Hoje, 23 de novembro, é o dia da grande estreia de ‘Ó, Paí Ó 2, nos cinemas brasileiros, estrelado por Lázaro Ramos. Mais de 15 anos após o lançamento do primeiro filme, o público agora poderá reviver os personagens super queridos do Brasil. Nesta sequência, com muita nostalgia e evolução com os personagens, o empoderamento negro feminino se faz muito presente, além do orgulho LGBTQIAPN+ e a sensiblidade ao se referenciar às religiões de matriz africana, refletem os atores do Bando de Teatro Olodum, em entrevista com o Mundo Negro.

“Um filme que é dirigido por uma mulher e com uma equipe feminina, mulheres pretas, em sua grande maioria, então, já começa por aí essa dinâmica do empoderamento, do fortalecimento feminino preto”, diz Valdinéia Soriano (Maria). “Acho que Maria dá uma repaginada. Diante desses 15 anos, agora ela não está grávida, agora tem dois filhos adolescentes. Ela é um fortalecimento diante de tudo, até porque o Reginaldo (Érico Brás) que a gente conhece mudou pouco e sempre recorre à Maria para tomar decisão final, então ela volta mais fortalecida. Foi uma coisa que a gente discutiu muito, como rever essas mulheres todas, hoje dentro do Pelourinho?”, completa.

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Para Jorge Washington (Matias), as personagens do filme refletem em como são as próprias mulheres do Bando de Teatro Olodum. “As mulheres conquistaram esse empoderamento, esse lugar de destaque. O Bando sempre foi uma companhia de teatro que o poder feminino ele se sobrepõe a todos os poderes. As mulheres do Bando sempre foram muito fortes e ele aparece nesse filme com muita força por essa junção de tudo que está sendo posto pela sociedade hoje em dia”.

Bastidores de ‘Ó, Paí Ó 2’ (Foto: Joshu Santos)

Cássia Valle (Mãe Raimunda), fala sobre a evolução espiritual da personagem no filme. “Nós somos representantes de uma classe, não é só de uma vidente ou uma baiana do acarajé. Aquela Raimunda de 15 anos atrás meio que negava esses poderes especiais que ela poderia ter. E agora ela passa a entender e não negar mais, [mas também] estamos falando ali de sustentabilidade. E em Salvador, a gente tem muitas famílias que criam seus filhos pelas suas vidências, são cartomantes, tem a sua religião. E a gente quer mostrar que agora, 15 anos depois, tem um outro olhar, um olhar muito mais respeitoso com as questões religiosas”, conta empolgada.

Com o fim trágico do primeiro filme, Luciana Souza mergulha em cenas comoventes com a personagem Joana que luta para superar a morte de seus filhos. “Eu acho que a Joana agora fez uma curva diferente, até para poder tirar um pouco dessa carga dramática que fica impregnada. Eu ouço muitas pessoas dizer ‘aquela cena final do Ó, Paí Ó, como dói o coração’, e dói a mim também. Quando eu tenho a oportunidade de assistir novamente, eu até saio naquele momento. Ela entra numa depressão, que é pesado, mas eu acho que essa continuidade deu uma certa aliviada para ela. Acho que para frente a gente possibilita também ter outros desdobramentos, porque a gente sabe que a vida finda para alguns, mas a vida tem continuidade em outro lugar e com outras pessoas, então eu acho que ela aponta também para esse caminho”, diz a atriz.

Em uma das cenas marcantes de ‘Ó, Paí Ó’, o filme também garantiu uma homenagem à atriz Auristela Sá, que faleceu em 2013, em decorrência de um câncer. Ela interpretou a Carmem, irmã de Psilene, interpretada por Dira Paes.

Auristela Sá, Dira Paes e Tânia Toko no primeiro filme (Foto: Divulgação)

“Para mim, foi uma homenagem cinematográfica, à altura da Auristela. Foi linda e verdadeira. A gente teve a oportunidade de fazer duas vezes uma homenagem para ela e eu acho que isso engrandece a memória de uma atriz, de uma pessoa que vai ficar gravada para sempre. Auristela ficou para sempre. E eu acho que isso é um mérito do Bando [de Teatro Olodum] de ter a força de continuar unido, apesar das perdas ao longo do caminho. E eu acho que a Auristela também proporcionou para a gente esse momento de reflexão dentro da ficção misturada com a realidade desse documento”, diz Dira Paes. 

Ex-atriz do Bando, Tânia Tôko (Neuzão), lamentou o falecimento de Auristela. “Eu acho que é um momento muito importante para o grupo ao se deparar pela primeira vez que alguém do grupo nos deixou. Ela era uma fortaleza muito grande, porque, além de ser atriz, ela também conduzia com Valdinéia, com Jorge, com Cássia, com o grupo, enquanto produtora. Então, acredito que essa relação que ela conseguiu estabelecer com o grupo, em relação à amizade de trabalho, foi uma relação que, certamente, é uma grande falta”. E completa: “essa virada de ciclo não deixa de ser positiva também, enquanto a autonomia que o Bando cria, ao se perceber que a gente tem que continuar”.

Ó, Paí Ó 2’ estreou oficialmente hoje, mas já é um sucesso. Com pré-estreias pagas no último final de semana em Salvador, o filme ficou em primeiro lugar nos cinemas da capital baiana. Apenas no sábado e domingo, levou teve mais de 10 mil espectadores e arrecadou R$222 mil.

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