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“Selton Melanina”: Jovem negro vence concurso de sósias do ator Selton Mello

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Fotos: Reprodução/Instagram e Elisabetta A. Villa/Getty Images

Um cinema de rua, na Zona Sul do Rio de Janeiro, promoveu um concurso de sósias do ator Selton Mello, neste domingo (1º), para definir a pessoa que mais se parece com o ator. 

Em um resultado inusitado, venceu Ramon Carneiro, 24, “o primeiro sósia negro do Selton Mello”, como ele mesmo se refere. Outros apelidos também foram criados pelo próprio sósia, que também se intitula como “Selton Caramelo” ou “Selton Melanina”.

O morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, conquistou o carinho das pessoas presentes na Estação NET de Cinema, no bairro de Botafogo, que fizeram campanha por sua candidatura. O jovem fez diversos vídeos pedindo votos. “Se você puder, vote em mim. Por que o Selton Mello tem que ser somente branco? Vote em mim pelo primeiro Selton Mello negro, a favor da inclusão e da diversidade”, disse Ramon em um dos vídeos que viralizou no TikTok.

Diversos cartazes com o rosto do ator de ‘Ainda Estou Aqui’ e ‘O Auto da Compadecida’ foram colados em postes na região, atraindo inclusive comentários do próprio Selton Mello nas redes sociais.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Como prêmio, o vencedor ganhou cinco ingressos para assistir a qualquer filme no estabelecimento, além de um liquidificador, em referência ao filme ‘Reflexões de um Liquidificador’, dirigido por Selton Mello.

O concurso contou com a participação de 16 candidatos, incluindo homens e mulheres.

Fazem de tudo para silenciar a batucada dos nossos tantãs

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Cartola, Mangueira, Rio de Janeiro, RJ, c. jul. 1957. Autoria não identificada. Coleção Diários Associados/ Acervo IMS

A criminalização de sambistas no Brasil é uma manifestação histórica de um controle  penal  racializado  que  marginalizou  práticas  culturais  afro-brasileiras. Surgido das tradições trazidas por africanos escravizados, o ritmo originário do Lundu  (ou  Lundum),  rotulado  genericamente  como  “batuques”,  identificados sobretudo nas dançasdeumbigada,o samba se tornou alvo de repressão sistemática em um contexto pós-abolição. Com a abolição formal da escravização em 1888, essas pessoas, antes privadas de liberdade, foram empurradas para a exclusão social e política, enquanto suas expressões culturais que já eram rotuladas como ameaças à ordem e criminalizadas, passaram a ser ainda mais reprimidas.

A regulamentação social e penal do final do século XIX foi desenhada para estigmatizar e controlar práticas culturais que emergiam de comunidades negras. O Código Penal de 1890, por exemplo, tratava as rodas de samba como atividades ilegais,  frequentemente  associando-as  a  “vadiagem”  e  desordem  pública. Autoridades policiais interrompiam eventos culturais e prendiam seus participantes sob a justificativa de manter a ordem pública e proteger os “bons costumes”. A justificativa para a repressão era profundamente influenciada por preconceitos sociais e visões de mundo que consideravam essas manifestações como inferiores ou incompatíveis com a ideia de progresso.

O samba não foi o único alvo desse processo. Ele compartilhou esse estigma com outras práticas afro-brasileiras, como o candomblé e a capoeira. Todas foram perseguidas e reprimidas porque eram classificadas como “africanismos” e formas de resistência cultural e social por uma população que continuava enfrentando marginalização e privação de dignidade. A repressão às manifestações culturais negras era um reflexo do medo de que essas práticas alimentassem movimentos de coesão e resistência entre comunidades afro-brasileiras.

No início do século XX, apesar da repressão, o samba encontrou espaço para se desenvolver nos centros urbanos, especialmente no Rio de Janeiro. Ele se transformou em uma das formas mais emblemáticas de resistência cultural. O

gênero  musical  cresceu  nas  periferias,  nos cortiços e nas festas populares,

conquistando progressivamente maior visibilidade. No entanto, a aceitação do samba não ocorreu sem tensões.

Durante a Era Vargas, na década de 1930, na missão de construir um projeto de Brasil “moderno e civilizado”, o governo brasileiro começou a institucionalizar o samba como um símbolo da identidadenacional. Esse reconhecimento veio com um preço: para ser aceito pela “elite”, o samba passou por um processo de adaptação e embranquecimento, perdendo parte de seus elementos originais que carregavam as marcas das tradições afro-brasileiras.

Neste cenário nasceu o samba-exaltação1, expressando o grande potencial do Estado Novo em impor seu projeto ideológico ao conjunto da sociedade, através de letras que vangloriavam a vida regrada e cultuavam o trabalho (em nítida oposição à figura do malandro até então exaltada nos sambas).

Esse processo de assimilação resultou em uma coexistência paradoxal: o samba foi exaltado como patrimônio cultural brasileiro enquanto muitas das suas raízes e seus praticantes originais permaneceram sob criminalização. Embora o samba tenha alcançado o statusde ícone cultural da brasilidade, ele nunca se desvinculou completamente das memórias de repressão que marcaram suas origens. Essa trajetória de exclusão, resistência e aceitação condicionada se repete com outras manifestações culturais contemporâneas, como o funk, que enfrentam preconceitos semelhantes por sua ligação com comunidades periféricas e majoritariamente negras.

O histórico de criminalização do samba é um capítulo emblemático de como o Brasil  lida  com  suas  identidades  culturais  marginalizadas.  Embora  hoje  seja celebrado como patrimônio cultural, o samba carrega em suas melodias e versos a memória de uma longa luta por dignidade e respeito. Essa trajetória de exclusão e resistência evidencia como o controle penal atua sobre manifestações que desafiam as normas impostas, mas também como a cultura negra, em sua essência, persiste e se reinventa, resistindo aos esforços de silenciamento.

1 A maior expressão deste período é o samba “Aquarela do Brasil”, composto em 1939 por Ary Barroso.

O samba sobreviveu à repressão porque é, acima de tudo, uma expressão de identidade e resistência das comunidades que o criaram, moldaram e carregaram consigo ao longo do tempo.

Samba, a gente não perde o prazer de cantar…

Ana  Luíza  Ọ̀pátórọ́bi  Teixeira  Nazário.  Advogada.  Mestre  em  Direitos Fundamentais  e  Justiça  (UFBA).  Especialista  em  Ciências Penais (PUCRS).

Coordenadora de Projetos Acadêmicos do JusRacial.

Filho de Eddie Murphy e filha de Martin Lawrence anunciam noivado com cerimônia romântica

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Foto: Getty Images

Os laços entre as famílias de duas lendas da comédia norte-americana, Eddie Murphy e Martin Lawrence, ganharam um novo capítulo. Jasmin Lawrence, filha mais velha de Lawrence, e Eric Murphy, primogênito de Murphy, anunciaram seu noivado no último sábado, 30, após mais de três anos de namoro.

O casal compartilhou o momento especial no Instagram, com um vídeo que registra Eric ajoelhando-se em meio a um cenário romântico para fazer o pedido. “11.27.2024. Estamos noivos!!”, escreveram na legenda. “Deus realmente nos abençoou com um amor que parece destino. Não poderíamos estar mais animados para este próximo capítulo. Um agradecimento especial a todos que fizeram este momento tão lindo!!”.

No vídeo, Eric conduz Jasmin por uma sala decorada com pétalas de rosas brancas, buquês em tons claros e velas acesas. Os dois chegam em frente a um coração de pétalas vermelhas, onde Eric apresenta um anel de diamante antes de ouvir o aguardado “sim”.

Eric e Jasmin tornaram público seu relacionamento em 2021, quando ela compartilhou uma homenagem de aniversário ao namorado no Instagram. Embora não se saiba como o casal se conheceu, a amizade entre seus pais, que já atuaram juntos nos filmes “Boomerang” e “Life”, pode ter aproximado os dois.

Beyoncé aposta em projeto visual com lançamento do Cowboy Carter Art Book e equipe desmente rumores sobre turnê

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Foto: Reprodução

Enquanto a turnê de Cowboy Carter segue sem previsão, Beyoncé apresenta um novo projeto visual inspirado em seu último lançamento musical. O Cowboy Carter Art Book, um livro com 136 páginas de imagens inéditas e exclusivas inspiradas no oitavo álbum de estúdio da artista, já está disponível para pré-venda no site oficial da cantora. O lançamento foi anunciado pela Parkwood, empresa de entretenimento de Beyoncé, em publicação feita no Instagram no último domingo.

Ao anunciar o lançamento, a equipe da cantora colocou fim aos rumores sobre uma possível turnê de seu mais recente álbum. Apesar da expectativa dos fãs, a publicitária Yvette Noel-Schure foi categórica ao desmentir as especulações em uma publicação no X: “Falso. Nada a relatar aqui. Sempre que houver notícias, você ouvirá diretamente da fonte, primeiro.”

O livro, que custa US$ 74, será enviado aos compradores a partir de 13 de dezembro. Para os fãs, a publicação é mais uma chance de explorar o universo visual e conceitual de Cowboy Carter, um álbum que não só conquistou recordes e fez história, como também deu visibilidade às raízes negras do gênero country e ao trabalho de artistas negros dentro desse estilo musical.

Desde que o álbum foi apresentado pela primeira vez em um comercial surpresa durante o intervalo do Super Bowl, em fevereiro, acompanhado dos singles 16 Carriages e Texas Hold ‘Em, Beyoncé não sai do centro das atenções.

Além disso, foi confirmada sua participação no intervalo do jogo entre Baltimore e Houston, no NRG Stadium, no dia de Natal. A apresentação será a primeira vez em que Beyoncé performará ao vivo músicas do álbum Cowboy Carter. Embora muitos especulem que a cantora possa aproveitar a ocasião para anunciar uma turnê oficial, sua equipe segue mantendo a expectativa sob controle.=

Fotógrafo Roland L. Freeman retratou a arte das tranças afro no festival do Smithsonian, em 1985

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Foto: Roland L. Freeman

Durante o Smithsonian Folklife Festival de 1985, o fotógrafo Roland L. Freeman documentou um projeto inovador que celebrava a história e a cultura das tranças e penteados afrodescendentes. Intitulado Braids, Plaits, and Cornrows, o projeto foi criado para destacar a importância dessa tradição cultural como expressão de identidade e resistência da comunidade afro-americana.

Realizado anualmente desde 1967 no National Mall, em Washington, D.C., nos Estados Unidos, o Smithsonian Folklife Festival promove a diversidade cultural por meio da exibição de práticas e saberes vivos de comunidades dos Estados Unidos e de outras partes do mundo. A edição de 1985 teve como temas principais a “Conservação Cultural”, explorando tradições em risco de desaparecer, a cultura de Louisiana e o festival indiano “Mela!”. Dentro desse amplo contexto, o projeto das tranças trouxe visibilidade a uma prática enraizada na diáspora africana.

Roland L. Freeman | Foto: Keith Jenkins/Washington Post

Roland L. Freeman, reconhecido como um dos maiores documentaristas da cultura negra americana no século XX, capturou em suas lentes a riqueza dos detalhes e os significados históricos por trás dos penteados apresentados no festival. A fotografia de Freeman combina antropologia visual, cultura popular e documentação histórica. Seu trabalho no festival reflete essa abordagem, registrando os penteados como formas de arte, comunicação e resistência cultural.

As imagens capturadas no projeto Braids, Plaits, and Cornrows foram parte de um esforço maior do Smithsonian para preservar práticas culturais ameaçadas. Elas também reforçam a missão do festival de celebrar a diversidade e o patrimônio cultural das comunidades afro-americanas, sublinhando a importância das tranças como um legado vivo e uma forma de expressão artística.

Nascido em Baltimore e inspirado pelo trabalho de fotógrafos como Gordon Parks e Roy DeCarava, Freeman começou sua carreira durante a histórica Marcha sobre Washington em 1963. Desde então, dedicou mais de quatro décadas à documentação de tradições culturais e comunidades negras no Sul dos EUA. Ao longo da carreira, Freeman produziu obras influentes, como A Communion of the Spirits (1996), sobre quilteiras afro-americanas, e The Mule Train: A Journey of Hope Remembered (1998), sobre a Campanha dos Pobres liderada por Martin Luther King Jr.

Confira as fotos

Cresce número de franceses que migram para o Senegal em busca de pertencimento e progresso

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Menka Gomis abriu uma agência de viagens em Dakar - Foto: Reprodução

Um movimento crescente de franceses de origem africana em busca de oportunidades no continente de seus ancestrais está sendo descrito como um “êxodo silencioso”. Diante do aumento do racismo, da discriminação e do nacionalismo na França, muitos optam por se mudar para países como o Senegal, ex-colônia francesa e terra natal de seus pais.

Em reportagem realizada pela BBC, Menka Gomis, 39, parisiense de origem senegalesa que trocou a França pelo Senegal contou que abriu uma agência de viagens em Dacar voltada para quem deseja se reconectar com suas raízes: “Eu nasci na França, cresci na França, e nós conhecemos certas realidades. Tem havido muito racismo. Eu tinha seis anos e me chamavam de nigger (considerado um insulto racial) na escola, todos os dias”, contou.

O fenômeno se destaca em um contexto de crescente islamofobia, endurecimento das políticas migratórias e alta de crimes de ódio na França. A reportagem mostrou que apenas em 2023, o Ministério do Interior registrou mais de 15 mil incidentes relacionados a racismo, um aumento de 33% em relação ao ano anterior.

A mudança não foi facilmente compreendida pela mãe de Menka Gomis, que emigrou para a França na década de 1980. “Não estou partindo apenas por causa de um sonho africano. A África é como as Américas na época da febre do ouro. É o continente do futuro, onde há muito a ser construído e desenvolvido”, explicou ele.

Além de Gomis, outras pessoas compartilham experiências similares. Fanta Guirassy, 34, enfermeira de Villemomble, subúrbio de Paris, planeja mudar-se para o Senegal com seu filho adolescente. “Na França, nos sentimos cada vez menos seguros. Recentemente, meu filho foi parado e revistado pela polícia. Como mãe, é traumático”, relata.

O desconforto com a discriminação também é citado por Audrey Monzemba, professora de origem congolesa que deseja se mudar para um ambiente onde sua fé seja respeitada. “Quero ir trabalhar sem ter que tirar meu véu”, diz Monzemba, 35, referindo-se à proibição do hijab em escolas públicas francesas.

Por outro lado, a adaptação no Senegal não é isenta de desafios. Salamata Konte, 35, que deixou um cargo de bancária em Paris para empreender em Dacar, relata dificuldades relacionadas a questões de gênero. “Os homens senegaleses têm dificuldade em aceitar que uma mulher possa ser CEO. Precisamos provar nosso valor constantemente”, afirma.

Apesar dos desafios, Gomis está otimista. Ele planeja expandir seus negócios e adquirir a cidadania senegalesa. “Minha agência está indo bem. O Senegal me oferece a oportunidade de criar e prosperar em um ambiente mais alinhado com os meus valores”, conclui.

Brasil protagonista: lições de uma jovem empreendedora no Quênia

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Bia Santos. (Foto: Divulgação)

Texto: Bia Santos

Recentemente, embarquei para o Quênia para participar do Global Youth Entrepreneurship Summit, um evento promovido pela Youth Business International, que reuniu jovens líderes de diversas partes do mundo com o objetivo de compartilhar práticas inovadoras e celebrar o empreendedorismo como motor de impacto social. Fui finalista do prêmio Global Young Entrepreneur of the Year e a única brasileira entre as nove finalistas. Embora não tenha levado o troféu, a experiência foi tão transformadora que senti que precisava dividir essa vivência e o orgulho que tenho pelo Brasil e por tudo o que estamos construindo.

Minha jornada em Nairóbi foi uma imersão tanto no universo do empreendedorismo jovem quanto na cultura local. A cidade, vibrante, com sua energia única, fez com que me sentisse em casa. A cada dia, sentia a inspiração e a conexão com pessoas que, como eu, acreditam no poder da inovação para gerar mudanças. Na savana, entre o pôr do sol alaranjado e os animais selvagens do Masai Mara, refleti sobre minha trajetória e sobre o que nós, brasileiros, temos para aprender e, principalmente, ensinar ao mundo.

Embora muitos vejam os países estrangeiros como um modelo de desenvolvimento, o Brasil tem lições únicas e potentes a oferecer. Nossas práticas de empreendedorismo e inovação, com foco na inclusão e superação de desafios históricos são referência mundial. É impressionante como conseguimos fazer tanto, muitas vezes com tão pouco. Instituições como a Aliança Empreendedora, que me indicou para essa premiação, provam que, mesmo com barreiras significativas, nosso país lidera iniciativas transformadoras. Essa e outras organizações desenvolvem capacitações robustas e oferecem suporte prático para empreendedores, muitas vezes atuando junto a governos para moldar políticas públicas inclusivas e de impacto social. Inclusive, o trabalho de advocacy da Aliança foi um case de sucesso apresentado no Summit.

É importante observar o quanto as iniciativas brasileiras inspiram comunidades ao redor do mundo, especialmente no que se refere ao fortalecimento de mulheres, jovens e pessoas negras no mercado de trabalho. O empreendedorismo no Brasil, apesar das heranças de um passado colonial que impôs desafios profundos, tem se destacado por sua resiliência e criatividade.

Quando pensamos em inovação tecnológica, pensando inclusive no meu campo de trabalho, não podemos ignorar a crescente do Brasil no setor financeiro. Nosso país está à frente em soluções revolucionárias como o Pix, Open Finance e o Real Digital. Essas ferramentas têm transformado a vida de milhões de brasileiros e estão sendo vistas como cases globais. Em 2023, o Brasil se consolidou como um dos maiores inovadores no setor, com altos investimentos em cibersegurança e no desenvolvimento de tecnologias que oferecem praticidade e segurança. De acordo com a Accenture, o Brasil é referência na transformação digital e no sistema financeiro, superando expectativas e atraindo a atenção internacional.

Estar entre as nove finalistas do prêmio Global Young Entrepreneur of the Year, junto de jovens talentosos de todos os continentes, foi uma experiência que ampliou meu olhar. A sensação de estar entre as melhores é maravilhosa, mas, acima de tudo, é um reconhecimento da minha trajetória e do impacto que a educação empreendedora e o acesso a recursos pode ter.

Voltando para casa, trago comigo o orgulho de não apenas ter minha trajetória reconhecida, mas também de ser uma porta-voz das conquistas e potenciais do Brasil. Esta jornada me ensinou que, enquanto brasileiros, precisamos valorizar mais o que temos: nossas ideias, nossa cultura de inovação e nossa força coletiva. Embora sempre haja espaço para melhorar, há muito o que comemorar. Somos criadores, inspiradores e exemplos de transformação e resiliência. O empreendedorismo jovem no Brasil é um movimento em constante expansão e cada vez mais relevante. Os jovens podem mudar o mundo. Eles já estão mudando. Vamos nós começar pelo Brasil.

Bia Santos, Embaixadora do programa “Direto ao Tesouro” e CEO da Barkus, negócio de impacto social focado em soluções de inclusão e educação financeira. Pós-graduanda no Executive MBA da Fundação Dom Cabral.

FOTO 3X4: Nelson Silva de Oliveira, Professor e Diretor de Escola

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Nelson Silva de Oliveira. (Foto: Divulgação)

Texto: Rodrigo França

Nesta coluna, cada texto será um retrato literário de vidas que ultrapassam molduras e inspiram pelo simples ato de existir com coragem e propósito. Um convite a conhecer histórias que transformam passos comuns em revoluções, revelando que, ao enxergar o outro, encontramos reflexos de nós mesmos.

Nelson Silva de Oliveira: mestre da transformação

Na Baixada Fluminense, onde o asfalto quente e os becos estreitos guardam histórias de resistência, Nelson Silva de Oliveira ergueu um espaço que transcende muros. Nascido em São João de Meriti, filho de José Ezequiel de Oliveira, um vitrinista, e Noemia da Silva de Oliveira, dona de casa e vendedora. Havia o sonho de educar, de transformar vidas e dar sentido ao que a palavra escola deveria significar.

Licenciado em História pela UFRJ, Nelson iniciou sua trajetória docente em escolas particulares, mas foi nas ruas de sua cidade natal que seu verdadeiro propósito tomou forma. Na década de 1990, enquanto coordenava um pré-vestibular comunitário, percebeu que ensinar era mais do que transmitir conteúdos: era abrir portas, iluminar caminhos e, acima de tudo, acreditar nas potências de cada indivíduo.

Quando assumiu a direção do CIEP 175, José Lins do Rego, ele não se limitou a liderar uma escola; ele a reinventou. Sob sua gestão, os corredores se tornaram espaços de diálogo e construção coletiva. Nelson implementou um Projeto Político Pedagógico que colocou a comunidade escolar no centro das decisões. Escutar deixou de ser um gesto protocolar e tornou-se um exercício de pertencimento. Com ele, professores, alunos e pais passaram a ser protagonistas de uma jornada que transformou o CIEP em uma referência de educação democrática.

Mas o trabalho de Nelson não se resume à organização de calendários ou à gestão de turmas. Ele lidera um movimento de conscientização e valorização da identidade. As reflexões sobre negritude, a celebração da força das mulheres, a discussão sobre meio ambiente e saúde não são eventos pontuais; são práticas enraizadas no cotidiano escolar. Com isso, ele fez mais do que ensinar história: ele deu protagonismo à história viva de seus alunos.

Os resultados de sua atuação são visíveis em cada projeto que colocou em prática. Parcerias com universidades, como UFRJ e UERJ, trouxeram reforço escolar, formação continuada e a luta por diversidade para dentro da sala de aula. Com o INCA, ele introduziu a prevenção do câncer no Ensino Fundamental; com o SESC, filosofias inteiras foram ressignificadas. Nelson soube unir saberes acadêmicos e populares, criando um mosaico que reflete a riqueza cultural e social da Baixada Fluminense.

Para além da escola, sua militância é um testemunho de que educação e transformação social caminham juntas. Ativista do movimento negro, das Comunidades Eclesiais de Base e do movimento sindical, Nelson compreendeu que a luta por equidade começa nas escolhas diárias, como garantir que um aluno tenha voz ou que um professor tenha apoio. Sua passagem pela ONG ODARA, com projetos que uniam educação e cultura, é apenas mais uma evidência de seu compromisso com a construção de um futuro mais justo.

Nelson é um homem de sonhos grandes e gestos firmes. Casado com a também educadora Ana Cristina da Matta e pai de Luíza Odara, ele carrega consigo o desejo de perpetuar um legado: que a autonomia da comunidade escolar seja uma realidade que ultrapasse sua própria gestão. E, mesmo com uma carreira consolidada, ele ainda sonha em voltar a estudar, porque sabe que o aprendizado é um processo contínuo.

Em um país que insiste em ignorar suas desigualdades estruturais, Nelson Silva de Oliveira é uma resistência viva. Ele personifica a força de quem transforma as margens em centro e de quem acredita que a educação pode ser, sim, a maior revolução. Entre as paredes do CIEP 175, ele não apenas inspira vidas; ele ressignifica o futuro, provando que a genialidade não está em grandes gestos heróicos, mas na persistência de pequenas mudanças diárias, feitas com paixão e coragem.

Duas cidades: Como o racismo ambiental impacta as periferias de Salvador

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Foto: Site Edgar Digital UFBA

Texto: Suelem Diniz

Vivi a vida toda cercada pelo som dos atabaques, o aroma do dendê e, inevitavelmente, a dura realidade de uma cidade que se divide entre alta e baixa, não só pela sua arquitetura, mas também pela desigualdade socioeconômica. E isso sempre ficou muito claro ao menor sinal de chuva: desaba sobre quem tem menos. 

Salvador, minha cidade, onde o azul da Baía de Todos os Santos contrasta com a precariedade da infraestrutura, revelou mais uma vez a face do descaso. Em 11 de novembro, a chuva caiu impiedosa: em apenas três horas, 79% do volume previsto para o mês se precipitou, escancarando a crise climática que, combinada ao racismo ambiental, torna nossa vida — de negros e negras da favela, das encostas, das áreas de risco — um eterno campo de batalha.

Minha mãe, dona Regina Ferreira, 58 anos, mulher negra de pele clara, tem uma memória forte de infância: ela em cima do guarda roupa com seus irmãos, vendo seus brinquedos favoritos boiarem em uma mistura de lama, esgoto e água da chuva, enquanto meu avô tentava salvar o que era possível. Eu, Suelem Diniz, mulher negra de pele escura, não vivi com exatidão esse trauma, mas tenho um outro medo pra conta: a angústia das sirenes da Defesa Civil (CODESAL). 

Lembro-me bem de quando tinha 17 anos e instalaram três sirenes de alerta de chuvas nas comunidades do meu bairro. Em uma noite de forte temporal, elas começaram a tocar. Acordei assustada, as três sirenes tocando juntas, um sinal ensurdecedor de evacuação. 

E mesmo morando fora da zona de risco, o medo me invadiu — minha mente corria, pensando naqueles que, como eu, ouviram o som, e estavam apavorados tentando salvar o que podiam, como também naqueles que não sairiam, já que, apesar de pouco, o “barraco na encosta” era tudo o que tinham. 

Gerações se passaram, mas ainda é rotina, cada gota que inunda a cidade pesa mais para o povo preto e periférico. Em Salvador, onde a maioria da população se considera parda ou preta, as chuvas trazem sempre a mesma cena: ruas e casas engolidas pela água, barracos destelhados e famílias desalojadas.

Psirico já cantava em um clássico de carnaval “Com a força da natureza a gente não pode brigar / O que resta pra esse povo é somente ajoelhar”, expressando um sentimento e crença de um povo que só vê saída em recorrer aos santos e orixás. Mas eu discordo. A crise climática é uma realidade global, mas suas consequências são profundamente locais e racializadas. A chuva não escolhe a quem afetar, mas o racismo ambiental já fez essa escolha: são os negros, os periféricos, que sofrem mais. Enfrentamos o peso das águas, mas também a escassez de políticas públicas que amparem nossa existência em tempos de crise. 

Apesar de histórias e memórias que se repetem em ciclos, o sofrimento é evitável. E é aqui que entra a importância do financiamento — uma palavra que parece distante, mas que é, na verdade, um meio prático de transformação com a destinação de recursos para quem mais precisa, projetos de infraestrutura, sistemas de escoamento, reurbanização das encostas e casas dignas precisa ser uma prioridade, e não apenas uma promessa.

O financiamento para organizações, movimentos e coletivos que promovem a resiliência das populações negras em face das mudanças climáticas deve ser pauta. A resiliência climática para comunidades negras exige recursos, abordagens que considerem os impactos históricos, geográficos e estruturais de exclusão e vulnerabilidade. 

A intenção é que os financiamentos cheguem a quem está na linha de frente dos impactos climáticos, apoiando não apenas adaptações ao clima, mas também promovendo a autonomia e a justiça ambiental para quem mora em comunidades e locais de risco.

Salvador, a cidade com a maior população negra fora da África, só recentemente ganhou o feriado da Consciência Negra. Com o feriado, vem a reflexão, e com a reflexão, a urgência de discutir não apenas a cultura e a história negra, mas o desejo de que a chuva seja um fenômeno natural, e não uma ameaça constante às condições de vida desse povo que sustenta a cidade. 

Suelem Diniz é baiana, mulher preta e formada em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Comunicadora no FunBEA – Fundo para ação Climática é também criadora do projeto História que a História não conta, escreveu 2 livros pelo projeto voltados à representatividade negra. 

“Apartheid à brasileira” não é acidente, é projeto!

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Thiago André (Foto; Divulgação)

Texto: Thiago André

No ano 2000, o geógrafo e pensador Milton Santos (1926-2001) escreveu o seu emblemático ensaio “Ser negro no Brasil de hoje”, onde ele questiona a ideia de uma democracia racial no Brasil e denuncia as hipocrisias que ainda sustentam nosso racismo de cada dia. Mais de vinte anos depois, releio o seu texto e percebo que pouca coisa mudou. Ser negro no Brasil continua sendo uma tarefa difícil.

Aqui, pretos e pardos são maioria, representando 55% da população, mas vivem menos e em piores condições. Ocupam os subempregos e os trabalhos análogos a escravidão, são a maioria dos analfabetos e formam a maioria nas prisões. Enquanto brancos têm as melhores oportunidades de educação e renda, pessoas negras figuram como as principais vítimas da violência, da fome e das epidemias.

Boa parte da sociedade brasileira aprendeu a agir com naturalidade diante da desigualdade racial. Alguns, inclusive, escolhem deliberadamente negar essa realidade, insistindo na falsa ideia de uma “harmonia racial”. A esse jogo indecente de negacionismo e indiferença, Milton Santos deu o nome de “apartheid à brasileira”.

Para muitos a ideia de existir um “apartheid à brasileira” soa como exagero retórico. Afinal, ao que se sabe, aqui nunca teve mecanismos legais de segregação racial. Mas não é bem assim.

No último ano, me debrucei sobre este tema e fui buscar, em nosso passado, as raízes legais da nossa desigualdade racial. Descobri que, diferente do caso sul-africano e norte-americano, o Estado brasileiro desenvolveu mecanismos dissimulados de segregação.

Nos primeiros meses após a Abolição, já se discutia a possibilidade de criar um ordenamento jurídico para controlar e disciplinar os libertos. Um código que pudesse dar um verniz de legalidade às doutrinas pseudocientíficas e racistas que orientavam o pensamento das elites nacionais.

Por isso, após a Abolição, a população negra não recebeu um projeto de inclusão; recebeu um Código Penal que criminalizava pessoas sem emprego formal ou sem residência fixa. E quem, dois anos depois da Abolição, compunha essa massa de descamisados e sem moradia regular? Os negros recém-libertos. Sem mencionar a palavra “raça”, nosso primeiro Código Penal criminalizou a vulnerabilidade social dos negros.

Esse é só um exemplo de como o “apartheid à brasileira” se desenvolveu nas entrelinhas das leis. Ao longo do tempo, muitas outras leis parecidas com essa representaram um entrave para o desenvolvimento da população negra. No último ano, me dediquei a pesquisar e escrever sobre essas leis e as pessoas que foram afetadas por elas.

Este trabalho completo foi lançado como uma áudio série documental chamada Apartheid Tropical. Este é o resultado de uma investigação cuidadosa que contou com a colaboração de historiadores, sociólogos e ativistas, trazendo à tona vozes que muitas vezes não são ouvidas. É a consolidação de uma investigação que dá pistas de que não chegamos neste estado de coisas por acaso. Nossa desigualdade fez parte de um projeto de país. 

Como escreveu Milton Santos, ainda é urgente reagir contra o “apartheid à brasileira”.

Thiago André é acadêmico de História, criador do podcast História Preta e autor e narrador da áudio série Apartheid Tropical pela Audible.

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