Um estudos divulgado pelo American Câncer Society, em fevereiro deste ano, mostra que a partir de 2019, o câncer de mama tornou-se a principal causa de morte por câncer para mulheres negras nos Estados Unidos. No Brasil, uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também apresentou uma tendência de aumento na taxa de mortalidade de mulheres negras por câncer de mama no estado de São Paulo no período de 2000 a 2017. Enquanto a taxa de mortalidade entre as mulheres brancas passa por uma tendência de redução.
As disparidades entre os dois grupos aqui e nos Estados Unidos está relacionada, sobretudo, às diferenças socioeconômicas que dificultam o acesso ao diagnóstico precoce e a tratamentos adequados.
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Para a mastologista Cecília Pereira, o atraso no diagnóstico pode retardar o tratamento, contribuindo com números elevados de mortalidade de mulheres negras pela doença. Além disso, a médica destaca que a taxa de reconstrução através de cirurgia plástica também é menor, mesmo esse sendo um direito garantido por lei. “Para o câncer de mama a questão não é a negligência do tratamento, mas sim o atraso no diagnóstico que acaba por retardar o tratamento, o que eleva a mortalidade. Vemos também uma menor taxa de reconstrução através de cirurgia plástica, que é um direito de todas as mulheres com câncer previsto por lei”, explica a médica.
Sobre o cenário de mortalidade do câncer de mama ser maior para mulheres negras, a mastologista que também atua pelo Grupo Ifé Medicina, explica que existem duas questões que devem ser explicadas. “Na verdade, precisamos elucidar questões diferentes, mas que se entrelaçam. O câncer de mama é o câncer de maior incidência entre todas as mulheres no mundo, e essa alta incidência é a grande responsável pela mortalidade, mas conforme informações da Unicamp, mulheres negras tem maior dificuldade ao acesso aos serviços de saúde em decorrência do racismo estrutural: maior grau de analfabetismo, menor renda e menor conhecimento sobre medidas de prevenção. Essas dificuldades atrasam o momento do diagnóstico o qual muitas vezes ocorre em quadros avançados onde a chance de cura é muito menor. Também é importante compreender, que o câncer de mama é um grupo heterogêneo de doenças com comportamentos distintos e que também é responsável pelo recorte racial. Segundo o American Cancer Society, mulheres negras apresentam uma chance maior de apresentar um tipo de câncer chamado triplo negativo, o qual é mais comum em mulheres jovens e tem comportamento bastante agressivo, o que também é mais um responsável por essa taxa de mortalidade”, conta.
A dra. Cecília explica que a prevenção do câncer de mama pode ser dividida de duas formas, uma envolve evitar a exposição a fatores de risco e a outra está relacionada ao acesso à mamografia: “Podemos dividir a prevenção ao câncer de mama entre prevenção primária e prevenção secundária. A prevenção primária é voltada para evitar a exposição a fatores de risco, já a prevenção secundária é feita por meio de rastreamento e exames para diagnóstico precoce da doença. Pensando nessas medidas, inúmeros trabalhos científicos comprovaram a obesidade sendo o principal fator que aumenta o risco, mas que é prevenível. Pensando nessa estratégia, o desafio é em incentivar e rever hábitos alimentares das famílias que adotaram formas de alimentação não saudáveis, optando por produtos mais baratos, como os ultraprocessados. Uma realidade hoje conhecida como “nutricídio”. Em relação a prevenção secundária o objetivo deve visar promover, incentivar e proporcionar o acesso ao principal e único exame capaz de reduzir a mortalidade do câncer de mama que é a mamografia. Vê-se, portanto, que em ambas as esferas (primária e secundária), deve haver um pacto que precisa de estratégias não só pessoais como sociais”.
Autoexame como estratégia de autoconhecimento
“O papel do autoexame foi ressignificado ao longo dos anos. Se antes era um aliado na detecção precoce do câncer de mama, hoje ele tem papel útil em duas situações específicas: como um estímulo de autoconhecimento do corpo da mulher e como uma ferramenta para diagnóstico em regiões do país onde a mamografia não é uma realidade e não alcança o público-alvo: mulheres a partir de 40 anos. Então o autoexame não deve ser recomendado como método de rastreamento universal, mas contextualizar com questões sociais se faz necessário em um país com uma realidade tão heterogênea como o nosso”, finaliza a especialista.
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