Entidades saem em defesa de Andrey Lemos após Ministério da Saúde exonerar diretor por dança considerada ‘inadmissível’ em evento

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Entidades saem em defesa de Andrey Lemos após Ministério da Saúde exonerar diretor por dança considerada ‘inadmissível’ em evento
Foto: Reprodução

Na noite do último sábado, o Ministério da Saúde emitiu uma nota anunciando a demissão de Andrey Lemos, diretor do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde, do cargo após uma apresentação de funk no 1º Encontro de Mobilização para a Promoção da Saúde no Brasil ter sido considerada ‘inadequada’ para a ocasião. A saída de Andrey da pasta tem gerado uma repercussão negativa entre entidades do Movimento Negro e LGBTQIA+, que apontam que a medida foi equivocada. 

Na nota emitida pelo ministério de Nísia Trindade, o texto afirmou que a coreografia feita durante o evento vinvulado ao ministério era ‘inapropriada’: “Uma das apresentações surpreendeu pela coreografia inapropriada. O Ministério da Saúde lamenta pelo episódio isolado, que não reflete a política da Secretaria nem os propósitos do debate sobre a promoção à saúde realizado no encontro, e adotará medidas para não acontecer novamente”

Ao Mundo Negro, o escritor e linguista. professor da Universidade Federal do Sul da Bahia, Gabriel Nascimento, classificou a demissão de Lemos como um ‘equívoco’ e apontou a desproporcionalidade da punição aplicada ao ativista pelo governo em diferentes casos, principalmente quando se trata de pessoas negras. “A gente tem casos piores em todos os governos até aqui, sejam governos conservadores, sejam governos mais progressistas, mas especialmente falando dos progressistas de pessoas brancas que são poupadas até a última hora, que foram, por exemplo, os espancamentos morais, que aconteceram com vários petistas importantes, carro-chefe do Partido dos Trabalhadores entre os anos de 2005 e 2012, por exemplo, pela mídia, e muitos foram poupados até o fim pelo próprio presidente Lula. Uma dança, por mais inadequada que ela pareça ser, por mais condição que ela traga para o governo pode ser tratada no máximo como um equívoco. Não deve de maneira nenhuma colocar em risco, obviamente, o crédito, o mérito, a luta política de um militante como Andrey Lemos”, ressaltou.

“O Ministério da Saúde poderia e deveria tomar providências como tomou, os gestores sabem disso, que podem tomar, então o que foi tomado de providência foi correto que foi exatamente a providência de ter uma curadoria, que pode ser algo perigoso também, porque se tratando de eventos de pessoas LGBT, de pessoas negras em geral, essa curadoria pode ser executada a partir de um moralismo que é perigoso e que hoje derruba Andrey. Então precisamos saber em que medida essa curadoria está sendo pensada, mas Andrey poderia ter continuado no cargo com uma dada curadoria em andamento, uma curadoria que não pode ser racista, porque o racismo pode preponderar em qualquer curadoria, se seja executada, por exemplo, como algo que olhe tudo aquilo que não for é visto como branco, branco-centrado”, alertou Nascimento.

Gabriel Nascimento também criticou portais ditos progressistas que fizeram coro aos discursos que promoveram a demissão do então diretor do Ministério da Saúde: “Andrey, que é um militante histórico do movimento negro, um militante cujas causas sociais ainda foram muito claras para a gente, um militante que esteve em todas as grandes lutas das nossas gerações, pelo menos desde os seus 18 anos, um homem de axé, um homem cuja luta política, por exemplo, ajudou a estabilizar e consolidar a união de negros pela igualdade, um homem que foi responsável pela fundação e foi o primeiro presidente da União Nacional”, pontuou. “É exatamente esse moralismo que derrubou a André Lemos nesse momento. Não foi um erro de posição, não foi um erro de apresentação e eu acho que ao se juntar aos bolsonaristas, esses sites, mais à esquerda, mostram que não são alternativos. Mostram que são sites que trazem as mesmas posições racistas e completamente equivocadas pelo povo negro”.

A Coalizão Nacional LGBTI, junto ao União de Negras e Negros pela Igualdade e União Brasileira de Mulheres se posicionaram contra a demissão de Andrey Lemos, afirmando que “O trabalho desenvolvido por Andrey Lemos sempre refletiu a seriedade, responsabilidade, compromisso com o Brasil”, dizia um trecho da nota publicada no Instagram. 

O texto também aponta o discurso moralista que tem sido absorvido e divulgado por setores progressistas. “O que está posto é que existe um discurso orquestrado pelos setores de direita, que anseiam fragilizar o governo federal democraticamente eleito. Discurso este que, infelizmente, tem sido fortalecido por adesões abruptas de parcela do campo progressista. Optou-se por criminalizar uma manifestação isolada e, por associação, tenta-se deturpar a biografia de um grande brasileiro.“

Histórico de Luta no Movimento Negro e LGBTQIA+

Andrey Lemos é Mestre em Políticas Públicas em saúde pela Fiocruz. Ele coordenou o Programa Municipal de IST, Aids e Hepatites Virais, além disso, é doutorando no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Lemos é funcionário público desde 2015, segundo informações compartilhadas pelo jornal O Globo. Segundo o jornal, em 2019, Andrey Lemos ocupou por três meses uma vaga de membro-titular no Comitê Nacional de Combate à Tortura, estrutura acoplada ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, liderado pela senadora Damares Alves. O fato também gerou confusão entre os apoiadores do presidente Lula. Mas Gabriel Nascimento explica que é comum que servidores sejam nomeados para cargos dentro do próprio governo. “Andrey é concursado do Ministério da Saúde. É provável que, como concursado do Ministério da Saúde, como todos os concursados em vários lugares, até por falta de pessoal e pela questão de gestão pública, melhor do que contratar uma pessoa para ganhar R$6.000,00, é melhor dar uns R$4.000,00, R$5.000,00 de diferença no salário de outra pessoa, não importa a ideologia dela”.

Ele é servidor da carreira de tecnologista no Ministério da Saúde e atuou nas políticas de Saúde Integral da População Negra e população LGBT, o diretor exonerado foi apoiador institucional na atenção básica junto a estados e municípios. Ele também atuou na assessoria da Comissão Intersetorial de Recursos Humanos e Relações de Trabalho e a Câmara Técnica da Atenção Básica do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

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