A inteligência também nunca salvou ninguém, pois se é em nome da inteligência e da filosofia que se proclama a igualdade dos homens, também é em seu nome que muitas vezes proclama o extermínio.
‒ Frantz Fanon
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É basicamente consenso de que a educação institucional é um dos instrumentos fundamentais para a evolução da sociedade. Acredita-se que através dela as pessoas se relacionarão com respeito e solidariedade, e, em paralelo, serão abastecidas de conhecimentos técnicos para a aplicação nos diversos setores da sociedade: saúde, tecnologia, produção industrial, economia, cultura, agricultura etc.
Porém, precisamos de certo cuidado com esse pensamento, pois a educação também pode ser utilizada para atender interesses de grupos privilegiados, em detrimento da maioria desfavorecida. Por essa razão, o aprofundamento do debate sobre qual o modelo de educação é importante. Não é o foco deste texto, neste momento, a ideia é pensarmos sobre quem não deveria estar ausente no processo de construção do conhecimento. Dito isso, é inadmissível a minúscula inserção de professores negros nas instituições de ensino superior; algo que deveria causar estranheza na sociedade, e assim estimular a luta por mudanças.
Caso você tenha passado pelo ensino superior, responda-me: quantos professores negros lecionaram no seu curso? Imagino que a sua resposta até permite contar nos dedos. A universidade brasileira é racista! Um exemplo que reforça ainda mais essa afirmação está no Anuário Estatístico (2021): dos 5.412 docentes da USP, apenas 129 se autodeclararam pretos e apenas 1 se declarou indígena. As instituições públicas e privadas não querem pessoas negras lecionando nos seus espaços. E quem perde é a sociedade, os professores negros poderiam contribuir com novos olhares nas diferentes áreas do conhecimento.
Além disso, o papel simbólico contemplaria positivamente a subjetividade dos alunos negros, e conformaria o lugar marginal que ocupamos no pensamento dos alunos brancos. Isso não é pouca coisa. O combate ao racismo é reforçado. Não é aceitável que a sociedade continue formando um enorme contingente de especialistas, médicos, engenheiros, advogados, entre outros graduados, que desprezam a população negra e/ou ignoram qualquer tipo de discussão racial.
O que acontece na saúde é revoltante. Casos e mais casos surgem nos noticiários mostrando o racismo em hospitais e clínicas. Um estudo feito por pesquisadoras do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) menciona que “O racismo obstétrico influencia a tomada de decisão dos profissionais de saúde e com isso hierarquiza as pessoas e desumaniza as mulheres pretas e pardas no momento do pré-natal, parto, aborto e puerpério.” Será que os profissionais em sua formação foram expostos – sistematicamente – às discussões (trabalhos, seminários, palestras, debates) sobre a prática criminosa que ocorre nos hospitais, consultórios etc., com ênfase no racismo e a necessidade urgente da abolição dessas atrocidades?
Na realidade, os professores brancos não têm a preocupação profunda com esse tema, diferente de professores e professoras negros. Apenas os negros são pessoas capazes de alterar esse cenário que é uma máquina de diplomados racistas. Então, que se abra espaço para o nosso povo na docência universitária. Urgente!
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