A deputada federal Erika Hilton cobrou providências das autoridades após mais um caso de violência contra pessoas negras em lojas do Grupo Carrefour, ocorrido na última sexta-feira (5). Um casal negro foi humilhado e torturado por seguranças na área externa do supermercado Big Bom Preço, localizado no bairro São Cristóvão, em Salvador.
Hilton pediu que o grupo seja responsabilizado pelo descumprimento do Termo de Ajuste de Conduta, firmado em 2021, após a repercussão da morte de Beto Freitas, ocorrida no ano de 2020 em uma unidade do Carrefour, em Porto Alegre. Segundo o Uol, citando outros casos de racismo que ocorreram no Carrefour, a deputada notificou o Ministério Público e a Defensoria do Rio Grande do Sul, a nível federal e estadual, além de notificar o Ministério Público do Trabalho afirmando que existiu a “prática de novos casos de discriminação racial nas instalações da empresa”.
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No vídeo é possível ver o homem, que afirma se chamar Jeremias, e a mulher encostados em uma parede. Além de serem xingados pelos seguranças, que não mostram o rosto, a mulher é agredida com tapas no rosto e o homem com golpes na cabeça. Em determinado momento, a mulher mostra que está segurando uma sacola que contém leite em pó e diz que é para a filha.
Após a repercussão do vídeo, o Carrefour emitiu um posicionamento no Twitter, no sábado (6), informando que registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil: “registramos uma denúncia na Polícia Civil da Bahia para que situações como essa não se repitam”, afirmou o diretor de prevenção do Grupo Carrefour Brasil, Claudionor Alves.
— Carrefour Brasil (@carrefourbrasil) May 6, 2023
“É inaceitável que um crime como esse tenha acontecido na área externa da nossa loja. Por isso, assumimos a responsabilidade de desligar a liderança e a equipe de prevenção. Além de rescindir o contrato com a empresa responsável pela segurança na área externa aonde a violência aconteceu”, disse o diretor. O Carrefour alegou que está buscando contato com as vítimas para um pedido de desculpas e para oferecer suporte ao casal agredido.
Em nota para o jornal O Globo, a Polícia Civil afirma que não houve denúncia protocolada na delegacia local, mas que está investigando o caso. “Não houve registro na 12ª Delegacia Territorial de Itapuã. Porém, a unidade já tomou conhecimento do crime através dos vídeos e iniciará as apurações dos fatos”.
De acordo com o Carrefour, os agressores não são funcionários do grupo: “Até o momento, pelas características identificadas no vídeo, é possível afirmar que o agressor que aparece nas imagens não é funcionário da loja.”, compartilhou o grupo em seu Twitter.
A incidência de violências contra pessoas negras nas dependências internas e externas do Grupo Carrefour têm causado uma série de críticas contra a postura da empresa e dos funcionários que atuam na segurança das lojas que pertencem ao grupo. O fundador da Educafro, Douglas Belchior, postou em seu Twitter que é “preciso parar o Grupo Carrefour Brasil” e questionou a efetividade do Termo de Ajuste de Conduta firmado pelo grupo após o assassinato de Beto Freitas, em Porto Alegre, “firmou um Termo de Ajuste de Conduta junto ao Ministério Público Federal e estadual do RS. Qual a efetividade desse acordo? Os 115 milhões do acordo estão sendo investidos onde? São geridos por quem? Quem são os efetivos beneficiários?”, questionou.
É preciso parar o @carrefourbrasil e seus aliados! Até quando vamos tolerar casos reiterados de violência e racismo promovido por esta corporação? Vamos esperar que ocorra outro assassinato brutal como o de Beto Freitas (João Alberto), de Porto Alegre?
— Douglas Belchior (@negrobelchior) May 7, 2023
(Continua 👇🏾) pic.twitter.com/q0eJPTQJrl
A deputada federal Erika Hilton destacou que “Não apenas o Carrefour. Mas sempre um Carrefour”.
Não apenas o Carrefour
— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) May 7, 2023
Mas sempre um Carrefour
Relembre os outros casos
No dia 19 de novembro de 2020, João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado até a morte por seguranças na área externa do supermercado, no bairro Passo d’Areia, na zona norte de Porto Alegre. Em um novo caso ocorrido na Zona Leste de Porto Alegre, em 2022, um jovem negro foi imobilizado pelos seguranças da loja por suspeita de ter roubado quatro barras de chocolate no local. Testemunhas que estavam no local afirmaram que os seguranças utilizaram uma abordagem violenta e chegaram a ajoelhar sobre o pescoço de um dos jovens. Um dos seguranças tentou conter o jovem com pé no pescoço dele. Através de uma nota, a rede Carrefour declarou que os seguranças do supermercado não participaram da abordagem.
Em dezembro de 2022, funcionários do Carrefour relataram casos de assédio moral e ofensas raciais e contra pessoas com deficiência durante o trabalho em uma loja do hipermercado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Uma ação civil pública condenou o Carrefour a pagara R$ 400 mil em indenização por assédio moral organizacional”, na época, o grupo afirmou que iria recorrer da decisão do Ministério Público.
As mais recentes denúncias de racismo envolvendo o Grupo Carrefour aconteceram em abril deste ano, quando no mesmo final de semana a professora Isabel Oliveira tirou suas roupas após ser seguida por um segurança do mercado. O ato foi feito como forma de protesto. “Não somos ameaça”, disse ela em vídeo.
Isabel contou que foi seguida por mais de meia hora e se sentiu como uma marginal, ela chegou a questionar ao segurança o motivo de estar sendo seguida e o mesmo negou e disse que só estava cuidando do setor. Depois do ocorrido, ela ligou na delegacia, onde ouviu que o caso não se configurava como racismo e ele “só estava cumprindo o seu papel”.
Em outro caso de racismo no Carrefour, o marido da Fabiana Claudino, bicampeã de vôlei pela Seleção Brasileira, Vinícius de Paula, relatou em seu Instagram que a atendente se recusou a atendê-lo. No Twitter, ele explica que passou em um caixa preferencial vazio em um Carrefour em Alphaville, São Paulo, e que a atendente disse que não poderia atendê-lo por ser preferencial, mesmo vazio, mas quando ele estava indo para outro caixa viu a atendente passar uma cliente branca não preferencial no lugar dele.
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