Maria Rita Kehl e seu avô o pai da eugenia no Brasil, Renato Kehl - Imagem - Colagem Google Images
Maria Rita Kehl está sentindo o desconforto de viver em um mundo onde vozes de pessoas diferentes, principalmente negras têm maior impacto na sociedade. O desconforto grita na escolha do título “lugar de cale-se” e desce a ladeira ao longo de parágrafos que tentam construir a ideia de que os movimentos chamados identitários estão promovendo linchamentos virtuais.
Várias personalidades como o Emicida já abordaram isso em entrevistas recentes: nas décadas passadas quando uma dessas colunistas ou jornalistas escrevia sua versão da história não existia um espaço de debate tão massivo quanto hoje para poder provocar uma reação diferente sobre o tema. Isso que estão chamando de “cancelamento” não passa desse questionamento natural sobre um posicionamento, que hoje temos voz para cobrar.
Maria Rita Kehl precisa ter muito cuidado ao utilizar termos como linchamento virtual porque parece grande vitimista em um país que as pessoas que chama de identitários são as verdadeiras canceladas dos espaços de discussão e poder. Estou falando da maior parte do Brasil que ainda é impactada pelos estereótipos e estruturas racistas dos séculos passados e pode atravessar a linha da pobreza ao perder o emprego; Daquele entregador de Ifood que leva sua comida e se receber avaliações ruins no aplicativo vai ver a família passar fome ou daquele caixa do supermercado que enfrenta a Covid-19 e pode ter a luz cortada se alguém resolve reclamar com o gerente – isso sim é cancelamento.
Não é cancelamento quando a dona da maior editora brasileira é criticada na internet ou quando alguém que finge que o sobrenome da família não abriu portas na sociedade e que está longe de cair no esquecimento das elites com a mesma velocidade que o país se esquece de Ágatha Félix, João Pedro e Rafael Braga.
Realmente nós somos iguais ou parecemos “em direitos, em dignidade”, mas se engana quem acredita que somos iguais em “Liberdade de expressão”. Como igualar essa liberdade o veículos mais importantes do país, que alcançam milhões de pessoas, tem apenas 2% homens negros e 2% mulheres negras em suas redações?
Esse é o fracasso da “capacidade de empatia” da autora, que tenta se igualar à um negro escravizado e enforcado, utilizando a música Strangefruit como alegoria. Argumento de quem tenta empurrar pra baixo do tapete a estrutura racista do país que permitiu que pessoas como ela recebessem algumas vantagens, aliás que seu avô ajudou a construir. Maria Rita kehl é neta do chamado Pai da Eugenia brasileira, Renato Kehl, o cara que conseguiu institucionalizar as teorias racistas organizando congressos, publicações e discussões políticas como a esterilização dos considerados “degenerados” – crença da ciẽncia da época que considerava a herança da mestiçagem e do sangue africano inferior na escala da humanidade.
Claro que ela não carrega nenhuma culpa por isso, como a própria descreveu no texto “Entendi, na adolescência, que ele a defendia supremacia da “boaraça”. Que conceito desprezível, para dizer o mínimo.”
Agora não dá para dizer que, mesmo sem culpa, sua posição na sociedade brasileira não recebeu o prestígio desse nome. Afinal, Renato Kehl fez carreira com o ódio à miscigenação, assessorou governos, se reuniu com políticos, foi diretor de multinacional (Bayer) durante 23 anos, fundou revistas farmacéuticas, escreveu no jornal “A Gazeta” de São Paulo, também, por duas décadas e até hoje é médico emérito da Academia Nacional de Medicina
Repito, ninguém carrega culpa dos seus ancestrais, o que carrega é mesmo dinheiro, reputação e acesso às estruturas de um país desigual. Falar de igualdade dessa posição que se ocupa é muito confortável. Questionar os movimentos negros e chamá-los de identitários por criticar essa posição e por reivindicar para si um espaço de discussão que não existia antes é uma tentativa de reforçar seu privilégio. Tenho a infeliz certeza de que ninguém tem o poder de silenciar sua obra, seu trabalho e atuação. Só que o mundo mudou bastante e agora estamos aqui e ali, discutindo na internet, mantendo a memória viva de quem são e como surgiram as pessoas que estão se sentindo ameaçadas com a ascensão da intelectualidade negra ao debate público nesse país.
Jéssica Ellen, se emocionou durante sua participação no programa Conversa com Bial, exibido na noite desta terça-feira (11). A atriz que interpreta Camila na novela “Amor de Mãe”, chorou ao rever a cena em que sua personagem se forma na faculdade.
“A Camila é um personagem que é muito real. Isso não é sobre a minha individualidade, é a realidade de muitas mulheres negras”, disse a atriz, que também foi a primeira pessoa da sua família a se formar na faculdade. Camila é uma jovem professora que luta contra o preconceito racial e as injustiças sociais. Segundo Ellen, ela representa milhares de mulheres brasileiras e por isso, o momento em que ela recebe o diploma é muito especial.
Na cena revista por Pedro Bial e Jéssica Ellen, Camila se forma e dedica o diploma à mãe Lurdes, interpretada por Regina Casé. Os dois não seguraram as lágrimas de emoção durante o momento. “Parece que Jéssica não está interpretando. Está revivendo”, comentou Bial.
Ines Marchalek Zarpelon afirma que Natan Vieira da Paz “seguramente” integra grupo criminoso “em razão de sua raça”. A advogada de Natan,Thayse Pozzobon, publicou em seu perfil no Instagram a sentença de cunho racista da juíza da 1ª Vara Criminal de Curitiba (PR) contra o seu cliente:
“Sobre sua conduta social, nada se sabe. Seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta os delitos e o seu comportamento, juntamente com os demais, causavam o desassossego e a desesperança da população, pelo que deve ser valorada negativamente”, afirma a juíza, em decisão proferida no dia 19 de junho.
Além da acusação de integrar organização criminosa, o homem também foi condenado por praticar furtos. Com isso, sua pena foi de 14 anos e 2 meses de prisão.
Nas redes sociais, Thayse acusou a juíza de violar a Constituição: “Organização criminosa nada tem a ver com raça, pressupor que pertencer a certa etnia te levaria à associação ao crime demonstra que a magistrada não considera todos iguais, ofendendo a Constituição Federal. O Poder Judiciário tem o dever de não somente aplicar a lei, mas também, através de seus julgados, reduzir as desigualdades sociais e raciais. Ou seja, atenuar as injustiças, mas jamais produzi-las como fez a Magistrada ao associar a cor da pele ao tipo penal”.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Thayse Pozzobon também afirma que recorrerá da decisão de Inês Zarpelon e acionará o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para que o julgamento seja anulado.
O casalzão Kenia Dias e Érico Brás - Foto: Reprodução Instagram
A quarentena tem exigido muita criatividade dos grandes canais, que não podem interromper toda a sua programação por causa do isolamento social dos seus funcionários por conta do coronavírus.
Um dos trabalhos nascidos nos tempos de distanciamento é o “Pai Online”, que faz parte da programação do “É de Casa” da Rede Globo. Apresentado por Érico Brás, o programa tem assinando o roteiro, sua parceria de vida Kenia Maria.
“Eu assinei com a Globo como autora e roteirista. Estou nesse projeto Pai online com o Érico, onde eu assino a autoria. Esse projeto nasce no ‘Tá bom para você’ [canal no Youtube], mas tinha o nome de ‘Atitude de homem’, que era essa ideia de estimular esse papo de paternidade, não como o homem ajudante, mas dizendo como é saudável para o pai e para o filho essa relação”, explica Kenia.
Érica apresentando o “Pai Online” dentro do “É de Casa” – Foto: Reprodução TV
O projeto dura um mês e está disponível no Globoplay.
Pai Online pode ser assistido na Globoplay . Confira o primeiro episódio clicando aqui.
O portal de notícias Deadline publicou nesta terça-feira (11) que Alicia Keys vai produzir uma nova comédia romântica para a Netflix, ainda sem título ou previsão de estreia, cujo tema central são os laços de amor e família.
O projeto será estrelado por Christina Milian, Jay Pharoah e Sinqua Walls. Todos eles estão sob a direção de Steven Tsuchida, que já dirigiu episódios de “Cara Gente Branca”, “Younger” e “On My Block”.
O roteiro acompanha uma aspirante a cantora chamada Erica, que acaba sendo contratada para cantar no casamento do ex-noivo. A protagonista acaba se apaixonando novamente pelo ex, algo que gera uma grande confusão.
Essa não é a primeira vez que Keys trabalha com a Netflix, a artista, foi produtora do filme “Dançarina Imperfeita”, que chegou à plataforma no último dia 7 com Sabrina Carpenter no papel principal.
Blackout, o filme Afrofuturista ambientado em 2048 de Rossandra Leone estará no 48º Festival de Cinema de Gramado, um dos maiores e mais importantes festivais de cinema do Brasil. O filme conta como Luana (Adrielle Vieira), uma jovem negra e periférica, junto com seus iguais e comunidade subverte o sistema racista e machista vigente em busca de uma sociedade igualitária, mostrando que podemos tudo.
O que está nas frente das câmeras, prevalece atrás dela, é uma equipe majoritariamente feminina, negra e periférica que fez 2048 virar realidade no cinema contando com apoio e colaboração de nomes como o do ator, diretor, dramaturgo e cientista social Rodrigo França e do cineasta Clementino Junior.
Em novo formato multiplataforma, o Festival de Cinema de Gramado será transmitido de 18 a 26 de setembro pela TV, no Canal Brasil, e por streaming. Este ano, serão 14 títulos de oito estados e Distrito Federal escolhidos entre 428 inscritos, sendo Blackout um deles.
Presidente Jair Bolsonaro falou que o Covid-19 era apenas uma 'gripezinha'
A Coalizão Negra por Direitos, frente que reúne mais de 150 instituições que defendem direitos da população preta, entregará à Câmara Federal, nesta quarta-feira (12), o 56º pedido de impedimento contra o presidente da República Jair Bolsonaro.
Apontando crimes de responsabilidade na violação dos direitos individuais e sociais por negligência ao combate à pandemia e na insuficiência de medidas que deveriam estar voltadas as populações em situações de vulnerabilidades no Brasil, a Coalizão Negra anuncia que “impeachment é uma imposição humanitária”.
O protocolo do documento deve acontecer às 11h na Câmara Federal, seguido de um ato no gramado da esplanada dos Ministérios, em frente ao Congresso Nacional e entre os Ministérios da Justiça e da Saúde.
A Coalizão afirma que no Brasil, as mais de 100 mil mortes por COVID-19 têm cor, classe social e se dão em territórios de maioria negra. O documento pedindo o impeachment de Bolsonaro reúne o apoio de 600 entidades e instituições.
A denúncia, que será entregue ao Presidente da Câmara Rodrigo Maia, pede em uma das partes o devido apoio à causa pelos governantes e afirma ainda que, “A Coalizão Negra por Direitos insta o Presidente da Câmara Federal, Sr. Rodrigo Maia, solicitar a abertura de procedimento de impeachment contra o Presidente da República Sr. Jair Bolsonaro, e o consequente afastamento do cargo e perda do mandato pelos crimes de responsabilidade ao exercício dos direitos políticos, individuais e sociais, pelas violações ao livre exercício dos poderes, pelos crimes que atentam à probidade administrativa e à segurança interna.”
Entre os direitos que a coalizão Negra afirma que Bolsonaro violou estão eles: Direito constitucional e universal à saúde; Direito constitucional à saúde pública; Direito à não discriminação racial; Direito ao patrimônio histórico e cultural das comunidades quilombolas; Direito ao acesso à informação e liberdade de expressão; entre outros.
O pedido seguirá para Câmara dos Deputados e cabe ao presidente aceitá-lo para começar o processo contra o mandato do presidente eleito.
O candidato à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, escolheu a senadora Kamala Harris para integrar a vice-presidência em seu mandato. Biden foi vice-presidente do governo Obama e já tinha falado que gostaria de ter um vice-presidente mulher negra ao lado dele.
Senadora pelo estado da Califórnia desde 2017, Harris chegou a se apresentar como pré-candidata à Casa Branca e liderou algumas das pesquisas internas do Partido Democrata. Kamala apareceu como uma defensora dos protestos à favor de George Floyd, morto de asfixia por um policial, tendo ido pessoalmente a uma manifestação em frente à Casa
Se o democrata vencer a eleição, Kamala Harris será a primeira mulher negra a exercer o cargo de vice-presidente dos EUA. Especialistas denominaram a escolha como histórica.
Biden usou as redes sociais para anunciar o nome de Harris nesta terça-feira (11). “Eu tenho a grande honra de anunciar que escolhi Kamala Harris — uma lutadora destemida pelos pequenos e uma das melhores servidores públicas do país — como minha parceira de chapa”, escreveu.
I have the great honor to announce that I’ve picked @KamalaHarris — a fearless fighter for the little guy, and one of the country’s finest public servants — as my running mate.
Joe Biden ainda falou que “Na época em que Kamala era procuradora-geral, ela trabalhava em estreita colaboração com Beau. Observei enquanto eles atacavam os grandes bancos, levantavam os trabalhadores e protegiam mulheres e crianças de abusos. Eu estava orgulhoso na época, e agora estou orgulhoso de tê-la como minha parceira nesta campanha.”
O presidente Donald Trump reagiu a escolha falando que seu concorrente ao cargo acabou de sair do centro e se tornar um homem de “esquerda”. Uma crítica ao democrata.
A The Hollywood Reporter afirmou nesta terça-feira (11) que Will Smith, Benny Medina e Quincy Jones estão trabalhando em um reboot da sitcom do clássico “Um Maluco no Pedaço”. De acordo com fontes da revista, o material já estaria, inclusive, em disputa por 3 plataformas de streaming: HBO Max, Netflix e Peacock.
Em março de 2019 surgiu no YouTube um trailer da produção “Bel-Air”. A narrativa tinha como proposta revisitar o clássico “Um Maluco no Pedaço” em uma versão dark. Ambientada nos Estados Unidos, no presente, “Bel-Air” deve ser lançado como uma série e a expectativa é de que contenha episódios de 1h. A narrativa segue uma linha oposta à adotada pela série original, estabelecendo-se como um drama que desenvolve da jornada de Will rumo às mansões fechadas de Bel-Air.
Repaginado, o projeto mergulhará fundo nos conflitos, emoções e preconceitos inerentes aos personagens, aspectos que de acordo com a revista eram impossíveis de ser explorados totalmente em um formato de comédia de 30 minutos. Também foi especificado que os criadores devem reservar um espaço para diversão, ainda que em menores proporções.
Quem detém os direitos do projeto é a Westbrook Studios, uma divisão da produtora de Jada Pinkett Smith e Will Smith.
“Eu fui tão injustiçada que eu decidi buscar por justiça”, Zaira Castro fala sobre sua trajetória enquanto mulher negra e suas ambições enquanto mulher negra no direito.
No dia 11 de agosto é comemorado o dia do advogado, e inúmeros juristas negros fazem um excelente papel na luta contra o racismo institucional do Brasil e a doutora Zaira Castro é uma delas.
A jurista teve seu primeiro contato com a área cedo, aos 8 anos de idade enfrentou o seu pai no tribunal e ali descobriu o que queria fazer de sua vida, se tornar uma advogada e lutar por justiça.
Muitos acontecimentos de sua infância e adolescência reverberaram nas suas escolhas de formação e hoje a advogada tem forte presença no ramo de Direito da Família e na luta contra a violência doméstica. Zaira tem ainda participações em diversos coletivos, e na companhia de outras juristas luta pelo espaço e reconhecimento de mulheres e negras na advocacia.
Em conversa com o Mundo Negro, a jurista contou um pouco de sua trajetória no direito, relembrou onde já esteve e onde pretende chegar nessa caminhada por um país mais justo para as mulheres e sem racismo.
MUNDO NEGRO Nos conte um pouco sobre sua trajetória na área, motivação para a escolha do direito e sua área de atuação?
ZAÍRA CASTRO
Eu tinha oito anos de idade, o meu pai não me registrou de fato, e a gente foi parar na justiça, por uma decisão minha. Estávamos eu minha mãe e ele, que diante daquilo tudo dizia que não era meu pai e eu lembro que a juíza pediu para eu sair da sala e eu fiquei no corredor, mas escutava a discussão deles. E no final a juíza me chamou e conversou comigo, ela disse que era uma menina muito inteligente e perguntou o que eu queria fazer e eu lembro que naquele momento eu disse que queria cursar direito e ela olhou para mim e disse “Então estude! Para que amanhã você possa mostrar ao seu pai onde você conseguiu chegar” Para amanhã você estar aqui sentada nesse lugar”.
Na minha família eu fui a primeira a ter uma graduação e apesar do meu pai não ter me assumido, isso me motivou a ser alguém melhor. Cresci vendo minha mãe sofrer, uma mulher, negra, e solteira criando eu e minhas irmãs com muita dificuldade, eu olhava e não queria passar por aquilo. E essa história dos meus oito anos de idade diante de uma juíza dentro de um fórum diante dos meus pais é o que me conduz a história do direito, tanto que eu atuo em muitos casos de família. Tá aí o princípio de tudo foi a partir daí que começou minha história com direito, quando criança eu sofria tanto racismo, tanta coisa, tanto preconceito… Eu acho que durante toda minha vida eu fui tão injustiçada que eu decidi buscar por justiça e minha história é um pouco disso.
MUNDO NEGRO
Quando falamos sobre juristas negras, já imaginamos que seja uma grande dificuldade ocupar esse espaço majoritariamente masculino e branco, como foi para você as primeiras experiências, enquanto mulher negra advogando?
ZAIRA CASTRO
Como jurista Negra as primeiras experiências no âmbito do jurídico, foram muito complicadas principalmente nas questões da delegacia de atendimento à mulher, porque eu normalmente era barrada, não era tratada como advogada. Então passei a ter que andar com a carteira da OAB na mão para não ser questionada, se eu era advogada ou não. Era chegar no fórum e ter que ficar mostrando a carteira, perguntavam se eu realmente era a advogada do processo. Porque, por mais arrumada que eu estivesse, pela questão do racismo eu sempre era questionada. Num primeiro momento foi muito complicado lidar com isso, a área do direito é elitista as leis foram criadas para os brancos, eu acho que de início a lei ela é até um pouco racista, é um sistema muito complicado pra lidar.
MUNDO NEGRO
Nos conte sobre seus planos na sua carreira, sua colaboração no coletivo Minissaia e no coletivo Abayomi – Juristas negras pode nos contar um pouco sobre a finalidade desses projetos, e a importância da existência deles?
ZAIRA CASTRO
Acaba que na área a fica gente muito sozinha né, sofre a solidão… Por isso que muitas agora estão se unindo e participando de coletivo de juristas negras para unir forças, nesse enfrentamento.
Na grande São Paulo foi feito uma pesquisa nos grandes escritórios e só 1% dos advogados contratados nesses escritórios são negros. Daí você tira como é o âmbito do jurídico, quantos advogados negros, bem estruturados nós vemos? Juízes, promotores e procuradores? Então é uma área que a gente tem que estar enfrentando, deliberando, atuando, lidando e indo de encontro até com a própria LEI enfrentando e questionando isso.
O coletivo minissaia tem como objetivo reunir influenciadores digitais para dar oportunidade de mostrar o quanto mulheres são protagonistas, críticas sociais e mulheres de personalidade marcante. Então essas são algumas da motivação do coletivo, ele propõe o empoderamento feminino, dá visibilidade as formadoras de opinião quanto à ativismo social, produção de ideias geração de conteúdo, luta e todo o enfrentamento de violencia contra a mulher, gordofobia, transfobia, e o racismo. O projeto foi idealizado por Rodrigo Almeida justamente para reunir influenciadoras e para movimentar mesmo, dar voz e ocupar espaços.
Já Abayomi – Juristas negras é uma coletiva de afroempreendedorismo Social com o objetivo de combater de maneira estratégica o racismo estrutural. E ele oferta a capacitação, aperfeiçoamento, empoderamento e treinamento para criar condições efetivas de inclusão da população negra em espaço de poder, com foco em cargos nos orgãos que compõem o sistema de justiça. Sou parceira do Abayomi – Juristas negras que tem toda metodologia de estudo pra colocar mulheres negras em ascensão e em espaços de poder. A gente acredita no “eu sou porque nós somos” e caminhamos para ocupar esses espaços de poder e enfrentar o racismo estrutural.
E unindo todos esses coletivos que busquei uma advocacia mais afrocentrada, já que eu atuo nessa frente de combate ao racismo, violência contra a mulher, intolerância religiosa. Eu milito muito nessa questão de defesa e contra a injustiça, em parceria com o Dr. Fernando Santos e Dr. Luanda Rodrigues, a gente foca em ajudar os nossos, fazer uma advocacia com atuação na ocupação de espaço no jurídico, nos fortalecendo. Por que não é fácil sermos respeitados, normalmente confundem a gente com o cliente e não como o patrono advogado da causa, quando chega no fórum. Então temos buscado a erradicação do racismo estrutural.
MUNDO NEGRO
No ano de 2020 muito se falou sobre racismo e o movimento “black lives matter”, mas as campanhas não se estendem, e o antirracismo não é colocado em prática no dia a dia. Juridicamente falando o que têm sido feito hoje, para mudar essa realidade? Para evitar que corpos negros continuem sendo assassinados e marginalizados?
ZAIRA CASTRO
Infelizmente quando nós lidamos com um racismo estrutural, (que houve inclusive uma legislação que exterminavam os nossos) pra erradicar a desigualdade, o racismo e mudar essa realidade, além de toda a ocupação, vozes e luta, nós precisamos nos unir mais, de uma forma estratégica, e como diz a promotora Livia Vaz constranger a branquitude e para além disso, movimentar. Por isso a ideia de ocupar os espaços de poder, porque a gente entende que quem tem poder é aquele que caneta, então a gente só pode mudar esse país racista, se a gente estiver ocupando esses espaços. Apesar de sermos mais de 56% da população, a gente não consegue eleger governantes pretos, a gente não consegue ter em sua maioria, juízes, promotores, procuradores e advogados negros atuando bem estruturados com grandes escritórios. Para evitar que corpos negros continuem sendo assassinados e marginalizados, a gente precisa para além de ocupar esses espaços se unir de forma estratégica. Mesmo que todos os coletivos e militantes se unam de forma uníssona e estratégica a gente precisa de uma mudança parlamentar, políticas públicas e que os governantes possam ter um olhar e mudar isso, investir na educação e no sistema judiciário. Além dos espaços que já vem sendo ocupado na mídia, as vezes falta mais, é naquele momento e depois passa. precisamos de ações diárias e concretas, atos para além dos discursos, em geral, pra branquitude para os políticos, judiciário e parlamentários, serve para todos nós. Só vai existir mudança a partir da consciência individual, o mundo está passando por isso para se evoluir, como indivíduos precisamos ressignificar o que foi estruturado.
MUNDO NEGRO
Para falar sobre conquistas, no mês de junho você teve sua foto espalhada pelas ruas da Capital paulista, na campanha que mostra e incentiva o trabalho de mulheres pretas no combate ao racismo. Qual a importância desse trabalho em tempos como esse e como está sendo essa experiência? Tem gente nova chegando no seu perfil, como têm sido falar sobre racismo para esse público novo?
ZAIRA CASTRO
A campanha estar espalhada pelas ruas da capital paulista para mim, foi importante. É uma questão valorização, porque eu fui contratada para estar nesses painéis, eu estava enquanto profissional, jurista, mulher e negra. Eu como negra retinta, ser reconhecida na grande São Paulo para mim, foi de um afago inenarrável, reconhecimento que me trouxe muita gratidão. Me fez perceber que lutando a gente vence, eu escolhi o caminho do direito e amo esse caminho, se tiver que dar a minha vida e doar em prol dos nossos é o que farei e estou fazendo…
Eu tenho sido convidada para outros eventos, para dar entrevista, para participar de grandes palestras, tudo isso pra mim tem sido de grande valia, mostra que temos avançado um pouco.
Eu fiquei feliz, tem chegado pessoas novas no meu Instagram, mas eu ainda percebo que por se tratar de uma mulher negra retinta, não traz a quantidade que traria se fosse uma mulher branca ou se tivesse uma pele mais clara.
Nosso Brasil tem muito ainda que evoluir nesse paradigma de quebra de racismo, falar sobre racismo para as pessoas tem sido muito tranquilo, mas a questão não é o falar, é o praticar. Para mim não basta falar, quero que meus atos e minha vida propaguem o mundo, é o que busco, sempre falo com essência e com meu coração, busco por verdade e justiça, o reconhecimento tem sido bom, por meio desses painéis, mas poderia ser melhor, se não fosse o racismo.
Zaira Castro é bacharela em direito, advogada. Especialista em direito público. Conhecida publicamente como Jurista Negra pela atuação em causas antirracistas. Atua na área de direito de família desde a faculdade e já fez a diferença na vida de dezenas de mulheres vítimas de violência doméstica e segue fazendo, é um nome a ser homenageado no dia de hoje. Segundo a jurista, a luta antirracista não se vence sozinho, e a ocupação de pessoas negras nos espaços de poder é um caminho para isso, para além da sua formação a advogada se dedica em projetos com foco na capacitação de juristas negros no enfrentamento ao sistema racista do país.