Nos últimos dias, o debate sobre a definição da cor da pele das pessoas tem sido constante nas redes sociais. Para a escritora baiana Carla Akotirene, o termo “pardo” está sendo tirado do contexto do movimento negro.
“Peço licença aos intelectuais Boaventura de Sousa e Sueli Carneiro, pois, acredito que na luta antirracista do Brasil o termo ‘Pardo’ vem sofrendo morte violenta na raiz política e filosófica de onde parte: Movimento Negro”, escreveu nas redes sociais, nesta terça-feira (13), ao refletir sobre o epistemicídio – conceito utilizado para explicar o processo de invisibilização dos conhecimentos e culturas não-brancas.
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“Os brancos brasileiros, ao estilo ‘morenos do Tchan’, resolveram que, na verdade, são pardos. ‘Ninguém aqui é Branco’. Nós sabemos que pardo não é papel, bem como *branco, preto e amarelo* são igualmente opções de autodeclaração racial para fins de políticas públicas. O pardo é a opção de cor para os ‘negros de pele clara’, afinal, nem todo negro tem a cor da pele Preta, correto?”, pontua.
“Depois de 25 anos juntando pretos e pardos para dimensionar o tamanho da população negra, surge nas redes sociais uma geração de ‘NeoPardos’ – pardos não negros. Arrumem outro termo para vocês serem vistos fora da brancura brasileira, explicada por Guerreiro Ramos, um renomado intelectual do assunto. O pardo brasileiro é negro. Tem fenótipo africano”, explica.
“Se você não é negro, esqueça o termo pardo”, enfatiza Carla. “Independentemente de atrapalharem a autodeclaração das pessoas descendentes de africanos, o pardo continuará previsto no Estatuto da Igualdade Racial e IBGE como indicador de Raça Negra”, completa.
“Negro não é ‘necro’. Negro é todo aquele que para fins de autodeclaração em concursos, CENSO, ENEM e cotas raciais tem opção de marcar a cor preta ou parda. Não existe preto de pele clara. Se é preto, a pele obviamente não é ‘clara’. Sejam justos com o movimento negro brasileiro”, destaca.
A escritora também aponta que no Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010, “ninguém queria ser preto”. Segundo o levantamento, 43,1% da população brasileira se declararam pardos e apenas 7,6% se declararam pretos. Em dez anos, aumentou 32,4% o número de brasileiros que se declaram pretos e quase 11% os que se declaram pardos.
Para Carla Akotirene, brancos se declarando pardos é culpa de más influências de blogueiros e blogueiras. “Não conhecem a organização militante antirracista do seu próprio país”, diz.
“Se eu fosse amiga do querido Babu Santana, pediria para repensar a fala dele sobre negro ser “necro” e que o certo é preto, porque foi nessa intenção boa que causou problemas na autodeclaração racial do Brasil. E contradizendo o próprio militante do Teatro Experimental do Negro, o Abdias Nascimento. Redes sociais e realitys, apesar do engajamento, estragam as conquistas do Movimento Negro”, lamenta a intelectual, em referência à fala do ator e ex-BBB.
“Quando se afirmar branco era bom a gente que fazia de tudo para embranquecer. Agora o branco não tá aguentando dizermos sobre as marcas perversas das branquitude e resolveram que são mestiços e pardos. Não!!!!”, finaliza o texto.
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