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs) para enfrentar o Racismo Estrutural, na perspectiva intersetorial, Edilza Sotero, pesquisadora do CEERT e professora da Universidade Federal da Bahia; Keisha-Khan Y. Perry, professora na University of Pennsylvania, EUA e Paola Yañez Inofuentes, coordenadora geral da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas e da diáspora.

Uma das falas mais focadas na agenda 2030 foi de Benilda Brito. Ela fez uma conexão entre os objetivos da agenda e a ancestralidade das religiões de matriz africana, trazendo para a mesa do Pacto Global a lembrança de Oxalá: “Ele é o orixá da paz. Aquele que não é homem nem mulher. Ele é equilibrado. Um dos nossos pontos aqui é a Agenda 2030. Dos cinco P’s que a Agenda 2030 defende, um deles é a bandeira de Oxalá: Pessoa, planeta, prosperidade, parceria e paz. Ela complementa: “Para a gente aqui é sobre os direitos, sobre as bandeiras que a agenda 2030 chama como indivisíveis, universais e integradas. Tem que ter uma harmonia dos cinco P’s. “

Sobre a situação do país, Benilda acredita que o Brasil está de mal a pior. Ela cita os “ODS” – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – e acredita que a iniciativa privada precisa ser mais participativa para a implementação da agenda 2030. “Eu tenho alguns ODS para gente tentar ver como todos eles interferem diretamente na vida de nosso povo preto brasileiro, principalmente de mulheres negras. Nós temos os dados, repertório e argumentos. O problema é que a gente vai ter que verdadeiramente encarar os racismos. Quem tem o poder da caneta e ainda não é um nosso, vai ter que ser mais corajoso.” Ela disse ainda que esses executivos precisam sair dos três C’s que seriam “conveniência, constrangimento e convencimento”.

Benilda lembrou de vários crimes recentes contra mulheres e crianças negras. “Só na Grande Rio, 650 crianças e adolescentes foram assassinados no Brasil. Nós estamos falando aqui que a gente está vivendo um processo genocídio. Como está a saúde mental dessa mãe, dessa mulher negra?”.

A intelectual também explica o conceito de “cuidadania”, que para ela, é uma grande carência nacional. “Significa acesso aos direitos humanos, significa acesso a políticas públicas, significa a possibilidade de mudança de desigualdade, significa romper com o silêncio histórico do epistemicídio que mantém essa desigualdade histórica e que a gente não sai do lugar. Nós estamos tentando muitas estratégias de sobrevivência. Eu fico pensando assim, como é que a gente consegue fazer uma discussão do Brasil descolada de gênero e raça?”.

Ela conclui trazendo uma contextualização histórica sobre ESG. “Ele nasce em 1950, na África do Sul, quando investidores internacionais romperam o financiamento de empresas que apoiavam o apartheid. Kofi Annan, na década de 90, vai trazer este conceito para ONU, mas isso já nasce na África do Sul. O corporativo tem que se movimentar, tem que tomar partido, não existe neutralidade na discussão racial”.

Dona do sucesso ‘Water’, Tyla quer mostrar ao mundo a força do ritmo amapiano com seu novo álbum

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Foto: Divulgação.

A cantora sul-africana Tyla, de apenas 22 anos, entregou um dos maiores sucessos do último ano: ‘Water’. A música se tornou um enorme hit viral nas redes sociais e conquistou milhões de pessoas. Agora, a artista, que foi confirmada no Rock In Rio 2024, quer mostrar ao mundo a força do amapiano com seu primeiro álbum de estúdio.

O amapiano é um ritmo característico da África do Sul, que é como um híbrido da house music, mas que incorpora elementos do jazz, lounge music e kwaito. Ao longo de 15 faixas do álbum auto-intitulado, Tyla mostra a versatilidade de sua produção enquanto incorpora elementos de pop e R&B.

“Tenho uma abordagem pop e R&B, que é o diferencial do meu amapiano. Adoro adicionar canto e grandeza às músicas, em termos de produção”, disse Tyla para o GRAMMYS. “O amapiano e os afrobeats sempre fazem as pessoas se movimentarem. Isso é algo que adoro incorporar na minha música. Se não na produção, está na maneira como canto, nos meus improvisos ou nas gírias que uso. Eu sempre adoro ter um pedaço de casa em cada música”.

“Quando ouço o álbum, estou tão orgulhosa dele”, disse Tyla à Rolling Stone na semana passada. “Só vejo nosso som indo tão longe: a cultura, as palavras, a gíria. Mesmo só Joburg – o pensamento de pessoas agora cantando sobre Joburg.”

Taxa de analfabetismo entre negros é duas vezes maior que entre brancos, diz IBGE

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Foto: Freepik

A Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios, anunciada pelo IBGE nesta sexta-feira, 22 de março, revelou que a taxa de analfabetismo afeta o dobro de negros do que de brancos no Brasil. Atualmente, o analfabetismo impacta 7,1% dos negros (pretos e pardos) e 3,2% dos brancos. Os números, reflexos das desigualdades históricas e sistêmicas que afetam negros no Brasil, se referem a pessoas que não sabem ler ou escrever.

Apesar da alta taxa entre negros, o número apresentou queda se comparado ao ano de 2016, quando a porcentagem era de 9,1%. A região nordeste é a que apresenta o maior número de analfabetos (11,2%), seguido pelo norte (6,4%), centro-oeste (3,7%), sudeste (2,9%) e sul (2,8%).

A educação é um direito humano básico e um motor indispensável para a construção de uma sociedade mais justa. Confrontar o analfabetismo é essencial não apenas para o desenvolvimento individual, mas como um pilar fundamental para o progresso social, econômico e democrático do Brasil.

Gilberto Gil, BaianaSystem, SZA, e mais: Confira os artistas negros que se apresentarão no Lollapalooza 2024

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Foto: Matheus José Maria.

A 11ª edição do Lollapalooza Brasil começa nesta sexta-feira, 22 de março e vai até o domingo, 24, em São Paulo. Este ano, SZA Gilberto Gil aparecem entre os artistas principais do evento. Além deles, BaianaSystem promete levar toda sua energia baiana para o Autódromo de Interlagos. Outros artistas como Tulipa RuizJessie ReyezXamãKevin O Chris e MC Soffia também estão entre os confirmados.

Confira o cronograma dos artistas negros no Lollapalooza Brasil 2024, abaixo:

Sexta-feira, 22 de março

Dexter 8º Anjo (14h45 às 15h45)

Marcelo D2 (16H55 às 17h55)

BaianaSystem (19h05 às 20h05)

Sábado, 23 de março

Tulipa Ruiz (13h05 às 13h50)

BK (14h35 às 15h30)

Jessie Reyez (16h40 às 17h40)

MC Luanna (13h50 às 14h35)

Kevin O Chris (18h50 às 19h50)

Domingo, 24 de março

SZA (21h30 às 22h45)

Gilberto Gil (17h45 às 18h45)

Rael (16h40 às 17h40)

MC Soffia (13h às 13h45)

Vulgo FK + Dricka (14h às 15h)

Livinho + MC Davi (16h45 às 17h45)

É possível assistir o Lollapalooza Brasil 2024 através dos canais Multishow, BIS e através da plataforma Globoplay. A TV Globo vai mostrar os melhores momentos do festival a partir das 00h:30.

“Rota dos AfroSabores” promove imersão nas tradições culinárias afro-brasileiras, em São Paulo

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Foto: Vitoria Leona

O projeto “Rota dos AfroSabores”, da pesquisadora Patty Durães, que iniciou ontem, 21, promoverá uma imersão nas tradições culinárias afro-brasileiras com oficinas e aulas-show no Sesc 14 Bis, na Bela Vista, em São Paulo, até o dia 30 de março. São encontros independentes, às quintas (noite) e aos sábados (manhãs), com o objetivo de proporcionar uma jornada educacional explorando as tradições, culinárias e saberes das comunidades afrodescendentes brasileiras. 

No segundo dia, que será realizado neste sábado, 23, será uma aula-show com degustação, abordando a rota de insumos afrodiaspóricos para as Américas por meio da produção de uma moqueca de legumes com dendê e leite de coco. Já o terceiro encontro, no dia 28, será uma oficina propondo uma perspectiva transformadora sobre como consumimos, nos alimentamos e descartamos alimentos, buscando decolonizar nossos hábitos.

Fechando o ciclo, o quarto encontro será uma aula-show no dia 30, cozinhando e desgustando o Maafe, prato tradicional africano, um guisado espesso geralmente feito com carne, legumes e amendoim. A ideia é questionar a naturalidade com que comemos strogonoff, mas desconhecemos um prato que inspira o xinxim de galinha dos baianos.

O ciclo será ministrado por Patty Durães, pesquisadora especializada nas heranças afrodiaspóricas na culinária brasileira, intermediadora de projetos para a Cia das Letras e coordenadora pedagógica da escola Gastronomia Periférica.

Programação

2º encontro: Aula-show “O dia em que o quiabo encontrou o dendê e o coco” (23/3, sábado, das 11h30 às 13h30)
3º encontro: Oficina “AfroSaber na cozinha: já pensou em começar a cozinhar?” (Dia 28/3, quinta, das 18h30 às 20h)
4º encontro: Aula-show “AfroSabor: a cremosidade do amendoim” (Dia 30/3, sábado, das 11h30 às 13h30)

Serviço

Sesc 14 Bis (r. Dr. Plínio Barreto, 285) 
Convivência – 1º andar
Gratuito. Ações de quinta-feira: 40 vagas; ações de sábado: 50 vagas. Distribuição de senhas e pulseirinha uma hora antes do início da atividade.
A partir de 12 anos

Plataforma vai incluir empreendedores negros dentro da cadeia de fornecedores das maiores empresas do país

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Foto: Cléo Martins

Nenhuma empresa sobrevive sem uma rede de clientes. Quando falamos de afroempreendedores, a falta de acesso ao crédito, capacitação, treinamento e networking são fatores que distanciam esses empresários dos grandes clientes.

A diversidade na cadeia de fornecedores não é algo novo e é uma movimentação necessária do meio corporativo para trazer para os empreendedores o mesmo foco de diversidade investido em programas de contratação com foco em profissionais negros.

Uma nova plataforma criada pelo Mover, uma associação sem fins lucrativos com foco na inclusão racial, promete levar a diversidade na cadeia de fornecedores para outro patamar. A Plataforma de Fornecedores Negros, lançada nesta semana em São Paulo, pretende ser um caminho possível para empreendedores negros alcançarem grandes clientes. Mais de 30 mil negócios já estão cadastrados e a meta é chegar a 200 mil nos próximos 6 anos.

“Esse projeto tem o objetivo justamente de pegar o pequeno empreendedor e olhar para as oportunidades que ele ainda tem e dizer: ‘Olha, se é isso aqui que te falta, vamos ajudar a construir isso que te falta. E aí ele se sentirá apto para poder fornecer. E nós, por outro lado, também queremos mostrar para as empresas: ‘Olha, aqui tem um pequeno fornecedor que está apto para te atender, porque ele já passou por XYZ de desenvolvimento que disponibilizamos na plataforma’. Para isso, teremos parcerias com o Senai, Preta Hub, entre outros, para garantir o desenvolvimento desses fornecedores pretos”, explica Luciene Rodrigues, Gerente de Relações Institucionais do Mover.

ENEGRECENDO A CADEIA DE FORNECEDORES

“A pauta da diversidade na cadeia de fornecedores, na cadeia de valor, é uma pauta bastante quente, é uma das pautas que dentro da comunidade do Mover mais mobiliza. Somos 50 empresas associadas, fizemos uma apresentação para falar sobre o assunto e tivemos mais de 80 pessoas dentro da apresentação, com praticamente todas as empresas representadas, com inscrição voluntária, porque as pessoas querem saber como fazer isso acontecer. Já é uma pauta que está sendo trabalhada”, detalha Fernando Soares, Gerente de Projetos do Mover.

Ele explica que algumas das 50 empresas signatárias da associação já incluíram a diversidade racial na escolha de empresas parceiras. “A Ambev já começou esse trabalho. A Mondelez também faz um trabalho muito bonito. A L’Oréal também e essas empresas, o que é uma vantagem do Mover, ensinam as outras empresas com base no que elas já fizeram, o que deu certo, o que deu errado, para acelerar o aprendizado. Você vê uma generosidade impressionante em compartilhar estratégia, porque não existe competitividade quando falamos de impacto”.

Michele França, Diretora de Diversidade e Inclusão e Saúde Mental da América do Sul na Ambev, compartilhou insights sobre a experiência da empresa ao selecionar fornecedores diversos. Ela destacou um desafio frequente para aqueles que estão começando a trabalhar com grandes empresas: “Como faço para navegar em um sistema? Qual é o prazo de pagamento? Sabemos que há espaço para melhorias nesse aspecto. É por isso que estamos colaborando com o Mover para buscar soluções conjuntas.”

ENVOLVIMENTO DAS GRANDES LIDERANÇAS

Do lado da comunidade negra é inegável o desejo e engajamento para participar da plataforma, mas e o outro lado? Como convencer grandes empresas a contratarem empreendedores negros?

“A nossa sensibilização passa pela parte soft e pela parte hard, digamos assim. Temos esse canal aberto com a autoliderança, então vamos cada vez mais reforçar esse tema junto aos CEOs que já estão muito comprados na ideia, mas também pela cúpula da gestão de contas nessa empresa, que temos todo um trabalho de aproximação a informação, letramento, sensibilização e mostrar os caminhos possíveis disso. E por outro lado, também de como que conseguimos criar na parte de hard, melhores práticas, um ferramental, guias, para que a empresa seja de fato inclusiva. Vou dar um exemplo, pagar em 180 dias uma pequena empresa negra não é uma prática inclusiva. Então, como isso tudo precisa ser revisto e adaptado”, diz Natália Paiva, Diretora Executiva do Mover.

Natália ainda detalha que a intenção é segmentar as empresas de acordo com seu nível de maturidade e oferecer trilhas de formação e capacitação adaptadas a cada uma. Já foram estabelecidas parcerias com organizações como o Sebrae para desenvolver essas trilhas com base no nível de maturidade de cada empresa. A plataforma visa oferecer uma ampla variedade de serviços e fornecedores, desde aqueles de menor valor agregado até serviços altamente especializados. “Na verdade, já existem serviços altamente especializados disponíveis na plataforma. Sabemos que o mundo do empreendedorismo pode ser intimidador, mas a ideia é atender às necessidades dos pequenos empresários. Mesmo que seja necessário formalizar o negócio, queremos fornecer orientações para que possam iniciar suas jornadas com segurança”, finaliza a Diretora.

O endereço da plataforma: mover.empreendedores.com.br

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