Em meio ao intenso combate aos incêndios florestais que avançam em várias regiões do Brasil, uma força essencial se destaca: mais de 70% dos brigadistas mobilizados para essa tarefa perigosa são indígenas e quilombolas. Essa composição, segundo o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, é uma vantagem estratégica na luta contra as queimadas, já que o conhecimento profundo que esses grupos possuem sobre o território tem se mostrado crucial.
“Hoje, 50% dos brigadistas que atuam no Brasil são indígenas e 20% são quilombolas, o que facilita muito o deslocamento deles pelas florestas”, destacou Agostinho, em entrevista à coluna de Miriam Leitão no O Globo. Ele explicou que, ao contrário dos bombeiros urbanos, que têm uma formação focada em resgates e operações de combate ao fogo em áreas urbanizadas, os brigadistas indígenas e quilombolas trazem uma expertise inigualável na navegação e proteção das áreas de floresta, algo essencial para as operações em áreas remotas e de difícil acesso.
A força de trabalho, que inclui 3.245 brigadistas no total, enfrenta desafios gigantescos com 700 fiscais, 1.100 viaturas, 22 aeronaves e 40 embarcações simultâneas mobilizadas por todo o país. Mesmo com essa estrutura robusta, o presidente do Ibama reconhece que o risco de morte e acidentes é elevado. Um exemplo trágico ocorreu recentemente, com a descoberta do corpo carbonizado de um jovem brigadista de 26 anos na Chapada dos Guimarães (MT), o que reforça o perigo constante dessa missão.
Além do risco, outro fator que impede a ampliação rápida do número de brigadistas é a necessidade de treinamento especializado, enfatizou Agostinho. “Eu não posso colocar uma pessoa sem experiência para fazer isso. É um serviço super perigoso”, disse, explicando que é fundamental garantir que os brigadistas estejam bem preparados para enfrentar a complexidade das queimadas.
A Globo foi condenada a pagar uma indenização de R$ 10 mil ao músico Paulo Roberto da Rocha Gama, conhecido como Da Ghama, um dos fundadores da banda Cidade Negra, após perder um processo movido por ele no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). A decisão, proferida pelo juiz Rafael Vieira Patara, da 3ª Vara Cível do TJ-SP, ainda cabe recurso.
De acordo com Gabriel Vaquer, colunista do jornal Folha de S. Paulo, que teve acesso aos documentos, o processo teve início em 2022, quando uma reportagem exibida pelo Fantástico e replicada nos veículos digitais da emissora trouxe acusações feitas por Toni Garrido e Bino Farias, integrantes da Cidade Negra, contra Da Ghama. Na matéria, Da Ghama foi acusado de tentar subornar uma gravadora para incluir suas músicas em trilhas de novelas de diversas emissoras, além de ser alvo de alegações de que ele teria excluído os coautores Bino e Toni das composições, creditando-as apenas a si.
Da Ghama processou tanto a Globo quanto seus ex-colegas de banda. No entanto, Bino e Toni alegaram não ter responsabilidade sobre as acusações, afirmando que a emissora foi a única responsável pela divulgação das informações. O juiz Rafael Patara considerou Bino e Toni inocentes, mas condenou a Globo por não verificar devidamente as informações antes de publicá-las.
“A empresa não agiu com a devida cautela, ofendendo a honra do autor, pois veiculou reportagem sem a devida comprovação da veracidade da informação noticiada, agiu negligentemente”, escreveu o magistrado na sentença.
Além da indenização por danos morais, o juiz determinou que a Globo retire a reportagem das plataformas digitais. Procurada, a emissora informou que não comenta processos judiciais e já recorreu da decisão.
Da Ghama foi um dos fundadores da Cidade Negra, em 1986, e deixou a banda em 2008 após divergências com Toni Garrido, atual vocalista, e outros integrantes. Em 2019, o músico tentou registrar a marca “Cidade Negra” no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), mas teve seu pedido negado, uma vez que Toni Garrido já detinha os direitos sobre o nome. Desde então, Da Ghama formou o projeto Originais Cidade ao lado de ex-membros da banda, como o vocalista Ras Bernardo e o baterista Lazão.
Pesquisa mostra que 21% dos docentes autodeclarados brancos dizem não saber como lidar com situações de discriminação racial
Em janeiro de 2003, tornava-se obrigatória a inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira no currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio, em escolas públicas e particulares do país. A Lei 10.639 alterava a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) ao entender a necessidade de incorporar a contribuição do povo negro na formação da sociedade brasileira.
Diferentemente da ênfase eurocêntrica que sempre dominou os livros didáticos – nos quais, por anos, a história de mulheres e homens negros pareceu ter seu prefácio escrito apenas durante o período colonial, com a escravização do povo africano – a determinação de 2003 se somou a outras políticas públicas voltadas à valorização da África, de seus descendentes, cultura e feitos.
Segundo, a Folha de S. Paulo, uma pesquisa feita pelo Equidade.Info, iniciativa do Lemann Center da Stanford Graduate School of Education, mostra que 54% dos professores de educação básica reconhecem casos de discriminação racial entre estudantes.
A investigação foi realizada nos meses de abril e maio deste ano em 160 escolas públicas e privadas de todas as regiões do país, entrevistando 2.889 alunos, 373 professores e 222 gestores. O estudo é resultado de uma colaboração com a Fundação Itaú.
Os dados revelam uma diferença na percepção dos professores sobre a ocorrência de racismo no ambiente escolar. Entre os docentes que se autodeclaram brancos, 48% relataram ter presenciado casos de discriminação racial. Já entre os professores negros, esse número aumenta para 56%.
Essa diferença também é observada entre os estudantes. Enquanto 8% dos alunos brancos afirmam que colegas negros não são respeitados em relação ao fenótipo, entre os estudantes negros essa percepção aumenta para 13%.
Outro dado do estudo mostra que 21% dos professores brancos disseram não saber o que fazer em casos de racismo dentro da escola. Entre os docentes negros, esse número cai para 9%.
Este tema é extremamente importante dentro dos ambientes de ensino, já que este está no topo da lista de locais onde os brasileiros afirmam sofrer violência racial.
Muitos jovens em especial negros e periféricos, abandonam a escola por não se sentirem pertencentes a ela, se pensarmos em uma educação que enfrente este racismo estrutural, a escola ajuda a criar narrativas e valorização.
O que podemos fazer? O envolvimento das famílias com as rotinas da escola é muito importante para o fortalecimento de um ensino antirracista. Quando se fala de educação, os ambientes escolar e doméstico se complementam e, por isso, quanto mais envolvidos com o dia a dia dos jovens, mais benefícios todos colhem, para além de criarmos agendas que antirracistas que questionem o racismo estrutural, o privilégio branco, precisamos ter agendas efetivas públicas, obrigatórias e acompanhadas de enfrentamento ao racismo.
O rapper Projota, compartilhou nas redes sociais detalhes sobre o assalto que sofreu em sua residência, em Cotia, na Grande São Paulo, na madrugada de terça-feira, 17. Em um vídeo publicado, o músico relatou a angústia de ter sido feito refém por quatro criminosos armados enquanto estava em casa com seus filhos pequenos.
“Homens invadiram a minha casa, me amarraram e assaltaram a minha residência. Eu estava com meus filhos, o que deixou tudo mais pesado (…), todos sabem como sou apegado a eles”, desabafou o cantor.
Projota explicou que, no momento do assalto, seus filhos estavam dormindo em um quarto, e que sua principal preocupação era a segurança das crianças. “O medo total era de eles fazerem algum mal pros meus filhos. Eu disse: ‘por favor, deixa eles lá. Eles estão dormindo'”, relatou emocionado.
Apesar de os assaltantes afirmarem que não fariam mal à família, o músico temeu pela vida dos filhos quando os criminosos passaram a exigir dinheiro, joias e ouro. “Eu comecei a ficar com medo porque eles estavam procurando coisas que eu nunca tive em casa (…) tive medo de eles usarem meus filhos pra arrancar alguma informação”, explicou.
Projota contou que ficou amarrado enquanto os assaltantes reviravam sua casa em busca de um cofre inexistente. No final, os criminosos conseguiram acessar suas contas bancárias e levaram uma quantia significativa de dinheiro. “Perdi uma grana (…) mas, perante o perigo da vida dos meus filhos, pensei: ‘só leva, mano'”, disse.
Após o ataque, os suspeitos fugiram com o carro do rapper, um Subaru WRX 2.0, que foi encontrado pela Guarda Municipal na manhã seguinte. O caso segue sob investigação no 2º Distrito Policial de Cotia.
O Superior Tribunal de Justiça decidiu suspender a ação trabalhista que condenou Sari Corte Real e o ex-prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker, a pagarem uma indenização de R$ 1 milhão por danos morais à família do menino Miguel Otávio, de 5 anos, que morreu ao cair do 9º andar do prédio onde o casal morava, no Recife, em junho de 2020. O texto foi divulgado nesta quarta-feira, 18, no site do STJ.
A decisão do ministro Marco Aurélio Bellizze considera que o pedido de danos morais não “está diretamente relacionado ao contrato de trabalho entre a mãe do menino e sua ex-empregadora, Sari Corte Real, afetando a competência para o caso”. O processo foi inicialmente conduzido na Justiça do Trabalho e, após uma série de recursos, chegou às instâncias judiciais superiores.
Mirtes Renata Santana, mãe da criança e responsável por mover a ação, disse ao g1 que vai recorrer. “Eles querem, de qualquer forma, dizer que a Justiça do Trabalho não é competente para julgar a morte do meu filho, dizendo que o mesmo objeto da ação trabalhista em relação à indenização é a mesma da ação cível. Mas não é a mesma coisa. Há objetos diferentes em ambos os processos”, afirmou.
A defesa de Sari também comentou sobre o caso. “A decisão do STJ é técnica e coerente, na medida em que já sinaliza que o foro cível é o competente. Vamos aguardar o desenvolver dos demais processos e continuar defendendo nossa cliente até as últimas instâncias, pois confiamos no poder judiciário”, disse o advogado Danilo Heber Gomes.
Mirtes pedia mais de R$ 1 milhão, como forma de reparação pela morte do Miguel e destacando que ela e a avó do menino, Marta Maria, continuaram trabalhando como empregadas domésticas na casa dos ex-patrões no período mais restritivo da pandemia de Covid-19.
Na primeira instância, o valor pedido pela indenização foi estabelecido em R$ 2 milhões, porém, em maio deste ano, a Justiça reduziu o valor pela metade, a serem pagos para a família.
“Um dos objetos da reclamação trabalhista, especificamente sobre a indenização por danos morais decorrente da morte da criança, não está relacionado ao contrato de trabalho em si, ainda que, no momento do fato danoso, existisse uma relação trabalhista entre as partes, de maneira que, a princípio, a competência seria da Justiça comum, motivo pelo qual se mostra prudente o sobrestamento da reclamação trabalhista”, afirmou Bellizze.
Relembre o caso
No dia 2 de junho de 2020, Miguel Otávio Santana da Silva, de apenas 5 anos, morreu ao cair do 9º andar do Condomínio de luxo Pier Maurício de Nassau, em Recife, onde morava o casal Corte Real, patrões de Mirtes e Marta.
No momento do acontecido, a mãe de Miguel tinha ido passear com a cadela da patroa, Sarí, enquanto ela estava responsável pelo menino. Sarí deixou o menino entrar no elevador do prédio e ainda apertou os botões. Miguel estava procurando a mãe quando caiu do nono andar.
Com a presença de embaixadores, diretores e influenciadores, o evento ocorreu na sede do Rio de Janeiro, na região da Pequena África, nesta terça-feira, 17 de setembro.
Em comemoração aos 65 anos de atuação no Brasil, o Grupo L’Oréal realizou nesta terça-feira (17) um evento para reafirmar seus valores e objetivos na indústria da beleza. Com a presença de embaixadores, influenciadores e do público em geral na sede do Rio de Janeiro, localizada na região conhecida como “Pequena África”, a marca destacou que o futuro da beleza está na diversidade e na inclusão.
O evento contou com painéis que abordaram impacto social e transformação local. Marcelo Zimet, presidente do Grupo L’Oréal no Brasil, que abriu a cerimônia, ressaltou que são esses pilares que tocam a vida e a beleza plural dos brasileiros, promovendo um crescimento sustentável.
“Para a L’Oréal, é visível que a diversidade está presente no nosso dia a dia, começando pelo endereço que escolhemos para a sede no Rio de Janeiro, em um bairro histórico para a população negra. Por essa razão, a maximização dessas frentes inclusivas é um compromisso que recebe a devida atenção. Acreditamos que o futuro será liderado por países que possuem e investem nessa potência de pluralidade”, destacou Marcelo.
Marcelo Zimet, presidente do Grupo L’Oréal no Brasil reafirma o compromisso com a diversidade no futuro da beleza. Crédito: Maycon Sobral/Mundo Negro
Feirão de Oportunidades: empregabilidade e inclusão
O impacto social é um fator determinante que guia o discurso e as ações da empresa, tanto interna quanto externamente. Durante o evento, a L’Oréal promoveu uma “Feira de Oportunidades” em frente à sede, oferecendo mais de 10 mil vagas de emprego e cursos de profissionalização em parceria com outras empresas. Mesmo com a chuva no início da manhã, centenas de pessoas compareceram em busca de recolocação profissional ou da primeira oportunidade de emprego.
Segundo Zimet, a iniciativa, em parceria com o Movimento Pela Equidade Racial (Mover), Light, Americanas, Hortifruti Natural da Terra, Grupo Cataratas, CCR Barcas, VLT Carioca, MetrôRio, CIEE, Águas do Rio e Fundação Darcy Vargas, visa impulsionar a economia local. A ação busca reverter um cenário preocupante no Brasil, onde mais de 5,4 milhões de jovens de 14 a 24 anos não estudam nem trabalham, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Nesse contexto de capacitação e oportunidades, o projeto “Por um Fio”, da ONG Providenciando a Favor da Vida, é um dos parceiros do Grupo L’Oréal no Brasil presentes no evento. Localizada no Morro da Providência, a iniciativa qualifica mulheres nas áreas de costura e massoterapia, atendendo mais de 80 mães solo na favela da região central.
A parceria entre L’Oréal Brasil e a ONG Providenciando a Favor da Vida é uma das ações que impactam socialmente no Morro da Providência. Crédito: Maycon Cabral/Mundo Negro
Raquel Spinelli, fundadora da ONG, destaca os frutos dessa parceria que se iniciou durante a pandemia, possibilitando a criação do “Por um Fio”. “Esse é um projeto que cuida, resgata e empodera essas mulheres que são de favela. Isso também é beleza”, afirma Raquel.
Pluralidade: reflexões da carta-manifesto sobre 65 Anos de L’Oréal
A beleza como resgate da ancestralidade negra e empoderamento feminino também foi evidenciada na carta-manifesto de 65 anos do grupo. De acordo com dados da empresa, mais de 20% das pessoas em cargos de liderança se autodeclaram negras. Lida pela voz de Taís Araújo, embaixadora de L’Oréal Paris há 15 anos, a carta destaca a pluralidade brasileira e o compromisso do Grupo L’Oréal no Brasil com a empregabilidade e a qualificação de pessoas com deficiência, negras, jovens e mulheres.
“Uma palavra que dá nome a uma coisa. Coisa subjetiva. Abstrata. Ninguém sabe explicar exatamente o que é a beleza, mas sabe sentir. Sabe celebrar, sabe cuidar. E é exatamente isso que o Grupo L’Oréal faz há 65 anos no Brasil. Cria, move, cuida e traz toda a inovação para as belezas desse país. Sim, belezas, porque a beleza brasileira é substantivo, mas não é singular e plural. É diversa, múltipla, de muitas formas e cores, com muitas histórias. E em cada história dessas belezas tem uma parte da história do Grupo L’Oréal no Brasil. O Grupo L’Oréal, no Brasil há 65 anos na história de todas as belezas brasileiras”, aponta o manifesto.
No painel sobre a história das belezas brasileiras, Taís Araújo revisitou o início de sua trajetória como modelo e atriz. Emocionada com a presença plural do público, ela destacou que hoje é possível enxergar a diversidade nos jornais, novelas, teatros e nos bastidores do mundo da moda, como o setor de marketing.
“É uma luta que enfrento desde o início, lá quando era modelo com 13 anos. O mercado da beleza não enxergava a gente, mas nós sempre consumimos os produtos e roupas mesmo assim, seja em forma de autoestima, de protesto ou de qualquer outra coisa”, comenta Taís, que foi a terceira mulher negra a protagonizar uma telenovela no Brasil em “Xica da Silva” (1996).
Ela também ressaltou que a parceria com a L’Oréal sempre contou com esse desejo de transformação. Em suas primeiras aparições, já era possível notar a imagem do cabelo crespo, algo que não era bem-visto nas propagandas da época.
Empregabilidade e diversidade marcam os próximos passos da L’Oréal Brasil
Um futuro mais diverso e inclusivo é construído com ações no presente, é o que indica o discurso de Helen Pedroso, diretora de Responsabilidade Corporativa e Direitos Humanos, que destacou a importância da contratação de jovens negros, mulheres e pessoas com deficiência. De acordo com ela, que é a primeira mulher negra a compôr um cargo de diretora no grupo L’Oréal Brasil, essa ação inclusiva tem que ser contínua. “Há um incentivo interno e externo para ações que geram empregabilidade”, afirmou a primeira mulher negra na diretoria do grupo.
A celebração de 65 anos da empresa foi marcada por uma beleza inclusiva, diversa e negra. Crédito: Maycon Cabral/Mundo Negro
Essa virtude da marca é também um objetivo para quem prospecta os próximos passos da empresa, como Eduardo Paiva, Head de Diversidade, Equidade e Inclusão do grupo. Ele ressaltou que os pilares da L’Oréal também abordam território, sexualidade e classe social, influenciando o que é considerado “beleza”. “É necessário criar um conceito de futuro e beleza sustentável de forma diversa e autoafirmativa. Por isso, investimos em um programa de aceleração profissional para criadores negros de conteúdo, que já formou a primeira turma de influenciadores”, explica Paiva.
O programa “Beleza Mais Diversa” é uma iniciativa que evidencia os objetivos de representatividade e profissionalização da marca, tendo envolvido mais de 50 criadores de conteúdo negros no país.
A exposição e o encontro musical encerraram a celebração
O evento também destacou o lado artístico e cultural, intrinsecamente conectado ao universo da moda e da beleza. A exposição “Nós Mesmas”, com apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro e do Instituto Pretos Novos, apresentou obras de artistas como Carla dos Santos, Landara Marcele, Monique Ribeiro, Yanam Queiroz, Veridiane Vidal e Urucuia.
A exposição “Nós Mesmas”, do Instituto Novos Pretos, apresentou um olhar artístico e crítico de mulheres negras pelo Brasil. Crédito: Maycon Cabral/Mundo Negro
Com foco no empoderamento da mulher negra, as obras exploram temas como as realidades das favelas, religiões afro-brasileiras, identidades afro-indígenas e fotografia popular.
Minha provocação neste texto nasce de uma inquietação pessoal: entre meus amigos negros e amigas negras, sejam eles LGBT ou não, poucos sabem da existência da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV, o famoso PrEP. Isso me leva a questionar, por que essa informação não chega às pessoas negras? Por que, mesmo após anos de políticas públicas e avanços no campo da saúde, ainda temos um abismo tão grande em termos de acesso e conhecimento sobre métodos de prevenção como o PrEP entre a população negra?
A Profilaxia Pré-Exposição, conhecida como PrEP, é uma estratégia eficaz para prevenir a infecção pelo HIV. Trata-se de um comprimido que, tomado diariamente, impede que o vírus se instale no organismo de pessoas expostas ao risco de contrair o HIV. A eficácia do método, somada à sua inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2018, deveria ser um grande trunfo na luta contra a disseminação do HIV, especialmente em grupos vulneráveis. No entanto, o que vemos é um cenário no qual o acesso à informação e ao próprio tratamento ainda está limitado para a população negra.
De acordo com dados recentes do Ministério da Saúde, embora as mortes por AIDS tenham diminuído no Brasil, a disparidade racial persiste de maneira alarmante. Pessoas negras, em particular, ainda sofrem mais com a doença em comparação com a população branca. Parte dessa disparidade pode ser atribuída ao difícil acesso a tratamentos adequados, mas também à ausência de informações sobre métodos de prevenção como o PrEP, que poderia salvar vidas. O estudo da UFMG sobre desigualdade racial no acesso ao tratamento de HIV/AIDS, por exemplo, evidenciou o quanto a população negra está mais suscetível a enfrentar barreiras institucionais e sociais para obter esse tipo de tratamento.
Essa falta de informação tem raízes profundas. Como mostrado em diversas pesquisas, o racismo estrutural afeta diretamente a saúde da população negra, limitando tanto o acesso a cuidados médicos quanto à educação em saúde preventiva. A invisibilidade das pessoas negras em campanhas de conscientização sobre HIV/AIDS também contribui para essa realidade. Poucas são as iniciativas que falam diretamente a essas populações, seja nas ruas, nas redes sociais ou nos centros de saúde, o que reforça a lacuna entre os direitos conquistados no papel e sua aplicação na prática.
O PrEP é uma ferramenta importantíssima no controle do HIV, mas ainda é pouco difundido entre pessoas negras e grupos vulneráveis. O impacto dessa ausência de informação é claro: uma população que já está sob maior risco de contrair o HIV, por razões históricas e sociais, se vê ainda mais desprotegida diante da falta de conhecimento sobre como se prevenir. Nesse cenário, cabe refletir: como podemos reverter esse quadro? A inclusão do PrEP no SUS foi um avanço importante, mas não basta disponibilizar o medicamento se a população negra não tem acesso à informação sobre ele. Precisamos de campanhas que dialoguem diretamente com essas comunidades, levando a informação onde ela realmente é necessária, em linguagens que façam sentido e por meio de lideranças que possam mediar essa conversa.
O tratamento preventivo para o HIV, especialmente em uma era de tantas inovações na medicina, deveria ser um direito acessível a todos e todas, independentemente de sua cor, classe ou orientação sexual. Contudo, enquanto não formos capazes de quebrar as barreiras estruturais que impedem esse acesso, estaremos perpetuando um ciclo de vulnerabilidade e exclusão. É preciso enxergar que o racismo também adoece, e, mais do que isso, mata, ao negar o básico: a informação e o cuidado.
Em última instância, a solução passa por uma mudança de postura não só das políticas públicas, mas também de toda a sociedade. Precisamos de mais representatividade, mais vozes negras liderando campanhas de saúde e, acima de tudo, mais compromisso em garantir que o PrEP e outros métodos de prevenção sejam verdadeiramente acessíveis a todos e todas. Isso inclui combater os estigmas e a desinformação que ainda cercam o HIV e suas formas de prevenção, especialmente dentro das comunidades negras, que, historicamente, já foram tão marginalizadas nesse debate.
Que essa reflexão sirva como um convite à ação. Se o PrEP pode salvar vidas, devemos garantir que todas as pessoas, principalmente aquelas mais vulneráveis socioeconomicamente, saibam que ele existe.
Foto Liniker: Reprodução/Instagram
Foto Lenny Kravitz: Mark Seliger
A passagem de Lenny Kravitz por São Paulo, no dia 23 de novembro, no Allianz Parque, ganhou um reforço de peso. Liniker, um dos nomes mais destacados da música brasileira contemporânea, foi anunciada como uma das atrações de abertura do show. A artista paulista, que recentemente lançou o álbum CAJU, integra a programação ao lado de Lianne La Havas e Frejat.
O convite para o show de abertura não é por acaso. Kravitz e Liniker se conheceram no ano passado, em Paris, onde o cantor assistiu a uma apresentação da brasileira. Desde então, mantiveram uma relação de respeito mútuo, que culminou com o encontro nos palcos paulistas. O anúncio chega em um momento especial para ambos: Liniker colhe os frutos do sucesso de CAJU, seu segundo disco solo, que emplacou 6 milhões de plays no Spotify em menos de 24 horas após o lançamento, e já ultrapassou 30 milhões de reproduções em todas as plataformas. A turnê do álbum, aliás, terá início em novembro, coincidindo com a apresentação ao lado de Kravitz.
Lenny Kravitz, por sua vez, vive um ano de grandes conquistas. O roqueiro lançou em maio seu 12º álbum de estúdio, Blue Electric Light, que vem sendo amplamente elogiado pela crítica. A turnê Blue Electric Light Tour 2024 já passou pela Europa e pelos Estados Unidos e chega ao Brasil para um único show em São Paulo.
⚠ Alerta de Gatilho: Este conteúdo aborda temas como suicídio e discriminação.
Texto: Luciano Ramos
O mês de setembro promove uma importante campanha sobre prevenção ao suicídio, chamada de “Setembro amarelo”. Essa campanha, busca evidenciar as situações de suicídio no Brasil, mas também pensar no cuidado da saúde mental, de forma ampliada. Vale salientar que as situações promotoras de estresse tóxico incentivam muito para as doenças e transtornos mentais que, em algumas situações ocasionam o suicídio.
E o que as masculinidades negras têm a ver com isso?
Primeiramente, vamos começar esse diálogo abordando as masculinidades, de forma geral. Um estudo realizado pelo Ministério da Saúde entre os anos de 2010 e 2019 apresenta a taxa de morte por suicídio entre homens foi de 10,7 por 100 mil, enquanto entre as mulheres foi de 2,9. Isso nos mostra que os homens se matam quase quatro vezes mais do que as mulheres. A ausência de autocuidado em saúde é uma realidade entre os homens no Brasil e no mundo: os homens morrem mais de doenças cardiovasculares, acidentes de trânsito, por armas de fogo entre outros índices relacionados a letalidade. Isso não diferencia ao falarmos sobre a morte autoprovocada.
As normas rígidas de gênero, conhecidas popularmente como “masculinidade tóxica”, criadas para o privilégio e a manutenção das masculinidades hegemônicas (leia-se homens brancos, heterossexuais, cisgêneros e de classe média) incentivam padrões de exercícios de masculinidade que empurram os homens para o “abismo social” do não cuidado. Vale dizer que ser reconhecido como homem na sociedade patriarcal é corresponder aos padrões do machismo, que tem como base a violência. Dessa forma, os homens negros, para serem reconhecidos como homens, socialmente, tentam reproduzir esses padrões rígidos machistas. Todavia, essa luta para o reconhecimento é inglória. Frantz Fanon já apontava para a desumanização social do homem negro no seu livro ‘Pele Negra, Máscaras Brancas (1957)‘.
Segundo o Ministério da Saúde e a Universidade de Brasília (UnB), em pesquisa realizada em 2018, o risco de suicídio entre jovens negros do sexo masculino de 10 a 29 anos é 45% maior do que entre jovens brancos na mesma faixa etária. Isso nos mostra que homens negros jovens morrem, por suicídio em larga escala no Brasil. Neste texto não vamos falar sobre o assassinato dos homens negros. Como sabemos, há uma necropolítica em curso. Noutro texto podemos falar sobre.
Voltando a falar sobre o suicídio, o racismo, atrelado às normas rígidas de gênero, é uma junção letal para os homens negros. O estresse a que homens negros são submetidos constantemente, unido a ausência de autocuidado, em muitas situações, promovidas pelo estado, levam esse homem ao extremo ato do suicídio. Se esse homem negro não é visto como um ser humano, naturaliza-se o não cuidado a ele desde a infância. “Homens não acessam os serviços de saúde mental”, mas aos homens negros, não é exagero dizer que este tipo de serviço é negado. O estresse tóxico (termo utilizado no primeiro parágrafo desse texto) promovido pelo racismo retira a capacidade de movimento desse indivíduo em todas as esferas de sua vida, até retirar a própria vida.
Fortalecer as identidades dos homens negros, em todas os ciclos de vida, reconectando-os as suas ancestralidades e promover processos metodológicos de consciência racial e de gênero são elementos importantes e primeiros passos para um “reolhar” dos homens negros para si. A doutora em antropologia e professora pela Universidade Nacional Colômbia, Mara Viveros Vigoya nos acentua a necessidade de interseccionalizarmos o debate sobre as masculinidades olhando para as raças, territórios, orientações sexuais, gênero e outros elementos que constroem esse indivíduo.
Por exemplo, quando se relata que homens negros são mortos e se suicidam mais, é preciso olhar para dentro das masculinidades negras e pensar que homens são esses: os homens negros gays e trans estão mais vulneráveis às violências de gênero e homofobia; já os homens negros periféricos e favelizados à necropolítica; e todos os homens negros têm seus corpos atravessados pela violência do racismo, que a todo momento os mata. Isso causa no homem negro, como aponta a Oficial de Primeira Infância do UNICEF Maira Souza, uma “atitude de prontidão constante”, elevando o nível de estresse a que esse indivíduo está submetido.
Quando o Brasil pensa a campanha do Setembro Amarelo, é necessário interseccionalizar esse debate, pensando na população que mais morre. Não pode pensar nesse indivíduo universalizando-o, mas precisa olhar para a sua concretude. Essa concretude tem raça, gênero, território e classe social. E com esse olhar é que as políticas públicas precisam ser configuradas.
Luciano Ramos, Especialista em Masculinidades e Paternidades Negras e Diretor executivo do Instituto Mapear
Will Smith provou o sabor dos Orixás! Na última terça-feira, 17, a chef Carmem Virgínia, proprietária do restaurante Altar Cozinha Ancestral, localizado na zona oeste de São Paulo, preparou um jantar especial para o astro Will Smith, uma das atrações do Rock in Rio. A princípio, seria servido o menu seria tradicional, mas a equipe do artista surpreendeu ao pedir o icônico “Jantar dos Orixás”.
Um destaque, a caipirinha de umbu cajá, típica do Nordeste, conquistou o ator: “Ele amou a caipirinha de umbu cajá, que só tem no Nordeste”, revelou a chef. Para abrir os caminhos do menu temático, a chef serviu pastel de festa com pimenta. Também foram oferecidos como pratos principais o arroz caldoso de personagens do mar, nomeado de Oxum e Iemanjá, além de feijão verde, bacon linguiça, carne seca, farofa, vinagrete de quiabo e pirão de leite, que ganhou o nome de Xangô. Antes, o convidado ilustre também provou receitas tradicionais servidas como entrada, entre elas: caldinho de feijoada com torresmo, tradicional de Ogum, Acarajé, vatapá, camarão seco e vinagrete, em homenagem à Iansã, e ensopadinho de sururu com farofa de milho, de Logun.
O tradicional bolo de rolo, em homenagem aos Ibejis compôs as sobremesas servidas pelo jantar, que também referenciou Oxalá ao servir cocada mole acompanhada de bolinhos de tapioca e coco, chuvinha de açúcar e canela, lambuzado no doce de leite.
O jantar, um dos mais representativos do restaurante de Carmen Virgínia, celebra a cultura dos orixás, divindades das religiões de matriz africana, e é composto por ingredientes simbólicos que homenageiam Iemanjá, Xangô e Oxum. Além de proporcionar uma experiência única ao misturar história, religiosidade e sabor em uma verdadeira conexão com as tradições ancestrais, que foram apreciadas pelo rapper e ator norte-americano.
Organizado pelo vice-presidente artístico do Rock in Rio, José Ricardo, o jantar também contou com a presença de personalidades negras brasileiras, como as atrizes Juliana Alves, Cris Vianna, a cantora Iza, que também vai se apresentar no festival, além das jornalistas Maju Coutinho, Kenya Sadee e do rapper Xamã.
De volta à carreira musical, o rapper premiado se apresentará no Rock in Rio no dia 19 de setembro, no palco Sunset. O artista está aproveitando sua estadia no país desde que chegou, na tarde do último domingo, 15, para passear pelo Rio de Janeiro e conhecer a gastronomia brasileira.