Uns brancos muito legais convidaram a gente para uma festa deles, dizendo que era pra gente também. Fomos muito bem recebidos e tratados com toda consideração. Eram todos gente fina, educada, viajada por esse mundo de Deus. Sabiam das coisas. E a gente foi se sentar lá na mesa. Só que estava tão cheia que não deu pra gente sentar junto com eles. Mas a festa foram eles que fizeram, e a gente não podia bagunçar com essa de chega pra cá, chega pra lá. A gente tinha que ser educado.
Foi aí que a neguinha que estava sentada com a gente deu uma de atrevida. Tinha chamado ela para responder uma pergunta. Ela se levantou, foi lá na mesa pra falar no microfone e começou a reclamar por causa de certas coisas que estavam acontecendo na festa.
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Parece até que a Lélia Gonzales estava em Harvard, no evento da Brazil Conference. Brasil com “z” porque é o deles, e não o nosso. As embaixadoras da conferência Naira Santa Rita e Marta Melo leram uma carta-manifesto ao final de um painel sobre impacto social que era mediado pela atriz Regina Casé.
Elas afirmaram que três brasileiras brancas se questionavam em inglês entre si: “viu aquelas negras? Será que tem piolho nessas tranças e dreads?” O que elas não esperavam era que as embaixadoras falavam inglês e tinham entendido o racismo que estava acontecendo ali.
Percebemos que o racismo ele subestima a inteligência do sujeito negro. Não basta questionar sua presença, criticar a sua negritude tem-se que ainda, superestimar sua capacidade de estar em um evento estrangeiro e saber a língua nativa.
Ademais, estamos falando de brasileiras. Sim, as brancas que se acham superiores pelo “status cor” concebido pela Branquitude em seu pacto, que ao invés de se cumprimentarem e comemorarem pois, ambas são brasileiras e estão ali, em Harvard, questionam a ocupação de uma em superioridade à outra.
Ora, brasileiras negras, não são como nós. Muito menos neste espaço onde há poucos anos atrás elas nem sequer pisaram. Mas, Naira e Marta não eram as únicas.
Uma comitiva de celebridades e influenciadores brasileiros ali também estão. E quem arma uma força-tarefa contra o racismo quando ele acontece? É o silêncio que reina. E foi a dúvida de se posicionar é que se questiona a representatividade prevista naquele espaço. “Precisei calcular, porque eu e a Marta, mulheres negras, temos muito mais a perder do que três meninas brancas de Harvard.”
O silêncio também é da vítima. Como se posicionar numa atmosfera que não nos acolhe, compreende e nos defende. Seremos loucas? Histéricas? Exageradas? São muitos os adjetivos usados para configurar mulheres negras que se posicionam. A contar num espaço onde sua voz pouco ecoa.
E seguimos com mais uma nota de repúdio. É assim, que segue o mito e o rito do racismo. Ah Lélia, você é atemporal e onipresente, infelizmente.
“Agora, aqui pra nós, quem teve a culpa? Aquela neguinha atrevida, ora. Se não tivesse dado com a língua nos dentes… Agora está queimada entre os brancos. Malham ela até hoje. Também quem mandou não saber se comportar? Não é à toa que eles vivem dizendo que ‘preto quando não caga na entrada caga na saída.’”
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